Últimas indefectivações

sábado, 24 de abril de 2021

Superliga


"Há uns anos escrevi uma crónica para o Vida Económica em que abordei a inevitabilidade da criação de uma Superliga Europeia de futebol. Então, como hoje (dia 20), julguei que a criação da Associação Europeia de Clubes (ECA) era motivada, principalmente, pela necessidade do exercício de pressão sobre a UEFA (e a FIFA) em questões fundamentais, desde logo a necessidade de maior redistribuição das receitas televisivas e de patrocínios das competições europeias ou de estancar o abuso das datas reservadas para as selecções ao longo da temporada, entre outros.
Por isso não me surpreenderam as sucessivas reformulações da Liga dos Campeões, tanto no incremento dos prémios distribuídos como até no formato competitivo, verificando-se um afunilamento cada vez mais acentuado nos participantes. Este fenómeno nem sequer é recente, pois esteve na base de transição do antigo modelo da Taça dos Clubes Campeões Europeus para a versão inicial da Liga dos Campeões.
Terminei o tal artigo elogiando a UEFA por ceder às revindicações dos clubes ao invés de entrar em conflito aberto, mas interrogando até quando seria possível evitar uma cisão. Aparentemente, esse momento pode ter chegado.
Sou daqueles que reconhecem mérito à demanda d ECA. E não me incomoda, inclusivamente agrada-me, que a UEFA seja cada vez mais reguladora e organizadora e menos parte interessada nos proveitos financeiros do negócio. Se a ECA substituísse a UEFA, daí não viria mal ao mundo. Porém, esta revolta de alguns clubes enferma de um defeito grave: haver privilegiados.
Não se trata apenas do garante de mais receitas ou da libertação de espartilhos da UEFA, mas também, lamentavelmente, da tentativa de perpetuação do status de uns poucos."

João Tomaz, in O Benfica

Supermentira


"Florentino Pérez, o todo-poderoso presidente do Real Madrid, afirmou nesta semana: 'Criámos a Superliga Europeia para salvar o futebol'. Por muito que não me agradem a política da UEFA e da FIFA e os casos de corrupção inerentes, também não confio nas boas intenções do dirigente e empresário espanhol.
Juntar 15 dos maiores clubes do mundo na mesma competição e deixar a porta aberta para outros 5 é só um insulto a todas as equipas que fizeram a história do futebol na Europa. Sim, o Benfica incluído, claro, mas não só. É o princípio da coisa que está errado. Numa competição como a Superliga ninguém desce de divisão e só lá se chega por convite. Será isso justo para todos os outros que não entram na equação? E os adeptos, como é que ficamos?
As organizações que gerem o futebol mundial já ameaçaram com a expulsão dos clubes e jogadores envolvidos na Superliga Europeia de todas as competições, Champions e Liga Europa incluídas, mas também Campeonatos do Mudo ou da Europa. O braço de ferro não vai ficar por aqui, e durante os próximos dias e semanas vão surgir, de todos os lados, argumentos contra e a favor da Superliga.
Este é o ponto de vista de um simples adepto, que cresceu a ver o futebol como uma extensão da sociedade: um jogo aberto a todos, democrático, inclusivo, onde as surpresas existem, em que há tomba-gigantes, há equipas a derrotar favoritos com 10, 50, 100 vezes maiores orçamentos. Uma liga só para ricos pode matar o futebol como o conhecemos, mas também pode confirmar aquilo que há muito se temia e preconizava: o futebol profissional masculino é, cada vez mais, uma questão de lucro, não de estética, de paixão, de amor à camisola."

