"No passado domingo, numa apresentação em Riade, capital da Arábia Saudita, várias equipas da primeira e segunda divisão espanhola anunciaram que iam incorporar imediatamente jogadores sauditas nos seus plantéis, causando uma bomba mediática em Espanha. De uma só vez, iam chegar ao futebol espanhol Yahia Al-Shehri e Marwan Othmnan (para a primeira equipa e filial do Leganés), Fahad Al-Muwallad (Levante), Salem Al Dawasari e Jaber Issa (primeira equipa e filial do Villarreal), Nooh Al Mousa (Valladolid), Abdulmajeed Al Sulayhim (Rayo), Ali Al Namer (Numancia) e Abdullah Alhamdan (Sporting de Gijón) – nove jogadores de um país com pouca tradiçao no desporto-rei. Ninguém entendia nada do que se estava passar. Alguns dos meus amigos espanhóis diziam-me naquele domingo: "O Javier Tebas (presidente da Liga) está louco e vai acabar por destruir a melhor liga do Mundo. Alguns destes jogadores dentro de pouco tempo vão estar a jogar contra o Messi e o Cristiano Ronaldo e não têm nível nem qualidade para estarem no mesmo jogo e pisarem a mesma relva que estes dois génios. Isto é uma vergonha!"
A decepção era geral. Por exemplo, o presidente da AFE (sindicato dos jogadores), David Aganzo, fez estas declarações: "Esta operação representa um obstáculo para os jovens da formação. Para o presidente da Liga, o aspecto económico está por cima do desportivo, pois sacrifica a essência deste desporto."
Este filme era muito parecido ao que aconteceu na liga italiana em 1998, quando o presidente do Peruggia, que na época estava na 1.ª divisão, contratou um jogador japonês por 4 milhões de euros. Era uma situação surrealista ver um nipónico jogar no melhor campeonato do Mundo na altura e estar no mesmo relvado que lendas italianas como Baresi, Maldini, Baggio, entre outros. Para os italianos, o presidente do Peruggia, Luciano Gaucci, estava completamente louco. Mas todos estavam enganados. Ao primeiro jogo que Nakata fez na Serie A, mais de 5 mil japoneses voaram de propósito até Itália para o ver jogar. Nos restantes jogos, a média dos nipónicos presentes andou à volta dos 3 mil. O fenómeno Nakata nunca mais parou. Imediatamente foram encomendadas 70 mil camisolas suas e na internet o japonês também era um fenómeno: o Peruggia tinha 200 mil visitas diárias no seu site e é preciso não esquecer os direitos de televisão para o Japão.
Por essa razão, um ano e meio depois de chegar a Itália, não foi surpresa para ninguém quando a Roma pagou quase 22 milhões de euros pelo japonês. Na época 2000/01, os romanos venceram o scudetto. O Nakata era suplente mas contribuiu para o título. Além disso, foi muito mais importante para o sucesso da Roma a nível do marketing – por exemplo, o clube italiano abriu muitas lojas por todo o Japão. No final desse ano, o negócio Nakata mudou novamente de cidade. Desta vez para Parma, por quase 29 milhões de euros. Era a transferência mais cara de sempre da história do clube parmesão. O Nakata era muito bom jogador, mas futebolisticamente não valia aquelas cifras astronómicas. O seu verdadeiro valor estava no pacote de todo o negócio, que, esse sim, valia muito mais. Depois ainda jogou no Bolonha, Fiorentina e Bolton, onde terminou a carreira aos 29 anos. Nakata foi mesmo um negócio da China.
Várias equipas seguiram este modelo de negócio que o visionário Luciano Gaucci colocou em prática e começaram a chegar ao futebol europeu jogadores asiáticos como Nagatomo, Keisuke Honda, Shinji Kagawa, Atsuto Uchida, Park Ji-Sung, Heung-min, entre outros. E muitos clubes ganharam muito dinheiro em marketing com estes negócios. Por esta razão, Javier Tebas defendeu que se tratava de "um acordo muito positivo, porque vai permitir a clubes modestos, com dificuldades para desenvolver o seu marketing internacionalmente, serem atractivos em outros mercados" e lembrou que "as estrelas árabes não são seguidas unicamente nos seus países, mas sim em todo o mundo árabe". O acordo entre a Liga espanhola, o governo e a federação da Arábia Saudita prevê que seis clubes espanhóis contratem nove jogadores e recebam contrapartidas económicas que podem chegar aos 5 milhões de euros sem que os seus treinadores tenham a obrigação de os meter a jogar. Por isso, disse para mim "Mais do que louco, o Javier Tebas é outro visionário como o grande Luciano Gaucci". Loucos como estes seriam muito bem-vindos ao futebol português.
Caldeirada da Semana - Real Madrid
Ninguém podia imaginar que uma equipa como o Real Madrid, que ganhou em 2017 o campeonato, a Champeons, as Super taças europeia e de Espanha e o Mundial de Clubes, esteja a viver hoje uma das piores crises da sua história. Se não bastasse estar a 19 pontos do líder do campeonato, na quarta-feira jogou-se no Santiago Bernabéu a 2.ª mão dos quartos de final da Taça de Espanha. Nos primeiros 90 minutos os merengues tinham ganho na casa do Leganés por 1-0 e parecia que já estavam nas meias-finais. Mas tiveram outra noite horrível no seu estádio,perderam 2-1 e foram eliminados.Mais do que uma caldeirada, o treinador e jogadores estão a viver um autêntico pesadelo. Para os adeptos de um clube como o Real Madrid, estar fora de duas competições importantes como o campeonato e taça em Janeiro é um inferno.
Nós Lá Fora - Será incrível, Carlinhos
O Carlos Carvalhal, após duas épocas e meia ao serviço do Sheffield Wednesday, do Championship, 2.º escalão do futebol inglês, cumpriu um dos seus grandes sonhos como treinador de futebol, assinando por um clube da Premier League. O meu querido companheiro de quarto das selecções inferiores de Portugal assinou pelo último classificado e já ganhou dois jogos, o último dos quais na jornada anterior e logo contra o Liverpool. O seu Swansea continua em último, mas está simplesmente a três pontos do 17.º classificado, que é o Stoke. Se o Carlos salvar os galeses da 2.ª divisão, será algo incrível. Parabéns pela grande vitória frente ao Liverpool e força, amigo.
Álbum de recordações - João Mário
Depois de jogar em quatro países, em clubes como os três grandes de Portugal, Atlético Madrid, Marselha, Reggiana e ACMilan, fiz tudo para ir até Inglaterra e conhecer o futebol inglês dentro e fora do campo. Consegui-o. Foram poucos meses porque o meu joelhinho direito disse ‘basta’. Mas o tempo que tive no West Ham foi maravilhoso e adorei a experiência. O futebol inglês é mesmo diferente de todos os outros. E recordo-me desta história porque o João Mário acaba de ser emprestado pelo Inter ao ‘meu’ West Ham. Este pode ser o clube ideal para que o craque português volte a ganhar confiança e demonstrar todo o seu talento de génio. O Mundial esta aí e seria espectacular que a Selecção tivesse o João Mário no seu melhor nível."
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