"Escrevo esta crónica depois do Benfica-Olhanense e antes do confronto com o Chelsea, o que significa que o faço em estado de expectativa e de preocupação. De expectativa, porque desejo que o Benfica ganhe em todas as competições em que se encontra presente. De preocupação, porque dando razão aos grandes estrategas militares de todos os tempos, sei que combater em várias frentes é sempre muito mais arriscado, redobrando os esforços e as possibilidades de derrota ou de recuo.
Todos sabemos, a começar pelos adversários nacionais e internacionais, que o Benfica tem uma das melhores equipas da Europa e tem soluções e respostas para todas as situações. Mas também sabemos que tem sido uma época muito dura e muito exigente.
Com o protagonismo e a presença irradiante que tem na vida comunitária, o Futebol de alta competição é cada vez mais implacável e esgotante no que toca ao que pede aos jogadores, sem dúvida bem pagos e bem preparados, mas humanos como todos os outros e por isso com momentos maturais de quebra, de vulnerabilidade ou de improdutividade. É assim a vida, são assim os homens.
E também é verdade que quando o Benfica se agiganta e está perto de cumprir os seus objectivos cimeiros, logo se mobilizam forças e energias, naturalmente ocultas, para lhe travar o passo. Sempre assim foi e sempre assim será. Ainda há dias vi, em Itália, um documentário biográfico sobre o treinador Herrera que destacava o peso do Benfica na cena europeia e o prestígio, também mítico, de que, de resto, ainda hoje goza. E contra a História nada há a fazer, porque é definitiva e inalterável.
Esta é a fase em que a arbitragem pode ser determinante, de forma acidental ou deliberada, para que um candidato natural ao título possa ficar arredado dele. É polémica que não gosto de alimentar, mas o assunto não pode ser escamoteado. Aimar não esteve bem, mas o árbitro esteve bem pior, prejudicando seriamente o Benfica com uma expulsão desnecessária. E é assim que elas se fazem..."
José Jorge Letria, in O Benfica
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