Últimas indefectivações

sábado, 12 de outubro de 2024

Sou candidato… não me comprometo


"Seja ao nível da formação, uma das competências de qualquer federação, como da competição e, finalmente, do alto rendimento há muitas flores e ambições anunciadas pelos candidatos a presidente das federações, mas poucos números colocados preto no branco.

Como é habitual, o período pós-Jogos Olímpicos de verão traz um momento, mais ou menos conturbado mas sempre desejado, de novas eleições nas federações desportivas e, como salientei na passada semana, com particular interesse naquelas 33 que integram modalidades que fazem parte do programa olímpico, das quais algumas são pluridesportivas e por isso responsáveis por mais do que uma modalidade olímpica. Em certos casos, até mesmo de outras que não o são.
Com algumas dessas federações a já terem efetuado o escrutínio, há grande variedade de candidatos e candidaturas, até porque existe quem esteja a recandidatar-se, outros que foram/vão a votos sozinhos ou contra uma ou mais listas.
Primeiro, é com alguma tristeza que, em algumas listas, vi e soube de convites para pertencerem a órgãos sociais a pessoas que nunca tiveram a mínima relação com tais federações ao longo dos anos. E, nalguns casos, nem sequer terem sido praticantes de uma dessas modalidades ou, pior, nem sequer terem sido atletas ou dirigentes.
Com a facilidade que a internet e as redes sociais permitem nos dias de hoje, tive oportunidade de olhar para a base de algumas candidaturas e se daqui a quatro anos tudo continuar na mesma não me admirarei.
Para lá de pretenderem, naturalmente, fazer obra, em certos casos física, de construção de sedes e centros de treinos, raros são aqueles que avançam apresentando um planeamento objetivo que, terminado o seu mandato, possa ser analisado.
Seja ao nível da formação, uma das competências de qualquer federação, como da competição e, finalmente, do alto rendimento. Há muitas flores e ambições, mas poucos números colocados preto no branco.
Escasseia quem pretenda orientar o caminho de uma federação propondo-se a ter, dentro de quatro anos, um determinado número de praticantes entre os 10 e 14 anos, visto sabermos que, infelizmente, em muitas modalidades a pandemia varreu parte daquilo que devia ser a base da pirâmide e até a política de um país.
Escasseia quem se proponha atingir um número de praticantes e nível competitivo entre os 15 e18 anos — ainda que haja modalidades nas quais já se é sénior aos 14/15 — e se comece a alimentar e a fazer sonhar quem quer e tem capacidade de passar à alta competição e possa surgir nos grandes campeonatos dos escalões de formação. Ou, simultaneamente, manter uma estrutura para aqueles que apenas desejem continuar a prática desportiva de rendimento sem passarem a semiprofissionais ou profissionais.
E, por fim, rareiam candidatos que estabeleçam quantos atletas pretendem qualificar para as maiores competições internacionais e com que objetivos e resultados, de maneira a podermos saber, realmente, quais as metas que colocou antes de ser eleito e se as alcançou findo o quadriénio.
Isso, quase ninguém arrisca fazê-lo. É mais fácil ir empurrando no tempo e não ter de trabalhar com metas concretas num mundo onde depois, ao nível da alta competição, muitos outros, com quem queremos rivalizar, têm planeamentos, objetivos… e executam-nos."

Nem tudo está à venda


"Quem se esforça consoante o salário que lhe pagam recebe bem mais do que merece…

