Últimas indefectivações

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O estranho caso dos envelopes desaparecidos

"António Araújo e Luís Gonçalves - hoje novamente a ocupar um cargo de relevo no FC Porto - foram dos suspeitos mais referidos nos relatórios elaborados pelos inspectores da Polícia Judiciária ao longo do Processo Apito Dourado. Vejam porquê...

Poderíamos passar longos e longos meses a discutir por estas páginas aquilo que um tal presidente de clube com um currículo bem triste no futebol português pretendeu chamar de bandalheira. E, curiosamente, a palavra bandalheira encaixa como uma luva numa organização que foi desfeita pela Polícia Judiciária ao longo de anos e que levou a castigos duríssimos mais tarde aplanados pela habitualmente cobarde justiça desportiva.
Hoje recordarei aqui mais um ou outro episódio daquilo que se pode com propriedade chamar bandalheira.
Vejamos.
A 19/2/2004, António Araújo, empresário, comentou com Luís Gonçalves, engenheiro ligado à SAD portista e que se senta, hoje em dia, regularmente no banco do FC Porto nos dias em que não se encontra suspenso por falta de respeito para com os árbitros, que andava a fazer um 'serviço' muito importante para o Futebol Clube do Porto.
Nesse mesmo dia, à noite, António Araújo foi encontrar-se pessoalmente com Augusto Duarte, em Braga, junto ao Café Ferreira.
O Nacional venceu o Benfica por 3-2.
Depois do jogo, Augusto Duarte e António Araújo combinaram que iriam juntos ver o jogo FC Porto - Manchester United, a 25/2/2004, no Estádio do Dragão. O bilhete de Augusto Duarte seria arranjado por António Araújo e daria acesso à chamada zona VIP, com direito a 'comes e bebes'. Pelo teor desta conversa, Augusto Duarte e António Araújo iriam também tratar de outros assuntos, nomeadamente das 'contrapartidas' pela actuação do árbitro no jogo Nacional-Benfica: '...Nós na quarta-feira, eu... portanto... junta-se a fome à vontade de comer!'
Continuemos a leitura do relatório elaborado pelos inspectores da Polícia Judiciária: 'Entretanto o presidente do Nacional informou António Araújo de que tinha estado a falar com Jorge Nuno Pinto da Costa sobre a derrota do Benfica ante o Nacional. O presidente do Futebol Clube do Porto, radiante, teria exclamado: 'Esses já não nos vão chatear mais!' Ainda sobre a actuação alegadamente tendenciosa de Augusto Duarte, António Araújo comentou que: 'Manda quem pode, obedece quem tem juízo'. O presidente do Nacional rematou que teria ainda de falar com António Araújo sobre esse assunto: 'Depois falamos sobre isso'. Presume-se assim que António Araújo veio a ser ressarcido por eventuais gastos que teve com Augusto Duarte.'

Estranhas dívidas
"(...) No dia 27/2/2004, António Araújo, contactou Fernando Gomes, da SAD portista, aparentemente com o intuito de que este lhe desse dinheiro para pagar a um árbitro, presumivelmente Augusto Duarte. Fernando Gomes esclareceu que só poderia tratar dessa 'situação' na segunda-feira, dia 1 de Março. Usando palavras em código, António Araújo combinou então que iria ligar para o 'fiscal' (presumivelmente o árbitro) para marcar a 'vistoria' (pagamento) para terça-feira. Fernando Gomes concordou: 'Eu entrego-lhe isso na, na segunda, e combina com ele na terça, está bem?' E acrescentou: 'É mais seguro'. Presumivelmente por motivos de liquidez financeira."
No dia 26 de Março de 2004, o FC Porto recebeu em casa com o Moreirense. Estávamos na 28.ª jornada, e o árbitro foi Martins dos Santos, sendo Serafim Nogueira um dos seus assistentes.
A Polícia Judiciária estava na peugada de Martins dos Santos há bastante tempo: 'Dois dias antes do jogo, Martins dos Santos teve uma conversa altamente suspeita com o seu colega de equipa Serafim Nogueira.
Do teor dessa conversa pode extrair-se claramente que uma das equipas do jogo em questão pagou à equipa de arbitragem para poder ser beneficiada'.
Vamos aos pormenores: «De facto, Martins dos Santos ligou para Serafim Nogueira para saber se ele tinha ido a um 'determinado sítio' 'levantar' uns envelopes destinados aos membros da equipa de arbitragem do referido jogo: 'Foste lá?', perguntou Martins dos Santos. Então Serafim Nogueira informou que não havia trazido nenhum envelope para o árbitro principal: 'Não tinha nada para ti. Não sei como é que eles fizeram, pensei que tivesses levantado isso, tu! Ou então... como vais ser tu o árbitro, pensei que tivesses... sido as coisas feitas de outra maneira... (...) ... e eu disse: então, e o envelope do Martins? Não está aqui nada!'
Serafim Nogueira sugeriu então a Martins dos Santos que ligasse a um 'determinado' indivíduo para esclarecer a situação deste presumível 'pagamento': 'Liga-lhe a ele, para ver o que é que se passa'.
Presume-se que este individuo, aqui designado por 'ele', seria o intermediário do clube em questão. Pode efectivamente interpretar-se que Martins dos Santos e o seu colega estariam a falar de um pagamento em dinheiro. Todas as expressões utilizadas indicam que o assunto seria um 'pagamento' efectuado por um clube.
Aliás, Serafim Nogueira adiantou a hipótese de o 'intermediário' ainda não ter recebido o dinheiro em questão: 'ele, se calhar, vai receber de outra maneira...' E pode também interpretar-se que Martins dos Santos havia pedido mais dinheiro do que era habitual: 'Eu tinha-lhes pedido mais, estás a entender? (...)... só se ele andar a tentar arranjar'.»
O FC Porto venceria o Moreirense por 1-0."

