Últimas indefectivações

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ficou-se o Real Madrid B pela meia-final

"A imprensa nacional descobriu com estupor e indignação que no estrangeiro - e apenas no estrangeiro - há compadrios no que respeita à nomeação dos árbitros...

O que é bom nestas coisas dos Europeus e dos Mundiais é que acabamos sempre por conhecer melhor, mais profundamente, muita gente que só conhecíamos de vista. Refiro-me a jogadores de futebol, evidentemente.
Por exemplo, o croata Luka Modric, um médio excepcional. Vendo-o jogar por três vezes e desconhecendo ainda o noticiado interesse de Ferguson em Aimar - compreendo-o perfeitamente, sir Alex... - logo lhe achei qualidades para substituir pablito no Benfica.
Modric encaixava mesmo bem no Benfica, pensei.
E é também uma das coisas boas destas grandes competições internacionais darem-nos, por breves instantes que seja, a ilusão de que, um dia, alguns daqueles artistas poderiam aterrar nos nossos clubes.
Sendo do Benfica, admito que fui bem habituada a essas situações: vi a nossa selecção jogar durante anos e anos com uma maioria de jogadores do Benfica. E jogadores mesmo do Benfica. Não se tratavam de jogadores formados no Benfica e exportados ainda de tenra idade para lá da fronteira.
Vi depois, quando a legislação passou a permitir e a alargar o número de estrangeiros nas equipas nacionais, o Benfica jogar com duplas de centrais do Brasil - Mozer e Aldair, Mozer e Ricardo Gomes - e vi o Benfica jogar com os melhores jogadores suecos do seu tempo - Schwarz, Thern, Magnusson.
Nada me impede, portanto de achar estas coisas possíveis e de me deleitar pensando em como Luka Modric, que joga no Tottenham, encaixaria na perfeição no Benfica.
Mas rapidamente uma pessoa cai num caldeirão de realidade.
«Modric encaixa perfeitamente no Real Madrid», disse, no princípio desta semana, um outro internacional croata, já retirado há uns bons anos, chamado Davor Suker. «Modric é um médio de muita qualidade, tem um grande talento e no jogo contra a Espanha mostrou que encaixa no Real», reforçou Suker e sua opinião.
Pronto. Já percebi que nunca vai encaixar no Benfica.

PIRLO também encaixava muito bem no Benfica. Tem 33 anos, isto é, a idade justa para substituir Aima, se Aimar foi para o Manchester United, como dizem os jornais, ou se regressar à Argentina. Devo confessar que durante alguns anos embirrei com Andrea Pilro por via da simpatia que tive e tenho e terei por Rui Costa.
Provavelmente, os dois até são bons amigos, jogaram juntos no AC Milan. Mas quando jogava Pilro muitas vezes era Rui Costa quem se sentava no banco de suplentes e, só por esta pequena razão, ganhei uma ligeira antipatia ao jogador italiano.
Na verdade, nem o conhecia. Apenas de vista, o que é manifestamente pouco para formar opinões.
Conheci, finalmente, Pilro no domingo à noite por ocasião do Inglaterra-Itália. E fiz as pazes com Pirlo assim que o vi virar psicologicamente a favor da Itália a cena do desempate por grandes penalidades, que começou tão bem para a Inglaterra. Foi de campeão. O descaramento com que cobrou o pontapé que lhe coube, depois do falhanço de um colega. Montolivo, é digno de um mestre da agitação e propaganda.
A bola lá fez o efeito subtil que Andrea Pilro lhe quis dar e Joe Hart viu-a passar por cima do seu corpo estirado, mas não chegou lá. Pirlo, sabendo que a Itália estava em desvantagem, apostou tudo num gesto artístico-terrorista que deixou os ingleses em estado de choque, sem capacidade de reacção.
Depois, Ashley Young, ainda a tremer pelo que viu fazer ao italiano, encaminhou-se para a bola, olhou para a baliza onde estava Buffon e, sem saber se devia imitar Pirlo ou se devia, simplesmente, chutar com força e de olhos fechados, optou por chutar com força e de olhos fechados e atirou por cima.
A Itália acabou por ganhar nas grandes penalidades e não foi por acaso. Ouçamos Pirlo: «Era mais fácil marcar fazendo cair o guarda-redes. Quis também colocar um pouco de pressão sobre os Ingleses», disse.
Um «pouco» de pressão?
Pirlo pode ser exagerado a marcar penalties mas não é nada exagerado com as palavras. Encaixava perfeitamente no Benfica.