Ricardo Santos, in O Benfica

À Benfica


"Telma Monteiro deu o mote. A nossa supercampeã alcançou mais um título europeu, reforçando o seu palmarés de luxo, e continuando a escrever páginas brilhantes no desporto português - do qual é, sem dúvida, um dos expoentes máximos. Bárbara Timo e Rochele Nunes, seguiram o exemplo e  
também conquistaram medalhas. Três mulheres à Benfica na alta-roda do judo internacional. Três promessas para os Jogos Olímpicos.
À Benfica foi também a mão-cheia de vitórias das nossas modalidades colectivas femininas no último fim-de-semana. Sábado, o pólo aquático venceu em Paredes, ficando a apenas um ponto do título. Domingo, mais um póquer de triunfos. No basquetebol, ficámos a um passo da final do playoff, após vitória categórica na Quinta dos Lombos. Umas horas mais tarde, no mesmo local, a magnífica equipa de futsal festejou o tetracampeonato (não fosse a pandemia, seria o penta...). Notável a carreira das pupilas de Pedro Henriques, que contam por vitórias todos os jogos realizados. Uma superioridade em toda a linha que agora se traduz em mais um titulo, com três jornadas ainda por disputar. Em futebol, vencemos na difícil deslocação a Braga (1-2) e estamos na luta. Em hóquei em patins, triunfámos no dérbi disputado na Luz (3-2) e continuamos na frente. Êxitos saborosos, que evidenciam uma vez mais a força e  talento das nossas atletas, justificando a aposta levada a cabo no desporto feminino.
À entrada dos momentos de decisão, temos possibilidade de conquistar os títulos de futebol, hóquei, básquete, andebol e pólo, juntando ao de futsal agora consumado. Glória escreve-se no feminino."

Luís Fialho, in O Benfica

Telma, sempre!


"'Sou competitiva e estou sempre insatisfeita'. Estas declarações são de Telma Monteiro e foram proferidas no nosso jornal, na edição de 27 de Novembro, após conquistar a medalha de prata nos Europeus de Praga. Pelo que a conquista da medalha de ouro, na Altice Arena, em Lisboa - a melhor atleta de Portugal. Telma Monteiro atingiu o patamar a que só os sobredotados chegam. Telma continua a preparar o seu próximo grande objectivo - os Jogos Olímpicos. Já sabemos que, no dia 26 de Julho, Portugal vai para para assistir aos seus combates no imponente Nippon Budokan, em Tóquio. Tão importante como as suas conquistas é a forma de estar. Telma Monteiro desarma pela simplicidade, humildade e capacidade de se reinventar. O seu livro Na Vida com Garra, que publicou em Setembro de 2016, após a conquista da medalha de bronze nos Jogos do Rio de Janeiro, devia ser de leitura obrigatória, pois trata-se de um verdadeiro manual para as nossas vidas. Em relação aos tempos que estamos a viver, sobretudo à actualidade do Sport Lisboa e Benfica, Telma Monteiro aborda, na página 235, uma das questões mais complexas - a importância do colectivo. 'Trabalhar em equipa é ouvir, partilhar, contribuir, é receber e dar, é movermo-nos em prol de um objectivo comum e colocar o interesse da equipa acima de qualquer uma das partes, porque só assim seremos justos e conseguiremos manter-nos fiéis ao nosso objectivo'. Com as prestações de Telma Monteiro, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes aprendemos uma lição - 'Não deixes que os obstáculos te vençam'."

Pedro Guerra, in O Benfica

Valores de betão


"Hoje em dia é comum dizer-se que vivemos numa sociedade sem valores, ou ainda que a nossa sociedade está a atravessar uma crise de valores. Não sei se é verdade, e, seguramente, não será, pois parece uma afirmação demasiado drástica e definitiva. Até porque, nos momentos de crise, a nossa sociedade continua a revelar solidariedades familiares, vicinais e institucionais que de outra forma não existiram. É em tempos como os que vivemos actualmente que os portugueses evidenciam ter um código de valores e uma ética inabaláveis. Mas atenção! Se continuamos a ser capazes de mostrar a nossa união nos momentos mais difíceis, isso não significa que o cimento que a todos nos une seja eterno. E nós precisamos de betão! Desse betão social que são os nossos valores, ou a mística para os benfiquistas.
Para isso, para que se não perca esta nossa forma de ser em sociedade, não podemos quebrar a cadeia intergeracional que transmite os nossos valores de avós para netos e de pais para filhos. Porque são os nossos valores que nos definem, mantêm unidos, tanto no sucesso como na adversidade, perpetuando o nosso povo e a nossa identidade pelas gerações.
Esta é a razão de ser do projecto KifFun da Fundação Benfica. Mais que um conteúdo educativo, mais que um imperativo ético ou obrigação moral, o que fazemos é dar um importante contributo para a resiliência da nossa sociedade presente e, sobretudo, futura. Tal é a importância da educação para os valores, relevância da obra social do Sport Lisboa e Benfica."

