"Com golos de Aursnes e João Mário, o Benfica voltou a vencer na Liga e não vai deixar o Sporting fugir mais antes do dérbi lisboeta. O desbloqueador do jogo foi João Neves e mais uma correria admirável, desta vez pela direita, no desempenho de novas funções. Schmidt voltou a apostar no 3-4-3, mas teve de colocar no relvado os avançados na segunda parte
O Benfica jogou de branco, mas manteve o pecado como sombra. Estranhamente, contra uma equipa fechada, fechadinha num 5-4-1, Roger Schmidt apostou numa equipa sem um número 9 e sem gente nas alas que tenha o corriqueiro hábito de ir para cima dos adversários e cruzar (ou passar) com colheradas de mel. À espera de uma equipa estacionada à frente da baliza, com pouco espaço para malabarismos, eram poucos os jogadores do Benfica que conseguiam, com a bola nos pés, eliminar rivais diretos. Perante um bloqueio coletivo, foi uma flamante correria de João Neves pela direita que desbloqueou o marcador. Fredrik Aursnes e João Mário, de penálti, fizeram os golos da tarde contra o Desportivo de Chaves (2-0), no Estádio Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira.
Tal como em Arouca, para a Taça da Liga, Schmidt investiu num 3-4-3, com António Silva, Otamendi e Morato na defesa. Nas alas, estavam os poucos alas João Neves e Aursnes (Juan Bernat lesionado), que tinham luz verde para pisar o miolo. No meio, estavam Florentino e João Mário (Kokçu indisponível). Depois, sem David Neres, Rafa e Ángel Di María acompanhavam Gonçalo Guedes, um jogador que já não tem a potência de tempos idos e que não tem a fineza dos futebolistas mais finos para jogar como falso 9, para mostrar-se, tocar a bola com colegas e decidir coisas importantes.
O problema é que contra uma teia defensiva que entupia o meio e que, por isso, convidava a jogar perto da linha de cal, o Benfica apresentava-se com uma lentidão preocupante. As combinações por dentro não existiam. Fazia-se um “U”, ou seja, não entrando na zona do tradicional número 10 de antigamente. Sendo assim, se se navegou pelos corredores, rodando a bola por trás ou pelos médios, ameaçando pouco, gera alguma surpresa não haver nas linhas jogadores com pedalada e drible para massacrar os defesas do Desportivo de Chaves, como eventualmente seriam Tiago Gouveia e David Jurásek. Ainda por cima estariam ilibados de começar as jogadas lá atrás, assim ninguém puxava a cartada da nostalgia lembrando Alejandro Grimaldo, que fez mais dois golos esta tarde pelo Bayer Leverkusen.
Depois, faltaram também movimentos curtos que ora desposicionam os outros, ora oferecem espaço aos companheiros. A solidariedade também se mede assim. Raramente se colocou um jogador como Rafa ou Di María de frente para o jogo numa zona vantajosa. Quando se cruzava para a área, sentiam-se duas coisas: solidão e saudades da presença de um 9.
Foi certamente por isso que Roger Schmidt lançou Arthur Cabral ao intervalo, saindo o quase, quase anónimo Gonçalo Guedes. Perto do descanso, o Benfica tinha 64% de posse de bola, mas revelava muitos problemas para criar jogadas interessantes ou que prometessem perigo. Di María e Aursnes foram aqueles que estiveram mais perto da felicidade.
Do lado do Desportivo de Chaves, muitíssimo conservador e talvez ainda a acusar a derrota por 5-0 em Guimarães, apenas Kelechi mostrava orgulho e coragem para tentar algo mais do que defender. Também Rúben Ribeiro procurou pegar no berlinde aqui e ali, mas não teve a vida facilitada pelos rapazes de branco. Leandro Sanca foi o primeiro a experimentar a sensação de ameaçar o golo, assim como Bruno Langa faria, com um tiro à barra, já quando o Benfica estava em vantagem. Teve cheirinho a Roberto Carlos, sim senhor.
Esse golo do Benfica, que desabou a estóica resistência dos homens da casa, surgiu sem grande mérito, aos 59’, depois de mais um lance super perigoso de Sanca e da já mencionada correria pela direita do sempre generoso e elétrico João Neves, que deixou alguns rivais para trás antes de meter a bola perto da baliza de Hugo Souza. Arthur Cabral, infeliz como tem sido hábito, não conseguiu finalizar e Aursnes aproveitou a ressaca da jogada para celebrar o primeiro golo do jogo, disputado a uma hora bem-vinda de Premier League.
Se empatando era preocupante a incapacidade para entrar no bloco flaviense, em vantagem aquela troca de bola do Benfica previsível e mastigada era oportuna e aceitável. Afinal, jogou-se a meio da semana em Arouca e vem aí a Liga dos Campeões (e depois o dérbi). E o Desportivo de Chaves, se queria algo mais, teria de se abrir ligeiramente ou bastante, o que daria oportunidade aos lisboetas para tentarem fechar o encontro.
Tecnicamente, não foi um jogo bonito. Houve duelos mil, lutou-se pela bola que ia rebolando na reluzente relva. O clima deu um espectáculo maior, ora com a choradeira das nuvens, ora cuspindo raios de sol, ora soprando frescamente, enfim. Se alguém está na casa das máquinas do clima, aplaude-se a versatilidade, o que faltou às equipas.
A 20 minutos do fim, Schmidt trocou Di María por Casper Tengstedt, quem sabe unicamente interessado em dar energia ao ataque, pois também o jovem dinamarquês revela algumas limitações técnicas para acompanhar os companheiros. Pouco depois, aos 77’, o árbitro apitou para grande penalidade, depois de Langa, com a bola no pé, tocar no rosto de João Neves. Moreno, o treinador que levantou o Desportivo de Chaves depois de um arranque hediondo com José Gomes, estava fora de si e foi expulso. João Mário, calmo como as plantas mais serenas, escolheu o lado que o guarda-redes não escolheu: 2-0. São 30 golos em 110 jogos pelo clube da Luz para o internacional português.
Também Petar Musa entraria, o que não deixa de ser curioso. O Benfica, de branco e pecador, acabou com os três avançados a jogar quando começou sem nenhum, se assumirmos que Gonçalo Guedes é extremo, uma posição inexistente neste sistema. E o croata marcou mesmo, em cima do minuto 90, depois de uma assistência açucarada de Arthur Cabral. Porém, o VAR vislumbrou um fora de jogo.
O regresso às vitórias para o Benfica, após o empate caseiro com o Casa Pia, foi sentenciado quando o senhor árbitro apitou pela última vez. O alívio foi coletivo. E as vitórias, sejam elas como forem, são sempre úteis para quem se quer encontrar e levantar. Resta saber se este é o caminho adequado, se há convicção na solução encontrada. O desenho, as posições, as características e sociedades dos jogadores não parecem fazer click. Mas o futebol, como sempre, tem a palavra…"
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