Últimas indefectivações

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Polvo troca-tintas !!!

"Interessante reler os relatórios dos inspectores da Polícia Judiciária durante aquele que ficou conhecido como Processo Apito Dourado. Na mesma época, três árbitros em meninos-bonitos para o clube do costume e garantiam, resultados convenientes.

Diz uma velha pilhéria que, passeando um belo dia pelo Chiado, Cesário Verde, ouviu a seguinte provocação: 'Lá vai o Cesário Vermelho!'
Teve resposta na ponta da língua: 'Lá vai o troca-tintas!'
Quando alguém resolve escrever um livro chamado Polvo Encarnado, além de ter obrigação de o escrever sem erros de ortografia e sintaxe, que são às dezenas, deveria ter cuidado de não se transformar num troca-tintas.
Mas cada um se enfia nos buracos que lhe apetece, como está bem de ver.
Quando se fala em polvos no futebol português, vale a pena perder algum tempo a estudar aquele que ficou conhecido como Processo Apito Dourado.
É prestar atenção à investigação feita, mesmo que certas manigâncias de pormenor tenham empurrado as decisões judiciais para becos sem saída, sempre tão convenientes para determinados magistrados que gostam de assistir a jogos nos camarotes presidenciais, e num desses camarotes em particular.
Vamos, hoje, trazer às memórias mais esquecidas certas conversas escutadas entre o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, e Pinto de Sousa, nas quais, segundo os inspectores da Polícia Judiciária, foi claro o entendimento entre ambos sobre qual seria o melhor árbitro para dirigir a final da Taça de Portugal da época 2002/2003 que opôs o FC Porto à União Leiria.
Perante a clareza dessas escutas, os investigadores ficaram com a certeza de que quem de facto nomeara o árbitro Pedro Henriques para essa final fora Pinto da Costa, exercendo a influência que detinha sobre o presidente do Conselho de Arbitragem da FPF. Uma escolha que valeu mesmo, como se pode ver pela leitura das sessões de conversações, a manipulação da classificação dos árbitros de forma a que Pedro Henriques pudesse ocupar uma posição 'nomeável', já que é prática serem escolhidos para a final da Taça de Portugal os árbitros mais bem classificados no final de cada época.