Jorge Miranda, in O Benfica

Núm3r0s d4 S3m4n4


"1
Estamos a 1 ponto de revalidarmos o título no pólo aquático feminino. O projecto, apesar de recente, é vencedor;

3
Judocas benfiquistas medalhados no Campeonato da Europa. Mérito, sobretudo, dos atletas, mas também do Sport Lisboa e Benfica, que tanto os apoia e lhes providencia as condições indispensáveis;

4
Tetracampeãos de futsal feminino. A nossa equipa é extraordinária, só sabe vencer. Que assim continue por muitos anos;

5
O CIES analisou o tempo útil dos jogos de 37 provas europeias realizados entre 1 de Julho de 2019 e 3 de Março de 2021 e concluiu que apenas 5 apresentam um registo pior que o da Liga NOS. Repito, entre 30 campeonatos de primeira divisão, 5 campeonatos da segunda, mais a Liga dos Campeões e a Liga Europa. Portugal é o 6.º pior no tempo útil de jogo. Enquanto por cá se entretêm com a centralização dos direitos televisivos, parecem ignorar aspectos básicos como este, o estado dos relvados ou as condições para os adeptos;

6
Telma Monteiro sagrou-se campeã europeia de judo pela 6.ª vez e subiu ao pódio pela 15.ª vez em 15 participações. É uma atleta de excelência, das melhores de sempre na modalidade a nível mundial e uma das melhores desportistas na história de Portugal;

12
Clubes para já (escrevo na terça-feira), que manifestaram a intenção de formar uma Superliga Europeia de futebol fora da égide da UEFA. Acompanho as preocupações quanto ao aprofundamento do fosso entre clubes, já de si muito significativo (basta analisar a origem dos clubes presentes nas meias-finais da Liga dos Campeões desde 2006), e, sobretudo, o favorecimento de um pequeno grupo deles, perpetuando a sua participação. Na UEFA ou fora dela, a questão da meritocracia é fundamental."

João Tomás, in O Benfica

Cadomblé do Vata


"1. Nos últimos 12 meses, para o campeonato, o SLB perdeu contra Santa Clara, Marítimo, Boavista, Braga, Sporting e Gil Vicente... estou tão farto de levar na boca de clubes pequenos, que estou capaz de apoiar a participação do SL Benfica numa Superliga, só para levar na boca de clubes grandes para variar.
2. Uma larga franja de Benfiquistas está (justificadamente) indignada com a cobertura "noticiosa" do Grupo Cofina ao Glorioso nos últimos dias... curiosamente, a maioria dos revoltados deleitou-se com a entrevista de LFV à CMTV em Outubro.
3. Na verdade, esta foi uma semana difícil para o Record fazer passar a sua mensagem: antes do jogo o SLB desmentiu que apoiasse a Superliga; depois do jogo JJ desmentiu que Weigl tivesse abandonado o estágio em conflito com o treinador... durante o jogo Helton Leite desmentiu que tivesse ganho o lugar ao Vlachodimos por causa do jogo de pés.
4. No final da goleada em Portimão, Jorge Jesus disse que está rodeado de gente que só acredita quando se ganha... neste momento ainda estão 3 corporações de bombeiros a tentar extinguir o incêndio que começou a arder nas orelhas do homem que assumidamente, decidiu contratar JJ em Março de 2020, quando o SLB só tinha 2 derrotas no campeonato.
5. O Benfica apresentou queixa de uma jogadora do Sporting que festeja os golos exibindo uma camisola com a frase "Jesus está no comando" escrita... não se sabe é se a queixa foi apresentada na FPF ou na Sociedade Portuguesa de Autores."

