"Num campeonato nivelado por baixo em que foi patente, ao longo da temporada, a superioridade em jogo jogado de duas equipas em relação aos restantes competidores, a justiça da conquista do título seria aplicável tanto ao Benfica como ao FC Porto. Contas feitas, acaba por vencer o conjunto que melhor se deu nos confrontos directos entre águias e dragões.
Os duelos entre Benfica e FC Porto têm sido a chave para determinar o vencedor da Liga portuguesa. É uma tendência dos últimos campeonatos, cada vez mais decisiva na hora de encontrar o campeão. Esta época, a vitória do Benfica no Dragão deu-lhe uma confortável almofada de 6 pontos de vantagem na jornada 13, que os portistas apenas conseguiram encurtar e nunca recuperar. Foi neste jogo, a 14 de Dezembro, que o Benfica começou a trilhar o caminho do bicampeonato. E chegando ao clássico da Luz, apenas teve de gerir a vantagem directa com inteligência, segurando o empate.
Previa-se uma temporada difícil para os encarnados. Depois das saídas de jogadores importantes como Oblak, Garay, Matic, André Gomes, Cardozo, Markovic e Rodrigo (e Enzo Pérez em Janeiro), a par de algumas obrigações financeiras que limitaram o investimento em novos jogadores, Jorge Jesus teve de encontrar novas soluções. E com um plantel menos rico, formou um grupo baseado numa mescla de experiência, juventude e talento que o levou à vitória.
A experiência de jogadores como Júlio César, Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Eliseu, Jonas e Lima revelou-se fundamental no estabelecimento de uma equipa-base com muitos atletas traquejados que exibiram a sua liderança para motivar o resto do grupo. E por via do talento de Gaitán, Salvio, Talisca e Pizzi, os encarnados puderam dar continuidade ao modelo de jogo que a equipa praticou nos anos anteriores.
As contratações de Júlio César (trouxe estabilidade à baliza e apenas sofreu 8 golos na Liga), Eliseu (não comprometeu na faixa esquerda, que desde os tempos de Fábio Coentrão não encontrara um sucessor) e Jonas (avançado goleador que estava sem clube depois de o mercado fechar e que formou uma dupla implacável com Lima), assim como a revelação de Talisca (médio-ofensivo com boa visão de jogo e poder de remate) e a adaptação de Pizzi para o centro do terreno (potenciando a capacidade de pressão sobre o adversário e distribuição de jogo), acabaram por ser decisões acertadas na renovação da equipa.
Sem o brilho do campeonato anterior, este Benfica conseguiu encontrar o seu caminho. Uma equipa que fez da Luz uma fortaleza, onde só cedeu 2 empates (com FC Porto e Sporting) e apenas sofreu quatro golos, e que foi pragmática em momentos complicados, em que, mesmo não jogando bem, conseguiu garantir a vitória. Como acontece com qualquer campeão, também teve a chamada 'estrelinha da sorte' em algumas partidas difíceis. No último terço da Liga, embaladas pela liderança, as águias já exibiram um futebol de melhor qualidade, mais próximo do que fizeram noutros anos.
O Benfica alcança assim um feito que não acontecia há 31 anos: o bicampeonato. Mérito também para Luís Filipe Vieira, que segurou sempre o treinador quando a maioria dos adeptos chegou a pedir a sua saída depois de três anos sem ganhar o título. E abre-se agora a porta a novos desafios. Vencer um inédito 'tri' na era Vieira, avançar com a aposta na formação na equipa principal e chegar mais longe na Liga dos Campeões. E também a uma dúvida: com ou sem Jorge Jesus?
O craque
Um elemento importante
Os clubes portugueses transformaram-se em clubes vendedores. O ciclo passa por comprar e/ou formar, valorizar e vender ao fim de poucos anos. Hoje as nossas equipas são mais um ponto de passagem para os atletas. Daí que seja cada vez mais difícil criar a mística, em que jogadores mais antigos passam os valores e cultura do clube aos companheiros mais novos. Elementos como Luisão (tal como o portista Helton), com 12 anos de águia ao peito, são espécies cada vez mais raras, mas elementos vitais para levar um grupo ao sucesso.
A jogada
Procurar receitas lá fora
Com o fim dos patrocínios do BES e da PT, os três grandes terão novos parceiros nas camisolas a partir da próxima época. Receitas importantes que, apesar de não terem um grande peso no orçamento dos clubes, se revelam essenciais para manter as contas em terreno positivo. O Benfica foi o primeiro a revelar o novo patrocinador estrangeiro, num negócio que até vai aumentar o valor que recebia antes e que permitirá expandir a sua marca a nível internacional. Um caminho que acredito que também será seguido por FC Porto e Sporting.
A dúvida
Cenas lamentáveis...
Tenho falado várias vezes na importância de se criarem condições para que mais famílias possam ir ao futebol. A questão do preço dos bilhetes é importante, mas a garantia de segurança é ainda mais crucial. As imagens de violência a que assistimos na passada semana, e que correram mundo fora, são lamentáveis e não dignificam o futebol português, seja qual for o clube que esteja envolvido. Não é assim que a indústria do futebol nacional e o seu principal produto vão conseguir mudar para melhor. Será que os responsáveis da FPF e Liga pensam fazer algo em relação a esta matéria?"
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