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domingo, 17 de setembro de 2017

Videoárbitro: inesperada armadilha?

"Todos queremos mais e melhor desenvolvimento, mais e melhores condições de vida e perspectivas mais atraentes para o futuro.
Para se avançar nesse sentido, são indispensáveis profundas evoluções tecnológicas mas também um sustentado crescimento das capacidades humanas… Cada um desses universos deve envolver-se, com equilíbrio, prioridades e critérios estruturados, com divulgação mediática. Por um lado, temos smartphones cada vez mais abrangentes, mais velozes, imparáveis.
As inúmeras potencialidades da evolução tecnológica poderão ajudar a construir uma “Casa Comum” mais agradável: mudança de paradigma na utilização dos recursos naturais, controlo eficaz na redução da poluição, automóveis eléctricos sem condutor, impensáveis benefícios para medicina/engenharia ao serviço das pessoas.
Riscos surgirão sempre, por isso a ponderação é útil antes das decisões… Por exemplo, a libertação da necessidade de mão-de-obra não pode ter como consequência um brutal desemprego mas antes uma permanente requalificação das pessoas.
Por outro lado, a aposta na formação humana, nos valores, princípios, ética, são essenciais para o equilíbrio da humanidade (mesmo sabendo nós que, por vezes, há países e líderes que, em dado momento, são erros de casting muito perigosos).
A inteligência artificial nunca se pode transformar num problema mas sim num rumo da evolução planetária.
Desde o início que não somos defensores deste modelo do Vídeo-Ábitro (VAR) em regime oficial (sem prévia e aturada fase de experimentação diversificada, com informações imprecisas – afinal, há jogos só com 5 câmaras, o que contraria informações tornadas públicas; em relação à comunicação VAR para Árbitro, até ao momento gritada, emotiva, longa, deverá passar a ser mas eficaz, objectiva e serena: “Fora-de-jogo; Grande penalidade; Cartão vermelho…”), não por capricho, mas antes para tentar acautelar a sua interferência como potenciadora de conflitualidades sucessivas.
Continuo a pensar que o VAR poderá ter sido mais uma estratégia para se procurar resolver uma situação complexa de desconfiança colectiva (clima de “guerrilha” entre clubes e adeptos, tornando-se incontrolável e bloqueando soluções de compromisso mais úteis para o futebol).
Desviando as atenções dos árbitros em campo para as tarefas do VAR, ausente da vista de todos nós, terão naturalmente pensado que seria vantajoso.
Não só não foi como aumentou intensidade das situações de suspeição, criando novos “mártires”. Assim, se poderá ter reduzido a confiança numa medida que, no futuro, poderia ter interesse.
A formação dos árbitros deverá ser sempre a principal prioridade.
É importante aproveitar a sabedoria acumulada pelos que vão saindo, pelo limite de idade, que poderiam ter mais alguns anos de actividade, desde que as condições físicas o permitissem.
Para que essa formação possa ser de excelência é necessária sólida e vasta área de selecção.
Depois, criar condições para que, desde o início, haja estabilidade e segurança e não o clima que todos os que acompanham o futebol conhecem: insultos, provocações, ameaças, violência… O que cria muitos abandonos. Curiosamente, o árbitro é também designado como juiz. Ora, se alguém insultar um juiz corre o risco muito provável de ouvir “voz de prisão” e seus efeitos… O termo pode ser semelhante mas as diferenças conceptuais são imensas. O árbitro começa desde cedo a sentir um constante risco para si e por vezes para a família.
Ao jovem jogador ou treinador tolera-se a falha, o erro; ao jovem árbitro (no início, com níveis de ansiedade muito elevados) as falhas nunca são aceites e daí os insultos e “elogios”.
Mudar esse quadro é fundamental.
Desde o início da carreira, os jogadores têm de interiorizar noções tácticas, técnicas mas também a importância dos árbitros (sem os quais não há jogo), nunca discutindo as suas decisões.
