Últimas indefectivações

quarta-feira, 25 de abril de 2018

A(s) cartilhas(s)

"Acusar de crime (!) um clube por dar pistas ou ideias para que uma mensagem passe na comunicação social não lembra o diabo.

Futebolisticamente falando, esta época tem tido entre as suas palavras mais (e mal) ditas, uma que até parecia estar jazendo no sótão das memórias. Refiro-me a 'cartilha' e seus derivados. Dedico hoje os centímetros quadrados deste 'contador da luz' à crítica da cartilha pura e à crítica da cartilha prática, em jeito caricaturalmente kantiano, trocando a palavra razão pelo substantivo cartilha. Para isso, começo por pedir indulgência para alguns neologismos forçados por causa da dita cartilha.
É claro que quem gosta de a invocar, mesmo que a despropósito, não a estará a relacionar com a simbólica cartilha de João de Deus, que consistia num livrinho didáctico consagrado à alfabetização das criancinhas, embora haja quem, agora falando de cartilhas, bem precise de a ela voltar.
Nesta guerrilha ao desbarato, uma coisa é pior que uma cartilha. É cartilhar sobre a própria cartilha. De tal modo que o efeito da cartilha é uma mais do que superlativa cartilha do efeito. Assim cartilhando, cartilheiros há que se acham engraçados e assim artilhando se acham ilustrados.
Estou cem por cento à vontade porque eu nem facebuco, nem instagramo, nem tuito e 'the last but not the least', nem cartilho. Melhor e rectificando, de ora em vez, cartilho, mas comigo próprio.
Muito sinceramente, nunca percebi essa acusação de cartilhas e cartilheiros, embora - confesso - não aprecie estas práticas. Afinal, cartilhas é o que para aí há mais. No futebol, há a cartilha da selecção, em nome do último reduto de iconografia patriótica, há a cartilha de macacos estranhamente seguida por humanos, há a cartilha dos clubes cada um à sua moda e com mais ou menos cartilheiros encartados. Na política e respectivos comentadores é um fartar de cartilheiros (neste caso, não confundir com cartilagem). Nos partidos, evidentemente há cartilhas em profusão para não haver dissonâncias e ai o líder que tem militantes fora da partitura. Nas corporações, é só escutar uns tantos e ver que, quanto a interesses de grupo ou de classe, afinam todos pela mesma cartilha. Na igreja, não cometo a blasfémia de chamar cartilha à Bíblia. Etc., etc.
Que raio de acusação é a de chamar cartilheiro a alguém que comenta ou fala sobre o seu clube, seguindo uma narrativa (é assim que se diz, não é?) de defesa dos pontos de vista do clube que é o seu? Quererão, que desafinem ou quererão que, indirectamente, apoiem os clubes rivais? Até admito que se possa chamar de vistas curtas, sem rasgo, sem total independência, quem fala estritamente seguindo um qualquer guião e independentemente do contexto. Bem como todos sabemos que, nos clubes, há quem perore publicamente, umas vezes mais pela via oral, outras pelo uso da escrita, e tantas delas com apreciável má educação e obsessão conflituosa que está para além da urbanidade. É claro que há certos tempos e determinados espaços para os quais aquilo que seria o critério para afastar pessoas - cartilhadas ou não - acaba por ser determinante para a rebaldaria e o  sangue de programas que se transformam em indigentes 'reality shows'. É o mundo dos odiocratas aquele que lidera as audiências.
Agora acusar de crime (!) um clube por dar pistas ou ideias para que uma mensagem passe na comunicação social não lembra o diabo. No entanto, repito que essa coisa de cartilhar não me entusiasma nada e até a vejo como uma forma de menorizar quem aceita tal jogo. E isto porque, para mim, o amor ao meu clube está acima de qualquer representação ou procuração temporária ou efémera de poder electivo ou outro qualquer poder fátuo. Por isso, sempre preservo a minha independência e jamais ouvi recados de quem que fosse, ainda que esteja consciente de que esta maneira de estar não é do agrado de quem acha que deveremos ser todos acefalamente seguidistas dos poderes estabelecidos. O lema do meu Benfica 'E pluribus unum' ('De muitos, um') não é convite à omissão de pensamento construtivamente crítico, antes uma forma de, pela concordância ou pela discordância serenas, dar o seu melhor contributo para a instituição. Ou será que, para os que se alimentam de ódio indisfarçado ao maior clube português, o nosso histórico e respeitável lema 'todos pelo Benfica' se tornou numa cartilha abjecta? Que mal há em uma direcção ou administração procurar que haja uma sintonia (que não sinfonia) com os que, em nome ou por causa do seu clube, exprimem pontos de vista dos media? Mas querem chamar-lhe cartilha? Pois que seja e que lhes faça bom proveito.
Bem sei que os rivais, em particular o FCP, nunca tiveram e nunca terão cartilheiros. Pureza absoluta. Sempre pensarem pela sua cabeça e, muitos deles até ousaram votar em sucessivas eleições norte-coreano. Ah! Esquecia-me dos directores de comunicação. Eles jamais tiveram ou têm cartilha. A não ser a cartilha do uso ilegal de alegados documentos alheios para os espalhar, com ar do mais puro legalismo fariseu. Quer dizer, não são cartilhados e muito menos cartilháveis. São só cartilhantes por via da mais nobre função ética que alguém pode almejar: a de se apropriarem, ilegítima e ilegalmente, do alheio para se servirem em proveito pretensamente próprio. Enfim, muitos críticos da cartilha são mais cartilheiros que os cartilhados. E não nos esqueçamos que a cartilha dos maldizentes e ressabiados sempre foi a hipocrisia.
Há um outro ponto que, se não fosse ridículo, até seria curioso: o da pretensa superioridade moral e da fingida supremacia intelectual dos cartilheiros contra a cartilha que juram haver no SLB. Nesta altura, apetece-me, a mero título exemplificativo, arrolar para este texto a cartilha dos não sei quantos penáltis não assinalados a favor do Porto (já agora, não sei por que razão não têm também uma outra cartilha sobre o facto de não haver penáltis contra o FCP há precisamente 380 dias!). Não há programa e não há texto em que não se faça, semana a semana, a contabilidade devidamente actualizada e inchada por quem faz as presumidas contas e lança e malha. Uma cartilha de intenções, suposições e articulações. Mas já, no Benfica, por exemplo, contabilizar a distribuição dos árbitros que apitam os três grandes pelas respectivas Associações distritais e isso ser falado por outros benfiquistas com expressão pública é cartilha, dizem-nos com inusitada iluminação. Todavia, mesmo cartilhada que seja, é cartilha de pura factualidade.
Em suma: cartilhas há muitas, oh distraídos! Há-as por via endovenosa (que mais parece endovenenosa), há-as por via intramuscular, há-as por simpatia epidérmica, há-as por posologia oral xaropada, há-as por emprenhar por via auricular, há-as por acefalia militante, há-as por recibo verde, há-as por rendimento mínimo garantido, etc. E, ao que dizem os bem-informados, há a do Benfica que tem o pecado original de ser por escrito e por e-mail. Pois é, o problema é a forma, não é o método, nem o conteúdo. Viva o formalismo! E vivam as cartilhas para totós!

A tomado do poder
Dias antes de 25 de Abril, que hoje se comemora, saiu mais uma ração de combate para a mesa dos cartilheiros anti-Benfica! Desta vez e ao que li, trata-se de alegados documentos, certamente adquiridos (quem sabe se forjados ou adulterados) por obra e graça da mais profunda deontologia profissional e da imbatível moralidade. Parece que - imagine-se - há uns seis anos se traçava no Benfica um terrível plano para controlar tudo e todos, em forma de PowerPoint apresentado numa reunião (secretíssima, evidentemente) de quadros da Benfica SAD. Tal hedionda estratégia propunha-se controlar todos os órgãos dirigentes do futebol e da arbitragem (onde é que eu já havia isto, antes?) e, sobretudo, o poder político, o poder judicial, o poder legislativo, o poder mediático, só creio que escapando a Presidência da República. É obra demoníaca de uma ambição totalitária que o meu clube terá gizado, credo! E com os outros clubes a dormir, veja-se lá o maquiavelismo encarnado! Ao que lei, tratava-se um plano quinquental, à boa maneira soviética. Mas, pelos vistos, terá fracassado esta tão bem urdida e oculta operação de tomada de assalto pelo SLB dos poderes do Estado de direito democrático.
Denunciado tão fantasmagórico golpe de Estado, os papagaios do costume têm replicado a intentona sem se rirem.
Bem hajam, cartilheiros unidos, por nos garantirem a normalidade constitucional deste nosso querido País!
Podemos dormir descansados, agora."

Bagão Félix, in A Bola

Mais três pontos...

Benfica 9 - 2 Braga

Sem grandes problemas, como era de esperar...

Vitória...

Benfica 7 - 1 Aves

Entrada a 'dormir', mas quando acordámos... os golos apareceram!!!

