"A era das claques tem de estar no fim, para o bem dos clubes e do futebol português
No dia em que todos suspiravam que fosse uma camioneta de reforços a estar debaixo dos holofotes para compensar um mercado bem aquém das necessidades, o universo FC Porto é abalado pela detenção do chefe da claque e de outros elementos.
Foi necessário colocar à vista de toda a gente, por cá e lá fora, os métodos tantas vezes descritos de Fernando Madureira e dos seus Super Dragões na Assembleia Geral do descontentamento da maior parte dos portistas para que surgisse uma ação judicial tão Al Capone, com rusga pelo meio – à pesca de outros crimes que o pudessem fechar de vez na cela e esquecer por muito tempo a chave – que encontrou o que é hábito em organizações semelhantes: droga, dinheiro e armas. Sem surpresa.
Já não devíamos viver neste tempo. O da opressão, coação e violência, mas sim num em que cada adepto é livre de expressar o bem entende, desde que não coloque em causa a liberdade do outro. Não só entre iguais como entre gente que apoia cores diferentes. E esta urgência não está circunscrita ao FC Porto. Ainda existe, se olharmos para fenómenos recentes, nos outros grandes e em emblemas de dimensão considerável da nossa Liga.
Instrumentalizadas pelos clubes, que, além de sentirem necessidade do seu calor nas bancadas, as utilizam para criar tensões internas, as claques, como existiram até aqui, têm de estar no fim da sua era. Embora tenham naturalmente vida própria, não são raras as vezes em que corporizam algo que os dirigentes, com os nervos à flor da pele, gostariam, porém não podem fazer. Os clubes precisam definitivamente de um empurrão para a mudança. Houve incidentes mais graves no passado, mas talvez seja este o decisivo, não sei.
Apesar das dúvidas que tinha quando Frederico Varandas criou essa rotura, por ser mais um foco de incêndio a apagar à volta de alguém ainda de figura frágil e que poderia colocar em causa todo o projeto, tenho de reconhecer que o passo tornou-se importante e decisivo para a estabilidade e o bem-estar leonino. E Benfica e FC Porto, com ligações naturalmente diferentes aos seus grupos organizados de adeptos, terão igualmente de percorrê-lo. Não se enganem. Já será tarde. Não há dúvida igualmente de que os portistas ainda parecem mais colados a essa imagem tão anos 80 que se lhes agarra à pele e não sai por mais que se esfregue.
Claro que todos são inocentes até prova em contrário ou, no caso português, também até que se conclua que não existem provas suficientes ou se chegue à prescrição, palavra bem mais vezes repetida do que condenação, sobretudo em processos de nome pomposo. Sim, uma guarda pretoriana protege um Imperador (Pinto da Costa), e isso está subentendido, porém a designação não terá sido dada também porque vivemos, não desfazendo, numa espécie de Pretória, cidade de nível de criminalidade bem elevado? Espero que, mais uma vez, não seja apenas um rótulo bonito de algo oco, fruto de falhas recorrentes no processo de investigação."
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