Não ficou por aqui...
As escutas continuam aí para que não queiram fazer-lhe ouvidos moucos.
Em Agosto desse ano, no início da época seguinte, e para o jogo da Supertaça que punha frente a frente, de novo, FC Porto e União Leiria, vencedor e finalista vencido da última Taça de Portugal, o processo repetiu-se, sendo agora o árbitro Pedro Proença o favorito do presidente do FC Porto para dirigir o referido encontro. Pedro Proença viria a estar em foco pelos piores motivos ao validar o golo da vitória (1-0) do FC Porto num lance muito polémico no qual Costinha carregou o guarda-redes leiriense Helton.
Também já no decorrer dessa época, o percurso do FC Porto na Taça de Portugal foi considerado suspeito pelos investigadores. Veja-se o que reporta um relatório intercalar da responsabilidade do inspector Casimiro Simões em relação à matéria.
FC Porto - Maia (17/12/2003): «Este jogo, da 5.ª eliminatória, foi arbitrado por Nuno Almeida, da Associação de Futebol do Algarve. O presidente do Conselho de Arbitragem escolheu este árbitro depois de auscultar o presidente do Futebol Clube do Porto. De facto, Pinto da Costa deu o seu aval à nomeação, referindo-se a Nuno Almeida como sendo 'um bom árbitro'. O nome de um dos árbitros assistentes, Paulo Januário, foi também escolhido de comum acordo com Pinto da Costa. O dirigente portista até acrescentou: 'Está bem, ajuda!' O FC Porto venceu por 3-0».
Rio Ave - FC Porto (11/2/2004): «A contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal, realizou-se este jogo que foi arbitrado por Martins dos Santos, auxiliado por António Perdigão e António Neiva.
Na véspera do jogo, Adriano Pinto, presidente da Associação de Futebol do Porto, ligou para o árbitro Martins dos Santos e de forma algo 'encapotada' averiguou se Martins dos Santos estaria preparado para beneficiar o FC Porto (...) Martins dos Santos tranquilizou Adriano Pinto: 'Diga aos nossos amigos que... o senhor para mim é como um pai, e, como tal, eu não me esqueço... (...)'»
Fica ainda a ideia de que Martins dos Santos foi nomeado para a inauguração do Estádio do Dragão (a 16/11/2003) como prémio de anteriores benefícios ao Futebol Clube do Porto. De facto, nas vésperas da inauguração do estádio, segundo Adriano Pinto, os dirigentes do Futebol Clube do Porto teriam eventualmente pensado num árbitro para arbitrar o jogo inaugural. No entanto, alegadamente, teria sido Adriano Pinto a chamar os dirigentes portistas à razão e, com 'justiça', pedir que fosse Martins dos Santos a inaugurar o estádio: «A certa altura eu zanguei-me, porque não queriam... deixar o senhor inaugurar o campo. (...) Tive de dar um murro na mesa para voltar a ser você (...) Eu sou contra a ingratidão, você sabe bem disso...»
O FC Porto venceu a partida por 2-1.
Após o jogo, Lourenço Pinto, advogado e amigo de Pinto da Costa, foi jantar com o árbitro Martins dos Santos. Pinto da Costa, sabendo que Lourenço Pinto estava com Martins dos Santos, ligou ao advogado para soltar uma 'piada' sobre a actuação do árbitro, uma 'piada' em que Pinto da Costa deu a entender que estaria à espera que a sua equipa fosse beneficiada: «Esse senhor, hoje, devia ter marcado quatro penalties  a nosso favor...»
