"O Porto não lhe deu troco e o Benfica só tem de seguir o mesmo caminho: deixar BdC a falar sozinho, até se cansar
O presidente do Benfica tomou a posição mais sensata ao não apadrinhar o clima de confrontação verbal com o vizinho. Com a sua atitude não só respeitou a grandeza da instituição a que preside como teve a preocupação de convidar os adeptos encarnados a não atribuírem importância ao que classificou de insinuações avulsas que, como sublinhou, não alcançam nem a reputação nem o bom nome do emblema da águia.
Do ponto de vista do relacionamento institucional, Luís Filipe Vieira, com virtudes e pecados, mas com importante obra feita, também não deve alimentar o capricho truculento de quem está a chegar e que, à parte queixas e denúncias que faz, ou diz que faz, ainda pouco apresentou de visível, além de ter questionado as gestões anteriores, desde Pedro Santana Lopes e José Roquette a Dias da Cunha, Filipe Soares Franco, José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes, reclamando o papel de justiceiro que defende o bem e combate o mal. Quer descobrir todas as malfeitorias passadas e expor na praça pública quem as permitiu.
O primeiro alvo foi o FC Porto, com principal incidência na pessoa do seu presidente, sobre a qual se referiu com oratória violenta e deselegante, como acredito que todos quantos acompanham o fenómeno futebolístico devem estar recordados, embora se saiba que há memórias frágeis que, de repente, perdem a capacidade de retenção de situações menos simpáticas em nome de interesses pouco dignos de se recomendarem. Bom, adiante, Bruno de Carvalho referiu-se a Pinto da Costa como lhe deu na gana, aliviou as suas tensões, mas, em troca, recebeu nada. Ou seja, como se diz em linguagem comum, ficou a pregar no deserto. E sem resposta que lhe aguce a criatividade no verbo a força da sua mensagem dilui-se, perde a eficácia que preza, como confessou na entrevista ao Expresso. É como um caçador em coutada despida de caça. A pontaria de pouco lhe serve se não tiver alvos (aves, coelhos e afins) para neles acertar os seus disparos, pois de outro modo perde tempo, gasta dinheiro e faz barulho. Tudo somado corresponde a inutilidade absoluta, nos antípodas do que persegue BdC.
É a única via que o bom senso e a inteligência aconselham a LFV; sem se desgastar: deixar o homólogo do outro lado da Segunda Circular entretido na sua cruzada de purificar o futebol português, porque, como já deu para verificar, precisa de opositor que o motive e de tema que o inspire nas suas longas intervenções em nome da razão suprema, que julga pertencer-lhe, e da prática de bons costumes subordinada, igualmente, à sua linha de pensamento. Espécie de Diácono Remédios em versão adaptada, porque a original, interpretada por Herman José, além de soberba, é inimitável. O Porto não lhe deu troco e o Benfica só tem de seguir o mesmo caminho: deixar BdC a falar sozinho, até se cansar, no pressuposto de não voltarem a ser violados os limites do razoável.
Estou de acordo com o fundamental de algumas ideias de BdC, sobretudo no que se refere ao sector da arbitragem, desde sempre nebuloso, tipo sociedade secreta com poderes para destituir treinadores, influenciar classificações e despromover clubes, embora considere que devem ser protegidos os melhores em vez de os misturar todos no saco do sorteio, como chegou a ser alvitrado. O recurso às tecnologias também me parece acertado, é uma questão de tempo... No entanto, impõe-se que a clareza seja presença constante em todas as circunstâncias, não devendo BdC cair na tentação do 'ouve o que te digo mas não repares no que faço'. Da mesma maneira que lhe contam coisas, também há descrições de comportamentos seus em circuito fechado que só não tiveram consequências por haver árbitros a quem, de facto lhes pesa a consciência e delegados que veem mal e ouvem pior. Mas é como digo, contaram-me, e por isso fico-me por aqui, sendo certo que não havia necessidade de BdC provocar grossa tempestade para se anunciar como intransigente partidário da verdade. De aí que me permita duvidar da eficácia da empreitada, ele que ainda não percebeu, ou não quis perceber que a história e a dimensão do Sporting exigem outra estratégia política. Os presidentes dos grandes clubes não costumam sentar-se nos bancos de suplentes. Vemo-los nas tribunas presidenciais, o lugar que lhes pertence. O resto... é foguetório para as claques baterem palmas, sendo certo que o universo de apoiantes leoninos representa imensamente mais. O Sporting é enorme, BdC (ainda) não... Eis o problema."
Fernando Guerra, in A Bola
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