Afonso de Melo, in O Benfica

A mirabolante época de Arsénio

"Arsénio, jogador de baixa estatura, compensava a menor capacidade física com um sentido de oportunidade fantástico.

O início da época 1954/55 foi bastante difícil para Arsénio, não só por ter de se adaptar a novos métodos de treino impostos por Otto Glória, como por jogar numa posição diferente a que estava acostumado, a extremo. Apesar de ter jogado os dois primeiros jogos a titular e de ter apontado um golo, as suas exibições não agradaram ao técnico brasileiro. Por conseguinte, passou a actuar pela equipa de reservas. A mudança 'mexeu' com o jogador, referindo que a 'certa altura comecei a desmoralizar-me'.
Contudo, continuou a marcar em 14 jogos apontou oito tentos. Otto Glória, após uma conversa com o jogador, voltou a dar-lhe uma oportunidade. Na 19.ª jornada do Campeonato Nacional, frente ao Sporting da Covilhã, apontou o único golo da partida, dando assim a vitória aos 'encarnados'. Duas jornadas depois, na deslocação a Braga, o avançado repetiu o feito, merecendo a atenção da imprensa, que destacou a sua influência: 'Arsénio constitui, na verdade, um caso que merece a ponderação (...), o sentido de oportunidade e a rapidez de execução que o caracterizam resolveram muitas partidas e tais triunfos parecem apostados em prosseguir'. Mas os melhores momentos ainda estavam por vir. Nas eliminatórias da Taça de Portugal, o avançado não parou de marcar, chegando à final com a extraordinária média de dois golos por jogo. Seria a sexta final desta competição que Arsénio disputava, tendo vencido todas as anteriores.
Na partida decisiva, contra o Sporting, apesar do Benfica ter começado bem, foram os 'leões' que inauguraram o marcador, no decorrer da segunda parte. Porém, os 'encarnados' contavam nas suas fileiras com um jogador que parecia predestinado aos grandes jogos e, mais uma vez, foi determinante. Em dois minutos, Arsénio fez dois golos e deu a vitória ao Clube. Os jornais renderam-se, 'esta foi a «sua» final. Um triunfo pessoal do excelente jogador. Só ele, realmente, seria capaz de transformar o resultado e o jogo'. Para além da conquista do troféu, ainda se sagrou melhor marcador da prova.
Pode ficar a conhecer mais sobre este talentoso jogador na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

Pizzi...

