"Nem o Comité Olímpico Internacional nem a FIFA nem a UEFA têm assumido posições claras sobre a invasão da Crimeia pela Rússia. E já era tempo. Antes, aliás, o COI também nunca se intrometeu no desastre diplomático dos Jogos de Socchi. O pretexto, ora assumido com estas palavras por dirigentes ora subentendido por toda a gente, foi sempre: «Não fazemos política.»
Discordo destes posicionamentos. Se as mensagens políticas são proibidas a jogadores ou clubes, quando a FIFA, por exemplo, passa a admitir véus e turbantes no futebol está, inevitavelmente, a ser política. A política, pois, é uma inevitabilidade. Outros exemplos se encontrariam. A verdade é que a mensagem política não é de nenhum campo em concreto. A política, ela própria, não é um exercício diplomático de bem-falantes - ou não creio que devesse ser. O que é a política senão tudo, senão a orientação doutras actividades? Quando as grandes instituições desportivas, como o COI ou a FIFA ou a UEFA, dizem que não se imiscuem em políticas estão, dessa forma, a dar à política esse espaço injustificadamente privilegiado de actividade à parte.
A FIFA, dando seguimento aos exemplos, também não se tem pronunciado suficientemente sobre as agitações sociais no Brasil contra o Mundial nem contra as acusações de corrupção na atribuição do Mundial-2022 ao Catar nem, lá está, sobre a transversalidade das questões russas e ucranianas. Afinal, o Mundial de 2018 será na Rússia... E a UEFA, apesar de ter parceiros económicos russos e clubes na Crimeia que não sabem em que país vão competir, tem-se mantido afastada de discussões e posições. O silêncio sobre a actualidade, sobre a vida, por mais que seja hábito, não veste monges.
A falta de acção é até, paradoxalmente, sempre um acto político comprometido. Porque a política, como se disse, não existe por ela própria e logo ninguém é absolutamente político ou apolítico. Tudo está no meio. Não fazer é fazer também."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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