"O vácuo chegou às 20.20 horas de ontem. Um dia ele diz tudo. Um dia ficaremos a saber. Um dia ele esclarecerá tudo. Até lá, zero.
A conferência de imprensa estava marcada para as 20.30 horas. Soaram trompetes e relâmpagos: o homem vai falar. O homem, claro, é Bruno de Carvalho. Se o presidente do Sporting pedira a presença dos jornalistas em Alvalade, é porque algo de importante teria a dizer. E a cabeça das pessoas com interesse na matéria começou a fervilhar. Terá a ver com o treinador? Com o plantel? Com a famosa auditoria? Com os exorbitantes preços que os sportinguistas terão de pagar por umas bifanas e uma cervejas se quiserem assistir em Alvalade, num écran gigante, à final da Taça de Portugal? A cabeça fervilhou, mas depressa, por volta das 20.45 horas, deixou de fervilhar. Era, afinal, o vácuo a chegar: ausência de matéria numa dada região do espaço. Ou seja, zero. Ou nada. Pequeno ataque aos jornalistas ao jeito de Octávio Machado: «Um dia, digo tudo; um dia, vocês saberão; um doa, esclarecerei tudo». Entretanto, anteontem, entrou novo director de comunicação no Sporting: vai ter muito trabalho pela frente. De novo BdC e a sinuosa resposta à continuidade (ou não) de Marco Silva: «Ele tem contrato e falamos no final da temporada». Singular, de facto, para quem há menos de uma ano assinou contrato com o treinador até 2018. É mais ou menos como alguém pedir a um amigo: «Tiras-me uma selfie?». Ninguém percebe.
O presidente do Sporting tem feito, pelos dados que estão disponibilizados, muito bom trabalho na reestruturação financeira do clube: não há dinheiro, não há vícios. Se tem 100, não gasta 101. Se tem 100 para gastar e os outros têm 150 ou 200, quer fazer o mesmo que eles. Parece ousado, mas é possível. O problema de Bruno de Carvalho parece ser outro: por entre conflitos com este mundo e o outro, começa a ser complicada achar que só ele tem razão. É a velha história do soldado com o passo trocado e mãezinha a achar que os outros 100 soldados é que estavam com o passo errado. «Há uma tentativa clara de desestabilização dirigida ao presidente do Sporting», diz Bruno de Carvalho. E disse-o sem sorrir. Mas não forneceu dados importantes: quem quer desestabilizar, onde quer desestabilizar, quando quer desestabilizar e como quer desestabilizar. Mais uma vez: ninguém percebeu. É a táctica tantas vezes usada: poeira para os olhos das pessoas. Tentar criar um facto. Alguém percebeu o que Bruno de Carvalho quis dizer? Ninguém duvida da entrega brutal que é necessário ter para se dirigir um grande clube, mas não faz sentido perder quase uma hora para nada dizer. Ninguém entendeu. É tão inverosímil como alguém pedir a uma amigo para lhe tirar uma selfie.
Steven Gerard e a bengala de José Mourinho
A Espanha tem Ronaldo e Messi. A Alemanha tem o Bayern. A Itália tinha muito coisa. A Rússia tem dinheiro. A Holanda tem grandes jogadores que brotam como cogumelos. Tal como a Argentina e o Brasil. Ou Portugal. Mas o futebol inglês é diferente. É mais. É melhor. Tem alma e coração. Tem atmosfera. Só em Inglaterra é possível que a despedida de um jogador como Steven Gerard, a full legend, tenha o impacto que teve. Que toda a gente fale dele. E o elogie. Duvido que José Mourinho de lá saia. E, se o fizer, só quando usar bengala e fralda.
Motor do Tractor de Toni falhou na última curva
Se há homens bons no futebol português (e há), Toni é um deles. Tem um coração do tamanho do mundo e é pena que, tal como tantos outros treinadores portugueses, seja tão mal aproveitado entre nós. Anteontem, a maioria dos que gostam de futebol estaria a torcer por ele no decisivo jogo do campeonato Iraniano. E Toni, durante 10 minutos, acreditou que vencera o campeonato mesmo após empate no Tractor-Naflt Tehran. Seria o 3.º treinador português, depois de José Mourinho e de Vítor Pereira, a sagrar-se campeão no estrangeiro em 2014/15. Mas tudo ruiu em menos de 15 minutos..."
Rogério Azevedo, in A Bola
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