Cadomblé do Vata

"1. Calma pessoal, está quase a terminar o mercado de Janeiro... se tudo correr bem, o SLB não contrata mais nenhum ponta de lança, para o Vitória meter em simultâneo com os 3 que já temos, nas horas de aperto.
2. Foi um jogo com sabor agridoce... foi como uma derrota no campo, mas goleamos os que dizem que o Belém facilita contra nós.
3. Mais um resultado que confirma que os nossos jogadores só sabem jogar ao sábado ou ao domingo... o LFV até já está a estudar a hipótese de vender o plantel todo à Autoeuropa para fazerem o famigerado turno do fim de semana.
4. Não vale a pena estar aqui com paninhos quentes, isto não foi mesmo a melhor altura para empatar no Restelo... tinha dado mais jeito em Agosto no jogo de apresentação dos azuis aos sócios.
5. Dizem que o SLB manda nisto tudo, mas no Restelo viu-se que tudo está a ser feito para nos prejudicar... só mesmo em Portugal é que um golão como o do Jonas, não dá direito a mais 30 minutos de compensação."

O palhaço, os dois matraquilhos, o CEO interino, a Mia Khalifa e "o nosso Arrigo Sacchi" foram ao Restelo e... (...)

"Bruno Varela
É espantoso que não se tenha lesionado com o esforço realizado no golo do Belenenses, já que passara os 83 minutos anteriores à espera de um novo remate à baliza.

André Almeida
Exibição pouco conseguida do nosso hardest working man in show business. De entre os vários erros, distracções invulgares, más ideias e execuções ainda piores, destaco um cruzamento para a bancada aos 82’ que me deu vontade de morrer.

Rúben Dias
Aos 33’ presenteou os milhares de adeptos nas bancadas com um magnífico pontapé para onde estava virado, à antiga mesmo. A intenção original era colocar a bola no meio campo adversário, mas Rúben Dias levou a bola a sair uns metros atrás pela linha lateral. Se não se lembram deste lance em especial, isso talvez se deva aos oito passes longos falhados pelo nosso futuro capitão. Já não víamos uma patacoada assim desde que a estrutura do futebol profissional se reuniu para planear esta época. 

Jardel
É complicado. Jardel continua a melhorar jogo após jogo. Resolve sem grandes rodeios, utiliza a sua compleição física para anular múltiplos adversários e lidera a defesa mesmo sendo uma espécie de CEO interino. Infelizmente, enquanto continuarmos em terceiro lugar ninguém vai querer saber, mas Jardel prepara-se para ultrapassar Carlos Mozer em número de jogos ao serviço do Benfica no campeonato, ou seja, já assegurou no mínimo um tachinho na BTV quando abandonar os relvados. 

Grimaldo
First they came for the Socialists, and I did not speak out—
Because I was not a Socialist.
Then they came for the Trade Unionists, and I did not speak out
Because I was not a Trade Unionist.
Then they came for the Jews, and I did not speak out—
Because I was not a Jew.
Then they came for Nélson Semedo, and I did not speak out-
What the hell were we supposed to do?
Then they came for Embaló, and i did not speak out-
Because i’d never even seen him play and 20M seemed like a fine deal.
Then they came for Grimaldo—and there was no one left except Eliseu.

- Martin Niemoller, Pastor e Agente FIFA

João Carvalho
Não teve a melhor das estreias enquanto novo Krovinovic. Pareceu quase sempre mais confortável nos momentos em que não demos pela sua presença em campo.

Fejsa
Imaginem uma mesa de matraquilhos. Agora imaginem aquela barra do meio-campo povoada por centrocampistas batalhadores. Está? Agora imaginem que só lá está um tipo porque os outros dois - Pizzi e João Carvalho - não sabem ou não querem ou não conseguem defender. Finalmente, imaginem que mesmo assim dominavam o meio-campo.

Pizzi
Não há nada a fazer. Pizzi amuou e recusa-se a ser o substituto natural de Krovinovic que todos esperam que seja. Isso ou não tem futebol que chegue nos pés. Ou é parvo. Já se tentou de tudo para despertar o nosso Zidane de Bragança. Só nos resta o insulto. Palhaço. Joga à bola.

Salvio
Exibição decepcionante, um pouco como se estivéssemos à espera da Mia Khalifa e aparecesse o Wiz Khalifa.

Jonas
Quase valeu a pena vê-lo falhar o pénalti para depois chamar a si a responsabilidade de concretizar a última oportunidade de golo da equipa. E só digo quase porque é provável que tenhamos perdido o campeonato.

Cervi
E mais dez. É isso mesmo. Franco Cervi foi evidentemente o melhor em campo. Carregou a equipa às costas sempre que esta precisou de si e só não ajudou mais porque o nosso Arrigo Sacchi achou por bem substituí-lo aos 86 minutos por um vegetal chamado Seferovic.

