"Nelson Évora, embora tenha demorado demasiado a ter o Cartão Cidadão, pois esperou até cumprir os 18 anos, recebeu-o a tempo e horas de ganhar tudo como português e deveria saber, até por experiência própria, como é perigoso gerar um debate estúpido sobre aquilo que o Chega já veio catalogar como "regra excecionalíssima à lei, os altos serviços prestados ao Estado e à comunidade nacional
Se há assunto em que me orgulho de ser português, é o da naturalização de atletas por "interesse nacional" - e das poucas vezes que me irrito é pela demora de alguns processos. Sempre fomos um país conservador numa matéria em que é positivo ser contido, nunca "compramos" atletas e a maioria daqueles que recebem mais cedo a cidadania portuguesa transformam-se em orgulhos nacionais.
Nelson Évora, embora tenha demorado demasiado a ter o Cartão Cidadão, pois esperou até cumprir os 18 anos, recebeu-o a tempo e horas de ganhar tudo como português e deveria saber, até por experiência própria, como é perigoso gerar um debate estúpido sobre aquilo que o Chega já veio catalogar como "regra excecionalíssima à lei, os altos serviços prestados ao Estado e à comunidade nacional". Fica subentendido que Pichardo, Auriol Dongmo, Bárbara Timo, Fu Yu ou Otávio, para citarmos exemplos recentes, ou Francis Obikwelu, para irmos a um mais antigo, deveriam esperar os cinco anos até obter a nacionalidade, pois não se imagina como prestariam serviços ao Estado sendo estrangeiros...
Pedro Pichardo chegou a Lisboa em abril de 2017, como refugiado cubano, e previsivelmente impondo como condição - imagino eu - ser naturalizado até ao final desse ano. O saltador sabia que a Federação Internacional de Atletismo ia tornar mais rígidas as regras para a mudança de países e temia que um pedido mais tardio o impedisse de ir aos Jogos Olímpicos de Tóquio. O interesse, mais do que do atleta, que tinha propostas de vários países, ou do Benfica, que o contratou e o podia utilizar como cubano, era de Portugal. O pedido foi cumprido e tivemos mais um campeão olímpico.
Sendo o caso cristalino e nada chocante, é incrível como sete anos depois ainda gera polémica. Sobretudo sabendo nós que Pichardo é português, se sente português, casou por cá e previsivelmente irá ficar até ao fim dos seus dias. Não por ser especial, mas porque isso tem acontecido com todos os atletas imigrantes que se naturalizam, alguns sentindo mais o país do que aqueles que cá nasceram.
Despeço-me com um exemplo: Francis Obikwelu, depois da sensacional prata olímpica nos 100 metros, foi convidado por Espanha - um vizinho sem ponta de vergonha nesta matéria - para mudar novamente de país. Iria ter melhores condições de treino, provavelmente ganhar mais dinheiro, mas respondeu: "Não, eu sou português". O Francis, quando me contou isto, tinha lágrimas nos olhos; e eu fiquei como ele, inchado de orgulho por ser português."
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