O presidente do FC Porto foi a Varsóvia assistir ao jogo de Portugal com a República Checa, elegeu João Moutinho como «a grande estrela destes quatro jogos» e afiançou que «não lhe passa pela cabeça» ver Moutinho sair do FC Porto no fim do Europeu.
Há dirigentes assim, que se podem dar a estes luxos intelectuais e financeiros: começam por fazer crescer o valor da mercadoria e depois dizem que não está à venda.
Moutinho é, sem dúvida, um excelente jogador e se está bem e feliz no FC Porto, deixá-lo estar. O dinheiro também não faz falta ao FC Porto.
No entanto, seria muito bom para o Sporting que Pinto da Costa vendesse rapidamente João Moutinho enquanto o jogador está em alta numa grande competição internacional. De acordo com o que foi noticiado, quando o Sporting vendeu Moutinho ao FC Porto, ficou resguardado um benefício hipotético para Alvalade no caso de o FC Porto vir, um dia a vender, o jogador a um terceiro clube.
E quem sabe se com a venda de Moutinho, agora, não faria o Sporting melhor negócio, indirectamente, do que fez com a venda de João Pereira, antes do Europeu, directamente para o Valência?
É esta a realidade: para fazer render os seus jogadores, o Sporting fica sempre melhor se contar com a colaboração do presidente do FC Porto. É que é logo outro encaixe.

UM jogador que encaixa muito bem no Benfica - e que já lá está - é, precisamente, Javí Garcia que ficou fora das escolhas de Vicente del Bosque, embora tenha jogado um bocadinho no último amigável de Espanha antes de partida para o Leste europeu.
Portanto com Javí Garcia não se dá aquele fenómeno singular e sazonal de imaginar como seria se jogasse no Benfica. Já joga, felizmente.
Tudo isto para dizer que, até ao momento, as piores notícias do defeso e do mercado de Verão são as que, a espaços, nos vão sugerindo, melhor, ameaçando, que há clubes interessados no médio espanhol e que o negócio se pode vir a fazer, acima ou abaixo da cláusula de rescisão, dependendo de vários factores.
É que Javí Garcia encaixa no Benfica na perfeição. Parece nascido e criado naquele prédio velho da Rua Jardim do Regedor que durante décadas foi a sede do Benfica no coração de Lisboa.
Como jogador de bola não há nada a apontar-lhe. Como adepto do Benfica está entre os melhores e os mais qualificados, ainda que seja uma sinergia recente mas sempre em polvorosa.
Javí Garcia está de férias, muito merecidas, e através das redes sociais tem vindo a festejar a conquista dos títulos de futsal, de hóquei em patins e de basquetebol e até já pediu desculpa aos benfiquistas por ter usado uma toalha de praia com um lagarto estampado...
Era tão bom que não o desencaixassem do Benfica.

NA segunda-feira, a UEFA nomeou o turco Cuneyt Çakir para dirigir o Portugal - Espanha e na terça-feira toda a imprensa fez grande alarido com a decisão da UEFA, obviamente para nos tramar. É garantido que o árbitro, sendo turco, vem mesmo a calhar para as pretensões dos dois homens que mandam na arbitragem europeia, o espanhol Angel Vilar e um outro turco, um tal Senes Erzik, duas raposas velhas do Comité Executivo da UEFA onde ambos ocupam cadeiras - lado a lado - há mais de vinte anos.
Enfim, são todos muito amigos e venerandos dos desejos de uns e de outros. É o que se depreende.
Conclusão: já fomos. O jogo ainda não tinha coemçado e o nosso fado já tinha sido traçado. Bandidos!
Bandidos do estrangeiro, esclareça-se, porque no nosso país não há coisas destas e se houvesse teríamos uma imprensa independente, frontal, corajosa e ágil no raciocínio para desmontar semelhantes tramoias perante o grande público.
Só em Portugal é que, de facto, nunca há nomeações polémicas de árbitros, nem dirigentes mal-intencionados, nem compadrios que mereçam ser desvendados, nem árbitros sugestionáveis, nem jogos de poder, nem outras malandrices.
Pelo menos é o que parece porque nunca foi vista tanta indignação da imprensa com a nomeação de um árbitro dos nossos para os jogos dos nossos.
Ainda bem. É sinal que é tudo boa gente.