Zivkovic
Tem a seu favor uma maior semelhança fonética com Krovinovic e dois pés mais experientes do que os do concorrente João Carvalho. O seu futebol gera perplexidade, no sentido em que ninguém percebe o porquê de não ser convocado. Enfim. Sejamos pacientes. Se formos campeões, Rui Vitória dirá que estava apenas a guardar Zivkovic para a vitória decisiva em Alvalade.

Jiménez
Esta semana em “Ninguém quer saber de Jimenez” recomendamos Nathan for You, uma série absolutamente brilhante da Comedy Central cujas primeiras temporadas foram transmitidas na SIC Radical. A série apresenta-nos as melhores piores ideias do génio cómico que dá pelo nome de Nathan Fielder, que aqui se apresenta como um marketeer apostado em salvar negócios que dispensam a sua ajuda.

Seferovic
Uma boa oportunidade para voltarmos a discutir a legalização da eutanásia ou o empréstimo a um clube da segunda divisão turca."

Benfica: um regresso ao passado que não se explica só com Krovinovic

"Um bom Belenenses colocou a nu uma equipa desligada, incapaz de provocar o erro ao rival num processo ainda por consolidar. A definição também não ajudou.

O que explica primeiro um mau Benfica é um bom Belenenses. Um Belenenses moldado ainda fresco à imagem de Silas, assente num futebol de apoios desde trás e veloz assim que passava o primeiro bloco de pressão dos encarnados.
A equipa de Rui Vitória falhou nesse momento tal como tinha falhado em Vila do Conde, chegando sempre tarde e nunca em bloco, desunindo-se e deixando que o jogo partisse. Só no segundo tempo conseguiu ganhar algumas bolas no outro meio-campo, face ao desgaste que o jogo foi provocando no adversário. Acto contínuo, os da Luz não tiveram bola, não controlaram o jogo, permitiram um ou outro lance mais perigoso e o tempo foi andando ao favor dos da casa.
A isto soma-se uma péssima definição perante uma boa reacção à perda por parte do Belenenses. Salvio esteve em má noite, Cervi foi esforçado mas nem sempre teve lucidez, Pizzi e João Carvalho pouco apareceram, Jonas não chegava. Muitas vezes foi desperdiçada uma melhor posição de um colega a favor de um remate, ou nem sempre esse último passe saiu da melhor forma. Voltou o Benfica desligado, do cada um por si. Pode ser caricatura, mas encontra-se facilmente um ou outro exemplo do que digo.
Sem controlo, sem empurrar o Belenenses para a sua área, o cronómetro foi avançando, e o penálti falhado acrescentou a aura de noite-não, que Cervi confirmaria pouco depois. O golo dos azuis, o retirar de Cervi de campo e com isso perder o pouco que havia de condução de bola, o colocar Seferovic para o jogo aéreo provocaram um chuveirinho descabido e desesperado, que muito dificilmente poderia trazer frutos.
Até que surgiu Jonas, e o seu génio salvou um ponto.
O Belenenses-Benfica fez muito lembrar o conjunto encarnado antes de Krovinovic, o que até poderá ser injusto para João Carvalho e Zivkovic, lançados num contexto em que a equipa nunca esteve sólida e confiante. Será que com o croata seria diferente? Não o saberemos. No entanto, com ele em campo a equipa pareceu mais unida e mais crente, o que diz bem do peso da sua influência.
A dois dias do fecho do mercado, a solução interna ainda não vingou, e o Benfica parece ter voltado ao passado. Para já, os rivais podem voltar a fugir, e a distância para a meta diminuiu.
A poder assumir a liderança ainda que à condição, dificilmente poderá dissipar-se tão cedo a imagem de que a equipa vacilou no momento errado. O Rio Ave promete ser novo exame, na Luz."


PS: Estas analises resultadistas pré-concebidas são uma delicia!!!
A descrição das dificuldades no 'controlo' do meio-campo por parte do Benfica, foram reais... e a ausência do Krovi é a justificação óbvia... mas como se construiu a ideia que os problemas são outros, desvaloriza-se a ausência do Croata!!!
Também é engraçado o Belenenses ter jogado muito bem - ignorando o anti-jogo nojento... -, e o Benfica ter jogado muito mal, mas ter sido o Benfica a estar sempre por cima do jogo, com o Belenenses somente à procura do erro do Benfica, no contra-ataque...

Justiça e populismos

"Haverá porventura um populismo próprio das gentes da justiça?

