"Lisboa é a capital mundial, por estes dias, da tecnologia digital, num megaevento que está a ser coberto por cerca de dois mil jornalistas. Por aqui se intui, imediatamente, relevância planetária desde evento que coloca o nosso Páis no olho do furacão. E com agrado que se constata que uma percentagem altamente significativa das intervenções nacionais no certame estão a cargo de pessoas ligadas ao desporto, particularmente ao futebol. Trata-se de um sinal extremamente positivo de modernidade, urbanidade e desempoeiramento de ideias, susceptível de nos fazer olhar o futuro com optimismo redobrado.
Este é o verso de uma moeda que ainda tem um reverso anacrónico, bafiento e rasteiro, que teve tradução, recentemente, no deplorável incidente no túnel do estádio de Alvalade, logo após o apito final do Sporting-Arouca.
Infelizmente, o futebol português, quando devia seguir o caminho do futuro, da profissionalização, da prossecução de um objectivo comum e da civilidade entre protagonistas, ainda tem recaídas medievais, próprias de uma idade das trevas que teima em persistir e não se deixa erradicar completamente. Estou certo, quando escrevo estas linhas, de que estes retrocessos civilizacionais (vistos há poucos dias em Alvalade mas também, infelizmente presenciados noutros palcos) tenderão a tornar-se cada vez mais raros. Mas, até lá, enquanto os comportamentos não forem voluntariamente adequados, que haja, pelos menos, na justiça, desportiva e não só, a coragem de punir os prevaricadores, na certeza de que os métodos trauliteiros não podem prevalecer e ser vistos como uma fórmula para o sucesso."
José Manuel Delgado, in A Bola
Palavras de quem tanto tem contribuído e compactuado com o ambiente "bafiento e rasteiro" no futebol português.
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