No dia seguinte ao jogo, Martins dos Santos esteve a falar com Carlos Carvalho, da Associação de Futebol do Porto. A propósito da sua pontuação nesse jogo, Martins dos Santos soltou o seguinte desabafo: «O que eu queria era que me corresse bem o jogo... (...) Que me corresse bem e que ganhasse quem ganhou.»
Nestas coisas de polvos, é bom ter memória.
Haverá sempre alguém pronto a recordar momentos que deveriam ter ficado como exemplo do que é controlar um edifício como o do futebol.
Cá estaremos para que não caiam no esquecimento..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Duas faces da mesma moeda

"O desporto e a cultura, aparentemente inconciliáveis, são na realidade inseparáveis.

O Benfica clube 'desportivo, por essência, ele tem, também, um objectivo social de que não pode nem deve alhear-se'. Foi com este pensamento em mente que, a 14 de Novembro de 1955, foi criada a Secção Cultural do Benfica, sendo a 'primeira expressão formal nas grandes sociedades desportivas da nossa terra'. O clube colocava-se, 'mais uma vez, na vanguarda das grandes iniciativas'.
O 'popularissímo clube da camisola encarnada' tinha como objectivo 'mostrar que nem só de futebol vive o homem, que o desporto e a cultura não são incompatíveis, antes se abraçam e são indispensáveis um ao outro: mente sã em corpo são'. Contudo, os dirigentes do Benfica tinham a noção de que esta iniciativa iria provocar incompreensão, e que parecia estarem já a ouvir 'nesta terra de humoristas e fazedores de anedotas, as piadas do café, supondo os eternos 'comentadores' que os nossos atletas vão passar a tratar os adversários por V. Ex.ª'.
Apesar da 'noção das dificuldades que por vezes nasçam à sua volta, das incompreensões de muitos e, até, da animosidade de alguns', o Benfica e aqueles que iriam trabalhar nas actividades culturais, 'a elite mental de fora e de dentro do Clube', não esmoreceram os seus intentos e começaram logo a pôr as mãos à obra.
Era assim 'muito menina e ainda muito moça a Secção Cultural' quando, nem um mês passado foi publicado pela primeira vez o suplemento Cultura e Desporto do jornal O Benfica, a 8 de Dezembro de 1955.
Este suplemento, de quatro páginas, era vendido integrado no jornal O Benfica, sem aumento do preço deste periódico, e desejava-se que a sua publicação de realizasse a 'intervalos regulares, possivelmente mensais', mas sem se 'afirmar que se cumpra, esse desejo de regularidade'. O desafio consista em se adaptar à 'heterogeneidade de formação cultural dos muitos leitores do jornal' sem cair na 'índole popularizante, sob pretexto de se tornar mais acessível' nem 'atingir um academismo ridículo'.
Através destas páginas, os leitores tiveram acesso a grandes nomes das várias manifestações culturais (das ciências, arte e letras), nacionais e internacionais, até à sua última edição, a 24 de Agosto de 1971.
Pode ficar a saber mais sobre este órgão de comunicação na exposição temporária Jornal O Benfica - 75 Anos de Missão, em exibição no Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