Poderá a acção da justiça contribuir também para o desenvolvimento de fenómenos populistas?
Foi esta e outras perguntas que, vendo televisão, me fiz quando era noticiada a decisão sobre um caso que envolvia um ex-dirigente político de um outro país.
Não por acaso, recordei-me então de um movimento político sul-americano que poderá ser incluído na categoria dos fenómenos populistas e que, mesmo que noutro plano – o sociopolítico –, se assumiu precisamente como “justicialista”.
Em que medida pode, de facto, uma estratégia populista externa à justiça apostar na sua actuação para mobilizar e orientar politicamente a multidão?
Haverá porventura um populismo próprio das gentes da justiça que, mesmo que latente, contribui para espoletar ou engrossar, em momentos determinados, os fenómenos políticos populistas?
Poderão os magistrados, mesmo quando conduzem processos no mais estrito cumprimento das leis, tornar-se, ainda assim, instrumentos de movimentos populistas?
As respostas a estas e outras questões não são simples nem unívocas.
Não por acaso, a própria noção de justiça é das mais vagas, ambíguas e contraditórias.
Em todo o caso, sempre haverá que ter em consideração que o processo judicial não depende de uma única vontade, visão do mundo ou da verdade, antes se organiza por via de uma dialéctica própria, movida pelos sujeitos processuais que nele intervêm sustentando posições diferentes.
Em regimes democráticos, a justiça que o sistema judicial procura realizar decorre, por isso, de um conjunto de normas formais que, em princípio, devem assegurar um resultado controlável e impugnável; não deve, pois, depender de um desígnio e de uma vontade iluminada por uma ordem moral que lhe seja externa.
O risco que se corre é precisamente o de, apesar desta metodologia, os sujeitos processuais aceitarem exercer o seu mister imbuídos de um sentido messiânico que, por várias e, ocasionalmente, imperceptíveis feições, lhes é transmitido de fora do sistema.
Daí que seja sempre de ficar alerta quando, no seio do sistema judicial, no processo, se começa a ouvir falar em luta contra este ou aquele fenómeno criminal.
O sistema judicial e o processo – no qual deve exprimir-se – não devem, por princípio, reger-se por percepções e lutar por objectivos que lhe são formalmente externos; apenas deve procurar cuidar da ocorrência, ou não, dos factos e da aplicação da lei: esse é o seu papel político.
A luta contra o crime incumbe, sim, às polícias e às políticas desenvolvidas pelos governos.
E, no entanto, nunca como hoje se procuram tanto as motivações políticas pessoais dos agentes da justiça para justificar entendimentos, comportamentos e actos judiciais.
Nessa deriva se corrói, contudo, a imagem da justiça e – com culpas próprias, não raramente – nela pescam também os populistas.
A imagem de isenção e correcção da acção da justiça tem de fundar-se, pois, na não tomada de posição pública pessoal dos seus agentes quando, justamente, agem em seu nome.
Mas ela resulta também da projecção positiva que desta sua renúncia formal devem fazer os outros poderes do Estado.
O mesmo se diga, aliás, da imagem dos outros poderes públicos: também estes veem publicamente reflectida a imagem que a justiça deles projecta.
Quando, portanto, esse jogo de espelhos se transtorna, é a credibilidade de todos que estremece, é a credibilidade da democracia que soçobra.
Ora, é precisamente nesse transtorno – e muitos são os que o desejam – que jogam os populistas mais conscientes e activos, que sempre existem dentro e fora do aparelho de justiça."

O LNEC e o VAR

"Pena não ser o LNEC a ocupar-se daqueles ‘inquéritos urgentes’ que os governantes costumam mandar abrir.

