Últimas indefectivações

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Taça de Portugal não salva a época

"A final da Taça de Portugal é um objectivo importante em si mesmo. Não serve para apagar a desilusão do campeonato, nem para sublinhar o orgulho da prova europeia já não sentida há mais de duas décadas.
Lembro-me bem da tristeza de perder a última final do Jamor contra o Vitória de Setúbal. O Benfica tinha sido campeão oito dias antes no Bessa e, ainda assim, a derrota foi amarga.
Mas lembro-me também da última vitória contra o FC Porto campeão europeu de Mourinho. O Benfica tinha perdido o campeonato para o FC Porto e ainda assim a alegria foi imensa.
A Taça de Portugal vale por si mesmo, não serve para salvar épocas ou para fazer retoques de palmarés. Ganhar a Taça é um objectivo sempre presente no Benfica que desejo e que defendo. No Jamor, palco renovado e já anunciado por Hermínio Loureiro como terreno obrigatório para as próximas edições, exijo um Benfica ao melhor nível. Este será o travo que ficará na boca de todos os benfiquistas durante o defeso.
Acabamos a ganhar ou a perder. Mais que sair do Jamor para o Marquês de Pombal, queremos sair do Jamor para dois meses de esperança a satisfação. O Jamor é também o bilhete para uma desforra, dia 10  de Agosto, com o nosso rival. Domingo, no Jamor, joga o Benfica muita coisa, mas acima de tudo o moral e o ânimo dos seus adeptos.
Parabéns pelo título de juniores, conseguido em Vila do Conde, título que fugia há nove anos (umas vezes em campo outras na secretária).
Na Liga dos Campeões deixo a minha absoluta preferência pelo Bayern, estou cansado de ver o antifutebol a vencer provas. Este Bayern é uma delícia, um hino ao futebol. Na reforma de um Jupp Heynckes que já foi nosso treinador, gostava que ganhassem os vermelhos, essencialmente para defesa do futebol e da justiça."

Sílvio Cervan, in A Bola

O «Rato Atómico» e »Pipi»

"Quatro golos de Rogério desfizeram o entusiasmo dos estudantes numa tarde em que Lisboa fervia de calor. O Benfica dava chapa 5 na final da Taça de Portugal. Voltaria a repetir a façanha nas duas edições seguintes...

NO dia 10 de Junho de 1951, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo a Académica, por 5-1. No dia 15 de Junho de 1952, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo o Sporting, por 5-4.
No dia 28 de Junho de 1953, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo o FC Porto, por 5-0.
Três conquistas consecutivas, todas rematadas a chapa cinco.
Três que podem muito bem ser consideradas quatro, já que em 1950, por via da disputa em Lisboa da Taça Latina, não houve lugar à Taça de Portugal. E no dia 12 de Junho de 1949, o Benfica venceu a Taça de Portugal, no Jamor, batendo o Atlético, aí apenas, por 2-1.
Mas desse jogo já falámos na semana passada, vamos então aos três-vezes-cinco, algo que dificlmente se repetirá na história do Futebol português.
No dia 10 de Junho de 1951, Lisboa viu-se invadida por estudantes. As capas negras brilhavam ao sol e a romaria começou cedo em direcção ao Vale do Jamor. O calor era sufocante, demolidor. Escrevia-se na imprensa da época: «Não foi um grande jogo, sem dúvida. Teve, todavia, aqui e ali, além de laivos de emoção e toques de bola factura de futebol. A A.A. sempre que procurou baixar a bola, deu melhor seguimento ao seu jogo ofensivo. O Benfica, com um Rogério em tarde de brilho, teve quem ordenasse o jogo vindo de trás, de uma defes segura, em regra. Moreira, Arsénio e Rogério, escalonando-se, recebiam a bola vinda da retaguarda e logo lhe davam o devido destino. Para a frente. Mas nem sempre, digamos. Houve muitos lances de rendilhado, sem progressão no terreno (...) O Benfica tirou, pois, boa desforra de há doze anos. Conquistou a Taça por mérito próprio, fazendo na final o suficiente para chegar a uma marca robusta, expressiva, eloquente. (...) Quando terminou o desafio, os 'benficas' seram largas ao seu entusiasmo. Por momentos tivemos a sensação da famosa final da Taça Latina de 1950. Quando Francisco Ferreira apareceu na tribuna de honra com a taça recolheu fartos aplausos. Os benficas deram então largas ao seu contentamento».

