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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Do que Vítor Pereira gostava era de ter o Matic

"Singular sinal de fraqueza dado por Vítor Pereira, clamando incessantemente o nome do Matic do Benfica, gritando como um patrãozinho zangado contra os árbitros

PEP GUARDIOLA será o treinador do Bayern do Munique a partir da próxima temporada e até 2016. A notícia surgiu a meio da última semana, veiculada pelo site oficial do clube bávaro, o que não deixou margem para especulações. Era mesmo verdade.
A posição do actual treinador, Jupp Heynckes, foi salvaguardada com o maior respeito pelos seus empregadores. De acordo com a informação oficial, Heynckes tem 67 anos, pretende reformar-se no final desta época, presumivelmente com mais um título de campeão da Alemanha visto que o Bayern lidera a tabela da Bundesliga e, este ano, uma vez mais, parece estar a jogar mais e melhor à bola do que a concorrência interna.
É uma notícia assombrosa para quem acompanha com atenção as altas peripécias do futebol europeu. A partir da próxima época o campeonato alemão vai, certamente, passar a ser seguido fora da Alemanha como nunca foi, apesar de ser uma das provas mais interessantes, limpas e rijamente disputadas do futebol de top a nível mundial.
Aparentemente não faltava nada à Bundesliga. Qualidade há a rodos e público também. Os jogos são regra geral disputados à tarde, têm transmissão televissiva e é ver os estádios sempre lotados. Do ponto de vista do rigor do negócio, da excelência da organização, da qualidade do espectáculo e da devoção do público, o futebol alemão, tal como hoje se apresenta, não pede meças a ninguém.
O que faltava então ao futebol na Alemanha para se impor como um produto altamente apetecível para os fãs, para as marcas, para os patrocinadores, para as estações de televisão por este mundo fora?
Faltava-lhe apenas apostar decididamente no star system. Ou no show business, como preferirem.
O super-Barcelona montado por Pep Guardiola, vencedor de quase tudo o que havia para vencer, pode ter inspirado os dirigentes do Bayern de Munique à contratação do treinador. Mas houve muito mais do que isso. Guardiola é uma grande personalidade, uma estrela a um nível mediático que ultrapassa em parga escala o pequeno-grande mundo do futebol. Jovem, bem-parecido, bem-falante, bem-sucedido, passará a ser o emigrante mais bem pago a trabalhar na Alemanha e vai atrair sobre o seu novo clube as atenções da imprensa dos cinco continentes.
Para o Bayern, a contratação de Guardiola é uma jogada de marketing notável. Para Guardiola é um desafio imenso que o definirá como treinador. Isto porque há muita gente, teóricos profissionais e outros amadores, a quem Pep Guardola só conseguirá convencer provando as suas qualidades como técnico num clube que não seja o FC Barcelona.
E escolher um clube da Alemanha para provar é, no mínimo, corajoso da parte do catalão. Na Europa, não há futebol com menos apetência filosófica para o tiken und taken do que o alemão, sempre pragmático na sua relação em linha recta, o mais recta possível com as balizas.
Os cabedais que o Bayern do Munique coloca à disposição de Guardiola para contratar jogadores permitem-lhe alargar o recrutamento até níveis dificilmente alcançaveis por outro emblema. Cabe, assim, ao treinador definir a seu belo prazer, sem constrangimentos financeiros, a equipa que vai querer, a filosofia de jogo que vai impor, resumindo, o espectáculo que vai montar.
Naturalmente, há também um ponto de vista nosso, portuguesinho, sobre o anúncio da viagem de Pep Guardiola para o futebol alemão quando já ninguém duvida de que José Mourinho sairá de Madrid no fim desta época. Ou mesmo mais cedo se o chatearem muito.
- O Guardiola vai para a Alemanha para não ter de levar com o Mourinho em Inglaterra ou em Itália ou em França - dizem os nossos compatriotas mais patriotas.
São bem capazes de ter razão.
Não sei do que o Borussia de Dortmund está à espera para ir buscar Mourinho a Madrid. Isso é que era mesmo speziale.