ISTO da Selecção faz descambar para a breguice até as pessoas mais insuspeitas.

O árbitro turco, afinal, foi impecável. Fez o seu trabalhinho como devia ser. A Selecção portuguesa também esteve bem sobretudo se, olhando para todos os jogadores em campo, a considerarmos como uma espécie de Real Madrid B. Com Ronaldo, Coentrão e Pepe sempre em grande e os companheiros, nuns patamares abaixo, a acompanhar bem os melhores jogadores da equipa. Nas grandes penalidades é que a coisa não correu bem. Mas foi uma bonita aventura."

Leonor Pinhão, in A Bola

Em Helsínquia...


...no 2º dia do Europeu de Atletismo, tivemos uma presença discreta dos Benfiquistas:
- O Marcos Caldeira, não conseguiu qualificar-se para a Final do Triplo-Salto, algo que já era esperado, já que o Marcos acabou por ser repescado para esta competição, depois de não ter conseguido os Minímos. Os dois nulos acabaram por impedir uma marca de registo... mesmo assim a estreia de mais este jovem numa competição deste nível, acaba por ser importante... numa prova onde deveria ter estado o Nélson Évora!!!
- O Jorge Paula voltou a melhorar a sua melhor marca do ano, mas não foi suficiente para chegar à Final dos 400m barreiras. Num ano 'normal', sem lesões, a Final estaria ao alcance do Jorge, sendo assim ficou pelas Meias, mas a evidente melhoria nas últimas semanas é um excelente indicador para os Jogos Olímpicos...

O dia ficou marcado para as cores de Portugal, pela excelente medalha de Bronze da Sara Moreira nos 5000m, repetindo o resultado do último Europeu...

Amanhã temos mais...

Esta vitória valeu mais que 5 títulos europeus

"Nunca joguei com tanta gente a assistir longe do nosso Pavilhão. Nem no Liceo da Corunha nem no Barcelona.
Tenho plena noção de que já ganhei muito, mas nunca com esta sensação... estranha.
'O que queremos é o Campeonato. A Liga Europeia é apenas um prémio extra!'. Sempre foi esta a mensagem que os adeptos me passaram ao longo da época. Ao marcar o quarto golo, na última jornada, não me consegui conter e a emoção levou-me às lágrimas. Nunca tal me acontecera.
Pela emoção que senti, este foi o título mais importante que conquistei na minha carreira. Ver a felecidade dos benfiquistas em Almeirim emocionou-me e fez-me ver que queriam dizer.
Ganhar pelo Benfica é inigualável. Ganhei 5 Taças dos Campeões Europeus (4 com o 'Barça' e uma com o Liceo)... Nenhuma me fez sentir semelhante paixão à que me passaram os benfiquistas.
Mas esta equipa quer mais. Acreditem em nós!
..."

Carlos López, in O Benfica

Pude celebrar na presença do meu pai

"...
Já tinha jogado em Portugal e conhecia a dimensão do Benfica por fora, mas agora, dois anos após o início deste desafio, as coisas ficam ainda mais claras para mim. Ser Campeão pelo Clube é uma experiência espectacular, pelo ambiente que se viveu toda a época, em especial nos dois úlitmos jogos.
Sentimos uma onda positiva em redor da equipa. As 'Casas' nunca deixaram de nos sentíssemos sós. É um orgulho integrar a equipa que devolveu o título de Hóquei em Patins, modalidade que há muito merecia ganhar. Felizmente aconteceu este ano e com total mérito e honestidade de toda a nossa equipa.
Os benfiquistas esperavam muito por isto e foi maravilhoso alcança-lo após 14 anos.
Em Almeirim, além dos adeptos, senti de forma particular as celebrações pela presença do meu pai, que veio de propósito do Brasil ver este jogo. Festejar com a sua presença foi maravilhoso.
Este Clube é enorme a todos os níveis. Tem adeptos loucos de paixão, presentes em todas as competições em que entra uma equipa com a camisola do Benfica. Para todos nós é uma honta envergá-la!"