Alvorada... do Élio

Vitória obrigado ao penta

"Nem precisava Vieira de vir a público reafirmar a confiança no seu treinador, mas fê-lo, e só ele sabe porque o fez.

Luís Filipe Vieira já havia dito que não hipotecava a estabilidade financeira da instituição a que preside por causa de uma vitória ou de um título. Na altura não se atribuiu a essa afirmação a relevância que verdadeiramente merece, por decidir navegar contra a maré em mar de salteadores, que é o quadro que melhor caracteriza o estado actual no futebol português.
Afirmou-o quando o clube estava à beira de conquistar o tetra e alertou para o perigo iminente de quem sonhava com 'um regresso ao passado de triste memória'. Na última semana, porém, foi mais explícito. Não só confirmou o rumo então anunciado, tradutor de uma segurança de que muito poucos podem gabar-se, como deu indicações precisas sobre o futuro próximo, prometendo o pagamento da dívida bancária ainda no seu mandato e sublinhando o que para ele é uma questão de honra: admitir unicamente a antecipação de receitas para pagar dívidas e jamais para aquisição de jogadores, e através desse expedientes eternizar-se no poder.
Vieira impõe-se pelo trabalho e pela obra em constante renovação. À vista de todos, e com o desígnio de colocar a águia no nível do que melhor se pratica no planeta. A palavra não é o seu forte e talvez devido a isso gosta de ser visto como homem de arregaçar as mangas, em contraposição a um qualquer sagaz vendedor de promessas adiadas. Faz coisas menos bem, como todos, mas acredito que preza uma qualidade em vias de extinção numa sociedade cada vez mais invejosa, em que os valores e os princípios contam pouco: continua a ser um homem em quem se pode acreditar. É assim que o vejo até que me provem o contrário.
Antes do tetra, Vieira apelou, na Casa de Grândola, a 'uma verdadeira onda vermelha que ajude nesta recta final'. Concretizado esse objectivo, ainda na euforia do Marquês de Pombal, apontou ao penta e a verdade é que nenhuma voz discordante se levantou. Nem mesmo os que o querem ver pelas costas, para se aventurarem ao lugar, ousaram correr o risco de o contrariar.

Depois de ter mantido Jesus em 2011, quando ficou a 21 pontos do campeão FC Porto, o qual fez a festa do título no Estádio da Luz, e o segurou contra tudo e contra todos em 2013, na sequência de temporada de total frustração desportiva, não precisava Vieira de vir a público reafirmar a confiança em Rui Vitória. Mas fê-lo, e só ele sabe porque o fez. Reclamou mais respeito pelo treinador, sem identificar, no entanto, os destinatários da mensagem. Se bem me lembro, a única pessoa que lhe faltou ao respeito é do conhecimento público.
«Parece que desaprendeu e nos saturámos dele (Vitória), mas não há hipótese - é o treinador que escolhi, é o treinador do Benfica e vai continuar a sê-lo, veio para ficar?, vincou Vieira na sua intervenção na Casa da Covilhã. Disse mais: «Quero desejar um bom Natal a todos e que o ano que vem seja grandioso para o Benfica, rumo ao penta.»
Sinceramente, considero que esta declaração só pode ser dirigida a Rui Vitória. O aviso é sério, de nada valendo ao treinador empurrar com a barriga as más exibições da equipa, muito menos ignorar várias questões por explicar que vão desde a hesitação sobre os guarda-redes à dispensa de uma avançado que valia 25 golos por época trocando-o por outro que nem metade promete. Por outro lado, dada a inevitabilidade do recurso à formação, creio que Vitória, ao não parecer suficientemente empenhado no processo, se baralhou por se lhe ter deparado tanta juventude boa de bola a querer mostrar serviço.