Em caso de falhas graves, os dirigentes dos clubes devem fazer chegar o respectivo relatório/participação para as entidades respectivas e acompanharem bem esse processo para evitar demoras que muitas vezes são sinal pouco edificante para essas instituições.
A comunicação social, também nesta área, pode ser um auxiliar indispensável do futebol.
Mudar não é tão difícil como muitas vezes se quer fazer crer… Basta olhar para bons exemplos e excelentes líderes.
Mesmo com falta de capacidade de selecção mais alargada de talentos jovens para a arbitragem (e de conseguir mantê-los) importa que, para os que continuam, se promova um acompanhamento cuidado e competente, bem como sistemático reforço dos aspectos comportamentais. Coerência e envolvimento na gestão do futebol serão sempre alavancas para a mudança e prestígio das nossas competições e, por isso, mais atractivas para investimentos transparentes.
Actualmente, os árbitros já carregam quantidade considerável de apetrechos tecnológicos. Sabem também que estão permanentemente a ser avaliados e é absolutamente necessário que essa função seja desempenhada com total liberdade, independência e rigor. Só assim se impedem suspeições. 
Mudar é sempre possível, quando necessário. Erros surgem e corrigem-se, permitindo evolução. Erros que se repetem, com hábitos de frequência e de tendência, não podem acontecer. “Uma maçã podre pode dar imagem de colheita perdida”.
A aplicação consistente dos regulamentos e das sanções revela o estado de “saúde” do próprio futebol: campeonatos com dignidade ou com suspeição permanente.
No final da época anterior, fomos muitos a alertar para a necessidade de se preparar tudo para que o campeonato que agora está nas primeiras jornadas não fosse contaminado por epidemias antigas. 
Decisões iguais para situações iguais, critérios uniformes e precisos, soluções sem protagonismos estéreis e sempre com transparência, clareza e seriedade.
Pode conseguir-se tanto com tão poucas mudanças…
A tecnologia ocupará lugar importante nas nossas vidas, até como apoio à formação e divulgação dos acertos e desacertos, desde que rigorosa e nítida.
Particularmente, na formação contínua (e os árbitros são dos agentes do futebol que mais a desenvolvem), as novas tecnologias permitem analisar e identificar os erros, as causas e condicionantes, assim como as medidas certas para os evitar. Numa fase posterior, quem sabe se com apoio da inteligência artificial não se conseguirá um modelo mais perfeito que consiga, no imediato, alertar o árbitro para uma situação de erro a corrigir, sem a mínima suspeição?
Antes disso, o VAR vai continuar a acertar e a falhar e a ser responsabilizado sem a mínima hipótese de se justificar claramente.
Em relação à nomeação dos VARs estranham-se nomeações recorrentes para os mesmos clubes que poderiam seguir o modelo de nomeação dos árbitros e não uma excepção a esse procedimento – uma importante questão de critério. A justiça, incluindo a do desporto, nunca permite suspeição se for competente e igual para todos.
Portanto, não é nada difícil… basta querer e saber escolher o rumo certo.
Na Liga dos Campeões, mesmo em lances com evidentes falhas dos árbitros, a contestação raramente se prolonga (os árbitros decidem, está decidido e siga o jogo!) e passado pouco tempo deixa de ser centro de atracção.
Será que a existência de VAR e a proximidade das equipas é amplificador dos debates alargados e inflamados?
Recentemente na nossa primeira Liga, mesmo com VAR, uma bola que ultrapassou a linha de golo não teve a decisão acertada: Intolerável erro humano ou deficiência dos meios? Continuo a interrogar-me se a entrada em vigor do VAR não terá dado origem a uma “armadilha” que acabou por desviar atenções, acelerar e atrasar processos, alimentando confusões desnecessárias?!
Não se poderia ter prolongado o período de experimentação?
Pensar futebol é melhor do que remediar. Até para se entender a razão que levou apoiantes do VAR a estarem agora na oposição."

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