"Quem treina e compete quer acreditar que o seu desempenho e sucesso não depende da sorte. Nada ou quase nada. Mas temos de ser realistas, a sorte existe e, segundo Huizinga, é um dos quatro pilares que caracterizam qualquer jogo. E com isto não significa que treinemos menos ou que deixemos que o «acaso» possa ter mais peso do que já tem naquilo que são as nossas marcas, desempenhos ou objectivos. E a sorte também não dá mais ou menos trabalho. As vitórias regulares é que dão muito trabalho. Alcançar objectivos ambiciosos mas realistas é que torna a sua exequibilidade num esforço constante e construtivo.
Então como se treina para se ter sorte ou menos azar? Não se treina. A definição de sorte enquadra-se aí mesmo, nesse equilíbrio de hipóteses em que podem acontecer determinados acontecimentos e que não dependem nada ou quase nada dos intervenientes. O que se treina é o modo como nos relacionamos com ela e como reagimos aos mesmos acontecimentos que nos possam parecer justos ou injustos. E aí sim, o treinador pode ter um trabalho fundamental no modo como os seus atletas e as suas equipas reagem nos momentos seguintes à dita sorte ou azar. O modo como o atleta mantém o seu equilíbrio emocional ou perde o controlo sobre aquilo que são as suas prioridades e qualidades, que não podem ser distorcidas ou diminuídas em função do descontrolo emocional que se apodera de nós.
O treino serve para que possamos depender menos do fator aleatório que é a sorte, mas por muito que treinemos ou queiramos controlar tudo durante a competição, sabemos que isso raramente sucede. As equipas e os atletas melhor preparados são aqueles que reagem melhor e de modo mais célere ao que vai acontecendo no jogo ou na competição. E nós não conseguimos controlar tudo, por muito que nos esforcemos. As melhores equipas parecem nem nestes momentos perder o controlo sobre o que pode ser realizado e como tem de ser realizado.
O conhecimento que o treinador tem de cada atleta permite-lhe que cada momento possa ser potenciado e gerido em função dos acontecimentos que se encaixam naquilo a que o senso comum define como sorte. E um dos factores que mais nos rodeia e nós nem damos por isso e que se pode encaixar nisso que é a sorte são os factores contextuais, que favorecem mais uns do que outros, pela simples característica que enquanto seres humanos nos adaptamos mais ou menos a situações completamente distintas.
Em tempos tive um treinador que durante os treinos «provocava» a sorte e o azar e que nos criava sem nos apercebermos uma situação de completa frustração e injustiça pelos factos que aconteciam à nossa volta. Só mais tarde percebi que o modo e o tempo que demorávamos a reagir àquilo não dependia apenas da competência técnica ou da importância que aquele jogo ou resultado tinha para cada um de nós, mas sim pelo controlo ou descontrolo emocional e pela capacidade de foco."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!