'Sugar Man'

"1. À procura de Sugar Man é um fabuloso documentário de 2012, premiado com óscar. Conta a história de um desconhecido e desaparecido cantor norte-americano, Sixto Rodriguez, que 30 anos depois de lançar os únicos dois álbuns ficou a saber que era um fenómeno de popularidade na África do Sul. Espero que os nossos grandes clubes (em particular os seus presidentes e directores de comunicação) não precisem de 30 anos para saber que são um fenómeno de estupidez.
2. Para quem gosta de uma boa dose de hipocrisia, a saída de Arsène Wenger do Arsenal é perfeita. Parece agora tão melhor treinador que talvez o Arsenal o contrate para o lugar do Arsène Wenger que era mau e teimava em não sair.
3. Por falar em Arsenal, um adepto tatuou a cara de Lacazette no rabo e mostrou ao jogador. Não consigo imaginar momento mais constrangedor. Bom, talvez o post do pai de Bruno de Carvalho.
4. Se a minha mulher vir as mensagens de meu telemóvel e descobrir que tenho uma amante, em bem posso argumentar com a invasão de privacidade, é legítimo, mas o tema principal passou inevitavelmente a ser a traição. Insistir no primeiro ponto é combater balas de canhão com flechas de plástico ou simplesmente fazer poeira. Um dia o Benfica vai perceber isto, com ou sem ajuda da NASA.
5. Os 27 pontos que separam o quinto classificado do quarteto da frente (os crónicos três grandes e um surpreendente SC Braga) são o buraco de ozono de nosso futebol. Por cada pequeno que lute contra a emissão de gases, há um grande a agitar a latinha de spray.
6. Rafa no Benfica: no início fazia poucas coisas bem e quase tudo mal, agora faz quase tudo bem e algumas coisas mal. Aqui chegados, agora tem de ser ele e mais 10 até fazer tudo bem.
7. Que a incrível campanha do meu Caldas na Taça de Portugal, a prova do Zé Povinho, possa ter sido a erecção que faltava para as novas e grandes faianças do clube no futebol português."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Gostaria de saber quais são as 'provas' de traição, nos 'sms's' do Benfica?!!!
Imagina Gonçalo, que os tais sms's que a tua mulher 'descobriu' são manipulados, ou descontextualizados ou simplesmente pífios. Qual seria a 'poeira' que irias discutir?!!!
Esta semana foram vários os cronistas que voltaram a este tema (Bruno Prata, Rui Santos...), o caracolinhos chegou mesmo ao ponto de afirmar: "Gerar simpatias não é crime... mas o Benfica foi longe demais"!!!! Já vamos no gerar simpatias...!!! Começou como corrupção, depois já era tráfico de influências... e agora já cometemos potencialmente o crime de gerar simpatias!!!!

“Salazar nunca foi fã de futebol. Quando a seleção voltou do Mundial de Inglaterra, confundiu o Coluna com o Vicente”

"No dia em que se comemoram 44 anos da Revolução dos Cravos, António Simões afirma que o futebol português precisa urgentemente de um 25 de Abril. Aos 74 anos, a antiga glória do Benfica, deputado da Assembleia Constituinte e da República, recorda o dia do golpe de Estado, a luta pela criação do Sindicato dos Jogadores e como se tornou persona non grata por não ter cavalgado a onda de esquerda. O capitão da Luz que jogava no lado esquerdo do Benfica e da selecção desmente que Salazar tenha impedido Eusébio de se transferir para Itália e culpa os dirigentes pela "ditadura vigente" no futebol: "Hoje, o futebol é menos democrático do que no tempo da ditadura" 

- Lembra-se onde estava quando soube que a revolução estava na rua?
- Se a memória não me falha, estávamos a acabar o treino da manhã, no Estádio da Luz. Apareceu alguém a dizer que havia uma revolução. Gerou-se uma enorme curiosidade e euforia em relação ao que se estava a passar. Depois recordo-me perfeitamente de ir para casa e de assistir na RTP à informação da Junta de Salvação Nacional, liderada pelo General António Spínola. Senti, como todos aqueles que me rodeavam, um enorme contentamento. Todos percebemos que era o fim da ditadura e da queda de um regime que estava indiscutivelmente podre.

- Os jogadores falavam entre si de política?
- Em 1972 foi criado o Sindicato Nacional dos Profissionais de Futebol. Eu fui um dos jogadores que mais se empenhou na construção do sindicato, que foi o único criado antes do 25 de Abril. Até aí não existiam sindicatos em Portugal, mas organizações clandestinas que tentavam pressionar e representar os trabalhadores na clandestinidade. Nada disso era permitido ou estava na Constituição.

- Fez parte da Comissão Instaladora do Sindicato que teve como primeiro presidente Artur Jorge...
- Exactamente. Fui dirigente sindical durante muitos anos e sou aquele que desperto os jogadores para a direitos que não nos assistiam na altura. Em 68, tinham 20 e tal anos, dou uma entrevista ao jornal "A Bola", e perguntam-me qual eram os direitos dos jogadores de futebol. Respondi: nenhuns. 

- Quais eram as principais reivindicações? O fim da Lei da Opção?
- Sim. A nossa maior luta era a liberdade contratual, como hoje existe. A Lei Bosman aparece muito mais tarde, mas o fim da Lei da Opção foi o primeiro sinal. Pela primeira vez na história do futebol português, os clubes são obrigados a pagar 70% do valor da oferta do clube que pretende contratar o jogador. Ou seja, se um clube pretendesse contratar um jogador em final de contrato por mil contos, o clube de origem tinha de pagar 700 contos.

- Mas isso já em 74...
- A reivindicação era anterior, mas só se concretizou depois da revolução. Depois do 25 de Abril, até se exagerou porque o jogador podia rescindir se alegasse que se encontrava sem condições psicológicas para permanecer no clube. À portuguesa, passou-se do oito para o oitocentos. Nesta terra é sempre assim. Os jogadores tinham direito a ter essa liberdade contratual pela qual eu e outros lutaram durante muitos anos, mas não era preciso exagerar. Parecia que havia uma atitude compensatória, após tantos anos a jogar sem direitos nenhuns. Estamos a falar de uma actividade que não era um negócio, de um futebol que era paixão e não indústria. De uma sociedade que vivia com essa emoção, mas exercida respeitosamente. Hoje, é completamente diferente.

- Já se podia de falar de futebol profissional ou ter jogadores a tempo inteiro era um exclusivo dos três grandes?
- O profissionalismo era dominado pelos três grandes, embora todas as equipa da I Divisão treinassem todos os dias....
- Nos outros clubes, alguns jogadores acumulavam o futebol com outras profissões?
- Havia uma fatia de jogadores, talvez mais atentos à vida pós futebol, que fazia questão de manter uma profissão alternativa para quando acabassem de jogar e nunca abandonaram os seus empregos, principalmente no funcionalismo público ou nos bancos. O que acontecia é que os clubes punham uma cunha para que conciliassem as duas actividades. Como no serviço militar, arranjava-se uma forma de o jogador não trabalhar a tempo inteiro para não faltar aos treinos. Havia um certo privilégio em relação aos profissionais de futebol.

- Os jogadores já descontavam para a Segurança Social, que julgo era outras das reivindicações do sindicato?
- Quando se fundou o sindicato, pagávamos imposto profissional e imposto complementar, que os clubes descontavam do salário. Curiosamente, quando chegou à altura da reforma, houve muitos casos em não apareciam os descontos feitos. No meu caso, durante os primeiros quatro ou cinco anos, nada aparece. Um seja, não havia um histórico de descontos da Segurança Social, embora a entidade patronal nos tivesse retirado essa verba. Muitos queixaram-se que descontaram 15 anos e só figuravam sete ou oito, o que se reflectia no valor das reformas...

- Os clubes não entregavam os descontos ao Estado?
- Acontecia pela irresponsabilidade dos dirigentes. No fundo, até agora sucedem muitas destas coisas nas empresas. A fuga ao fisco é uma tentação que permanece. Até me apetece dizer que é genético. A malandrice está enraizada. O cidadão, ou cidadã, que tem brio em ser honesto não é bem encarado por parte da sociedade. O honesto é visto quase como um pateta, um parvo: “Então, pá, estás a pagar isso? Não tens nada que pagar”. Há uma certa cultura do não cumprimento da regra.

- O treinador do Benfica em Abril de 74 era Jimmy Hagan?
- Era, mas saiu no decurso da época e foi substituído pelo Fernando Cabrita. E em 74/75 chega Milorad Pavic.

- Da parte do treinador ou do presidente Borges Coutinho foi feita nos dias da revolução alguma comunicação aos jogadores? Os treinos e jogos mantiveram-se?
- Não me recordo que tenha existido da parte da direcção qualquer atitude ou posicionamento em relação ao golpe militar ou ao novo regime. O que percebe na altura é que a partir daquele dia nada seria igual. É um facto. E os primeiros a perceberem isso foram os jogadores. Vinham de uma luta não totalmente conseguida e, a partir daquele momento, sentem que será completamente conseguida. E também há essa percepção por parte dos dirigentes. Todos tentaram percorrer o seu caminho, adaptando-se a uma situação nova.

- Sentia-se a lufada de liberdade...
- Sentia-se, dentro e fora dos clubes. Estavam criadas todas as condições para que finalmente houvesse total liberdade contratual. Tanto quanto me lembro, o calendário de treinos e jogos manteve-se.

- É justo dizer-se que o Benfica era o clube do regime?
- São equívocos históricos criados na altura e que repudio completamente. É uma tentativa de retirar valor, até orgulho, a uma geração espontânea de grande qualidade que conquistou a Europa e o mundo através da sua arte e talento. Para que se esclareça a situação, a única vez que fui recebido por António Oliveira Salazar ao longo de todos os anos que joguei no Benfica foi em 1966, no regresso do Mundial de Inglaterra.

- O Benfica tinha mais títulos nacionais (20 até 1974) porque tinha as melhores equipas e Eusébio?
- Sem dúvida. Fomos recebidos por Salazar unicamente nesse dia, após a conquista do terceiro lugar no Mundial. Nunca antes nem depois estive na sua presença. Devo dizer, aliás, que Salazar nunca foi um fã de futebol, nunca deu um tostão aos clubes. Não digo que odiasse futebol, mas não perdia tempo com o futebol. Ao ponto de quando lhe fomos apresentados por Américo Tomás – que gostava imenso de futebol - ele confunde o Coluna com o Vicente e o Vicente com o Hilário. Não conhecia sequer os jogadores da selecção.

