"Os últimos golos da sua carreira.
Toda a gente tem a sua história pessoal para contar sobre o grande Homem que agora nos deixou (até Sócrates, com as suas conversas delirantes e irresponsáveis, achou por bem fazê-lo), pelo que não surpreenderá que eu não fuja à regra e seja mais um a engrossar o pelotão dos seus fervorosos admiradores, com "estórias" e outros casos para partilhar. Porém, através de narrativas um pouco mais verídicas do que as do ex-governante, bem entendido.
Tendo acompanhado com toda a atenção a carreira de Eusébio pelos jornais, desde a sua vinda para Lisboa, em Dezembro de 60, e depois também pela rádio e televisão, nunca pensei, nessa altura, que um dia pudesse chegar à fala com o "fenómeno". Contudo, o facto de ter, mais tarde, enveredado pela carreira de jornalista facilitou bastante o contacto inicial (e os que se seguiram).
Isso aconteceu em Outubro de 73, já depois de o ter visto por inúmeras vezes "ao vivo", como jogador, e ter estado, inclusive, muito perto dele, no decorrer de um treino da selecção, quando, já jornalista do "Diário de Notícias", acompanhei os trabalhos da equipa na véspera do confronto com a Bulgária, de qualificação para o Mundial-74. Nessa altura, só tive ocasião de falar com o seleccionador José Augusto, que me possibilitou uma entrevista que o jornal daria à estampa, no dia seguinte. Mas, dias depois, cumprimentei-o mesmo, no final do Benfica-Ujpest, que os encarnados empataram a um golo para a Taça dos Campeões.
Eusébio tinha marcado o golo da equipa (de cabeça, lembro-me) e era alvo de toda a atenção por parte de muita gente, jornalistas e não só, e, no meio de toda aquela balbúrdia, que os tempos eram outros, o enviado do DN ao jogo possibilitou-me a aproximação à "pantera", que denunciou, logo ali, a simplicidade e simpatia que se lhe apontava, mas que então testemunhei e que o futuro haveria de confirmar. Estávamos no dia 24 de Outubro de 73 e o golo marcado aos húngaros fora o último conseguido por Eusébio nas provas da UEFA, já que em Budapeste e nos quatro jogos da época seguinte em que participou, ficou em branco.
Agora, nesta hora de puxar pelas recordações, lembrei-me de que o tal jogo da selecção com os búlgaros tinha sido a 13 do mesmo mês e constituíra o último encontro do "Rei" pela equipa nacional. Não tendo facturado nesse duelo (Simões e Quaresma é que foram os marcadores de serviço), o meu passo seguinte foi o de ir em busca do último golo de Eusébio pela selecção. E de novo me deparo com 1973. Pela televisão, assisti à marcação desse golo, de grande penalidade, frente à Irlanda do Norte, num jogo realizado na inglesa Coventry, em virtude de Belfast se encontrar a ferro e fogo.
Feita a ficha internacional, digamos assim, faltava identificar o último golo de sempre de Eusébio pela equipa da Luz. Aconteceu em Março de 75, em Setúbal, na última época em que esteve ao serviço do seu Benfica. Jogo importante, já que, a cinco jornadas do fim, a diferença pontual sobre o Sporting ainda nada garantia. Eusébio inaugurou o marcador, mas o Vitória deu a volta ao resultado e ganhou por 2-1, ainda os sadinos do mecenas Xavier de Lima davam cartas e o PREC ainda não tinha feito das suas.
Em resumo, estive em todos os golos de despedida de Eusébio, quer no Benfica, quer na selecção, embora o golo pela "equipa de todos nós" não tenha sido presenciado "in loco", mas pela TV. Não, não ia a caminho da escola. Vi o golo tranquilamente em casa e percebi que, com Eusébio já na fase descendente da sua fabulosa carreira, teríamos de esperar muito tempo para revivermos as alegrias de Julho de 1966."
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