Cacau, in O Benfica

Doces memórias

"Ramalhete, Fernando Pereira, José Carlos, Picas e Piruças. Eram estes, já sem António Livramento (então no Sporting), os nomes constituintes do cinco-base do Benfica que, em finais da década de setenta, me cativou para o Hóquei em Patins. Foram eles que, juntamente com José Virgílio, José Leste (recentemente falecido) e Casemiro, conquistaram um Tri-campeonato entre 1979 e 1981, cinco Taças de Portugal consecutivas (de 1978 a 1982), e alcançaram a final da Taça dos Campeões Europeus em 1980, na qual saíram derrotados pelo poderosísimo Barcelona de Trullols, Vila-Puig, Torner, Centrell e Pauls (2-5 no Palau Blau Grana, e uns decepcionantes 4-8 na segunda-mão da Luz). Em 1981, recordo-me de vencerem em Alvalade, por 3-9, no jogo do título, contra um Sporting muito forte, então com os internacionais Sobrinho e Chana na sua plenitude. Lembro-me também de várias vitórias nas Antas, e de grandes goleadas, que na altura eram comuns, e que, para além de Chalana, Bento, Nené ou Humberto Coelho, também me ensinaram a ser benfiquistas.
Fora de Lisboa, era pela rádio que tudo isto me chegava. Naquele tempo, o Hóquei em Patins - fruto dos títulos europeus e mundiais da nossa Selecção - tinha um estatuto substancialmente superior ao das restantes modalidades. Havia o Futebol, depois o Hóquei em Patins, e depois todas as outras. E o destaque radiofónico (as transmissões televisivas de eventos desportivos eram raras) acompanhava essa hierarquia.
Uns anos mais tarde, já com TV, lembro-me também da equipa de José Carlos, Vítor Fortunado, Paulo Almeida, Luís Ferreira e Rui Lopes. Com ela ganhámos cinco campeonatos, duas Taças e três Supertaças. Chegámos novamente à final da principal prova europeia de clubes. Apanhámos novamente pela frente um adversário muito forte: o então dominador Igualada. Esse troféu permanece adiado.

Longa noite
Os tempos mudaram. O Hóquei em Patins foi perdendo popularidade, essencialmente pela forma como os poderes federativos o foram tratando. Com objectivos bem claros, instalou-se uma ardilosa teia de interesses, que, por várias vias, catapultou o FC Porto para uma hegemonia total e absoluta. Da nossa parte, houve também algum adormecimento. Os anos foram passando, e o desfecho final repetia-se de forma invariavelmente angustiante. Alguns, mais impacientes, chegaram inclusivamente a defender a extinção da Secção - o que seria um acto quase criminoso, num Clube que é o mais antigo praticante da modalidade em todo o Mundo. Outros foram aguardando com tenacidade, sabendo que, um dia, o sol voltaria a brilhar.