A humilhação na Liga dos Campeões só pode ser entendida à luz de total incompetência. No universo dos 32 participantes na fase de grupos da Liga dos Campeões o Benfica foi o pior. O descalabro prolongou-se por três meses, entre Setembro e Dezembro, em seis jornadas,e provocou danos irreparáveis em termos desportivos e financeiros, além da péssima imagem provocada no universo europeu.
Os adeptos teriam gostado de ver Vitória dar o peito às balas e assegurar que comportamento como este nunca mais. Penitenciar-se pelo prejuízo causado ao emblema e no normal desenvolvimento do seu projecto de crescimento.
Não senhor, em vez disso tentou varrer o lixo para debaixo do tapete como se nada de (muito) grave se tivesse passado. Assim sendo, admito eu, não tendo o treinador assumido a responsabilidade e não sendo ilimitada a capacidade de condescendência do presidente é natural que se não haver penta alguma coisa aconteça. É normal, não?...

PS1 - Sérgio Conceição, com um plantel curto e reconstruído com dispensados, segue na frente, marca mais golos e sofre menos, sem um lamento, mesmo quando se viu privado de dois dos seus três avançados. Na mesma semana marcou cinco ao Mónaco e mais cinco ao Vitória de Setúbal. Há alegria e confiança. Razão por que deve ser considerado o mais forte candidato ao título de campeão nacional.

PS2 - Convencido da sua esperteza, Jorge Jesus prometeu uma coisa e fez outra: importante era o jogo com o Boavista que começou a ser ganho em Barcelona. Fantástico. Dadas as circunstâncias, até eu, que não lhe acho graça, acreditei que o Sporting pudesse surpreender em Barcelona, triunfando. Mais uma vez, porém, Jesus mostrou ser bom treinador... para consumo interno. Nas grandes decisões bate à porta, mas não consegue entrar."

Fernando Guerra, in A Bola

Constatações e VAR

"Não chega denunciar erros. É importante explicá-los e apontar soluções.

Ultimamente preferimos outras áreas. A de medir intensidades, contactos e toques. Andamos de microscópio numa mão e de régua e esquadro noutra. É tudo analisado à lupa. Caiu? Se calhar foi empurrado. Tocou? Se calhar desequilibrou- Espirrou? Se calhar constipou. Somos a nova brigada do escrutínio televisivo. Jogamos outro jogo. O das imagens travadas, repisadas, ampliadas. Nós, que comentamos arbitragem, fazemos parte dessa filosofia perversa. E não podendo combater essa inevitabilidade, o mais justo é que exerçamos esse papel aliando sentido ético e independência à pedagogia e honestidade intelectual. Usar sarcasmo para fazer referência a erros é feio. Fazer referências ao peso, tamanho e aspecto físico dos árbitros também. O homem que hoje analisa o árbitro foi árbitro ontem também. Sabe, sente e pensa como um árbitro. Tem obrigação de perceber porque acerta e sobretudo, porque erra. Do comentador de arbitragem moderno espera-se, por isso, uma mensagem coerente, digna e construtiva.
O tempo da crítica factual e redundante, que apenas apontava para a evidência do sintoma sem propor a cura, já passou. E passou porque, para isso, qualquer um serve. Qualquer adepto sabe dizer se foi penálti, amarelo ou vermelho. Ou se não foi. O comentador de arbitragem moderno deve diferenciar-se pelo valor que acrescenta ao debate. Deve diagnosticar, claro, mas também explicar. Apresentar soluções. Deve contribuir para uma discussão positiva e diferenciadora. Da minha parte, fica o compromisso: o de tentar trazer, para análise, as sensações de cada jogo dirigido. O de tentar sustentar cada ideia, fundamentar cada ponto de vista. Sem corporativismos. Com a simplicidade que as coisas simples devem ser tratadas.
Dito isto e regressando agora às incidências das últimas jornadas (lá está, recheadas de momentos puramente televisivos), é mais do que justo ter a capacidade de reconhecer que as coisas não têm corrido bem. As falhas ocasionais acontecem e acontecerão sempre. São fruto da dimensão humana que o futebol deve permitir humana que o futebol deve permitir e tolerar. Mas as falhas recorrentes indicam um padrão, uma linha de actuação, que uma classe inteligente e competente não pode nem deve ignorar.
Sabemos que os árbitros de hoje estão sujeitos a escrutínio apertado e grande pressão exterior. Mas essa realidade, inultrapassável, deve ser encarada como desafio e não como constrangimento. De tudo, o que mais salta à vista é a (in)coerência: lances semelhantes com decisões diferentes, entradas iguais com punições distintas. Para reflectir.
Depois há a outra questão: a do VAR. Todos reconhecemos que a tecnologia é fundamental para a verdade desportiva. No entanto, é justo reconhecer também que nem tudo está a correr como seria expectável. Sem prejuízo das decisões correctamente alteradas e da fase embrionária em que se encontra o projecto, há afinações importantes para fazer. E depois há as tais questões que a sensibilidade geral das pessoas (e quando são quase todas, é prudente ao menos ouvi-las) sugere com pertinência. Uma era a de ter o mesmo número de câmaras, colocadas nos mesmos locais, em todos os estádios (dentro do que fosse operacionalmente viável), para garantia de equidade. Outra era fixar uma câmara em cada linha de baliza, para aferir situações de golo/não golo, ajudando a repor justiça nesses lances. Uma outra ainda passaria por ter meios de produção próprios (que o protocolo prevê e que era um caminho possível), o que acrescentaria credibilidade a todo o projecto e retiraria suspeitas desnecessárias relacionadas com o sinal disponibilizado pelos operadores. E tal como estas, muitas, muitas outras.
Num processo novo, todas as sugestões fazem sentido, nem que seja para excluir as que são inúteis. Afinal de contas, estamos todos do mesmo lado."