- Mas impediu o Eusébio de ir para o estrangeiro...
- É tudo conversa. Desminto que alguma vez o regime tenha impedido Eusébio de sair do país. Foi um aproveitamento dos homens de esquerda para dizer que até o desgraçado do Eusébio foi uma vítima de Salazar. Portugal ainda vive com esse complexo. Criaram uma história, uma mentira, que tantas vezes contada passou a ser verdade. O senhor Eusébio não vai para Itália porque, nesse ano, a Itália proibiu a entrada de estrangeiros. A ser eliminada pela Coreia do Norte, os jogadores são recebidos com tomates e hortaliças em cima deles. É a Federação do calcio que resolve proibir a entrada de estrangeiros para dar oportunidade aos italianos e para que pudessem formar uma nova selecção. Esta é a verdade. Nós servimos o regime involuntariamente e não nego que o regime se aproveitou da grandeza dessa geração. Foi o Benfica e a selecção que voltaram a colocar Portugal no mapa. E o novo regime não se serviu e serve do futebol?

- As vitórias dos desportos de massa são propaganda?
- Não tenho dúvidas em dizer que foram os novos políticos que mais se serviram do futebol. Quantos milhões foram dados ao futebol sem fiscalização? Quantos milhões deram as câmara municipais ao futebol? E para fazer o quê? Onde está a utilidade dos milhões que foram tirados ao povo para dar ao futebol após o 25 de Abril? É a questão que deixo.

- A época da revolução foi pintada de verde, com o Sporting a fazer a dobradinha...
- Sim, tirou-nos o título. No meu tempo, nunca o Benfica foi tetra porque o Sporting roubava-nos sempre o quarto campeonato. Foi a razão pela qual a geração Eusébio, Simões, Mário Coluna e companhia nunca foi tetra. Em 74/75 o Benfica volta a ganhar o campeonato.
- Nessa altura, a hegemonia da I Divisão estava na região Lisboa/Setúbal, casos da CUF, Oriental, Barreirense e Montijo. O FC Porto até 74 tinha cinco títulos nacionais. A deslocalização para o norte deve-se ao desaparecimento do eixo industrial em torno da capital?
- Deve-se mais uma vez ao tal complexo de esquerda, que tudo fez para destruir empresas como a CUF e os Mellos. Tudo o que estava ligado ao antigo regime não prestava. Houve muita gente que foi vítima disso. Vou dar um caso concreto: em 1976, era eu deputado da Assembleia da República, eleito pelos imigrantes fora da Europa...

- Na lista do CDS...
- Nas listas do CDS, mas eu concorri como independente. Nunca fui filiado num partido. A minha filiação é a minha independência, que é a minha cor político-partidária. Digo-o com toda a convicção. Até hoje. A minha carreira está toda para trás, não preciso de nada, só de afecto, que felizmente tenho.

- Estava a recordar que foi eleito à Assembleia da República...
- Fiz uma viagem com o doutor Mário Soares, na altura Primeiro-Ministro, ao Brasil, para convencer alguns dos que foram empurrados do país a regressar, entre eles António Champalimaud. Mário Soares fez muitas reuniões por todo o lado para os trazer de volta. É preciso não esquecer que Portugal estava numa situação económica desastrosa. A resposta foi não. É curioso verificar que o senhor Champalimaud, depois de todos esses anos, deixou uma obra extraordinária porque gostava do país. Ainda bem que houve o 25 Abril, mas houve muitas injustiças. Fiquei e estou feliz por vivermos em liberdade, sem dúvida, não me peçam é para ignorar injustiças cometidas em nome da revolução. Quando tomei a minha liberdade política de votar e concorrer por quem quis, fui vítima disso. Não ser de esquerda após o 25 de Abril era não montar o cavalo certo.

- Sentiu que estava do lado errado entre colegas?
- Tive colegas que tiveram esse tipo de atitude. Sempre fui coerente com aquilo em que acredito. Ainda hoje voto em pessoas e não em partidos. O meu conceito de vida, de honestidade e de servir o país não tem cor política. Gosto de pessoas e de justiça social. O problema é que sempre que se fala em justiça social é sinónimo de esquerda. Não há gente de grande valor e que preza a justiça social que não seja de esquerda?

- Em 1976 ainda estava a jogar no Benfica?
- Já vivia nos EUA. Fiz o último jogo pela Benfica a 11 de maio de 1975 e fui para os EUA logo a seguir. Faço o meu primeiro jogo lá com o Eusébio. Fomos os dois. Tinha mais dois anos de contrato mas pedi para não os cumprir. Querem fazer-me uma festa de homenagem, garantida com 650 contos, mas não quis. Abdiquei porque depois de ter liberdade para concorrer à Assembleia Constituinte e depois à Assembleia da República por um partido que não era de esquerda foi suficiente para ser pessoa non grata. Quando percebo que não me querem, não preciso que me mandem embora. Vou-me embora.

- Jogou e treinou vários clubes nos EUA. Quantos anos esteve fora do país?
- Entre ir e vir, foram quase 20 anos. Foi uma experiência riquíssima. Ao longo da vida temos de tomar decisões que não são fáceis. E essa foi uma decisão feliz. Há uma parte de mim, no que diz respeito à cidadania, que devo a esses 20 anos fora. Abriram o meu horizonte.
- O que o fez apoiar a recandidatura de Bernardino Soares, pela CDU, em Loures?
- Votei em Freitas do Amaral, Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva... Eu escolho o meu candidato, não é a cor política que me escolhe. Decidi apoiar Bernardino Soares por ser competente e porque o PCP, em Portugal, é o partido melhor preparado e mais transparente na gestão autárquica. Confio nos autarcas da CDU, mesmo não sendo comunista, nem partilhando determinados princípios do partido. Defendo pessoas sérias, como é o caso de Bernardino Soares. E mais do que isso: estou cansado, já nem desilusão é, da discussão do que é a competência em Portugal. Por amor de Deus, já não quero mais competência, quero honestidade. Quero é menos corrupção.

- É para si o problema mais grave do país?
- O problema de Portugal não é uma questão de competência, mas de desonestidade, de falta de brio em servir o país. É onde tem tem de existir reformas.

- Falou em Jorge Sampaio, que julgo foi o vosso advogado quando foi fundado o Sindicato.
- Foi, conheço-o desde então. Tenho um programa de televisão quinzenal, à quinta-feira, na SportTV e um dos últimos que gravei foi com o doutor Jorge Sampaio, meu advogado durante 25 anos. Temos uma amizade extraordinária. Foi o primeiro advogado da fundação do Sindicato, mas como era um jovem advogado contestatário, conotado com a oposição ao regime, passou a bola ao doutor Jorge Santos para evitar problemas.

- Após 44 anos de democracia, o futebol continua a ser um mundo à parte. Há enorme falta de liberdade, por exemplo, dos jornalistas no contacto com jogadores no activo. Há uma certa ditadura no futebol?
- Não tenho a mínima dúvida. E essa falta de liberdade informativa tem vindo a piorar nos últimos tempos. Penso, aliás, que o futebol era mais democrático no tempo da ditadura do que actualmente.

- A que acha que se deve a blindagem aos profissionais de futebol? Ao seu mediatismo ou ao excessivo controlo por parte dos dirigentes?
- Os responsáveis são os dirigentes. Os modelos de gestão dos clubes em Portugal são presidencialistas, é um modelo ditatorial. Criado e inspirado por gente que ainda continua no futebol e que se agarrou a um completo controle dos seus clubes, tirando a voz aos próprios sócios. Mais grave ainda é que a maioria dos sócios gosta disso. Até parece que gostam que mandem neles.

- É um modelo de presidencialismo inspirado em Pinto da Costa?
- O presidente do FC Porto formatou o dirigente português e também o adepto de futebol. Há uma quantidade de dirigentes que ainda tem o sonho de imitar Pinto da Costa...

- Como Bruno de Carvalho?
- Ele e vários. E não vejo que tão cedo isso se altere. Recordo-me de ouvir adeptos do Benfica dizerem que o que o clube precisava de um Pinto da Costa. Num clube em que a democracia era exercida pelos sócios nas assembleias-gerais, no tempo da ditadura. Assisti a algumas. Hoje, o futebol é menos democrático do que no tempo da ditadura.

- Costuma ir à Luz?
- Afastei-me por não me rever em muitas coisas que têm acontecido ultimamente. Não me revejo em quem aparece a falar em representatividade do clube...

- Está a referir-se a Pedro Guerra?
- Não é só esse, são vários, numa hipocrisia tremenda, num faz de conta com o qual não alinho. Sou muito desalinhado em relação à actual conjuntura. É assim que sempre fui, sou e serei. Não sei se tenho razão, mas quero ser feliz comigo próprio. 

- Esta época passou-se dos limites no caso dos e-mails, dos ataque às arbitragens ou ao VAR?
- Ultrapassaram-se muitos limites. Quem tem responsabilidade no futebol português, nos EUA não seria dirigente desportivos de nada. Zero. No desporto profissional nos EUA, há regras de transparência e de respeito para com o espectador, algo que aqui não existe. É por isso que há sucesso em todos os desportos nos EUA: há qualidade e credibilidade. Aqui quase todos os clubes têm défices tremendos, mas o curioso é que não conheço nenhum dirigente que esteja mal na vida. Há um clube, além de outros, que respeito muito: o Paços de Ferreira. Quem sai tem de deixar contas em dia e exige-se regras a quem entra.

- O futebol português precisa de um 25 de Abril?
- Urgentemente. Precisa de mais transparência, credibilidade e maior liberdade de comunicação para os seus profissionais."

Final Universitária de Futebol

"Se ainda não o viram procurem (o vídeo) e observem aqueles 50'' de absoluta podridão.