Os melhores jogadores e a síndrome do criativo cansado


"Mehdi Taremi jogou só 30 minutos na eliminatória com o Chelsea e marcou um golo inesquecível. Devia ter jogado mais tempo na segunda mão, quando a equipa precisava de marcar várias vezes. A seguir resolveu na Choupana, exibindo a qualidade de predador que pressente o passo em falso da presa a cada jogo. E fá-lo muitas vezes. Foi, como nos lembramos, na argúcia do iraniano que começou a eliminação da Juventus, logo nos primeiros instantes no Dragão. Eficaz quando recua para dar soluções de passe sem que a envergadura lhe tolha a mobilidade, demolidor a atacar terreno livre (a famosa profundidade) sendo bem mais que um velocista, o iraniano tem sido o melhor avançado da Liga portuguesa. Sérgio Conceição diz que o Porto sofreu mais quando meteu os jogadores que o “povo” queria. Mas se o povo quer mais Taremi, aí é o povo que está certo. Os melhores jogadores devem estar sempre no campo e o Porto joga melhor com ele.
O Benfica também é sempre melhor com Taarabt, mesmo se tantos manifestam dificuldade em entendê-lo. Num país onde a ideia de tática parece reduzir-se ao momento defensivo, desvaloriza-se no marroquino o que faz (muito) melhor que a maioria dos outros e que é mais difícil de encontrar – sair da pressão, superar o rival mais próximo, ver mais campo na hora do passe, tomar a decisão certa - para se sublinhar cada momento em que perde a bola e ver nisso um pecado capital. Mas para que quero eu um criativo em campo se lhe censuro as ações de risco? Valdano disse um dia que tirar o drible a Robben era como tirar a bola ao futebol. Vou por aí. E não consigo disfarçar a incredulidade quando leio, na mesma capa de jornal, que o clube que tem Taarabt admite colocá-lo no mercado, ao mesmo tempo que negoceia a contratação de Lucas Mineiro, futebolista corpulento mas banal. É o mundo ao contrário ou o reino triste do futebol burocrático.
No Sporting, por exemplo, já vi elogiar quase todos os jogadores do plantel, nalguns casos com inteira justiça, que tantos renderam acima do esperado pela mão de Amorim: Adán, Porro, Coates, Nuno Mendes, Palhinha, Nuno Santos, Pote, Tiago Tomás, até Jovane. Dos robustos e velocistas não falta nenhum. Anoto uma ausência regular na lista dos encómios: João Mário. E todavia ninguém impulsiona mais a qualidade do jogar leonino que o criativo da camisola 17, porque a equipa encontra nele pensamento e pausa, e o jogo se torna menos dependente dos movimentos de apoio/rutura dos avançados ou do jogo de corredores dos laterais/alas. É com João Mário, e mais ainda se lhe juntarmos Bragança, que o Sporting joga melhor. No entanto, tal como Taarabt no Benfica, é um dos substituídos mais frequentes nas segundas partes dos jogos. Como se os menos talentosos, igualmente desgastados, pudessem acrescentar mais ao jogo. Um dia ainda irei entender essa síndrome do criativo cansado.
E entretanto não me canso de ver Ryan Gauld e Angel Gomes (suplente em Braga porquê?), aprecio a lucidez de Morita, delicio-me de novo com Gaitán (aquele centro para Fransérgio!) e vejo nascer um craque em Iván Jaime (atentem ao último golo em Barcelos). E acima de tudo isto há Messi. Continua a haver, felizmente, ao melhor nível, e a jogar na televisão lá de casa todas as semanas. Sem ser substituído, mesmo quando cansado."

Benficando #2

Benficando #1

Debate: A Liga Europeia que não chegou a acontecer

Porque não desistem Real e Barça do fiasco Super League?


"A ameaça da Super League está (por agora) afastada. Mas tal como nas aventuras de Astérix, também nesta existem dois irredutíveis que continuam a defender os méritos da iniciativa e se recusam a declarar derrota: Real Madrid e Barcelona, nas pessoas de Florentino Pérez e Joan Laporta, os seus presidentes.
Não deixa de ser curioso ver dois clubes assentes no modelo tradicional associativo, com máximos responsáveis eleitos entre e pelos sócios, serem precisamente aqueles que mais se agarram ao fiasco desesperado que desenharam em cima do joelho. Mas para lá da origem nacional e do modelo de clube, o que unirá de forma tão forte e determinada, dois emblemas que têm até uma rivalidade histórica e culturalmente bem cavada? A resposta é tão simples quão preocupante, sobretudo para eles: a situação financeira catastrófica, actual (Barcelona) ou prevista (Real Madrid), de dois clubes que se habituaram a liderar o futebol (e o mercado) mundial e que, fruto das suas limitações, modelos e, sobretudo erros, vêem fugir cada vez mais depressa uma hegemonia global que não aceitam perder.
Desta feita, ao invés de vos maçar com a minha escrita, convido-vos a compreender tudo através de dois excelentes “explicadores” da Tifo Football. O primeiro incide no caso do Barcelona, cujo caso é o mais grave no curto prazo. Perceba agora porquê e prometo-lhe que vai sorrir perto do final, relembrando que este vídeo foi publicado uma semana antes do anúncio da falhada Super Liga.


