"Pepe. Não o José Manuel Soares, mas o Képler Laveran Lima Ferreira. Não o do Belenenses, sim o do Real Madrid. Não o português, antes o brasileiro. Erro grave: brasileiro? Não. Quanto muito, luso-brasileiro. Pepe (o Képler) já é tão português como Ronaldo. Canta o hino e beija as quinas. Até deve gostar de couratos e de caracóis. E de passar férias no Algarve. Tem paragens cerebrais durante os jogos? Claro. Como um bom português. A mais famosa aconteceu a 21 de abril de 2009, quando teve entrada duríssima sobre Casquero (Getafe) e depois pontapeou-o diversas vezes no chão. Por vezes, como na final da Liga dos Campeões, repete a graça, embora de forma diferente. Mas no intervalo destas paragens, é um central extraordinário. Que está a fazer um assombroso Campeonato da Europa, aparecendo em França numa forma física esplendorosa, varrendo a área de Rui Patrício com facilidade impressionante. Está ao nível de Eurico (1984), Fernando Couto (1996 e 2000) ou Ricardo Carvalho (2004 e 2008). Sublime.
Ronaldo. Não o Ronaldo Luís Nazário de Lima, sim o Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Não o de Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter, Milan e Corinthians, antes o do Sporting, Manchester United e Real Madrid. Não o brasileiro, mas o português. Ronaldo canta o hino como Pepe, beija as quinas como Pepe, não se sabe se gosta de couratos, caracóis ou de passar férias no Algarve como Pepe deve gostar. Não está a fazer um Europeu ao nível de Pepe. Está dois degraus abaixo. Corre, luta, sua? Sim. Mas está ainda muito longe do Ronaldo a que nos habituámos. As imagens divulgadas referentes ao pré e pós-penalties com a Polónia são fantásticas e prova-se que Ronaldo merece cada centímetro da braçadeira que usa. Está ao nível de Mário Coluna (1966), Fernando Couto (2000 e 2004) ou de Luís Figo (2006).
Patrício. Não os do Euro-1984, antes o do Euro-2016. Não o Bento, o Damas ou o Jorge Martins, antes o Rui. Tem feito um Campeonato da Europa muitíssimo bom. À guarda-redes de equipa grande. Sem grande volume de jogo, não registando alta sequência de intervenções, Rui Patrício tem defendido o que tem defesa e algumas bolas quase sem defesa. E a grande penalidade detida frente à Polónia é soberba: esticou-se até ficar quase com dois metros e tocou com a ponta dos dedos na bola. Tão importante como os cinco remates certeiros dos 11 metros. Não está ainda ao nível de Bento (1984) ou Vítor Baía (1996 e 2000), mas está já bem ao nível de Ricardo (2004 e 2006). Falta-lhe apenas, um dia destes, marcar um penalty. Sem luvas, claro. E já depois de ter defendido um. Talvez de Bale, quem sabe. Em Lyon.
Renato Sanches só tem três velocidades
Renato isto, Renato aquilo, Renato outra coisa qualquer. O jovem médio é, depois de Cristiano Ronaldo, o jogador mais falado da Seleção portuguesa. Se Patrício é o homem dos penalties, se Pepe se tornou num paredão atrás da linha média e se Ronaldo é o craque mundial, Renato Sanches é o homem do momento. Há quem pense para o lado e quem pense para trás: Renato só pensa para a frente. Há quem tenha cinco velocidades. Renato tem apenas três: a quarta, a quinta e a sexta. Há quem veja duas balizas. Renato vê, sobretudo, uma: a do adversário."
Rogério Azevedo, in A Bola
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