Na passada 6.ª - feira, jogo-se em Aveiro a final nacional do campeonato universitário de futebol. A competição, que se realiza há vários anos, visa criar dinâmicas sociais e desportivas entre equipas representantes das várias universidades do país. Trata-se de um evento positivo, bem pensado, que representa o que há de melhor do desporto universitário.
Este ano, o jogo decisivo foi disputado entre a Associação foi disputado entre a Associação Académica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e a Associação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. No final da partida (ganha pelos estudantes do Porto por um a zero), assistiu-se ao que se pode considerar um dos piores momentos de sempre do desporto universitário: vários jogadores da AAUTAD e outras pessoas a si associadas, insultaram, confrontaram, perseguiram e agrediram os árbitros os árbitros que dirigiram a final. Os empurrões, socos, pontapés e arremesso de garrafas na direcção dos juízes ficaram registados em vídeo, que felizmente circula na Internet.
O jogo, transmitido em directo pelo site da FADU, foi de imediato apagado, o que é bem elucidativo.
O exemplo dado por aquele conjunto de jovens (alguns estudantes universitários na UTAD, outros ex-alunos e/ou actuais jogadores de futebol em equipas de Vila Real) foi miserável, censurável e repugnante. E não o digo assim porque desta vez o alvo foram árbitros. Digo-o porque o que todos podemos ver nas imagens é algo absolutamente medieval, grotesco e inaceitável mas particularmente grave por ter partido de miúdos que frequentam o ensino superior. Os comportamentos de alguns foi verdadeiramente primata e nunca pode ou deve ser atenuado porque a bola não entrou, porque o juiz errou ou porque 'há falta de um correcto enquadramento axiológico de quadro de valores inerentes ao desporto enquanto fenómeno social (...)'.
O que aquele vídeo mostra é a antítese pura do espírito desportivo, que o IPDJ e o PNED tanto lutam e investem para defender e enaltecer. Mostrou o lado mais feio de quem não sabe o significado de cidadania, ética e respeito. Deixo-vos um desafio. Se ainda não o viram, procurem-no e observem aqueles 50 segundos de podridão.
No meio de tudo isto, o mais triste é perceber que não se tratou apenas de um momento de menor contenção, de exaltação pontual ou de emoção exacerbada. Foram actos continuados de selvajaria, ao que se sabe habituais nos jovens jogadores daquela Associação de Estudantes, ao longo do seu vasto percurso no futebol universitário.
Importa deixar uma palavra de admiração ao reitor da UTAD - que não pode nem deve ser confundido com actos isolados de alguns alunos - que desde logo condenou o sucedido e exigiu responsabilidades.
Confesso que aguardarei pelo resultado do inquérito que a reitoria abriu, bem como pela reacção da AAUTAD, que penso não se rever naqueles comportamentos (e saberá demarcar-se deles).
As boas notícias são que as imagens estão já nas mãos das autoridades e os autores das agressões identificados. A própria AF Vila Real terá também uma palavra importante a dizer, até porque alguns daqueles jogadores actuam em campeonatos por si organizados.
Importa, por fim, realçar que nada me move contra garotos que praticam em campo a má formação que tiveram na vida. O que me move é a vontade de erradicar do desporto quaisquer tipos de actos de violência,seja onde for, contra quem for.
Acredito na prevenção, na força das acções de sensibilização e no diálogo. Estou e estarei sempre na linha da frente para participar em tudo o que incentive e promova o desportivismo. Mas nunca deixarei de denunciar e expor situações limite, péssimos exemplos para os mais jovens, como o de sexta-feira.

Nota - O (jovem) árbitro ficou com hematomas visíveis nas penas, costas e rosto. Foi agredido várias vezes, por várias pessoas e recebeu assistência médica posterior. Pediu à organização por policiamento (ao intervalo), pretensão não atendida. E é isto."

Duarte Gomes, in A Bola


A estrela de uma grande equipa

"Quase em segredo, longe dos holofotes, o Sp. Braga está a fazer hoje a história de amanhã – a 3 jornadas do fim tem mais pontos e golos do que nunca, permanece na luta pela Champions e consolidou um elã competitivo e social ao nível das maiores potências. Mas o temível exército bracarense está para lá dos números, como equipa em que nada acontece por acaso e na qual até os momentos individuais mais instintivos e repentistas são abrangidos pela previsibilidade do guião. A acção colectiva está tão consolidada e é tão perfeita que não existe repressão à liberdade para criar; e a ordem é apenas o início de uma vasta cadeia de acontecimentos que, por norma, conduzem à felicidade de cada um. Abel Ferreira inculcou um plano que o tempo consolidou, orientado por elementos como organização, disciplina, responsabilidade e compromisso mas também por outros mais livres como talento, imaginação, aventura e entusiasmo. Assim se constrói uma grande equipa. 
Quanto melhor interpretar as orientações mais rígidas, maior será a margem para dar rédea solta à intuição e à livre expressão dos jogadores mais desequilibradores – e esse é o segredo para que todos se sintam felizes e não entendam o plano como tormenta inibidora da expressão criativa. Neste impressionante exército, Ricardo Horta é uma bandeira de juventude, classe e influência. Aos 23 anos é uma arma temível porque interpreta e domina todas as fases do jogo, correspondendo ao perfil de uma das mais completas formações da Liga: temível em ataque organizado e nas transições ofensivas; intenso e cada vez mais assertivo na defesa posicional e nas transições defensivas. Nesse jogo feito de constantes permutas posicionais está a convicção inabalável de um jogador que nunca se inferioriza perante as mais variadas circunstâncias do jogo.
O poder de agitador expressa-o com a bola nos pés, quando vai directo ao assunto e entra sem bater à porta. Uma das suas principais características é a facilidade com que multiplica a produção dos outros: potencia as subidas de Jefferson; reforça o miolo e dá mais soluções a André Horta e Vukcevic; apoia Wilson Eduardo e Paulinho pela via de posicionamentos irrepreensíveis, decisões rápidas, gestos precisos e um talento goleador em finalizações a um toque, remates de meia distância ou passes de morte para a glória de outros – deu os 2 golos com o Marítimo. A arte de, a partir da esquerda, fazer de terceiro homem no meio ou de apoio à dupla de avançados torna-o peça de grande relevância táctica. Tudo o que faz leva incorporada a inteligência. Mesmo quando toma opções nas quais parece correr riscos desnecessários para benefícios aparentemente escassos, nada há a temer: os indícios de transgressão nunca se confirmam. Trata-se apenas do processo, controlado e legal, de quem parte sempre em busca do espaço.
RH é um talento superior que, na presente temporada, delimitou espaço no futebol português. É uma estrela assente em pressupostos raros: extremo para quem as diagonais de apoio à zona central se sobrepõem à verticalidade das incursões para a linha de fundo; médio com frieza e contundência de atacante em tudo o que concebe e executa; atacante com visão, técnica e requintes de centrocampista, que o tornam imprevisível e por vezes mentiroso na zona onde é suposto falar verdade. RH é uma estrela com a bola nos pés, que cria soluções de catálogo na aproximação à baliza, quer em exercícios individuais deslumbrantes como no bordado feito de sucessivas combinações que antecedem o toque final. A intensidade dos movimentos, a clareza das intenções e a agressividade da chegada fazem dele um perigo constante. Os 11 golos e as 7 assistências, em 27 jogos para a Liga, consolidam-lhe o estatuto de um dos melhores jogadores do campeonato.

O alívio de Rafa frente ao Estoril
A ineficácia na relação com a baliza é o calcanhar de Aquiles do avançado
Rafa era a personificação do alívio no fim do jogo no Estoril. Tinha razões para isso: desperdiçou três oportunidades (uma delas escandalosa) que deviam ter antecipado o 2º golo (o 3º e o 4º…) e diminuir o sofrimento. Estranho foi vê-lo assinar o 1-0 com tanta competência e segurança. Parecia um especialista. Como diria velho camarada de tempos que já lá vão, em situações semelhantes, "errar é humano".

A regularidade de Pedro Tiba
Há futebolistas que se caracterizam pela arte de não saberem jogar mal
Pedro Tiba está a fazer grande época como referência de uma das melhores equipas da Liga – o Chaves de Luís Castro. O médio flaviense tem revelado impressionante regularidade mas, para ser inteiramente reconhecido, faltava-lhe um momento de glória que ampliasse a relevância. Encontrou-o com o Portimonense: 2 golos em 6 minutos, numa vitória por 2-1. Com ou sem golos, joga muito. Essa é a verdade.

O impressionante recital napolitano
A vitória sobre a velha senhora relançou a discussão sobre o título italiano
Quando o Nápoles sobe ao norte, a discussão é muito mais do que futebolística. A partida para Turim foi de grande exaltação, como emocionante foi a presença dos adeptos no terreno da Juventus, principalmente depois do golo de Koulibaly. Mas o mais impressionante foi o recital da equipa de Maurizio Sarri em hora e meia absolutamente esmagadora. Poucas equipas no Mundo jogam com tanta qualidade."