A arte de Rogério
PARA chegar à final de 1951, coube ao Benfica afastar o Sporting da Covilhã (4-1 em casa, 5-5 fora), o Marítimo (3-0 fora, 2-1 em casa) e o Atlético, finalista da última edição (5-3 fora, 1-0 em casa).
Depois, na final, os tais cinco-a-um. E os golos enfileiraram-se desta forma: 1-0 por Arsénio, aos 5 minutos; 2-0 por Rogério »Pipi», aos 14 minutos, de grande penalidade; 2-1 por Macedo, aos 26 minutos; 3-1 por Rogério «Pipi», aos 55 minutos; 4-1 Rogério «Pipi», aos 63 minutos; 5-1 por Rogério «Pipi», aos 77 minutos.
Quatro golos de Rogério - quatro! Nem o famoso Bentes, do lado coimbrão, o Dr. Bentes, o «Rato Atómico», foi capaz de ofuscar o brilho de »Pipi».
«O labor de Rogério, ontem em dia de abrir o livro», escrevia-se no «Diário de Lisboa». E prosseguia-se: «Se o seu segundo golo, terceiro do Benfica, fora extraordinário, o que se lhe seguiu andou na mesma bitola. Uma série de fintas, driblando para a direita e para a esquerda, terminando o 'bailado' com um chuto que chegou às malhas».
Com o seu talento, Rogério »Pipi» desfazia a última resistência dos estudantes. Falava-se em révanche. Fora contra a Académica que o Benfica perdera a primeira edição da Final da Taça de Portugal, em 1939. A vingança servia-se fria num prato com cinco golos. Desiludidos, os rapazes das capas negras regressavam às margens do Mondego. Sem razões para lamúrias. Nos anos que se seguiram, o Benfica voltaria a aplicar a receita dos cinco a Sporting e a FC Porto em novas finais do Jamor. Ficam aqui prometidos os pormenores dessas cenas dos próximos capítulos. Até já!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Além do imediato

"Nós, Benfica, perdemos o campeonato no final e a final da Liga Europa também no final. Para a história e estatística fica a frieza do registo e poucos se recordarão das circunstâncias de tais desfechos. Entre o azar, as falhas próprias e os méritos alheios ficou o testemunho de que a justiça não se compadece com o destino. Testemunhámos também que, para além da frieza dos números, há toda uma envolvência que, de forma estranha e praticamente inaudita, levou a que, mesmo no momento de dois duríssimos golpes, tivéssemos visto milhares e milhares de benfiquistas reagir à adversidade, amparando os seus atletas numa comunhão raramente vista nos momentos de ausência de vitória.
Confundir este amparo aos nossos com falta de exigência ou falta de ambição por parte dos benfiquistas é enviesar a leitura da realidade. Nenhum benfiquista se sentiu minimamente satisfeito com o desfecho da época. Todos os benfiquistas ambicionam muito mais do que o que colhemos da época que agora finda. No entanto, também foi notório que a família benfiquista soube reconhecer o empenho e o mérito do caminho percorrido pelos nossos futebolistas e por Jorge Jesus. Só assim se explica que a esmagadora maioria dos benfiquistas defenda a continuidade do treinador. Isto é muito estranho para a realidade do futebol português. É de tal forma inovador que deveria levar os opinadores que acusam os benfiquistas de falta de ambição a tentar ver para além da miopia do imediato. Se assim o fizessem, perceber-nos-iam, pois, pela primeira vez na história do nosso futebol, vemos uma massa adepta feita de milhões de pessoas a olhar para o futebol para além do óbvio. Ou seja, somos agora acusados por fazermos na prática o que esses teóricos andam a pedinchar há anos: termos cultura futebolística para perceber que o futebol não pode ignorar o resultado, mas que não se esgota nos números do mesmo."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

9

Objectivamente (....a saga continua.)