O Matic vai jogar em Braga! O Matic vai jogar em Braga! Os gritos de Vítor Pereira ouviram-se em toda a parte. O treinador do FC Porto, que dispõe em sua casa de um meio campo farto e de grande qualidade, parece que tem medo do Matic e de que, jogando em Braga, o Matic jogue bem e ajude o Benfica a ganhar.
No fundo, Vítor Pereira é um admirador do Matic e queria-o no Porto. Se o Matic fosse jogador do Sporting era canja.
Grande sinal de fraqueza, no entanto, este dado por Vítor Pereira, clamando incessantemente o nome do sérvio, gritando como um patrãozinho zangado contra os árbitros que não expulsam o sérvio em todos os jogos, atemorizado só com a ideia de o Benfica, recorrendo a um meio-campo uni-pessoal - na verdade, é Matic o único centrocampista - conseguir aquilo que vem conseguindo desde o princípio da temporada e em que poucos acreditavam: lutar taco-a-taco com o FC Porto pela conquista do título.
Presume-se que Vítor Pereira, utilizando uma expressão que lhe é querida, tenha encomendado as faixas logo em Agosto quando, no último dia do mercado de Verão, viu Witsel e Javi Garcia de malas feitas sem que fossem anunciados os substitutos para as suas respectivas posições.
No miolo do campo, o Benfica ficava entregue à intermitente dupla Pablo Aimar-Carlos Martins e a um sérvio chamado Matic que pouco jogara na época anterior. Estava, portanto, adjudicado o campeonato ainda em tempo de praia.
Clubismos à parte, é absolutamente compreensível o prognóstico optimista de Vítor Pereira. Há muitos benfiquistas que, por serem pessimistas, viram o caso exactamente da mesma maneira. Entre eles me encontro. Sem meio-campo, o Benfica começava a luta mais frágil e com menos recursos - muitos menos - do que o seu adversário e rival. Estava ditada a sorte.
Tudo isto para, neste pormenor, dar razão a Vítor Pereira e para dizer que, em muitos sectores, a boa carreira do Benfica na primeira metade da temporada causa tanto espanto na Luz como causa no Dragão.
Falta agora a segunda metade da temporada. E no futebol português, à semelhança de muitas e conceituadas companhias líricas, há reportórios que se repetem e repetem e repetem... Este Janeiro, por exemplo, depois do empate com o FC Porto na Luz, tem o Benfica pela frente uma série de quatro jogos fora que se apresentou e se vai continuar a apresentar complicada.
Os dois primeiros passaram-se bem. Vitória expressiva em Coimbra para a Taça e vitória indiscutível em Moreira de Cónegos. Segue-se uma viagem a Braga para a Liga e uma viagem a Paços de Ferreira para a Taça. Sortilégios do calendário mas, na verdade, é muito jogo fora de uma assentada.
Normalmente, e se não fosse o Matic - na opinião de Vítor Pereira -, o Benfica, abalado com o empate caseiro frente ao campeão, já teria escorregado nesta campanha fora da Luz. Ou se tinha espalhado em Coimbra, onde na temporada passada o FC Porto caiu na Taça, ou caído em Moreira de Cónegos, terreno difícil. O normal do nosso reportório era ter o Benfica perdido sonhos ou pontos de modo a chegar a Braga em plano inclinado.
Assim não aconteceu. A culpa é do Matic e dos árbitros que não o expulsaram.
Irradiado é que era, esse Matic.

O reportório de António Salvador também não muda. É a questão da fidelidade aos princípios dramáticos.
Está época, por exemplo, terá sido o Sporting de Braga altamente prejudicado pelo árbitro nos dois jogos com o FC Porto, aventou a crítica. Salvador nem piou.
Já no jogo com o Sporting, tendo sido anulado um golo aparentemente limpo, Salvador não se coibiu de protestar em voz muito alta e aborrecida em defesa dos interesses do seu emblema e assim que o jogo acabou.
Chega agora o Benfica e o presidente do Braga, afoito em crescendo, iniciou as suas manifestações de protesto, em voz ainda mais alta e mais aborrecida, cinco dias antes do jogo e de o árbitro, seja ele qual foi, apitar para o pontapé de saída. É obra.
Afinal temos campeonato. Até quando é que não se sabe.

PROVAM as escutas radio-telefónicas do Apito Cromado, velha investigação policial aos melindrosos factos ainda a preto e branco (no tempo do fascismo não havia cores) do futebol português na década de 50 (ainda os telefones funcionavam à manivela) que o árbitro Calabote se referia ao Sporting de Braga utilizando continuadamente a misteriosa expressão o meu Braguinha. Mas era só para disfarçar."

Leonor Pinhão, in A Bola

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