Já o Real Madrid pode não viver (ou deixar transparecer) tamanhas dificuldades, quando comparado com o seu rival, mas nem por isso antevê um futuro risonho, muito menos um compatível com as suas ambições. Quem ouviu a inenarrável demonstração de arrogância de Florentino Pérez na TV espanhola, na véspera de todo o seu plano ruir, terá reparado nos mesmos sinais que anotei. No meio das promessas de defesa e revolução do Futebol, Florentino deixou escapar, por mais do que uma vez, a gravidade da situação financeira do Futebol (leia-se a sua), chegando ao ponto de afirmar que os clubes (leia-se o seu) não resistiriam até 2024, a data de arranque do novo modelo de Champions League proposto pela UEFA.


Se Laporta luta pela sobrevivência, Pérez sabe que está a perder progressivamente a capacidade de construir equipas “galácticas” e hegemónicas, o único modelo que conhece. Ambos correm contra o tempo e limitados pela sua capacidade de inverter o declínio, de outra forma que não passe pela geração de maiores receitas, à custa do que for. Alguma vez os ouviu advogar o caminho inverso, o da racionalização do negócio do Futebol? Pois, também eu não.
Veremos o que o futuro reserva, a estes homens e aos seus clubes, mas é seguro acreditar que o fiasco da Super Liga não será a última jogada que elaborarão, na tentativa desesperada de enfrentar um futuro difícil. Não admira assim que sejam estes os últimos dois ocupantes da última trincheira de um exército que os abandonou com a mesma rapidez com que aceitou apoiar a sua loucura anti-natura."

Bastidores: Portimão...

Benfica After 90 - Portimão...

Portimonense SC 1-5 SL Benfica: Darwin entrou e… revolucionou


"A Crónica: Encarnados Passam Teste Em Portimão
O menino reencontrou-se com a boa forma, precisamente num jogo onde o SL Benfica mais precisava das suas características. No banco até ao intervalo, foi ele quem pegou a equipa pelo colarinho e perguntou «é para jogar ou não?» – um gesto que o próprio precisou muitas vezes nesta segunda metade da temporada, na baixa abrupta de forma que sentiu desde dezembro. Fim à vista, com muitas promessas de afirmação para 2021-22?
Morno começou o jogo em Portimão, com nenhuma das equipas a espreitar sequer os requerimentos de vitória, caindo o jogo numa toada que não interessava a ninguém – estivesse um dos conjuntos com coletes e todos acreditariam ser jogo de treino em pleno agosto.
Tudo muito ao repelão, tudo em esforço, o bom futebol não era ideia para ninguém e dava a impressão em certos jogadores – como Gabriel, que teve guia de marcha ao intervalo para entrar a figura do encontro – que havia coisas mais importantes a acontecer àquela hora. A Weigl confirmou-se que sim, entre rumores de arrufo com Jesus que daria saída injustificada da concentração e as notícias de urgência devido a complicações no parto do seu rebento.
Beto chegaria, então, aproveitando o embalo emocional para fazer estremecer com a apatia e marcar o seu 11º golo da época, à lei da bomba. Helton pouco podia fazer, aos centrais do SL Benfica pouco mais se poderia exigir dada a velocidade e força do ponta-de-lança algarvio.
Poucos esperariam a pronta resposta encarnada, dado que muito poucos tinham sido os apontamentos atacantes dignos de registo até ali. No deserto de ideias encarnado, apenas o oásis criativo das combinações entre Grimaldo, Pizzi e Rafa – e foi entre os dois primeiros que nasceu o empate, numa boa combinação já dentro da área.
A chave da vitória gorda – inimaginável, repita-se e sublinhe-se – surgiria com a entrada do prodígio uruguaio que passava por fase de menor fulgor. O ataque encarnado estendeu-se, a velocidade aumentou significativamente e foi assim que apenas quatro minutos passados, com os defesas algarvios habituados a tanto pastelão, não deram conta do recado.
Darwin beneficiou dessa passividade, fez o que quis, teve direito aos tais pormenores inofensivos que já caracterizam o seu jogo, mas foi figura fulcral na subida de rendimento de todos os colegas. Seferovic, ameaçado no seu recente protagonismo, puxou pelo brio e bisou, assistido pelos dois laterais – Grimaldo e Diogo estão nas nuvens neste novo sistema.
Com o Portimonense SC a querer reduzir para não ofuscar a série recente de sucessos, vendeu espaços por pechincha a um Darwin que cavalgou sem oposição de todas as formas e feitios. Foi uma lufada de ar fresco para o seu equilíbrio emocional e as circunstâncias ideais para aumentar confiança, sendo por isso uma vitória benéfica a todos os níveis – mais cinco golos marcados, mais uma vitória na luta pelo terceiro lugar e a prova de que a qualidade existe neste plantel, muito superior ao do ano transato. Basta ver pelo quinto golo e o passe magistral de Pedrinho.