Se fores capaz de manter a entrega ao teu trabalho mesmo que sejam os teus colegas a assumir os principais projetos…
Se, sabendo que és tão bom ou melhor do que os outros, souberes esperar sem desanimar ou reclamar, sem garantias de que o teu superior te vai um dia promover…
Se aproveitares cada oportunidade que o teu chefe te concede para provar que estás pronto e és competente, mesmo sabendo que no projeto seguinte serão outros os protagonistas…
Se, ainda assim, fores leal com quem desempenha as funções que gostarias que fossem as tuas e para as quais te sentes mais do que capacitado …
Se, mais ainda, te alegrares genuinamente com o bom trabalho e o sucesso dos teus colegas, enquanto aguardas, sem certezas, pela hora em que colherás os louros...
Se, passando por uma fase difícil que te impede de fazer o que mais gostas, recomeças sem vacilar e sem temer os riscos de ficar irremediavelmente para trás na tua empresa… E usas a provação para te conheceres melhor e voltar ainda mais capaz…
Se, chegando finalmente a tua hora, mantiveres a humildade de saber que não chegaste a destino algum, continuas apenas a meio de uma viagem que nada te garante no futuro…
Se conseguires isso tudo, mais do que um grande profissional, és um Homem. E se estás agora a dizer que até parece que estou a falar de ti, há boas hipóteses de seres o Daniel Bragança.
Não sei se Daniel Bragança chega a este ponto de carreira por ser alguém que usa os obstáculos como combustível ou apenas por ter muito bom feitio e paciência. Não o conheço. Mas sei que no ano que parou para recuperar de gravíssima lesão teve tempo e obstáculos suficientes para se confrontar consigo mesmo e testar os limites e convicções. E voltou mais forte.
Talvez Daniel Bragança tenha percebido desde sempre que, mais do que para uma empresa, todos nós trabalhamos em primeiro lugar para nós mesmos. A aposta na capacitação profissional é um processo que deveria ser independente do sucesso ou reconhecimento. A primeira, sendo essencial, nem sempre leva ao segundo, por muitas razões que não controlamos. Por isso fico desiludido sempre que oiço alguém desabafar que «se a minha empresa não me valoriza e não me paga o que mereço, então também não estou para me ralar…». Quem assim fala não está a desrespeitar a empresa, está a desrespeitar-se a si próprio. Quem faz depender o esforço e a dedicação do nível do salário que lhe pagam ou dos projetos que lhes dão, seguramente ganha mais do que merece. Já para quem ama o que faz, a dedicação não é consequência, é pressuposto. Não vendemos dedicação, apenas trocamos tempo por salário.
Dirão alguns que tudo isto pode ser muito bonito, mas não é com filosofias que se pagam as contas. Podem não pagar, mas dão algo que ainda é mais importante: o respeito dos outros; gostar do que vemos ao espelho e uma noite bem dormida com quem temos de nos deitar todos os dias: a consciência. O dinheiro acabará por chegar de algum lado, o respeito apenas de nós mesmos."

Não contem comigo para festas da Taça como estas


"Uma boa ideia subvertida de cada vez que Sporting, Benfica ou FC Porto deveriam visitar campos mais pequenos

«Acredito que não vai ser possível, por questões de segurança, jogar no Albano Martins Coelho Lima. É a nossa casa, onde gostamos de jogar, mas vamos ter de encontrar outro espaço para esse jogo.»
Rui Machado, presidente do Pevidém, sobre o duelo com o Benfica, no dia do sorteio da Taça

A Federação Portuguesa de Futebol introduziu há anos ideia bem interessante para a primeira eliminatória da Taça de Portugal na qual participam os clubes do primeiro escalão (já usada noutros países): esses clubes ficam obrigados a jogar fora nessa ronda e sempre contra equipas de divisões inferiores.
O objetivo é levar a festa da Taça a todo o Portugal, e a terras que habitualmente o futebol profissional não visita. O objetivo foi parcialmente alcançado. Daqui a semana e meio teremos, por exemplo, um Anadia-Estrela da Amadora, um Lagoa-Famalicão ou um Maria da Fonte-Arouca. O problema é quando os jogos envolvem Sporting, Benfica ou FC Porto.
Logo no dia do sorteio, o presidente do Pevidém avisou que o campo do clube não teria condições para receber a partida com o Benfica, por motivos de segurança. A isso há a juntar as condições necessárias para transmissões televisivas (para não falar que jogar num estádio maior dá mais receita...). E por isso o Pevidém-Benfica vai ser em Moreira de Cónegos e o Sintrense-FC Porto na Amadora, dois estádios de liga.
Não critico as opções, por vezes contrariadas, dos clubes, mas perde a festa da Taça e perde-se o espírito dos regulamentos. Não faria mais sentido, em casos em que o campo do clube de divisão inferior não tem condições para receber o jogo, mudá-lo para o estádio da equipa visitante? Se eu jogasse no Pevidém, preferia claramente defrontar o Benfica na Luz do que em Moreira de Cónegos, e a receita também seria maior.
Há quase 30 anos, em 1995, estive num Campo Alfredo Marques Augusto cheio que nem um ovo para um Olivais e Moscavide (então na 2.ª Divisão B, o terceiro escalão do futebol português)-Sporting, dos quartos de final da Taça. Os tempos eram outros, claro, e nem todos os jogos do Sporting tinham de dar na televisão. E nem todos os lugares no estádio tinham de ser sentados – em tardes de verão, um dos melhores lugares do campo para ver a bola era atrás da baliza sul, numa colina, que tinha a sombra duma árvore, e ficar de pé ou sentado no chão era mais confortável do que a pedra da única bancada (depois fizeram uma segunda…). Nessa tarde duma quarta-feira tudo correu bem, não houve problemas, e os adeptos do Olivais e Moscavide puderam ver o Sporting (com Figo, Sá Pinto, Capucho ou Oceano, entre outros) onde um mês antes tinham recebido o Fanhões. Na época passada, no reencontro entre os clubes na Taça, o jogo foi na Amadora.
Aquela, a de há 30 anos, é a minha festa da Taça. Para estas, de agora, não contem comigo."

