"A FIFA anunciou que vai distribuir 20 mil bilhetes gratuitos para os encontros do Campeonato do Mundo feminino de futebol realizados nas quatro cidades da Nova Zelândia. O argumento apresentado - prontamente ignorado por muitos - prende-se com a pouca cultura futebolística daquele país, um fator que tem levado a uma procura mais modesta de ingressos para a prova que também se vai jogar na Austrália - onde o problema não se coloca.
A notícia fez as delícias de muitos homens assustados que viram na headline (não no conteúdo ignorado) a prova irrefutável para a teoria de que o futebol jogado por mulheres não desperta interesse. Foi assombrosa a avalanche de comentários - um pouco por todo o mundo - nas redes sociais a rebaixar e a caricaturar o evento e quem o vai disputar, desenterrando argumentos arcaicos e assentes em juízos de valor muito pouco recomendáveis.
Que não se sintam atraídos pelo espetáculo futebolístico protagonizado por mulheres é um direito que lhes assiste. A raiz do problema não está nessa escolha mas na manifestação da mesma, quase sempre depreciativa e invariavelmente colada ao género do alvo.
O padrão argumentativo nos ataques feitos ao futebol jogado por mulheres leva-me à seguinte conclusão: é medo, só pode. Medo de ver ruir o fundamento de masculinidade historicamente colado ao futebol, mais do que a qualquer outro desporto. Não vejo este tipo de ataque desenfreado ao ténis jogado por mulheres; ou ao basquetebol jogador por mulheres; ou ao andebol jogado por mulheres.
O futebol amplifica esse medo de alguns homens que, admito, sem intenção objetiva de ferir e minimizar, caem recorrentemente no pensamento cavernoso de que "isto não é para elas." É no futebol, mais do que em qualquer outro desporto, que o homem assustado mais cerra os dentes e se defende em tom grosseiro de um medo que não consegue largar.
Porque quando sobram lugares vazios nos estádios de futebol durante encontros jogados por homens o problema está sempre no preço dos bilhetes, na falta de condições dos recintos ou em tantos outros fatores desapegados da qualidade objetiva do jogo jogado. Quando muda o género, só pode ser porque "elas não jogam nada." É medo, só pode."
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