Alterações às Leis de Jogo 2018-19

"O International Board publicou esta semana um documento no qual apresenta todas as alterações das Leis de Jogo para a época 2018/2019. São 18 páginas onde, para além do texto da lei, é dada uma breve explicação sobre o motivo da alteração ou qual a sua consequência prática.
Muitas das alterações que as Leis de Jogo normalmente sofrem, e este ano não é excepção, estão relacionadas mais com a clarificação da letra da lei do que com alterações propriamente ditas. Exemplo disso é o facto de este ano passar a constar na Lei 1 — Terreno de Jogo que um jogador substituído pode permanecer na área técnica. Já assim era na prática, mas não estava claro na lei. Não vou hoje, com este tipo de “alterações”, desperdiçar caracteres. Vou focar-me nas “verdadeiras” modificações e acrescentos à lei.
Também sobre o videoárbitro, e porque muitos dos meus artigos já versaram sobre a teoria deste tema, não faz sentido detalhar muito. Apenas sublinhar que o videoárbitro passou a constar nas Leis de Jogo. Assim, em diversos locais no livro das Leis de Jogo passaram a existir referências a: videoárbitro assistente (VAR); assistente de videoárbitro assistente (AVAR); sala de operações de vídeo (VOR); e área de revisão do árbitro (RAR).
Abaixo, organizadas por lei e numa tradução livre, destaco algumas das modificações para a próxima época:
Lei 1 — Terreno de Jogo
• Não é permitido qualquer tipo de publicidade comercial, real ou virtual, no solo da área de revisão do árbitro (zona fora do terreno de jogo onde o árbitro se desloca para rever um lance num ecrã).
Lei 3 — Os Jogadores
• Os regulamentos das competições podem passar a autorizar uma substituição adicional no prolongamento. Isto mesmo que as equipas não tenham feito todas as substituições no tempo regulamentar. Assim, e na prática, nos jogos com prolongamento as equipas passarão a dispor de quatro substituições, sendo a última apenas possível de fazer já nesse período extra.
Lei 4 — O equipamento dos jogadores
• Pequenos equipamentos electrónicos ou de comunicação (microfone, auscultadores, smartphone, tablet, smartwatch, laptop) poderão passar a ser utilizados na área técnica pelos elementos oficiais, desde que estejam relacionados com a monitorização do bem-estar e segurança dos jogadores ou por razões tácticas e ou de treino. Qualquer elemento que use equipamentos não autorizados ou que, em virtude da utilização destes equipamentos, tenha um comportamento incorrecto, deverá ser expulso da área técnica.
Lei 5 — O árbitro
• Por regra, quando o jogo recomeça, após uma interrupção, o árbitro já não pode rever uma decisão anterior a essa paragem. As excepções acontecem nos casos de troca de identidade (advertência ou expulsão de jogador errado) e nos casos de expulsão por conduta violenta, cuspir, morder ou uso de linguagem ofensiva ou gestos ofensivos, grosseiros e insultuosos. Assim, pode o VAR, após o recomeço da partida, aconselhar ao árbitro a revisão de uma decisão caso detecte que aconteceu alguma das situações acima descritas.
Lei 7 — Duração do jogo
• Uma paragem para hidratação, não superior a um minuto, pode ser permitida no “intervalo” do prolongamento. Presentemente, a lei não definia tempo, mínimo ou máximo, para esta paragem.
Lei 11 — Fora-de-jogo
• O primeiro ponto de contacto do pé com a bola aquando de um passe toque para um colega de equipa é o momento que conta para a análise da posição de fora-de-jogo desse colega. Com a utilização do VAR e a possibilidade de utilização de slow motion na revisão destes lances, passa a fazer sentido detalhar esta situação.
Lei 12 — Faltas e Incorrecções
• Um pontapé livre directo deve ser sancionado contra a equipa do jogador que morder ou cuspir em alguém. Acrescentou-se a palavra morder e também se alargou a qualquer pessoa (alguém) ao invés de ser apenas sobre um adversário.
• Se o árbitro opta por não assinalar uma infracção defensiva aquando de uma clara oportunidade de golo, o infractor deverá ser advertido na próxima interrupção, independentemente de a jogada ter resultado em golo ou não.
• Entrar na área de revisão do árbitro ou fazer o gesto de ecrã de televisão, de forma excessiva, a pedir revisão VAR de um lance é punido com cartão amarelo.
Como referi no início, estas são apenas algumas das alterações que os árbitros terão de estudar e aplicar para a próxima época. Seria importante que todos os outros envolvidos no fenómeno futebol ficassem com alguma ideia do que vai sendo modificado."

Já não se pode aceitar

" "Parecíamos balde de lixo." As palavras de um dos árbitros agredidos na final do campeonato nacional universitário de futebol, reproduzidas ontem em Record, são a legenda perfeita para o vídeo que o país viu na última semana. Nele, vários jovens, estudantes universitários, foram atrás de três árbitros igualmente jovens e encheram-nos de insultos e agressões, enquanto estes, de costas voltadas, procuravam a segurança do respectivo balneário.
O que mais incomoda naquelas imagens não são as agressões em si. Incomoda particularmente que os agressores sejam estudantes universitários, jovens que deviam pertencer à elite intelectual do país e que tiveram comportamentos próprios de animais. O que é que estava em causa naquele jogo? O título nacional universitário. Não era dinheiro, nem fama. Nada justifica que uma mão cheia de jovens desate a agredir de forma tão cobarde outras pessoas.
Dar uns 'apertos' a árbitros era relativamente banal até há uns 20 ou 30 anos - e até, de alguma forma, socialmente aceite. Da mesma forma outras aberrações eram socialmente aceites, como a violência doméstica ou maus tratos sobre animais. A sociedade evoluiu, todos somos mais exigentes e conscientes das injustiças. A violência no futebol não é um fenómeno novo, mas tem sido mais visível desde que cada pessoa tem um smartphone à mão. E ainda bem. Assim todos podemos ver e julgar tais atitudes, responsabilizando e condenando os seus autores. Mesmo que sejam parte de uma elite intelectual deste país."

O fosso que separa os dois campeonatos da mesma Liga

"27. Para atentarem bem neste número escrevo-o até por extenso: vinte e sete.
A três jornadas do fim da Liga, a diferença pontual entre o quarto e o quinto classificados na tabela é um fosso do tamanho de um campo de futebol.
Rio Ave e Marítimo, que disputam o quinto lugar, que pode valer as competições europeias, estão mais próximos da zona de despromoção – 17 pontos –, da qual já estão a salvo, do que do quarto lugar do Sp. Braga – que está a uns inalcançáveis 27 pontos.
Estas duas equipas são, aliás, embora à tangente, as únicas abaixo do quarteto do topo que não têm mais derrotas do que vitórias nesta temporada.
Conferindo os golos marcados e sofridos, todas as 14 equipas do lote de remediados do futebol luso têm saldo negativo. O que contrasta com os generosos excedentes do quarteto da frente – FC Porto +61, Benfica +58, Sporting +39 e Braga +45.
Se preferirem outras perspectivas: o líder FC Porto dobra, para já, o número de pontos somados por onze equipas; ou, por exemplo, o benfiquista Jonas, que não joga há três jornadas, continua a ter, sozinho, mais golos do que sete equipas no total. Se preferirem um testemunho, dou-vos este. «Não jogamos à bola há dois meses e continuamos no mesmo lugar», disse-me recentemente um dirigente de um clube de futebol da I Liga. E a verdade é que mais de um mês passou e a sua equipa continua sem «jogar à bola» e bem classificada.
Temos, portanto, dois campeonatos na mesma Liga.
A explicação para este hiato é evidente: os três grandes têm orçamentos que são vinte vezes superiores aos da esmagadora maioria dos restantes clubes e, com os novos contratos de direitos televisivos, recebem facilmente dez vezes mais por época.
Só a centralização dos direitos poderia, em devida altura, ter introduzido algum factor de equilíbrio na competição.
Em contraponto, porém, há que ter em conta que a questão de fundo está bem mais a montante e tem que ver com o número de adeptos: os três grandes açambarcam-nos quase todos.
Sem entrar em contagens megalómanas baseadas em palpites que os reclamam aos milhões, atentemos nas assistências da Liga – apesar de mesmo esses números não serem particularmente fiáveis sobretudo em alguns estádios: a Luz tem uma média de espectadores superior a 50 mil, Dragão e Alvalade têm mais de 40 mil... Seguem-se o Vitória de Guimarães, que tem perto de 16 mil, o Sp. Braga, que tem menos de 12 mil, e depois destes só Marítimo e Boavista ultrapassam os cinco mil espectadores na assistência média por jogo – números já de si empolados pelas recepções aos grandes.
Em suma, temos dois campeonatos absolutamente distintos a conviverem na mesma Liga. Duas realidades tão díspares na mesma competição são o contexto para proporcionarem relações de dependência, ou subserviência até.
Será por isso que há quem não se surpreenda ao saber que jogadores emprestados podem servir de moeda de troca à sugestão de treinadores ou a alinhamento de posições na Liga. Tampouco haverá quem se espante com craques que, por castigo, lesão súbita ou até opções de compra fora de tempo, viram indisponíveis em vésperas de jogos importantes ou com as indignações selectivas de alguns responsáveis dos pequenos clubes consoante os prejuízos que sofrem.
Dois campeonatos na mesma Liga é o pano de fundo que favorece as relações de dependência dos pequenos e proporciona ambições de influência aos grandes.
Resistamos, porém, à tentação de mergulhar nessa fossa.
Mantenhamo-nos à tona. Limitemo-nos a contemplar o fosso."

Quem me abona?

