"'Deixem jogar o Mantorras.'
Todos se lembram, a frase entrou, lancinantemente, na linguagem das gentes da bola. Também entrou, não menos lancinantemente, nos afectos maiores das gentes vermelhas. Fez-se até oração. E quando o deixaram jogar, o Pedro levou tantas vezes o delírio às bancadas.
'Deixem jogar o Mantorras.' A frase, cuja paternidade reivindico, foi o mote de uma conferência de Imprensa, corria Agosto de 2001. Lá esteve o Pedro, também o Eusébio, ainda o Simões. Lá estive eu, depois de chamados os jornalistas, exigindo condições para que o Pedro pudesse exteriorizar todos os seus predicados.
'Deixem jogar o Mantorras.', porque havia, nessa altura, defesas cruéis que o castigavam de forma ímpia. Massacravam-lhe o corpo, amarrotavam-lhe a alma. Também nessa altura, árbitros houve que ignoraram as grosserias, as agressões. Prejudicaram o Pedro, prejudicaram o Benfica, prejudicaram o futebol.
'Deixem jogar o Mantorras.' , porque, nessa altura, mais à frente também, o Pedro exibia fundações de mestre, parecia jogador infinito. Sempre com aquele ar de menino puro, sempre com aqueles resquícios de futebol virginal. A bola, com ele, percebia-se mais mimosa.
'Deixem jogar o Mantorras.' Aflitivamente, não deixaram, não deixam mais. O Pedro despede-se com títulos? Despede-se ainda no limitado território da lenda."
João Malheiro, in O Benfica
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