Sporting assistiu ao pior do futebol português


"A estratégia apresentada pelo Casa Pia em Alvalade traz vários problemas para o espetáculo e a Liga está cada vez mais desequilibrada: leões ganharam todos os jogos, FC Porto só cedeu em Alvalade e Benfica só perdeu com… Schmidt. Algo tem de mudar

O Casa Pia fez a curta deslocação a Alvalade, obviamente, de autocarro mas enganou-se no estacionamento. Em vez de parar nas imediações do estádio… fê-lo no relvado! O treinador João Pereira, que dá os primeiros passos na Liga aos 32 anos, já tinha avisado na véspera de defrontar o Sporting que tinha o objetivo de ser o primeiro a tirar pontos aos leões. Nada mais legítimo. As palavras até foram naturais e óbvias. O pior veio no dia a seguir. O Casa Pia apresentou-se num 6x3x1! Isto para não exagerar, pois durante largos períodos do jogo o que mais se viu foi um 6x4x0 e o 0 aqui pode parecer ofensivo, o que não é a minha intenção, pelo que fiquemos pelo… 6x3x1.
Cada um joga com as armas que tem e, respeitando as regras, claro, cabe, depois, ao adversário mostrar melhores argumentos. O Sporting acabou por superiorizar-se e somou mais três pontos. O pior foi o espetáculo. 77 contra 23 por cento em posse de bola já reflete muita desigualdade, mas o que fica para a história deste jogo foi a estratégia do Casa Pia. Bem pode João Pereira argumentar que a primeira oportunidade foi da sua equipa, que se tem marcado o jogo seria diferente, que, talvez, os leões nunca tinham tido tão poucas oportunidades ou recordar o anterior jogo dos gansos em Alvalade, goleados por 0-8 com Pedro Moreira no banco…
O certo é que ao assistir àqueles 90 minutos só me recordei do pior do futebol português, dos anos 80/90, daquelas táticas quase primitivas e daqueles jogos em que valia quase tudo, até com a complacência dos árbitros. Daqueles acantonados Salgueiros, Leça, Beira-Mar, Desportivo das Aves ou Tirsense, para só referir clubes longe da ribalta, não vá alguém ofender-se.
Sinceramente, entristeceu-me ver aqueles 90 minutos e a sensação com que fiquei foi a de que a equipa se apresentou para perder por poucos. E isto não teve nada a ver com a tática ou a estratégia, foi mesmo a atitude. São cada vez mais os treinadores a apostar num sistema de três centrais ou como os próprios preferem três defesas. Não significa isto que o modelo de jogo seja mais defensivo. Muitas das vezes até é o oposto e o Sporting é um bom exemplo. Ou, como recordo sempre, a Premier League de 2016/2017, com Antonio Conte a levar o Chelsea ao título inglês com três centrais, superando o City de Guardiola, o Liverpool de Klopp, o Tottenham de Pochettino, o Arsenal de Wenger e o United de José Mourinho!
Após o jogo de Alvalade, até fiquei com a sensação de que Rúben Amorim, sempre tão cordial nas declarações, criticou implicitamente o homólogo do Casa Pia quando admitiu que muitos dos jogadores sportinguistas estavam no limite físico e que alguns deles até jogaram em sacrifício. Assim como quem diz: ‘Obrigado por jogares à defesa. Se tens jogado ao ataque terias causado bem mais problemas e, quem sabe, até somado pontos...’
Simultaneamente, fiquei a pensar que o campeonato português está cada vez mais desequilibrado e que o 6x3x1 do Casa Pia pode vir a repetir-se por este País fora ou que a estratégia de João Pereira seja adotada por outros treinadores. Afinal, os clubes médios/pequenos perdem todas as épocas muitas das mais-valias e nem todos têm capacidade para se regenerar. E isto é um grande problema para o futebol português enquanto espetáculo. Principalmente se os treinadores não tiverem tempo, como, aliás, não estão a ter. Que o digam Roger Schmidt (Benfica), Daniel Sousa (SC Braga), Tozé Marreco (Gil Vicente), Filipe Martins (E. Amadora) e José Mota (Farense)…
O V. Guimarães perdeu Jota Silva ou Ricardo Mangas, o Arouca Rafa Mújica ou Cristo González, o Farense Mattheus Oliveira ou Bruno Duarte, o Famalicão Luiz Júnior ou Jhonder Cádiz. Apenas alguns exemplos da delapidação da nossa Liga, que está cada vez mais desequilibrada. Basta reparar que o Sporting ganhou todos os jogos, o FC Porto só perdeu com os leões e o Benfica só cedeu pontos com… Roger Schmidt – o alemão perdeu em Famalicão e empatou em Moreira de Cónegos. Sintomático."