"Agora que os bancos – pelo menos os portugueses – deixaram de ter dinheiro para o futebol, que claramente não há investidores para posições minoritárias nas SAD, o recurso ao mercado é o único instrumento para os clubes se financiarem. Esta elementar constatação, aconselharia a que as SAD, para além dos deveres que, como sociedades abertas sobre elas impendem, tivessem com o mercado financeiro uma relação de absoluta transparência.
Se eu sou dependente, mesmo que não goste, tenho de tratar bem aqueles de quem dependo. Parece, porém, que no caso do Sporting não é assim. Em Março de 2015, com a recuperação de passes de alguns jogadores ao fundo ESAF, deu-se a entender que havia um investidor de 18 milhões na SAD; três anos depois, descobre-se que não houve investidor, era dinheiro emprestado pelo Novo Banco. 
Por outras palavras, o mercado andou enganado durante esse período, porque a SAD não o informou quando e como devia. Agora o Sporting tem de reembolsar um empréstimo obrigacionista de 30 milhões e, aparentemente, não tem dinheiro para o fazer.
O que faz a SAD? Com a maior candura, produz um comunicado em que dá conta das referidas necessidades financeiras para pagar o empréstimo de 2015 e para necessidades de tesouraria, mas imputando as culpas da desestabilização da situação a uns "terceiros", que se manifestaram publicamente pela necessidade de assembleia geral do clube e assembleia de accionistas da SAD. 
Uma sociedade com acções cotadas, como é a SAD Sporting, não pode produzir este tipo de afirmações, porque pura e simplesmente não são sérias. Quanto mais não seja por duas razões: quem desencadeou o processo de sacudida turbulência que o Sporting atravessa foi o seu presidente. 
Segundo os tais "terceiros", alegados fautores da crise, foram o presidente da assembleia geral do clube e o maior accionista da SAD, fora do universo Sporting, legitimamente preocupados com a situação. A SAD entendeu dar uma boleia ao seu presidente, entalado que estava – e está – com as consequências dos seus irreflectidos actos, esses sim, com impacto negativo sobre os activos da empresa.
Só que misturar política e conveniências pessoais com negócios dá sempre mau resultado. E o resultado foi o de mistificar a informação devida ao mercado. O assunto, pela sua importância e repercussões, devia ter sido tratado de outro modo, com profissionalismo e independência.
Convencer o mercado, que se maltrata desta maneira, a emprestar dinheiro a quem não tem condições para pagar as suas dívidas e ficar ainda com trocos para a tesouraria, nesta altura de plena crise institucional, vai ser uma árdua tarefa.
Talvez conviesse ter pensado nisso antes de desabafar no Facebook."

Salah deixa a superfície terrestre

"Em 1984, aquela equipa do Liverpool era uma colecção de bigodes famosos. Bruce Grobelaar nasceu no Zimbabué e ocupava a baliza, Graeme Souness andava pelo meio-campo e na frente o galês Ian Rush encontrava os golos, tantas vezes fazendo dupla com Kenny Dalglish, um talentoso escocês escanhoado. Mas nem esse ataque de elegante eficácia conseguia chegar à vertigem quase sísmica do trio do actual Liverpool: Sadio Mané, Roberto Firmino e Mohamed Salah. O egípcio é, provavelmente, o talento maior desta temporada e começa a entrar na lista muito curta de nomes apontados à vitória no Prémio FIFA “The Best”, que distingue o melhor jogador da época. Jogo após jogo, o avançado lança a candidatura em campo, a um ritmo quase frenético.
Desde o início do ano, Salah fez 19 jogos (18 pelo Liverpool e um pelo Egipto) e marcou 21 golos (um dos quais a Portugal, num encontro de preparação ao serviço da equipa nacional egípcia). Desde Janeiro, o avançado só não marcou em três jogos, todos eles com marca portuguesa: na derrota do Liverpool frente ao Swansea City de Carlos Carvalhal, no empate sem golos em casa, com o FC Porto, na derrota com o Manchester United de José Mourinho.
Se estes números colocam solidez na candidatura, a moldura total da época acrescenta betão: 10 golos na Liga dos Campeões, 31 na Primeira Liga Inglesa, um na Taça de Inglaterra e um no “playoff” de acesso à Liga dos Campeões. A estes 43 golos ainda podemos juntar quatro pelo Egipto, que colocam Salah muito próximo da meia centena.
Os registos históricos alertam para uma marca prestes a ser quebrada por este jogador, que já se colocou a apenas quatro golos dos 47 apontados por Ian Rush (o tal avançado de bigode) ao serviço do Liverpool, na temporada 1983/1984. Mas seria injusto e redutor limitar Salah ao papel de finalizador, fazer dele “apenas” um empilhador de golos e não lhe creditar o perfil de verdadeiro carregador de sonhos, escritos de forma brilhante em tantos relvados, ao longo da temporada. Esta época, Mohamed Salah constrói, desbloqueia, faz assistências e finaliza ao nível dos dois melhores jogadores do planeta. E é natural que a eles se junte na muito exclusiva Gala da FIFA, provavelmente para ocupar um lugar que nos últimos anos já foi de Xavi, Iniesta, Ribéry, Neymar e Griezmann.
A força desta candidatura poderá ser avaliada de outra forma quando ficarmos a saber como será o futuro europeu do Liverpool e a prestação da selecção egípcia no Campeonato do Mundo. Até lá, todos os números insinuam que Salah anda a tocar o céu com uma bola de futebol nos pés. Já longe da superfície da Terra, quase ao nível dos dois “extraterrestres” que dominam o futebol mundial há uma década.

P.S. - Anda meia Europa a pensar nos jogos entre Bayern de Munique e Real Madrid, mas antes da final antecipada, Liverpool e Roma ofereceram uma espécie de final do mundo dos sonhos. O melhor contra-ataque da Europa fez da baliza da Roma uma cidade aberta aos velocistas de Jürgen Klopp. Firmino e Mané são credores de elogios, mas o primeiro golo do jogo, assinado por Salah, merecia ser guardado numa pirâmide. Enquanto o avançado egípcio esteve em campo, a Roma não conseguiu reagir, mas os dois golos italianos depois dos 80 minutos colocam uma dúvida aceitável no desfecho desta meia-final. É verdade que os "milagres" dificilmente têm sequela, mas quem venceu o Barcelona por 3-0 tem agora o direito a poder sonhar com uma segunda noite mágica."

Benfiquismo (DCCCVIII)

Denúncia sobre a estrutura e estratégia do FCP (e SCP) que envolve Magistrados e quadros da PJ, para difamar e caluniar o SL Benfica



"Exmo senhores,
O que vimos denunciar é de enorme gravidade.
E fazemo-la de forma anónima, em defesa da nossa integridade física e por receio de represálias, tendo em conta o nível de ligações, inclusive ao setor da Justiça e da própria Policia Judiciária na estrutura informal criada.

A Estrutura
Desde de Abril de 2017 que um grupo restrito de responsáveis do Futebol Clube do Porto se reúne semanalmente numa sala do Hotel AC Hotel Porto Marriot, em prol da concretização de um plano que visava destruir a hegemonia do SLB e criar uma rede que desse corpo a essa estratégia na justiça, nas forças policiais e nos media.
O surgimento desse projecto surgiu quando foi concretizada a possível compra da correspondência privada do SLB, os famosos emails, que foram entregues em três momentos distintos.
Denunciamos que dessa estrutura base fazem parte Adelino Caldeira (Administrador do FCP), Luís Gonçalves (Director Geral do FCP), Manuel Tavares (Director Geral do FCP Media), Francisco José Marques (Director de Comunicação do FCP), contando para a concretização da sua estratégia com os contributos do Juiz Conselheiro do STJ, José Manuel Matos Fernandes (Presidente da mesa da assembleia Geral do FCP) e os agentes da Polícia Judiciária do Porto, Monteiro Ferreira, Barba Rocha, Duarte Vaz e Faustino com um longo passado de colaboração com o clube.
Mais tarde para as redes digitais e montando os blogues que clandestinamente divulgavam os emails roubados ao SLB, a coordenação foi feita por um Grupo que integra o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, Pedro Bragança (Baluarte dos Dragões) e Diogo Faria que utilizaram a sua rede de colaboradores para massificar essa informação. Quem também colaborou nessa estratégia digital foi a equipa liderada por Ricardo Pereira da empresa eComOn, curiosamente a empresa que gere plataformas do FCP e que está sediada em Lisboa.
Consolidada a estratégia, para reforço da sua promoção, comunicação e divulgação foi feita também a famosa reunião do Altis em Lisboa que juntou da parte da comunicação do FCP, Manuel Tavares e Francisco José Marques e da parte do SCP, o seu director de comunicação, Nuno Saraiva.
Nessa reunião foi partilhada a existência da vasta informação da correspondência privada do SLB e definiram-se timings, tendo ficado também definido que através das estruturas informais do SCP, existiria partilha de informação para criação de blogues, que também difundissem essa informação e que existisse cooperação de esforços para a concretização da estratégia de comunicação.
Da parte do SCP, toda a equipa das redes digitais seria liderada por João Duarte da empresa Youngnetwork, que gere diversos blogues associados à direcção de Bruno de Carvalho e presta serviços para as diferentes plataformas de comunicação do SCP. Aliás é nesta empresa que trabalham os bloguers que têm criado os diversos domínios que têm difundido os emails roubados do SLB. 

