"Pode não passar de fumaça, mas, pelo menos, o povo que é tradicionalmente sereno, tem razões para ficar desconfiado. Ao que parece, e foi o secretário de Estado do Desporto a dizê-lo, o Governo está a equacionar a possibilidade de vir a proibir a realização de jogos de futebol da Liga e Liga 2 em dias de actos eleitorais. Isso mesmo, aos portugueses estará para ser passado um atestado de menoridade, como se ao fim de 43 anos de democracia as pessoas não soubessem tratar de sua vida cívica e deixassem de votar pelo simples facto de, nesse mesmo dia, assistirem a um jogo de futebol. Sim, de futebol e só de futebol profissional, porque como disse o secretário de Estado ao Expresso, as restantes modalidades (que são profissionais!) não estão organizadas numa Liga.
Se tudo isto não representasse uma tragédia quanto a alguns dos nossos governantes seria, sem dúvida, motivo de grandes gargalhadas. Como dizia ontem Vítor Serpa, no Quinta da Bola, «não pode haver futebol mas o Tony Carreira pode, se quiser, realizar um concerto para cem mil pessoas», evidenciando o ridículo atroz de tudo isto.
A fazer fé no secretário de Estado do Desporto, todos os espectáculos, mesmo os desportivos, continuariam disponíveis, excepção feita ao futebol da Liga e Liga 2. A isto dá-me um nome: discriminação.
E se tal disparate não for travado por quem, no Executivo, tiver melhor discernimento, provavelmente não passará no crivo do Palácio Ratton, onde não é suposto aceitar-se que todos sejam iguais mas alguns sejam mais iguais que outros. Aliás, invocar aqui e agora e emblemática obra de George Orwell parece extremamente apropriado..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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