"Durante três décadas, Portugal nunca largou o violino, mas só lá chegou quando pegou na enxada. A última da fila
O jogador mais depreciado da selecção mais depreciada do Europeu é o herói desta segunda-feira. E o futebol mais "aborrecido" que Portugal jogou nos campeonatos da Europa foi o que permitiu, finalmente, levar a Taça. Há uma lição nestas surpresas e eu suspeito que seja a mais evidente: Portugal sempre quis ser violino, mas o seu papel no mundo é ser, primeiro, enxada. Nasceu para ter calos antes de usar luvas de pelica. Foi preciso que chegasse um treinador com olhos de engenheiro para trazer a selecção à terra e tirar dela as virtudes que Éder também tem, se calhar até em maior volume do que a maioria dos colegas. Humildade, capacidade de sacrifício, carácter e camaradagem são termos simplórios que enrolam nas nossas línguas sofisticadas e que são recém-chegados ao dicionário da selecção, e não me refiro ao que se usa dentro do balneário, mas àquele que usamos todos. Ao longo dos anos fomos sempre de uma presunção insuportável. Nenhum jogador servia; as segundas linhas eram miseráveis; as novas gerações sem futuro; o trabalho dos clubes inqualificável; e, finalmente, a selecção seria patética se não houvesse Cristiano Ronaldo. Até que não houve Cristiano Ronaldo e o campeonato da Europa acabou arrancado das mãos da França por Éder, o último dos últimos, símbolo de todos os maus tratos que fomos dando à estirpe de jogadores que, afinal, é o grosso do futebol português. Os geniais também existem e existirão - João Mário, Pepe e Raphael Guerreiro, por exemplo -, mas só para ajudar. Se tiverem carácter para isso."
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