Estratégia de Comunicação
A estratégia de comunicação definida passou por diferentes fases e foi-se adaptando conforme as circunstâncias.
Mas ficou decidido que seria Francisco José Marques no Porto Canal a ser o ponta de lança e porta voz das denúncias, de forma a que passa-se nos media, existindo sempre pronto acompanhamento de reacções por parte do director de comunicação do SCP. Analisados os dados e tendo em conta a colaboração da própria equipa da PJ, através dos nomes atrás identificados, foi decidido que:
a) Manuel Tavares pelo elevado conhecimento e alguma predominância sobre a direcção e os jornalistas de alguns órgãos de comunicação social ficaria com a ligação e articulação com o Jornal de Notícias, Jogo, RTP Porto e rede de comentadores do clube nas Televisões.
b) Que Nuno Saraiva, pelo nível de envolvimento com o sub director do expresso, Nicolau Santos, mas sobretudo pelo controlo e ligação entre Bruno de Carvalho e o jornalista Pedro Candeias, procuraria alimentar aquele jornal de enorme importância para quebrar a ideia de que só com o JN e Jogo seria mais uma história do Porto.
Posteriormente e com o desenvolvimento de todo o processo, esta estratégia reforçou-se, ainda mais quando responsáveis do FCP se gabavam que na equipa que na PJ de Lisboa coordenavam as investigações aos diversos casos sobre o SLB, estava um fervoroso adepto do FCP, que lhes garantia que tudo seria feito para se criar a ideia de que existia uma estratégia de domínio do SLB do futebol português e que estaria disponível para passar informação a um ou dois jornalistas de confiança.
Foi neste quadro que surgiu a ligação ao jornalista, também ele adepto assumido do FCP, da Revista Sábado, Carlos Rodrigues Lima, aparentemente insuspeito por ser um jornalista especializado e reconhecido pela sua ligação à área da justiça e que se tornou no eixo central de toda a informação que era passada para o grupo Cofina.
Ao mesmo tempo, reforçou-se a informação transmitida ao jornalista Pedro Candeias do Expresso, que passou a receber informação de uma pretensa fonte da Polícia Judiciária que se assumiu desde o primeiro momento como fazendo parte da equipa central de investigação em Lisboa — o tal elemento com ligações ao FCP, atrás referido - e que deu origem às sucessivas notícias que o Expresso tem publicado (sempre citando fontes da PJ) que fala de toupeiras do SLB no Ministério Público e que dá, pela primeira vez, voz à tese de que existia uma estratégia do SLB para dominar o futebol português. 
Apesar de ter inicialmente suscitado duvidas ao FCP, porque tinham informação de que Pedro Candeias seria simpatizante do SLB, rapidamente o director de comunicação do SCP tranquilizou garantindo que tinha absoluto domínio sobre o seu trabalho e que ele tinha um ódio de estimação ao presidente do Benfica e uma forte ligação pessoal a Bruno de Carvalho.

As mais Recentes Evidências
Mas a enorme gravidade de tudo o que até agora relatámos aumenta, quando se prova a forte influência que o FCP tem tido sobre diversas decisões difíceis de compreender por parte de responsáveis da Justiça no território do Porto e do Norte, como se demonstra nas seguintes recentes decisões:
a) Decisão do Tribunal de Guimarães e do representante do Ministério Público no processo que envolve e liga Pinto da Costa e Antero Henriques à empresa de segurança SPDE no processo Fénix, inclusive objecto de recurso por parte do DCIAP e que vai custar um processo disciplinar ao próprio representante do Ministério Público;
b) Decisão do juiz de primeira instância, Fernando Cabanelas sobre a Providência Cautelar apresentada pelo SLB, assumindo o juiz neste caso ser adepto do FCP. Decisão posteriormente revogada por unanimidade por parte do colectivo de juízes desembargadores do Tribunal da Relação do Porto;
c) A forma como quando 4 dos 5 jogadores do Rio Ave foram chamados pela PJ do Porto para serem ouvidos no âmbito do caso da eventual combinação de resultados, à frente de todos, um dos agentes deu ordem para o quinto elemento, o jogador RAFA se retirar comentando "Epá este gajo é nosso. É emprestado pelo Porto. Podes ir embora." Tendo sido afastado do processo, sugerindo que questionem qualquer dos outros jogadores que confirmam este episódio.
d) As constantes fugas de informação sofre o caso dos emails ( só no processo em que o SLB é acusado), vouchers e a forma como surgiu na comunicação social as suspeitas sobre o pretensos jogos comprados com envolvimento do SLB;
e) As constantes fugas de informação para o jornalista da Sábado que sabia dos timings em que os emails iam ser divulgados nas redes digitais e produzia de imediato notícias deles, gabando-se inclusive junto dos seus amigos portistas no seu facebook pessoal, antes mesmo de fazer as notícias; 
f) O mesmo jornalista que em plena redacção disse alto e bom som que a PJ estava a chegar à luz e a casa do presidente do SLB, quando das últimas buscas em torno do caso que envolve o juiz Rui Rangel, regozijando-se que "é desta que o apanhamos";
g) As fugas de informação passadas para o Jornal de Notícias e jornal Record sobre os hipotéticos jogos comprados e que foram dadas de forma tão leviana que quiseram fazer ligação com o jogo Rio Ave-Benfica da época de 2014/2015 , não reparando que um desses jogadores estava numa equipa francesa nessa altura e um segundo não tinha jogado por estar castigado;
h) As fugas passadas ao jornal Expresso de quem se não se eximia de se assumir como fonte da Polícia Judiciária e sempre de teor negativo para o SLB;

A Decisão sobre o Processo de Investigação ao SLB
Para piorar todo este conjunto de factos e situações que merecem ser investigados com todo o rigor, denunciamos que, desde há duas semanas, que o núcleo restrito do FCP atrás referenciado, garante e gaba-se em reuniões internas da administração do FCP e em contactos com jornalistas que têm a garantia de que o processo da PJ que concentrou vouchers, emails e jogos comprados que envolve o SLB, concluirá por uma acusação conforme os seus desejos, apesar de reconhecerem que era difícil provar algum crime de corrupção ou tráfico de influência em concreto.
Afirmam, de acordo até com aquilo que foi passado ao Expresso, de que tinham a garantia do tal elemento da equipa da PJ que seria adoptado no relatório final a tese de que existia uma estratégia por parte do SLB para controlar diversos e fundamentais sectores do futebol português, e que tal seria provado, não por evidencias concretas, mas através da montagem de uma espécie de puzzle com base em diferentes emails, interpretando que tudo obedecia a essa orientação e que seria suficiente para defender junto do Ministério Público, que existiam indícios de corrupção e tráfico de influência desportiva.
Como prova desta tese surge a fonte da Polícia Judiciária que transmitiu ao jornal Expresso esta tese. 
A mais recente noticia comentada nesse grupo, foi que o tal elemento da equipa de Lisboa da PJ teria sossegado os seus colegas atrás citados do Porto, que iriam desvalorizar a solicitação do empresário César Boaventura para ser ouvido, e também sobre as acusações que ele directamente começou a fazer sobre jogos da mala e nomes da rede de influência que o FCP tem activa neste momento.
E que também as eventuais suspeitas sobre o recente jogo Estoril - FCP seriam desvalorizadas.
Tendo inclusive realçado que, para desviar as atenções, teria sido dada aquela história de que a PJ não descartava a hipótese de uma toupeira interna do SLB no caso dos emails roubados, ao Pedro Candeias do Expresso, apesar de quem está com esse processo ser daqueles que não gosta de falar sobre os processos que tem em mão.

Conclusão
Todos os factos aqui denunciados podem ser facilmente confirmados. O nível de relações promiscuas e de controle de alguns sectores e quadros da justiça por parte do FCP a Norte, comprova-se pelo escândalo como o representante do Ministério Público e o Tribunal de Guimarães omitindo factos provados, arquivaram aquele processo, numa decisão sobre a qual o próprio DCIAP quer recorrer, quer pela decisão do Juiz que chumbou a providencia cautelar do SLB sobre a divulgação dos emails.
Toda a gente no Porto sabe quem são os representantes da justiça que costumam frequentar os camarotes do estádio do dragão, pertencem aos seus órgãos sociais e têm um longo historial de decisões que ultrapassam qualquer lógica sempre que está em causa os interesses de Pinto da Costa e dos dirigentes do FCP.
No que se refere à Polícia Judiciária, basta ver a quem, de que forma e qual o sentido de todas as fugas de informação sobre o processo dos emails e quem que são as fontes das notícias assumidas como exclusivas sobretudo para o Expresso, Jornal de Notícias e revista Sábado.
Finalmente, a necessidade de se analisar com rigor, o despudor com que responsáveis do FCP comentam e se gabam de viva voz de controlarem o processo de queixas que está a ser investigado sobre o SLB e informam com antecedência das fugas de informação os seus canais nos media e articulam até essas fugas.
Todos estes factos pela sua gravidade merecem uma investigação independente e rigorosa porque é a imagem de credibilidade e rigor das instâncias judiciais que está em causa, sendo preocupante que elementos da administração do FCP com total despudor inclusive passem para dirigentes do SCP que têm tudo sob controle.
Desta denuncia daremos conhecimento a diversas instâncias, em nome do bom nome e defesa do Estado de Direito e da credibilidade das instituições, a saber Ministra da Justiça, Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Procuradora Geral da República, Director do DCIAP, Director Nacional da Polícia Judiciária, Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e Presidente da Liga Portugal. 
Porto, 23 de Fevereiro de 2018"

A diferença que faz um treinador

"O melhor futebol praticado em Portugal não é de nenhum dos três grandes. Está em Chaves e tem um responsável: Luís Castro. Claro está que o Chaves é uma equipa bem mais fraca do que Benfica, Porto, Sporting, Braga e até Rio Ave. Com um orçamento mais reduzido (3 milhões, abaixo de Rio Ave – com 6 – e de Braga – com 12) e com um valor de mercado, de acordo com o Transfer Markt, que é, apenas, o nono da Liga NOS, o diferencial na qualidade individual dos jogadores e, não menos importante, uma estrutura bem mais recente na Iª Liga e menos profissional, ajudam a explicar o lugar ocupado na tabela classificativa.
Mas uma coisa é olharmos para os resultados do Chaves, outra, bem distinta, é reconhecermos uma ideia de jogo consistente, baseada na posse de bola, num futebol posicional, que não pode deixar de entusiasmar quem goste, de verdade, do desporto rei. Sintomaticamente, pelas redes sociais pululam vídeos virais do Chaves de Castro, à imagem dos do Nápoles de Sarri, do City de Guardiola ou do Bétis de Setién. Em todos os casos, um futebol envolvente, com as equipas a chegarem juntas à baliza, muita circulação de bola e uma elegância plástica que, se depreende, é tradução de uma ideia de jogo desafiante.
Por isso mesmo, é de inteira justiça o espaço dedicado a Luís Castro no último número da The Tactical Room. Numa interessante entrevista na revista dirigida por Martí Perarnau, Castro elabora sobre a sua ideia para o futebol. Não é um discurso sobre gestão de emoções ou sobre o papel da vontade de vencer. Bem pelo contrário, é uma conversa onde se prova que, também, no futebol os aspectos emocionais decorrem de uma abordagem racional.
Recupero duas ideias de Luís Castro: "uma equipa, em posse, tem de jogar sempre pensando no colectivo, e para que isso aconteça, todos se têm de posicionar de modo adequado. (...) é muito difícil uma jogada em que se integre a totalidade dos onze jogadores terminar numa situação de golo"; mas o treinador não esconde o seu "orgulho com o modo como a equipa trabalha para o alcançar. É o que procuramos nos treinos diários (...), um reflexo da nossa ideia de jogo". Uma ideia de jogo e treino orientado para a traduzir em campo.
Parece evidente, mas é uma abordagem que merecia ser mais partilhada. Até porque, após ter-se sagrado campeão da exigente IIª Liga com o Porto B (facto notável, considerando a realidade das equipas B e a maturidade competitiva de muitos dos clubes que disputam a competição), depois de, já no ano passado, ter sido autor do futebol mais interessante da Iª Liga, quando conduzia o Rio Ave, agora, quando se vê o Chaves a jogar, é impossível deixar de pensar o que faria este treinador noutro contexto, com mais recursos, uma estrutura de topo, estabilidade e jogadores com outra qualidade individual. Luís Castro merece-o, mas, acima de tudo, merecem todos aqueles que gostam do futebol jogado em campo."