A Figura
Darwin Nuñez Como a Fénix, renasce das cinzas e assina a responsabilidade da criação de uma vitória que, no final da primeira parte, parecia longínqua. A um SL Benfica sem argumentos faltava vontade e poderio físico, ingredientes prediletos do seu estilo e por aí se explica tão dilatada vantagem, que só se justifica pela sede de um Portimonense SC que nunca se acomodou na desvantagem – tração demasiado à frente que pôs todo o plano em causa.

O Fora de Jogo
Gabriel Perdoada a expulsão, pensou-se servir de abanão necessário à moleza de Seu Gabriel: errado. A cadeirinha manteve-se, os passes longos rumo à faixa contrária poucas vezes resultaram e tamanha má vontade obrigou Jorge Jesus a rasgar tudo o que tinha trazido para o encontro e a imaginar novas soluções táticas, sem um trinco definido. Nova possível ausência de Weigl abrirá problema grave de substituição.

Análise Tática – Portijmonense SC
O 4-4-2 com Fabrício e Beto em cunha transfigurou-se muitas vezes num ataque a três com a proximidade de Aylton Boa Morte. A defender, muitas vezes um 6-2-2, com os extremos a fazerem de laterais para tentar anular as ameaças exteriores – havia um plano bem definido, que criou muitos problemas ao SL Benfica enquanto as equipas encaixaram, mas que ficou destruído com a explosão encarnada após o intervalo.
Paulo Sérgio até se tentou precaver, introduzindo Tagliapetra assim que viu Darwin a ir a jogo, mas o golo repentino, aos 49’, desfez as ideias de equilíbrio. O terceiro golo obrigou-o a meter em campo, de uma assentada, Luquinha, Poha e Seung-Woo. E, assim, o 1-5 final deixa de ter qualquer carácter surpreendente.

11 Inicial e Pontuações
Samuel (4)
Moufi (7)
Maurício (4)
Possignolo (5)
Candé (6)
Dener (5)
Salmani (5)
Willyan (5)
Boa Morte (6)
Beto (7)
Fabrício (4)
Subs Utilizados
Tagliapetra (4)
Luquinha (5)
Poha (5)
Seung-Woo (5)
Henrique (-)

Análise Tática – SL Benfica
O 3-4-3 que se vem cimentando propicia as qualidades do plantel, se bem que a introdução de Pizzi como um dos elementos da frente transforma muitas vezes o alinhamento num 3-5-2. E esse congestionamento da zona central não ajuda em jogos deste nível.
Se Grimaldo e Diogo Gonçalves têm todo o espaço para divagar, falta a acutilância para penetrar em blocos baixos – os rasgos são poucos, as triangulações tornam-se ocasionais e forçadas e Seferovic pouco produz tão desacompanhado – até porque Rafa deambula sem critério pela frente de ataque. Claro que a entrada de um elemento com mais presença na zona central, como Darwin, ajudou a todos, principalmente pelo recuo de Pizzi, que ficou de frente para o jogo e, com outra visão, alimentou muito melhor o último terço. A rever.

11 Inicial e Pontuações
Helton Leite (5)
Diogo Gonçalves (7)
Veríssimo (6)
Otamendi (6)
Vertonghen (5)
Grimaldo (7)
Gabriel (3)
Taarabt (5)
Pizzi (5)
Rafa (6)
Seferovic (7)
Subs Utilizados
Darwin (8)
Gilberto (5)
Everton (6)
Pedrinho (6)
Chiquinho (-)"

Confiar no darwinismo


"O Benfica ainda sofreu primeiro em casa do Portimonense, mas a entrada de Darwin Nuñez ao intervalo foi o clique que faltava para a evolução do jogo encarnado, frouxo na 1.ª parte, altamente eficaz na 2.ª metade. A equipa de Jorge Jesus venceu por 5-1 e regressou aos triunfos depois do trambolhão do fim de semana

