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quinta-feira, 4 de abril de 2024

A marca da competitividade (ou da falta dela)


"José Mourinho não vive um momento feliz da carreira, mas estava certíssimo quando há um par de semanas se mostrou surpreendido com a falta de competitividade da Liga portuguesa. Disse, sem rodeios: “Vi jogos em que passados 10 minutos já se sabia quem ganhava e passados 20 estavam acabados”. É o dedo na verdadeira ferida do futebol português, ao qual faltam – volto às palavras de Mourinho - “uma evolução mais uniforme e uma Liga mais competitiva”. Em sintonia e com crueza idêntica, Grimaldo acrescentou há dias: “em Portugal há três equipas e meia que são grandes, as outras estão a muita distância”. Isto deveria fazer soar alarmes entre os principais decisores – da Federação, da Liga e nos clubes – e mesmo na classe dos treinadores, eles próprios uma marca importante e valiosa do nosso futebol. Mas não sucede assim.
O futebol português de clubes segue entretido com o ruído de sempre sobre arbitragens - apesar de VAR, AVAR, publicações de áudios e explicações de voz nos estádios – e uma centralização de direitos que tarda em chegar e que pode nem ser a panaceia sonhada. Se por um lado permitirá o aumento da competitividade interna, com aumento generalizado dos orçamentos - assim haja mais competência para os gerir e não apenas um engordar de comissões – pode ser igualmente vista como ameaça à competitividade externa dos principais emblemas, já com dificuldades acrescidas perante a queda no ranking e a alteração de regras das provas europeias. O desafio é o de aumentar a competitividade interna mas sem que os principais clubes corram o risco de tombar para uma segunda divisão continental, no que poderá ser viagem sem regresso, para eles e, por arrasto, para o futebol em Portugal. Lembro que, no arranque da época em curso, a nosso segundo vagão europeu – onde seguiam Vitória e Arouca – descarrilou diante dos “poderosos” Celje da Eslovénia e Brann da Noruega. Há sintomas muito claros.
Por isso, a prioridade deveria ser mesmo cuidar do jogo e da qualidade dele, que a competitividade não cai das árvores. São poucas as equipas da Liga portuguesa que conseguem, perante os principais clubes, sugerir-nos que um jogo não pareça acabado mal começa, como diz Mourinho. Mas, mesmo entre elas, quantas rendem coletivamente, por regra, mais do que a qualidade dos jogadores disponíveis sugeria como possível? E quantas apresentam intenção de repartir protagonismo em todos as partidas e estender a sua ambição até à área rival? Respondo: com regularidade (e sublinho a regularidade para não ser injusto), duas ou três: Moreirense, Arouca, sem dúvida, aos quais acrescento o Rio Ave, impedido de contratar até janeiro, por isso curto de opções, mas sempre com processo de jogo bem definido. De todas as outras equipas que estão do sexto lugar para baixo esperava mais. Poderei estar com exigência em excesso, mas estou convencido de que a competitividade também começa por aí, por sermos todos mais exigentes quanto à qualidade de jogo e deixarmos de elogiar a maioria das equipas desde que se revelem “defensivamente organizadas”, até porque muitas vezes nem isso são. O Moreirense é sexto e o Arouca sétimo porque se revelam, em simultâneo, competentes no processo defensivo e audazes ofensivamente. Não há boas meias equipas, só para defender ou só para atacar. Até porque essas metades nunca serão competitivas a médio e longo prazo."

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