Duarte Gomes, in A Bola

Cérebro danificado II

"A lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, veio instituir o regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e a intolerância nos espectáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança.
Como é habitual nos dias que correm, esta lei já sofreu duas alterações - uma pelo Decreto-Lei n.º 114/2011, de 20/11, e outra pela Lei n.º 52/2013, de 13/7.
O art.º 29.º desse diploma dispõe:
Artigo 32.º
Invasão da área do espectáculo desportivo
1 - Quem, encontrando-se no interior do recinto desportivo durante a ocorrência de um espectáculo desportivo, invadir a área desse espectáculo ou aceder a zonas do recinto desportivo inacessíveis ao público em geral, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa.
2 - Se das condutas referidas no número anterior resultar perturbação do normal curso do espectáculo, interrupção ou cancelamento do mesmo, o agente é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa.
O adepto, durante a ocorrência do jogo FC Porto - Benfica, invadiu a área desse espectáculo e acedeu a zonas do recinto desportivo inacessíveis ao público em geral, perturbando o normal curso do espectáculo desportivo, interrompendo-o.
Daí que, logo por aqui, vai pena de prisão até 2 anos, ou pena de multa.
Continua o art.º 34.º.
Crimes contra agentes desportivos, responsáveis pela segurança e membros dos órgãos da comunicação social.
1 - Se os actos descritos nos artigos 29.º a 33.º forem praticados de modo a colocar em perigo a vida, a saúde, a integridade física ou a segurança dos praticantes, treinadores, árbitros e demais agentes desportivos que estiverem na área do espectáculo desportivo, bem como dos membros dos órgãos de comunicação social em serviço na mesma, as penas naquelas previstas são agravadas, nos seus limites mínimo e máximo, até um terço.
2 - Se os actos descritos nos artigos 29.º a 33.º forem praticados de modo a colocar em perigo de vida, a saúde, a integridade física ou a segurança de elementos das forças de segurança, de assistente de recinto desportivo ou qualquer outro responsável pela segurança, no exercício das suas funções ou por causa delas, as penas naqueles previstas são agravadas, nos seus limites mínimo e máximo, em metade.
3 - A tentativa é punivel.
O acto praticado pelo adepto foi contra agente desportivo - jogador de futebol, e, logo, a pena de 2 anos é agravada em mais um terço, o que dá 2 anos e  meses de pena máxima. Aplica-se então este n.º 1 e não o n.º 2.
O art.º 35.º regula as penas acessórias e diz-nos:
Pena acessória de interdição de acesso a recintos desportivos.
1 - Pela condenação nos crimes previstos nos artigos 29.º a 34.º e aplicável uma pena de interdição de acesso a recintos desportivos por um período de 1 a 5 anos, se pena acessória mais grave não couber por força de outra disposição legal.
2 - A aplicação de pena acessória referida no número anterior pode incluir a obrigação de apresentação e permanência junto de uma autoridade judiciária ou de órgão de polícia criminal em dias e horas preestabelecidas, podendo ser estabelecida a coincidência horária com a realização de competições desportivas, nacionais e internacionais, da modalidade em cujo contexto tenha ocorrido o crime objecto da pena principal e que envolvam o clube, associação ou sociedade desportiva a que o agente se encontre de alguma forma associado, tornando sempre em conta as exigências profissionais e o domicílio do agente.
3 - Para efeitos de contagem do prazo da pena prevista no n.º 1, não é considerado o tempo em que o agente estiver privado da liberdade por força de medida de coacção processual, pena ou medida de segurança.
4 - A aplicação da pena acessória de interdição de acesso a recintos desportivos é comunicada ao ponto nacional de informações sobre futebol, tendo em vista, sempre que seja imprescindível, a comunicação da decisão judicial portuguesa às autoridades polícias e judiciárias de outro Estado membro da União Europeia.
Esta pena a ser decidida de aplicação pelo juiz será decretada com a condenação.
Mas enquanto não existir condenação, pode o juiz aplicar o que está previsto no art. 36.º.
Medida de coação de interdição de acesso a recintos desportivos.
1 - Se houver fortes indícios da prática de crime previsto na presente lei, o juiz pode impor ao arguido as medidas de:
a) Interdição de acesso ou permanência a recinto desportivo dentro do qual se realizem espectáculos desportivos da modalidade em que ocorreram os factos; e ou
b) Proibição de se aproximar de qualquer recinto desportivo, durante os 30 dias anteriores à data da realização de qualquer espectáculo desportivo e no dia da realização do mesmo.
2 - As medidas de coação referida na alínea a) do número anterior aplicam-se os prazos máximos previstos para a prisão preventiva previstos no Código de Processo Penal.
3 - As medidas de coacção previstas no n.º 1 podem ser cumuladas com a obrigação de o arguido se apresentar a uma autoridade judiciária ou órgão de polícia criminal em dias e horas preestabelecidas, podendo ser estabelecida a coincidência horária com a realização de competições desportivas, nacionais e internacionais, da modalidade em cujo contexto tenha ocorrido o crime objecto da pena principal e que envolvam o clube, associação ou sociedade desportiva a que o agente se encontre de alguma forma associada, tomando sempre em conta as exigências profissionais e o domicílio do agente.
Não reza a história que o juiz tenha aplicado esta medida ao citado adepto! Porquê? Não sabemos!
Mas a tudo isto acresce o crime do art.º 143.º do Código Penal:
Ofensa à integridade física simples.
1 - Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
Por isso o adepto cometeu dois crimes em concurso e não um conforme andou a apregoar-se na comunicação social.
E a tudo isto pode acrescer a interdição do Estádio da Dragão, com base no art.º 46.º da citada lei n.º 39/2009.
Será que a lei vai ser aplicada?

Até para a semana."

Pragal Colaço, in O Benfica

Em que momento deixámos que este «futebol» nascesse?