Futebol feminino: Pés de barro


"Vivemos tempos desafiantes, vorazes. Em que quase não temos tempo para refletir, para perceber o porquê das coisas. Gosto de ter os pés bem assentes e perceber o que me rodeia, sendo certo que sou de ideias firmes e luto até ao fim pelas minhas convicções. O futebol feminino e tudo o que o envolve é uma das minhas paixões. Tem crescido de forma incomparável, apresenta números antes difíceis de imaginar e tem espaço para continuar a progredir.
Mas, por vezes, dou por mim a pensar se todo este crescimento é sustentado, se acontece porque efetivamente há vontade em apostar no seu desenvolvimento, em proporcionar às mulheres as mesmas condições que são oferecidas ao futebol masculino… ou se todo este fenómeno mais não passa de uma moda, como outra qualquer, neste caso porque talvez seja bonito mostrar que somos uma sociedade inclusiva. Dou comigo a pensar se não estaremos a criar um gigante com pés de barro.
Comecei a divagar neste rumo depois de ler os resultados de um recente estudo/inquérito intitulado O Impacto Acumulado no Futebol Feminino, efetuado pela VISA, que prevê que o valor comercial do futebol feminino possa vir a aumentar seis vezes na próxima década, apontando que os adeptos do futebol feminino têm maior poder de compra e gastam mais 71% em merchandising desportivo e mais 41% em entretenimento, prevendo, também, que o Euro-2025 seja o maior torneio de sempre nesta modalidade. O que não deixa de ser um contrassenso, tendo em conta que depois de ter garantido a competição para o seu país, o governo suíço tenha anunciado um corte nas verbas de organização de €16,1 M para €4,7 M.
Se por um lado fica bem apostar-se numa grande competição e dizer-se que vai ser a melhor de sempre, por outro corta-se no seu financiamento para satisfazer os críticos do despesismo. É apenas um exemplo. Há outros, até mais perto de nós. Na nossa Liga aposta-se em tecnologia, na obrigatoriedade (e bem) de jogar em campos relvados, mas deixa-se de lado a fiscalização desses mesmos relvados ou das condições em que muitos estádios se encontram. Diz-se que se leva muito a sério a aposta no feminino, mas penaliza-se quem pensa fora da caixa, quem clama por uma Liga profissional, como outros países já têm; e até mesmo entre os ditos grandes só quando o rei faz anos é que se levam as equipas para os palcos principais, mesmo em competições que podem dar notoriedade internacional.
Mas, se calhar, sou apenas eu a divagar…"