Cientifica e antropologicamente falando, devemos sempre confiar no darwinismo. Futebolisticamente, tem dias. Darwin Nuñez chegou ao Benfica enrolado num manto de milhões e a primeira época na Luz tem sido de luzes e sombras. Que o rapaz tem qualidade, parece evidente. Que é mais verde que uma videira na primavera, também.
Mas esta quinta-feira, em Portimão, Jorge Jesus em bom tempo confiou em Darwin e o avançado foi mesmo um talismã para a evolução da espécie futebolística que o Benfica estava a tentar jogar, mas que esteve sempre como que emperrada na 1.ª parte.
Com muita bola, muita circulação, mas com dificuldades a criar verdadeiro perigo - e com a opção de três centrais a trazer muito pouco à equipa a nível de dinâmicas ofensivas - o Benfica ia vivendo das combinações Rafa/Pizzi, mais bonitas que eficazes, com o Portimonense à espreita de um contra-ataque ou de um erro.
Erro - ou uma sucessão de erros - que apareceu aos 43’. Boa Morte rodou e tirou Vertonghen e Gabriel no lance, Grimaldo foi pouco agressivo e o médio do Portimonense teve tempo e liberdade para encontrar Beto no espaço, que voltou a marcar na Liga.
O golo do Portimonense castigava alguma parcimónia do Benfica no último terço, mas ainda antes do intervalo o que não tinha sido eficaz ao longo de toda a 1.ª parte acabou por funcionar: Vertonghen finalmente subiu e picou para Grimaldo, que de cabeça encontrou a entrada de rompante de Pizzi na área.
Com o jogo empatado, mas indicações nem sempre positivas da sua equipa, Jorge Jesus quis abanar: tirou Gabriel do meio-campo, confiando na capacidade dos seus três centrais em parar o ataque dos algarvios, e lançou Darwin para fazer companhia a um Seferovic muito apagado no 1.º tempo.
E com Darwin o ataque do Benfica encontrou outros espaços, fluiu. Logo no arranque, o uruguaio surgiu sozinho, mas atirou por cima uma bola que vinha de um ressalto adversário. Foi a primeira ameaça para o que aconteceria poucos minutos depois: num ataque rápido, Taarabt lançou o jovem avançado que ganhou em potência aos dois centrais do Portimonense e consumou a reviravolta.
A partir daí o Benfica soltou-se definitivamente. Darwin podia ter bisado aos 59’, mas magnanimamente tentou oferecer a Seferovic, a pior opção naquela jogada, mas o suíço ainda teria as suas oportunidades. Aos 64’, numa boa jogada pela direita, Diogo Gonçalves foi inteligente a encontrar o avançado na área e Seferovic fez o seu primeiro golo no jogo com um remate forte. Dez minutos depois foi Grimaldo o carteiro, com um cruzamento perfeito depois de mais uma jogada coletiva do Benfica, muito mais rápido e eficiente após o intervalo.
O Benfica ainda voltaria a marcar por Everton quando Artur Soares Dias já se preparava para dar por terminado o jogo, conseguindo assim voltar às vitórias depois do trambolhão na Luz frente ao Gil Vicente. Ainda houve um susto e o Portimonense foi sempre uma equipa capaz de criar perigo com bola e nas transições, mas as mudanças de Jorge Jesus ao intervalo acabaram por fazer a diferença. E esta noite foi noite para confiar no darwinismo, até futebolisticamente falando."

Por Trás do golo de Beto – De Vertonghen a Lucas


"Erros Crassos dos centrais encarnados viabilizaram o Golaço de Beto.
Vertonghen tentou adivinhar o lado por onde Boa Morte rodaria – Libertou o meio e foi facilmente ultrapassado, quando se impunha que esperasse na posição pela iniciativa do adversário; Lucas trava o movimento e não acompanha a Diagonal de Beto – Sem ninguém para entrar em espaço Central, essa diagonal tem de ser acompanhada 10 vezes em 10 lances iguais."

"Liga Bwin": que significado?