"Não sei quantas vezes mais vou escrevê-lo ainda, mas deixámos, simplesmente, de gostar de futebol.
Raios, deixámos mesmo de gostar de bola!
Alguns de nós ainda resistem, de mãos nos ouvidos, a fugir dos motins nas ruas e a tentar focar-se no que realmente importa. No jogo, nos jogadores e treinadores, no que se passa em campo. Na finta, na assistência, no golo. Na grande defesa.
Somos poucos, excepção à regra.
Se não o conseguimos sempre, pelo menos tentamos.
Só que, por muito que não consigamos ganhar-lhes, nunca a eles nos juntaremos. Aos outros, aos amotinados, com cara de desenho animado nas redes sociais ou de tronco-nu-faça-chuva-ou-faça-sol, virados de costas para o seu próprio clube nas bancadas, como maestros de uma orquestra de apoio. 
Se não podemos vibrar com os nossos para que o gás que paira no ar não se incendeie também à nossa volta, vibraremos com os dérbis de outros.
Com o voo de De Gea, com a dupla parada de Ederson que salvou a vitória. Jogo fantástico, com uma intensidade incrível, um vencedor justo, mas também um vencido que nunca desistiu, usando armas diferentes. Não sei quando deixámos que isto acontecesse.
Não sei em que ponto do passado escolhemos a realidade alternativa que nos trouxe até aqui. Até isto.
A esta miséria de adepto, que serve para espalhar propaganda, atropelando tudo e todos pelo caminho. Que tem todos como inimigo, como rival, aumentando a cortina de fumo em torno das fragilidades dos seus. Que nunca existem, claro.
O Sarriá tirou-nos o romantismo antes de o Azteca devolver-nos mais um herói, num canto de cisne desse futebol espectáculo. Nós fomos definhando com o jogo até ontem. O futebol nunca mais foi o mesmo, mas nós também não.
Só o Barcelona e a Espanha, a certa altura, pareceram ser consensuais, com a promessa do fim da história, porque o futebol invencível parecia inventado. Mas mesmo aí havia quem bocejasse, nos momentos em que se tornava maçador entre três ou quatro jogadas de génio.
Dizem que a culpa é do «sistema», do tráfico de influências e dos árbitros. Dos dirigentes, do compadrio.
A culpa é de uma cultura desportiva vazia, que deixa espaço a esse contacto exagerado entre dirigentes de clubes e dirigentes de organismos, fora dos espaços normais das assembleias gerais e reuniões extraordinárias, para negociação de favores. É simples: se há culpados, que sejam punidos. Não invalida que os campeões das últimas décadas, as que vivi, tenham todos sido justos. Porque foram quase sempre melhores, por vezes muito melhores do que os outros.
A culpa é também de todos, dos que do lado de fora atribuem tanto peso aos árbitros, e aos seus erros.
O futebol é feito deles. Colectivos, individuais, de decisão de futebolistas e treinadores, de árbitros também.
Não sei se é só por cá, mas é por cá que mais o vejo, esse fel que destilamos dia após dia, depois do duplo apito prolongado, e do gesto a apontar para os balneários. O alvo nem é só o que pisa no nosso futebol.
Ronaldo ganhou a quinta Bola de Ouro, e assumiu de peito-feito, que se achava o melhor da história. 
Se há quem tenha o direito de gritá-lo ao mundo é o próprio, sem falsas-modéstias, e com orgulho do que já atingiu. Podemos não concordar a quente, mas o que Cristiano já conseguiu, ao longo de tanto tempo e com um rival como Messi, dá-lhe, pelo menos, o benefício da dúvida.
Mourinho perdeu o dérbi de Manchester, e muitos viram na derrota a confirmação da vitória do lado bom sobre o lado negro da força.
Guardiola gastou 462 milhões em duas épocas no reforço do seu City. Mourinho terá investido cerca de 350. Mesmo o espanhol, considerado por muitos o melhor treinador da actualidade e um dos melhores de sempre, precisou dos melhores para fazer o seu jogo dominador, que, de facto, impôs em Old Trafford. Só que está longe de ser um melhor do que o outro, ou uma filosofia melhor do que a outra. Não é, nem nunca será, tão simples quanto isso.
O City ganhará provavelmente a Premier e poderá chegar longe se não mesmo vencer a Champions, mas a época do United está longe do fiasco, e também merece aplausos.
Somos nós que tornamos o futebol feio, ao só querermos ver um lado, aquele que nos diz mais. Ao só nos interessarmos pelos nossos ou pelos que foram nossos, ou então ao defendermos de forma hipócrita algo que é apenas politicamente correcto.
O futebol mudou, e mudámos com ele, mas continua a ser o melhor jogo do planeta.
Nós é que lhe retirámos a magia. Nós é que o tornamos pior. Todos os dias."