Obrigado, D. João II


"A Neeskens chamavam ‘Johan Segon’ por referência a Cruijff, que acompanhou durante grande parte da carreira. Foi um dos maiores de sempre, um jogador inesquecível

Não haveria este futebol, que hoje consideramos moderno, sem Johan Neeskens. Provavelmente, chegaríamos lá de outra forma, guiados por outros, porém a evolução talvez não tivesse sido tão direta e rápida. Certamente, não teria tido os mesmos protagonistas.
O futebol é em absoluto sobre espaço e a forma como este é manipulado. É o principal fundamento do Futebol Total, que procura fazer o campo grande em posse e pequeno sem esta, para que seja mais difícil ao adversário mantê-la. Não se trata só do 4x3x3 que se desmonta, pela ação do líbero, em 3x4x3, mas também de uma linha de fora de jogo agressiva, uma pressão alta intensa, espoletada e comandada precisamente por Neeskens – só possível com o fim da Segunda Grande Guerra e as melhorias na nutrição, na ciência desportiva e no treino – e inspirada na metodologia científica de Valeriy Lobanovskyi no Dínamo Kiev – por sua vez, pupilo incontrolável de Viktor Maslov (o maior impulsionador da estratégia a nível global) – e o intercâmbio constante de posições num sentido vertical, ou seja, entre lateral, médio e extremo de cada lado e os restantes no centro, pouco comum na época e que desestabilizava blocos baixos.
Quem o viu jogar ao vivo descreve-o como médio elegante de energia incrível, demolidor, com forte mentalidade e poderoso remate de fora da área. «Valia por dois no meio-campo», lembrou várias vezes o seu companheiro no Ajax Sjaak Swart em entrevistas que ecoaram pelos anos. No futebolês corrente chamar-lhe-íamos box to box e se outros do seu tempo dificilmente hoje se agigantariam nos relvados, dada a evolução do jogo, sobre Neeskens temos a certeza de que seria tão ou mais fulcral em qualquer equipa.
Avancemos com a história. Rinus Michels é um dos avançados na terceira passagem pelo Ajax de Jack Reynolds (1950), um dos evangelizadores ingleses no espalhar do jogo e que implementa uma filosofia transversal a todas as equipas, que obriga todos os futebolistas, dos jovens aos seniores, a jogar da mesma forma. São também os primeiros passos do mítico sistema de formação ajacied. As sementes serão aproveitadas por Vic Buckingham, antigo jogador do Tottenham e adepto do passing game, que implanta com sucesso um WM fluido durante dois anos até sair para o Sheffield Wednesday. Quando volta, já não é bem-sucedido. É substituído por Michels, que profissionaliza o plantel e coloca a bola como maior protagonista do treino, essencial para a criação de atletas virtuosos. Adota o 4x2x4 do Brasil bicampeão de 1958 e 62, com Piet Keizer, o líder e ícone cultural Johan Cruijff, Sjaak Swart e Henk Groot no ataque, e o combativo Bennie Muller ao lado do mais técnico Klaas Naninga no meio-campo. Neeskens ainda é lateral-direito.