Em África - O futebol e a política dos afectos

"É no jornal diário O Público, de 21 de Fevereiro do corrente ano, que deparamos com a fotografia de Miguel A. Lopes, da Agência Lusa, publicada na página de política. Enquanto o texto da jornalista Leonete Botelho descreve os sucessivos passos da visita de Marcelo Rebelo de Sousa e o seu encontro com Patrice Trovoada, ocorrido em São Tomé e Príncipe, a imagem regista de forma eloquente o clima vivido.
No centro da foto, em segundo plano, o olhar recai sobre os representantes políticos das duas nações. Estes encontram-se no espaço exterior, uma rua, um largo, uma praça, não interessa, no meio da população. O facto é que os respectivos representantes dos dois Estados reunidos seguem a pé, lado a lado, ambos envergam traje europeu tal como outros elementos do grupo oficial, rodeados por um banho de gente são tomense. Enquanto no passado, ou ainda hoje em alguns dos outros países africanos e não só, a separação entre os governantes, os visitantes e a população seria bem demarcada por áreas separadas, uma situação justificada por razões de segurança, protocolo, ou disposição definida entre planos distintos.
A distinção entre governantes e governados, entre os representantes mais elevados das duas nações e a população era marcada, em geral no passado, por um palanque, mais elevado e afastado do plano térreo, terreno, comum. Estrados materiais, estratos e níveis sociais diferenciados, adiante, em segunda e outras filas subsequentes, aspectos formais, uniformes e trajes, a vincarem a diferença de funções e de posições dentro da hierarquia do Estado. Ausente, o distanciamento formal entre o Estado e a população e, ainda, o respeito devido nestas ocasiões em que, muitas vezes, os formalismos contribuem até para facilitar as actuações convencionais devidas perante as instituições e os estatutos – aqui essa separação não existe. O peso e a seriedade de cerimónias oficiais não fazem parte deste encontro. Nessa imagem, há abraços, mãos dadas, palavras de amigos trocadas, sorrisos e confiança.
No apinhado de gente, sob a mira do foto-jornalista, o separador metálico colocado à cautela entre uns e outros, é coberto pelos corpos que se misturam, as mãos de Marcelo descontraídas apoiadas nesse ponto tal como, no lado oposto, as da pequena criança negra, de olhos grandes, atenta a esse homem, apoia as mãos, enquanto se concentra na observação do que não entende. Descansados, uns e outros, interesse, entusiasmo, alegria. As expressões entre todos exibem um sorriso, ausente apenas no rosto da criança surpreendida com tanta animação, demasiado pequena para compreender o que se passa à sua volta – demasiado pequena para saber da história. Algo se passa, no entanto, e isso atrai os seus olhos grandes que tudo registam, tudo. Nesse mar de gente, nada é sentido como uma ameaça. Pelo contrário, o ambiente é de verdadeira festa, incontida, espontânea.
A foto reforça o texto. Em primeiro plano, no centro da imagem, de costas, segurando uma bola de futebol nas duas mãos erguidas acima da cabeça, envergando o equipamento do Benfica, um são tomense adulto festeja a presença do Presidente português com vivo entusiasmo e, nesses braços erguidos, enquadra Marcelo num largo abraço. O registo suspende uma imagem fortissima: nesse são tomense não há hesitação e o equipamento é explícito. Percebe-se o sorriso, retribuído por Patrice Trovoada, bom entendedor, o equipamento bem visível: T-shirt, boné de pala e bola de futebol vincam, acima de tudo, deliberadamente, o campo do futebol e, através dele, a profunda identificação com Portugal, a cultura popular portuguesa, esse lugar onde se sobrepõe o inconsciente e o consciente, o presente e o passado, interpenetrados numa identidade comum, uma vida, muitas vidas em comum. Ao vestir, literalmente, a camisola, esse são tomense manifesta através do futebol - o vosso clube é o meu clube, a vossa equipa é a minha equipa, os vossos jogadores são os meus jogadores – traços extraordinários que o futebol em particular vinca, marca a unidade, a pertença, a partilha, o grupo, o nós – a identidade. Nessa perspectiva, a bola de futebol, o equipamento, são elementos que afirmam uma identidade comum, lusa, na qual presente e passado se misturam, se unem, estão unidos, se confundem, foram passado, são presente. E, de cada lado, querem ser e construir um futuro comum.
O desporto, que o futebol representa para grande parte dos portugueses – e representa os portugueses, reúne um tempo delimitado e um espaço circunscrito que jamais se confundem no campo do jogo, no jogo. Desse modo, na disposição de todos os jogadores em oposição, propicia-se a relação inicial definida pelos noventa minutos. Esse é um tempo organizado e racional, o tempo do jogo suspenso numa moldura espaço-temporal que, no entanto, está longe de ficar por aí e, assim, persiste para além do jogo. O que é vivido aí, em conjunto, estende-se a um tempo sem limite, a um espaço infindável, pois as relações estabelecidas entre os jogadores duram para além do jogo em si, como se a tensão vivida nesse tempo partilhado fundisse uns e outros num único corpo, num sentir comum.
E no campo, nesse espaço delimitado onde o confronto decorre sobre o relvado, o jogo atrai o olhar, os adeptos, os espectadores, reúne, regula o encontro, a aproximação, constitui o meio, o processo privilegiado, a amálgama da qual se obtém um conhecimento, um re-conhecimento, uma forma de comunicação imediata e simples, um veículo poderoso de integração. De práticas, de valores, de princípios, de estruturas mais profundas do olhar o mundo, do sentir. Na identificação, afirmada pelo trajar do equipamento de uma equipa portuguesa, manifesta-se uma vida em comum, uma memória, um capital cultural, bem como desportivo, social, económico e humano e, também, um tempo e um passado comum, a preservar, um capital de experiência, o cruzamento de culturas a potenciar.
Nesse equipamento onde não deixa de se exibir a bola sublinha-se, sem recorrer a qualquer palavra, a existência de um jogo que perdura entre uns e outros, a cumplicidade e a unidade de uma equipa de futebol, uma equipa que é transnacional, transcontinental, um corpo físico, emocional e afectivo de onde se mantém apagada a diferença, onde todos os elementos presentes representam, de forma bem visível, aquilo que é comum entre São Tomé e Princípe e Lisboa, entre essa África e essa Europa, uma visão do mundo sustentada em interesses e apoios comuns que o desporto anima, aproxima, proporciona. Para além da língua comum, o que já não é pouco, o encontro registado num disparo de câmara fotográfica de Miguel A. Lopes, é possível hoje por um querer comum, um desejo de construir um caminho a não trilhar isolado e onde também o futebol participa, aproxima e identifica. 
Sobre esse campo de encontros e de possíveis, sobressai o esboço de um futuro que se procura, que se quer construir em comum. Nessa relação – lugar onde o jogo, o futebol, o desporto, vincam a participação e a partilha, manifesta-se a luta por algo, em movimento perpétuo, uma ideia, assente na troca. Sendo assim, através do desporto, futebol e outros, afirma-se a possibilidade de um caminho a consolidar, a entrelaçar, a ligar, a fundar pontes, elementos de permanente valorização mútua, de enriquecimento recíproco. O futuro comum, a fortalecer, a fortalecer-nos, constitui um comércio a preservar, possui um conhecimento de extremo valor, edifica um projecto, a reciprocidade inerente a qualquer equipa onde juntos seremos sempre mais fortes. Nesse campo feito de sofrimento e de esperança, de persistência, jamais de abandono ou de desistência, a política dos afectos não foi deixada em casa.
Pelo contrário, parece ter sido alimento essencial constante num território onde os homens valem pelo seu nome, pela sua idade, pelo seu exemplo – por uma vontade comum, soberana. Um terreno de jogo propiciatório a um devir comum que se procura e se constrói no campo dos afectos, do respeito mútuo em que (numa outra foto) o beijo dado e recebido – trocado – entre a senhora são tomense de trança coberta pelo lenço, outrora portuguesa, e o Presidente português, ainda e para sempre meio moçambicano, enfim gente de cabelo branco, esse beijo afirma e confirma a igualdade entre pares.
As duas fotografias publicadas, no referido jornal diário, a documentar a viagem de Marcelo Rebelo de Sousa a São Tomé e Príncipe, são extraordinárias. A escolha do editor foi excepcionalmente eloquente – um tratado de história."