Imperador...

Benfica e aeroporto: crise na 2.ª Circular

"Rui Vitória assumiu responsabilidades, mas o anátema da pior campanha europeia de um clube português fica-lhe colado. A ele e a Vieira

Quem, como eu, anda pelo aeroporto de Lisboa, ‘sente’ que rebenta pelas costuras.
As pessoas quase se atropelam nos corredores, as desculpas pelos encontrões inadvertidos sucedem-se e, claramente, há um problema resultante do significativo acréscimo de passageiros esgotando os slots disponíveis.
Há dias, com todo o pessoal embarcado e sentadinho para partir, o comandante do avião pediu desculpas por termos de esperar cerca de 40 minutos por causa do excesso de tráfego - ou seja, perdeu o slot!
Vamos a números: há poucos anos, a capacidade instalada de movimentação de passageiros cifrava-se em 24 milhões, e ao que me referem anda hoje pelos 26 milhões. Ou seja, ainda se conseguiram acomodar mais dois milhões de almas por ano.
E por que falo nisto? Porque não compreendo o atraso na construção do aeroporto do Montijo! Se há consenso nacional, é claramente neste investimento. Acredito que, no segredo das alcatifas, existam razões que justifiquem o adiamento. Mas será que o público utente (este que paga as taxas, bem caras por sinal) não tem o direito de conhecer os entraves? Alguém quer fazer uma investigação sobre as razões que impedem o arranque da construção?
Entretanto, Centeno foi eleito presidente do Eurogrupo!
Portugal inchou com este triunfo num lugar reservado a socialistas - e até Marcelo nos refere como ‘os nórdicos do século XXI’.
Todos sabemos que o Eurogrupo defende rigor nas contas públicas - e, no mesmo dia da eleição de Centeno, o Governo português foi avisado para o risco dessas contas face ao défice estrutural de 2% e o elevado valor da dívida nacional.
Ninguém quer saber como Centeno-presidente vai impor rigor a Centeno-ministro, quando os compromissos esquerdistas assumidos são de aumento da despesa pública. Das duas, uma: ou Costa acredita mesmo que Centeno vai mudar as políticas europeias, exportando este modelo da ‘geringonça’ - ou, em clara e brilhante jogada de antecipação, prepara um regresso ao rigor orçamental sob a égide de Centeno mas descartando o PCP.

O meu Benfica ainda me consegue surpreender pela negativa. Depois de um jogo de resultado feliz no Dragão, a Champions trouxe a equipa de novo a uma realidade dolorosa, ou seja, 6 jogos e 6 derrotas.
No final, Rui Vitória assumiu responsabilidades, mas o anátema da pior campanha europeia de um clube português fica-lhe colado. A ele e a Vieira - porque, se são os maiores quando ganham, afirmando que em organização vamos anos à frente da concorrência, também serão eles os responsáveis quando o Benfica é batido. No mercado de apostas, o Basileia era favorito a 2 dias do jogo - e será que ninguém percebe lá para os lados da Luz (ou Seixal) que isto são inequívocos sinais de decadência?
Num ano em que, numa manifestação elitista decorrente do ‘tetra’, os preços dos lugares cativos aumentaram bem acima da inflação, a equipa anda pelo 3.º lugar e sai da Champions sem um ponto. Acham que o pagode (adeptos e simpatizantes crédulos) aceita tudo sem pestanejar?
Viram as bancadas despidas no jogo com o Basileia? Falemos claro: ou há investimentos em Janeiro que assegurem um retorno imediato ainda nesta Liga, possibilitando a ida à Champions em 2018/19 (na qual apenas 2 equipas se qualificam), ou poder-se-á iniciar um ciclo de declínio desportivo e financeiro de consequências imprevisíveis.

P.S. - Novamente o IGCP a merecer os maiores elogios! Com as taxas de juro em baixa, aproveitou o momento para trocar 1.039 milhões de euros com vencimento em 2019 e 2020 por dívida de idêntico valor a vencer em 2022 e 2027! Bravo, Cristina Casalinho!"

Benfiquismo (DCLXXXV)

Das piores decisões do Benfica!!!