Na defesa, Velibor Vasovic torna-se fundamental na transformação do 4x3x3 em 3x4x3 – na defesa a liderar uma linha de fora de jogo bastante alta e a cortar o que sobra, e no ataque a subir para o meio-campo para a organização do jogo –, que acompanha décadas posteriores do futebol holandês, com outros protagonistas. No entanto, Michels apercebe-se, depois de um empate com o Feyenoord, de que com quatro avançados é difícil manter a posse como gosta e acrescenta mais um médio, resultando no esquema final.
O Ajax ganha três Taças dos Clubes Campeões Europeus seguidas, 1971, 1972 e 1973, as duas últimas já com o romeno de ascendência húngara Stefan Kovacs, menos disciplinador do que Michels e também várias vezes acusado de permitir demasiado aos jogadores. Entretanto, Cruijff perde a braçadeira de capitão com a entrada de George Knobel, em 1973/74, que entrega a decisão a uma votação do plantel – na maioria já descontente com o excesso de influência do craque –, e este segue os passos, com dois anos de atraso, de Michels, levando o totaalvoetbal para o Barcelona, onde conquistará uma Taça do Rei e uma Taça das Taças. Contam inevitavelmente com o apoio incondicional de Neeskeens, que também passa a vestir azul e grená. Em 1974, os três lideram a seleção holandesa, que só perde na final do Mundial diante da Alemanha. Neeskens é dos três o mais discreto, o lugar-tenente do histórico 14.
Na decisão de Munique, joga-se mais do que um jogo de futebol. Vítimas da Segunda Guerra, os holandeses querem vingar-se e humilhar os alemães. Willem van Hanegem, por exemplo, que perde inúmeros familiares durante a ocupação nazi, recusa-se participar no banquete posterior à grande final.
Durante quase um minuto, a Mannschaft é obrigada a correr atrás da bola, até que Cruijff decide arrancar para a baliza. O seu mar­cador todo-o-terreno Berti Vogts fica para trás e Uli Hoeness provoca o derrube fatal na área. Neeskens, dos 11 metros, não perdoa. É o golo mais rápido em finais. Apesar da vantagem, os holandeses ficam indecisos e perguntam-se se o melhor é carregar para chegar ao 2-0 ou simplesmente gerir o resultado. Os germânicos aprovei­tam e reagem, sempre comandados pelo kaiser Beckenbauer.
Hölzenbein cai na outra área e Jack Taylor, corajoso, aponta para novo penálti. Paul Breitner bate Jan Jongbloed pela primeira vez, aos 25 minutos. Depois aparece Müller, aos 43, e inesperada­mente os da casa estão na frente graças ao instinto de predador do seu ponta de lança. Com Cruijff agora sim bem vigiado por Vogts, a Laranja Mecânica parece espremida, sem sumo e, tal como 20 anos antes perante a formidável Hungria, a Alemanha irá bater outra das melhores seleções da história. Ou­tro dos melhores perdedores de sempre.
Neeskens, sempre ele, ainda tem duas oportunidades, porém o felino Sepp Maier defende. Após perder a final de 1966 e ter ficado em terceiro quatro anos depois, Beckenbauer ergue finalmente a taça de campeão. Cruijff, vencedor insaciável, despede-se do seu Mundial no lado vencido. Não será para sempre. Ninguém influencia­rá tanto o jogo como o Pitágoras com Botas, como lhe chamou David Winner. Mas nunca teria chegado onde chegou sem o seu Segundo ao lado."