Pode o LNEC ser árbitro de futebol? A resposta é negativa, mas não resisto a fazer a pergunta, depois de ver a limpeza com que o LNEC continua a resolver casos ‘indecifráveis’. Mesmo no futebol, o VAR é motivo de decisões questionáveis, que amplificam incidentes menores, ao ponto de passarem, de meras ‘coisas da bola’ para patamares de tragédia nacional.
Vendo o que nos serve o prime time das televisões, uma de duas: ou é mesmo verdade que o ‘futebol é o ópio do povo’, ou alguém está a trabalhar para fornecer a matéria-prima com que se acirram ódios que colocam o futebol ao nível da marginalidade. Pão e circo... não é de agora.
Mas o LNEC é outra loiça. Os portugueses conhecem-no desde da sua criação, em 1946, em resultado da fusão de dois organismos já existentes. Desde então, não haverá em Portugal muitas entidades que tenham acumulado uma tão elevada reputação de rigor, que torna indiscutíveis as suas conclusões, quando é chamado a analisar, ou a arbitrar. É assim em Portugal e também no estrangeiro.
Ouvi falar do LNEC, pela primeira vez, aquando do desabamento, em efeito dominó, de uma série de arcos de betão do pavilhão da laminagem da Siderurgia Nacional, então em construção, do qual resultaram dezenas de mortos e feridos graves.
Erro de projecto, ou falha na execução? Em dois dias o LNEC esclareceu tudo. Quem tinha de indemnizar, indemnizou; e a construção foi retomada sem pôr em causa a data de inauguração do complexo fabril.
Vivia, então, a 500 metros do local do acidente e os factos ficaram-me gravados num canto da memória, onde os fui buscar a propósito dos estragos na bancada do estádio do Estoril. Mais uma vez, o LNEC falou... e disse! E ninguém contestou. Pelo meio, ficaram histórias saborosas, contadas pelo engenheiro Edgar Cardoso − o ‘sábio das pontes’ - que teve querelas técnicas com toda a gente, LNEC incluído. Mas um dia ouvi-lhe dizer: não há em Portugal uma tão grande concentração de competências.
Mesmo nos desvarios do PREC, o prestígio do LNEC manteve-se intocado. Terá beneficiado do respeito devido ao engenheiro Manuel Rocha, fundador da instituição, líder nos primeiros anos e uma das figuras mais destacadas da engenharia civil portuguesa do século XX.
Assim, os operacionais escalados pelo PCP para exigirem o saneamento dos ‘dirigentes fascistas’ tiveram escassa audiência: ali, fazia-se engenharia… que não é capitalista nem socialista.
Cedo os mandantes perceberam que as fundações do ‘Laboratório’ não seriam abaladas pelas arruaças que, noutras paragens, continuavam a desarticular a administração pública, até não ficar pedra sobre pedra. Entre burocracias, incompetências e venalidades, ainda hoje estamos a pagar a factura da política de terra queimada que a URSS ordenou aos seus fiéis agentes em Portugal.
É uma pena não ser o LNEC a ocupar-se daqueles ‘inquéritos urgentes’ que os governantes costumam mandar abrir para… «se apurar tudo, até às últimas consequências, doa a quem doer». A música seria outra…"

O futebol vai liquidar Mário Centeno?

"Ele adora o Benfica, adora a selecção nacional de futebol e adora que no Eurogrupo, onde se fez campeão, o chamem de "Ronaldo das Finanças". Ele pediu um bilhete para se sentar no camarote presidencial do Estádio da Luz. Alegou precisar desse favor por motivos de segurança pessoal: temia ir ver a partida no meio da multidão (ainda me lembro, há não muito tempo, de ver o ministro Teixeira dos Santos a andar de metropolitano, sem segurança, no meio da população, mas isso agora não vem ao caso). Afinal, ironicamente, é o amor ao futebol que pode atentar contra a vida política de Mário Centeno...
O ministro das Finanças é agora investigado sobre a relação desse favor benfiquista com uma isenção de IMI, concedida pela Assembleia Municipal de Lisboa e pelos serviços de impostos, a uma empresa de um filho de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica. O Ministério Público fez buscas no Terreiro do Paço no âmbito de um processo que, oficialmente, está em segredo de justiça, mas os jornais, como de costume, torpedearam o suposto segredo e relacionaram essas investigações com a entrega do bilhete.
Num clube grande, uma tribuna presidencial para ver jogos de futebol é muito mais do que isso: é um instrumento de relações públicas, é uma sala de convívio, um bar, um minirrestaurante, um sítio agradável, isolado da turba, onde os eleitos com acesso conversam, preparam negócios, trocam informações, conspiram, marcam reuniões. Nada tem de mal, mas muito mal pode ali nascer... 
Mesmo assim, é uma parvoíce achar que Mário Centeno se deixaria corromper por causa de um bilhete de futebol? Acho que sim.
É uma parvoíce presumir que Mário Centeno acharia ser possível meter uma cunha deste tipo na Assembleia Municipal de Lisboa e nos serviços fiscais sem deixar rasto? Acho que sim.
Se afinal, e apesar de altamente improvável, ficar comprovado que Centeno interveio a favor da isenção do IMI da empresa do filho do presidente do Benfica, o ministro deve demitir-se?... Neste caso, inacreditável, também acho que sim.
Se, por outro lado, o Ministério Público o constituir arguido apenas por ter recebido o bilhete para o futebol e assim poder ser acusado do crime de "recebimento indevido de vantagem", o ministro das Finanças deve demitir-se? Diria não, pois essa consequência, antes de um julgamento em tribunal, parece-me desproporcionada, mas...
O "mas" é o precedente aberto pelas demissões dos ex-secretários de Estado dos Assuntos Fiscais (Rocha Andrade), da Indústria (João Vasconcelos) e da Internacionalização (Jorge Oliveira) depois de se saber que aceitaram um convite da Galp para irem ver um jogo da selecção a França. Se, na altura, prevaleceu a lógica política que justificou essas demissões, é difícil sustentar agora uma lógica política inversa, apenas porque o caso se passa com Centeno.
Mas não é uma parvoíce perder um ministro das Finanças por uma razão tão pueril? Sim, mas também é verdade que o governo de um partido que tem um ex-líder e ex-primeiro-ministro acusado de corrupção, que tem no elenco do executivo pessoas desse tempo de José Sócrates, não pode dar-se ao luxo de se meter em trapalhadas deste tipo, por muito demagógicos que sejam estes "escândalos", por muito manipuladores políticos que sejam os investigadores e os jornais amigos, por muito injustas e irracionais que sejam, actualmente, as exigências para quem está na vida pública: um passo em falso destes pode liquidar mais do que um ministro, pode liquidar todo um governo...
... E quando é que os políticos entendem que o futebol queima?!"