"E a saga continua. Os títulos da Imprensa que ignora ano após ano as malfeitorias do clube das riscas elogia: nove títulos em 11 anos! Tricampeão, outra vez, etc, etc.
Bom, aquilo que se pode dizer depois de mais um dia em que os adeptos do nosso rival não festejaram a sua conquista mas antes a derrota do Glorioso SLB, é que começa a ser redutor ter de engolir com fair-play tudo o que se passa à nossa volta, observando os situacionistas que sempre estão de acordo com tudo o que se passa sem escalpelizar as razões das sem vergonhices do Futebol português!
O FC Porto ganhou mais um Campeonato com ajuda dos árbitros. A época passada foi com um golo em fora de jogo de Maicon no jogo da decisão na Luz. Este ano foi com um penálti assinalado, fora da área, com menu completo: expulsão do adversário e golo! James - que simulou a falta, como se vê em várias imagens elucidativas tropeçando nele próprio, continuou em campo sem amarelo por simulação. O árbitro, Hugo Miguel, continuará de certo a merecer os elogios do Papa por ser tão agradável... trabalho feito sempre em prol da seriedade do Futebol português!
A pouca vergonha continua ano após ano enquanto se eternizar o poder de quem domina o Futebol português. É vergonhoso manterem em competição equipas que não pagam ordenados há meses e conseguem documentação de «limpeza» com a conivência das autoridades da Liga. É vergonhoso manter a impunidade dos árbitros e seus dirigentes quando ano após ano beneficiam sempre o mesmo clube no dia das grandes decisões.
O Benfica terá sempre de jogar três vezes mais que os adversários para ganhar. E ainda bem que é assim. O que não pode acontecer é que o nosso rival ganhe pontos e jogos com ajuda de erros de árbitros como acontece há muitos anos! Alguém tem de parar isto!"

João Diogo, in O Benfica

Orgulho

"1. Foi a palavra mais ouvida aos benfiquistas nos dias que se seguiram à final da Liga Europa. E logo a seguir ao jogo eu já a havia eleito para título da crónica de hoje. Ao longo do jogo, dei por mim a pensar várias vezes: de certeza que os milhões de telespectadores deste jogo por esse Mundo fora estarão neste momento a elogiar o nosso Clube: pelo excelente jogo praticado e pelo entusiasmo dos nossos adeptos. Só faltaram os golos que a exibição da equipa plenamente justificava. E como quem não marca normalmente sofre, eis que acabámos de perder o jogo naquele fatídico minuto 92. Um jogo que merecíamos ter ganho. O Chelsea, campeão europeu em título, foi completamente subjugado. Mas a categoria dos seus jogadores permite-lhes aproveitar qualquer oportunidade, qualquer distracção. Custa perder assim. Mas sentimo-nos orgulhosos da equipa, dos adeptos que lá estiveram. Foram todos uns heróis.
Outra constatação agradável, apesar da derrota: sentimos que o Clube está cada vez mais forte e que a nossa 10.ª Final europeia não tardará. Esperando que, então, não continuemos a ter a sorte como adversária. A sorte que nos tem perseguido: depois dos dois títulos europeus de 1961, com o Barcelona (com alguma sorte, reconheça-se), e de 1962, com o Real Madrid (indiscutível), houve a lesão de Coluna (atingido por um adversário); em 1963, com o Milão (jogámos praticamente com 10 homens - não havia substituições); houve o 'frango' e a lesão do guarda-redes Costa Pereira em 1965, com o Inter, em... Milão (teve que ir o defesa-central Germano para a baliza!); houve o falhanço incrível de Eusébio mesmo no final do tempo regulamentar em 1968, com o Manchester, levando o jogo (disputado em... Londres) para prolongamento; houve o desempate por grandes penalidades em 1988, com o PSV, jogo em que não contámos (por lesão dias antes) com Diamantino, então jogador fundamental. Só em duas outras finais não temos razão de queixa: na Taça UEFA, com o Anderlecht, e na Taça dos Clubes Campeões Europeus, com o Milão de Baresi, Costacurta, Maldini, Ancelloti, Rijkard, Gullit, Van Basten...
A sorte não estará sempre de costas voltadas nas nossas finais europeias.

2. Última jornada do Campeonato. Jogo decisivo. Aos 20 minutos, falta inexistente e fora da área é transformada em grande penalidade, com expulsão do defesa da equipa adversária, que fica 70 minutos (mais os descontos) a jogar com menos um. É mais um título 'à FC Porto'!..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Recordar é viver (VII)