Delegados — da distrital à UEFA


"Presidente da Direção da Associação Nacional de Delegados de Futebol, Paulo Renato escreve na Tribuna Livre, um espaço de opinião de A BOLA aberto ao exterior

A publicação da Lei n.º 40/2023, de 10 de agosto, procedeu à quinta alteração à Lei n.º 39/2009, de 30 de julho, que estabeleceu o regime jurídico da segurança e combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos.
Nesta alteração da lei saliência para a recomendação sobre o Delegado do organizador — o representante do organizador da competição, no espetáculo desportivo, exercendo os poderes por este determinado, nomeadamente os previstos pelo respetivo regulamento de prevenção da violência.
Para a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), ao ser instituída e regulamentada, esta figura pode ganhar relevância reforçada na ação disciplinar e contraordenacional enquanto representante do organizador.
Definitivamente, a introdução desta norma é o reconhecimento oficial da importância desta função e do papel positivo que a sua ação acrescenta ao desenvolvimento da competição desportiva.
Desde logo a garantia equitativa das condições regulamentares exigidas aos clubes promotores do espetáculo desportivo, promovendo as condições ideais e salutares para a ética, fair play e verdade desportiva da competição.
A ANDF (Associação Nacional de Delegados de Futebol) assume e defende a dignidade ético-social da função, entendendo o delegado como um agente desportivo absolutamente essencial para a prossecução dos objetivos das competições desportivas, agindo com independência e isenção, contribuindo para um desporto mais competitivo, agregador e de acordo com o espírito olímpico.
Para a ANDF, é convicção que a próxima alteração desta lei, já introduza com carácter obrigatório a figura do delegado, devendo os organizadores das competições estarem preparados juridicamente para esta realidade.
Neste sentido a ANDF tem desenvolvido um papel sensibilizador e esclarecido junto das Associações Distritais e Regionais de Futebol, apresentando as mais-valias que a presença do delegado acrescenta e colocando à disposição todo o conhecimento e experiência para a implementação deste processo irreversível.
É nosso entendimento, também, que a carreira do delegado deve ter início na base do edifício do futebol nacional, ou seja, nas competições das Associações Distritais. No estatuto de carreira que defendemos, para a função, será a partir desta base que o elevador deve funcionar, com a meritocracia a ser preponderante para a ascensão ao quadro de delegados da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), posteriormente a delegado da Liga e finalmente a delegado da UEFA.
Neste contexto defendemos que a FPF, sempre que solicitada a indicar delegados para a UEFA, deve convidar os delegados mais bem classificados do futebol profissional e não, como sempre aconteceu, sem critério, elementos sem experiência na função.
O argumento muitas vezes utilizado de que devem ser personalidades ligadas à FPF a serem convidados para delegados da UEFA para justificar, ao longo dos anos, este status quo, não colhe justificação, considerando por um lado que os delegados também são agentes desportivos sob a égide da FPF e por outro lado o talento, a formação, a credibilidade, o profissionalismo e a experiência estão presentes em quem exerce semanalmente a função e pode, também nesta área, contribuir para a contínua afirmação internacional da organização do futebol português.
O mérito deve ser estimulado e eliminado o lóbi instituído.
Para a ANDF este último patamar será o topo de carreira, que aumentará a motivação e o compromisso, alargando ainda mais a base de candidaturas para integrar a função.
Esperamos ter oportunidade de sensibilizar os próximos candidatos às eleições da FPF sobre esta temática, promovendo as bases do estatuto de carreira do delegado e defendendo, como associação de classe, o nosso objetivo de candidatura e admissão como sócio ordinário da Assembleia Geral da FPF."

O diretor do Tour, Pogacar e doping...


"Christian Prudhomme prefere descomprometer-se sobre a idoneidade do atleta que é enormíssima mais-valia nas principais provas organizadas pela empresa para a qual trabalha, a ASO

As declarações do diretor da Volta a França, Christian Prudhomme, em entrevista ao La Dépêche du Midi, ao ser questionado sobre qual seria a sua reação se se descobrisse que Tadej Pogacar recorria à dopagem para atingir o desempenho com que tem dominado no ciclismo, são de alguém que, com as suas responsabilidades, prefere revelar-se avisado, por um lado, e por outro, descomprometido sobre a idoneidade do atleta que é enormíssima mais-valia nas principais provas organizadas pela empresa para a qual trabalha, a ASO.
Não só nas competições em que o esloveno regularmente participa (Tour, Liège-Bastogne-Liège, Paris-Nice ou Critério do Dauphiné), como noutras em que também seria a maior atração (Vuelta, Paris-Roubaix ou Flèche Wallonne). «Dada a história do ciclismo, e não tão distante, a questão [do doping por uma grande figura do pelotão mundial] não é ilegítima», afirmou o responsável francês.
Mais: perguntado sobre se ficaria «desapontado, surpreendido ou revoltado» se Pogacar tivesse alguma vez um teste positivo, Prudhomme, ao afirmar: «não tenho resposta» – responde de forma inequívoca. E se equívocos pudessem persistir: «Assisto às suas prestações bastante impressionantes. Os controlos existem e lutámos na ASO para ter entidades independentes a proceder aos testes antidoping nas nossas corridas, atualmente através da ITA [Agência Internacional de Testagem].
Por isso...» Por isso… não ficaria surpreendido, quiçá desapontado ou revoltado, mas o ciclismo, o desporto e em último caso o negócio da empresa que o emprega sofreriam duríssimo revés."

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