Últimas indefectivações

sexta-feira, 11 de março de 2011

Lama preta nas estrelas

"Infelizmente, eu não sei como é que, concretamente, eles são pagos. Quem é que lhes estabeleceu as avenças, ou se se trata de acordos 'à peça'. Como é que são contactados. Que sistema de criptografia utilizam, e com tanta eficácia, para nunca terem sido apanhados pelas polícias de investigação e para que os tribunais não os castiguem depois, exemplarmente, com a prisão e a irradiação. Que sinais usarão uns e outros, como código comum, para se fazerem entender entre si e saberem, com muita ou pouca, mas com a devida antecedência, em que jogos têm de agir, sem falhas nem omissões.
Também não sei qual é, especificamente, a 'tabela dos serviços'. Mas imagino que se trate de uma grelha relativamente complexa. E que, ao longo dos tempos, em 30 anos, deve ter evoluído certamente a um ritmo muito superior ao da inflação. Quanto vale hoje um penálti decisivo, a meio do jogo, para empatar? E para definir uma vitória? Não sei. É claro que é também um segredo bem guardado. Mas deve representar um dos 'tickets' mais caros, seguramente. Quanto se paga por uma expulsão, assim ela seja determinada, por exemplo, na 1.ª parte ou na 2.ª parte? Nós não sabemos, mas representa uma autêntica fortuna. Se o Benfica for obrigado a jogar com dez atletas (ou com nove...)? Os preços deverão variar durante mais de 60, mais de 50, mais de 45, mais de 35, ou mais de 25 minutos? Também desconhecemos este parâmetros. Ignoramos, igualmente, quanto valerão os cartões amarelos simples - até cinco, ou mais de cinco, por exemplo. E quanto recebem os corruptos por 'amarelo e por 'vermelho', que levem a impedimento nos jogos seguintes. Se as 'faltas' são directamente assinaladas pelo artista principal ou por um dos seus acólitos. Ou quanto se paga por cada penálti, cada falta decisiva, cada 'amarelo' ou 'vermelho', ignorados e desculpados aos opositores do Glorioso.
Presumo que no secreto processo intervenham intermediários como aqueles personagens muito característicos nas cerradas estruturas marginais de província: ex-polícias, alguns advogados sem carteira e outros solicitadores tarimbeiros, enfim, gente dos bas-fonds à moda de Palermo, que tão frequentemente vemos matarem-se uns aos outros nesses meios. Todos usam uma metodologia rigorosa e negra, cujo conceptor - ao contrário do que hoje é atribuído e usurpado pelo próprio presidente do clube regional - terá sido o psicologista Zé do Boné, a quem, cadáver, raivosamente, já foram prometidas promessas incumpríveis...
A verdade é que a coisa se foi apurando e burilando, deixando de fora alguns ineptos ou mais fragéis que levantassem dúvidas e inquietações, mas seleccionando sempre os indefectíveis e os destemidos. A Justiça, pela sua inépcia e com inércia, foi-os deixando sempre imunes e impunes, à medida em que refinavam os modelos. E a eficácia que lhe garantia Campeonatos em Portugal, ante a incredibilidade e a passividade dos contendores mais directos e o medo dos mais frágeis, deixava irremediavelmente vencidos uns, e acossados e domesticados, os outros. E não apenas no Futebol. O mesmo se verifica acontecer durante muitos designadamente anos no ambiente do Basquetebol e nos cenários do Hóquei em Patins.
Depois da irrestrita aplicação da 'metodologia' no nosso País, ensaiam as primeiras tentativas bem sucedidas no estrangeiro, com a bonomia interesseira dos fora e dos seus corruptos agentes e gestores internacionais. É desse modo que assim vão conquistando vitórias escandalosas em 'competições' portuguesas e europeias. Sempre tudo garantido. Como na Juventus. E no Marselha...
Quando já no início do séc. XXI, surgem as primeiras suspeições, tanto a nível nacional como internacional, a aperreada moscambilha rapidamente abafa os rumores e sabe calar as desconfianças. Cá no burgo, uma farsa judicial de muitos meses acaba reduzida a nada. Em todo o caso, de alguma maneira, tremeram alguns dos elos mais fracos do Sistema que, durante o ano passado, como ratos, se esconderam e reduziram temporariamente, permitindo que o futebol escorreito e superior do Benfica não pudesse ser contrariado pelas iniquidades dos 'homens de preto', nem pelas luvas dos de 'colarinho branco', como nos últimos 25 anos tantas vezes sucedera. Tudo isto constitui matéria do senso comum.
Mesmo entre as suas hostes que, na anónima blogosfera, ao longo da segunda metade da época passada, bem clamavam pelo regresso a 'uma atitude mais firme'... O 'padrinho' porém, logo avisara no defeso entre as duas épocas que, novamente, tudo ia voltar a correr como sempre. E em Braga, na semana passada, foi o que se viu. Como assinala Luís Fialho na página 29 desta edição, fora o mesmo a abrir a Liga, na Luz, com a Académica; na Madeira, com o Nacional; em Guimarães, na 4.ª jornada; em nossa casa, com o Sporting, na 5.ª jornada seguinte, com o Marítimo, na Madeira. Além dos benefícios que, como é de suspeitar, foram directa e deliberadamente entregues ao clube das Antas logo nas primeiras cinco jornadas da Liga.
O trabalhinho essencial ficava pronto. De facto, com os seus poderes de xamã da rua da Lameira de Cima, o 'capo', ele próprio se encarregara de 'escrever nas estrelas' o destino que lhe convinha, antes que fosse mais tarde. Com a mesma lama preta que lhe suja as mãos e a imagem de clube regional, há muitos anos."
José Nuno Martins, in O Benfica

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