Benfiquismo (DCCXXXIII)

Só com sacrifício...

Vermelhão: Desperdício...

Belenenses 1 - 1 Benfica


Em quase todas as épocas do Tetra, no início da 2.ª volta tivemos quase sempre um percalço num jogo fora... o ano passado por exemplo, foi a derrota no Bonfim!!! A grande diferença, é que esses pontos perdidos inesperadamente, foram quase sempre em situações onde estávamos em vantagem na classificação... e não, em desvantagem, sem - praticamente - nenhuma margem de erro...

E hoje, a penalização é muito pesada, até porque se tivéssemos sido competentes, e conquistado os três pontos, ficaríamos, temporariamente, em 1.º lugar - à condição -, colocando pressão nos principais adversários!!! Ainda por cima, num momento, onde os Corruptos e os Lagartos, demonstram fragilidades grandes...

Outra 'curiosidade' pouco engraçada, foi o penalty falhado: é o 2.º penalty do Jonas desperdiçado esta época, com consequência directa no resultado final do jogo, e com potenciais implicações no nosso destino na competição!!!
E nas tendências 'estranhas' voltámos a ter 'problemas' contra um adversário que mudou de treinador à pouco tempo!!!

Durante esta semana muita gente teorizou sobre a 'fácil' substituição do Krovi... Creio, que ficou óbvio hoje, que não será nada fácil encontrar um substituto! E o Joãozinho nem é o 'culpado'!!! O Krovi nestes últimos meses teve um impacto enorme na forma como o Benfica jogou... e dominou grande parte dos jogos, e muita dessa importância, está ligada à posse de bola! O Krovi até pode agarrar-se demasiado à bola, mas raramente perde uma bola, e ainda mais importante, 'marca' o tempo do jogo: foi nestes últimos jogos, o jogador que teve a bola mais tempo nos pés durante os nossos jogos; fazia com que o Benfica jogasse mais tempo em 'modo' atacante; e os nossos adversários terminavam o jogo com 'menos' bola...!!! Tudo isto mudou...

Independentemente de tudo isto, mesmo com uma 1.ª parte com pouco intensidade, o Benfica hoje, foi superior ao adversário durante os 90 minutos! Na 2.ª parte desperdiçou muitas oportunidades, vários golos feitos, inclusive um penalty... O Belém marca, num conta-ataque, numa altura onde o Benfica já tinha arriscado tudo no ataque, totalmente contra a corrente do jogo...
Empatámos, na última jogada da partida, num livre directo, evitando a derrota, mas não evitando a injustiça...
Eu sei que as analises 'resultadistas' vão provavelmente por outro caminho, mas hoje o Benfica merecia mais... então se compararmos com o jogo do Bonfim o ano passado, a diferença foi grande...

Chama Imensa... Novelas!