"No futebol já tivemos a Liga Sagres e a Liga Vitalis, a Liga Zon Sagres e a Liga Orangina, a Liga CTT, NOS ou MEO… O ‘naming’ dos estádios é uma realidade (quanto pagará a AXA ao S. C. de Braga pela denominação do seu estádio?)… A cerveja oficial do râguebi português, a Super Bock, patrocinou a selecção nacional designando-a por All-Bocks, enquanto o futebol se fica pela Sagres... Agora temos o Altice Arena – que já foi MEO Arena e Pavilhão Atlântico – e o Super Bock Arena que já foi Pavilhão Rosa Mota e Palácio de Cristal…
Em breve teremos a Liga Portugal Bwin em vez da Liga NOS, aquilo a que, em tempos de antanho, já se chamou de Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão…
O contrato de patrocínio com a Entain, empresa detentora da Bwin, passa por uma verba de 7 milhões de euros por ano durante cinco épocas, um contrato muito superior, segundo se diz, ao celebrado com a NOS nos últimos anos.
Pedro Proença e Marcus Silva colocaram as suas assinaturas no referido contrato. Um contrato entre uma Liga Profissional de Futebol e uma uma empresa de jogos ‘online’ (e apostas desportivas) cotada em bolsa no mercado de Londres. No discurso de celebração do contrato, Marcus Silva disse («A Bola», 17.04.2020, p. 22): “Vamos enviar uma mensagem positiva ao mercado português: a de que chegámos para ficar e que defendemos os princípios dentro da indústria como o jogo honesto, responsável e com o máximo de atenção pelo cliente.” E assim o grupo Entain prevê que o mercado do jogo ‘online’ em Portugal registe um crescimento de 70% até 2023 (logo se verá nos anos seguintes), só que talvez não seja dentro da “indústria” mas sim dentro do “comércio”… ou do “negócio”…
Mas a questão que se coloca é a seguinte: se o contrato vale 35 milhões de euros, de onde virão eles? As respostas poderão ser múltiplas, mas chamemos a atenção apenas para alguns pormenores.
De acordo com um estudo realizado por Daniela Vilaverde e Pedro Morgado (1), investigadores da Escola de Medicina da Universidade do Minho e do ICVS, bem como psiquiatras no Hospital de Braga, e publicado - em Março de 2020 na ‘The Lancet Psychiatry’, em 2018 o valor das «raspadinhas» vendidas em Portugal foi de 1594 milhões de euros - são mais de quatro milhões de euros por dia –, o que significa que cada pessoa gastou, em média, cerca de 160 euros por ano nas lotarias instantâneas. Em Espanha, no mesmo ano foram vendidas «raspadinhas» no valor de 627,1 milhões de euros, o que equivale a cerca de 14 euros por pessoa e por ano.
Na sua tese de doutoramento de 2015, de Maria João Ribeiro Kaizeler (2), concluiu que em Portugal se consumia, em média, mais jogos de lotaria do que na Europa e no mundo inteiro.
No nosso país apostou-se ‘online’ cerca de 15 milhões de euros por dia em 2020 e nesse ano mais de 70 mil apostadores solicitaram impedimento para jogar («Diário de Notícias», 02.04.2021, p. 13).
Logo, temos um público propenso para o jogo… num país em que a taxa de pobreza ou exclusão social se fixou nos 19,8% em 2020 e onde são precisamente estes que maior impulsão revelam para a tentativa de ganharem dinheiro através do ‘online’.
Actualmente existem dez ‘sites’ de apostas desportivas com licença para operar ‘online’ em Portugal. Num momento em que existem dados estatísticos que comprovam que os jovens entre os 18 e os 24 anos são especialmente sensíveis à adesão a ‘sites’ de apostas e jogos, todos os dias nos entram visual e acusticamente pela casa dentro através da TV nomes como Betano, Bacanaplay, Esconline e Placard (pelo menos!). Com imagens e sonoridades aliciantes. Com sedução. Com promessas de enriquecimento. E da impulsão à compulsão vai apenas um pequeno passo.
A partir de 2020/2021 teremos essas quatro letras – b, w, i, n – a passarem a invadir-nos de uma forma subliminar (maior quantidade de informação dividida por um menor tempo de exposição) aos domingos e segundas-feiras (e provavelmente até durante toda a semana). Em todos os meios de comunicação social. Será uma forma de publicidade invisível, mas que o nosso cérebro regista, e que, de facto, funciona criando o consumidor. E, segundo Carlos Reis (3) os meios de comunicação social “são hoje o coração da vida política e cultural, cabendo-lhes fixar agendas, produzir significados, formar opiniões e construir identidades.” Em suma, manipular-nos, acomodar-nos, submeter-nos, fazer-nos consumidores, tornar-nos subservientes… Será de admirar depois a manipulação de resultados, ou como se diz na colonização de que somos alvo, do ‘match-fixing’?
Regressamos à pergunta acima: se o contrato vale 35 milhões de euros, de onde virão eles? Dos jogadores e dos apostadores ‘online’, não temos dúvidas!
Seria conveniente que após termos a Liga Bwin em funcionamento (2021/2022) se realizasse um estudo sério e honesto sobre o aumento de jogadores e/ou apostadores através deste ‘site’, das suas idades e dos seus recursos económicos."