"Cumpriram-se há pouco 40 anos sobre o «Alegre Verão da Minicopa». No Brasil, Portugal e Eusébio voltaram a encantar o Mundo. E no ia 25 de Junho de 1972, a Selecção Nacional entrou em campo com dez jogadores 'encarnados'
Cumpriram-se há pouco quarenta anos. Em Junho de 1972, a Selecção Nacional viajava para o Brasil. Cento e cinquenta anos se comemoravam sobre a data da independência do Brasil e o fim da colonização portuguesa. A Confederação Brasileira de Desporto não deixara a coisa por menos: os 150 anos da Independência seriam motivo para a disputa de uma competição que pouco ficava a dever a um verdadeiro Campeonato do Mundo. Vinte selecções nacionais e continentais disputariam, em 12 estádios, aquela que ficou conhecida como Minicopa. Quinze equipas - Argentina, Selecção de África, França, Selecção da América Central, Colômbia, Equador, Perú, Bolívia, Paraguai, Irlanda, Venezuela, Chile, Irão, Jugoslávia e Portugal - seriam distribuídas por três grupos; outras cinco - Brasil, Uruguai, URSS, Chescolováquia e Escócia - ficariam isentas da primeira fase. Em seguida, formavam-se dois grupos de quatro equipas que decidiam o acesso à final em sistema de 'poule'. Portugal começou por ficar no Grupo II, juntamente com Equador, Irão, Irlanda e Chile.
O Seleccionador Nacional era José Augusto. levou consigo uma equipa inteira do Benfica: José Henrique, Artur, Humberto Coelho, Messias, Adolfo, Jaime Graça, Toni, Matine, (que acabara de cumprir um ano no V. Setúbal), Nené, Artur Jorge, Eusébio e Jordão, juntou-lhe Damas (Sporting), Mourinho (Belenenses), Laranjeira (Sporting), Murça (FC Porto), Peres (Sporting), Chico (Sporting), Abel (FC Porto) e Dinis (Sporting).
O comportamento dos portugueses na Minicopa foi brilhante. Vitórias sobre o Equador (3-0), Irão (3-0), Chile (4-1) e Irlanda (2-1) na primeira Fase; depois um extraordinário jogo contra a Argentina, no Maracanã (3-1). No jornal 'O Globo', o famoso jornalista brasileiro, João Saldanha, escrevia: 'Há muito tempo que não vejo um time jogar tão bem. Nenhumas falhas. Se caprichassem um pouquinho, eram cinco ou seis. Toni tem uma raça impressionante; Eusébio é a calma personificada; os laterais, perfeitos; Peres deu aula; Jordão fez miséria. A Argentina é um bom time, mas Portugal, ontem, não perdia para ninguém.'
Um empate perante o Uruguai (1-1) e novo triunfo, agora frente à URSS (1-0), a garantir lugar na final com o Brasil. Talvez a vitória seja uma doença que só o derrota cura, para seguir os pensamentos de Mário Filho, o grande cronista brasileiro. Portugal perdeu: 0-1, golo de Jairzinho a passe de Tostão no finalzinho do encontro. Eusébio encantara os brasileiros, tão imenso fora o seu futebol...
Aquela tarde, no Recife...
E agora voltemos atrás, recuperando o motivo desta crónica. A final do Maracanã foi no dia 9 de Julho, e eu quero falar do dia 25 de Junho. Cidade de Recife, no Estado do Pernambuco. Estádio do Rego Maciel, conhecido pelo Colosso do Arruda ou por Mundão do Arruda, com capacidade para mais de 60 mil espectadores, propriedade do Santa Cruz Futebol Clube. Foi aí. O árbitro era um argentino, Angél Coerezza. Até então, como já vimos, Portugal batera o Equador o Irão e o Chile (a primeira Fase era disputada em três grupos de cinco equipas). Quanto à Irlanda, a República da Irlanda, como está bem de ver, e não a sua irmã mais pequena Irlanda do Norte, vencera o Irão (2-1) e o Equador (3-2), perdendo com o Chile (1-2). Nada de muito entusiasmante.
Os irlandeses entraram em campo com: Kelly; Kinnear, Martin, Dempsey e Carol; Mulligham e Campbell; Rogers, Treachy, Givens e Leech. Por seu lado, Portugal alinhava assim: José Henrique (Benfica); Artur (Benfica), Humberto Coelho (Benfica), Messias (Benfica) e Adolfo (Benfica); Toni (Benfica), Matine (Benfica) e Peres (Sporting); Nené (Benfica), Artur Jorge (Benfica) e Eusébio 'cap.' (Benfica).
Nunca uma Selecção Nacional fora tão vermelho-Benfica. Apenas Fernando Peres destoava. Não na qualidade, que tinha muita, mas na cor. Houve quem lhe chamasse o 'Sport Lisboa e Peres'. Ou o 'Sport Peres e Benfica'.
Peres não se acanhou e fez, até, o primeiro golo, aos 35 minutos; Nené fez os 2-0 aos 37'. Depois Leech reduziu, aos 38'. Tudo resolvido em três minutos. Quando às substituições, na primeira mantiveram-se os dez do Benfica; saiu Nené e entrou Jaime Graça. Depois foram reduzidos a nove minutos do final: saiu José Henrique e entrou Mourinho. Mas nove benfiquistas na equipa titular, voltou a repetir-se. Dez é que não, embora contra a Argentina tivessem sido dez a acabar o jogo. Até à final, Fernando Peres manteve-se teimosamente titular. E Dinis para lá caminhou.
Ilhas verdes numa equipa vermelha..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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