Ponto de viragem
A contratação de Luís Sénica, e de alguns dos mais brilhantes e experientes jogadores do panorama nacional e internacional, paralelamente ao lançamento de jovens promessas como Diogo Rafael e João Rodrigues, foi o momento de viragem nesta história que se estava a tornar aborrecida. Há dois anos, pingou a Taça de Portugal e uma meia-final europeia.
Na época passada, a Taça CERS, a Supertaça e um promissor segundo lugar no Campeonato com o mesmo número de pontos do primeiro classificado.
Esta temporada começou com a conquista da Taça Intercontinental. Agora, finalmente, o tão ansiado e merecido título nacional (ao qual ainda podemos juntar a Taça de Portugal). Foi o 22.º mas, seguramente, o mais saboroso de todos.
Para quem gosta de Hóquei em Patins, a vitória de Almeirim não foi apenas uma vitória do Benfica. Foi também um triunfo da própria modalidade, contra aqueles que tanto dano lhe causaram no passado recente. Foi uma vitória do trabalho, da dedicação e da competência. Foi uma vitória 'à Benfica', numa temporada que ameaça vir a ser uma das melhores de sempre do ecletismo 'encarnado'.
Este foi também o título que faltava ao presidente Luís Filipe Vieira. Com ele ao leme, havíamos já sido Campeões de Futebol (em 2005 e 2010), de Basquetebol (em 2009, 2010 e 2012), de Andebol (em 2008), de Voleibol (em 2005), de Futsal (em 2005, 2007, 2008 e 2009), de Atletismo (2011 e 2012), e de Judo (2010), para referir apenas as modalidades mais representativas, e os escalões seniores.
Pela aposta que sempre fez no ecletismo, também ele está de parabéns por este precioso título."

Luís Fialho, in O Benfica

A Grande Bambochata

"KIEV - É ridícula de causar aneurismas esta mania de meia-dúzia de funcionários da Nação, eleitos pelo povo, receberem numa casa que não é deles e sim de todos nós, um figurão suja simples chipala consegue provocar vómitos em catadupa a qualquer pessoa de bem (que são cada vez menos, como está cientificamente comprovado). Podemos encarar essa festarola de estúpidos com uma mais do que justificada repugnância ou com um forçado sentido de humor, talvez a opção mais indicada para uma palhaçada do género. Em primeiro lugar, o maior responsável por esta teimosa Grande Bambochata é o próprio povo português, proprietário de direito de um palácio que se quereria frequentado por pessoas mais preocupadas em trabalhar do que dedicadas ao absentismo, ao preechimento de palavras cruzadas e soduku e ao exercício de surfar na internet.
É o povo português que elege tais espécimes, pelo que de que serve queixar-se depois amargamente? Não é de estranhar que gente que durante anos andou a viajar particularmente para férias ou que se fazia acompanhar pela família, pela porteira, pela mulher a dias, pelo cão e pelo papagaio, em viagens oficiais, tudo à conta do erário público, claro está!, goste de ouvir um poema mal recitado e jantar na companhia do mentor de viagens ao Brasil para árbitros e fiscais de linha. Só falta mesmo convidar alguns agentes de viagens e tratar de escolher os destinos mais exóticos possíveis. Há gente assim: vive tranquilamente com a sua consciência a despeito de ter as mãos untadas com as maiores trampolinices. Que sejam funcionários da Nação, pouco importa. Já nos habituámos à sua falta de carácter. Agora resta escolher entre o riso e o vómito. E talvez valha a pena pensar nisto com calma antes de ir lá colocar o voto da próxima vez. Prefiro o riso. Foi para isso que se inventaram os palhaços."

Afonso de Melo, in O Benfica

Vergonha

"O Futebol é, infelizmente, um fenómeno transversal na sociedade portuguesa. O Futebol é, não menos felizmente, um dos poucos fenómenos suscetíveis de conferirem alegria ao povo na sociedade portuguesa. Só que o Futebol, sobretudo agentes do Futebol, não devem ou não podem receber honrarias institucionais, depois de terem uma folha de serviços manchada de ilicitudes e outras coisas mais.
O representante máximo do FC Porto acaba de ser recebido na Assembleia da República. A presidente do Parlamento, de sorriso aberto, não faltou à cerimónia, à semelhança de vários deputados das mais distintas latitudes partidárias. A coisa teve um ar de grande formalidade. Ser portista, convenhamos, não é crime. Mas representantes da Nação, eleitos pelo povo, em plena Casa da Democracia, para mais com a presidente do hemiciclo a conferir toda a importância ao aocntecimento, rececionarem o líder do FCP, constitui uma vergonha.
Até podem sustentar que a criatura não foi condenado. Mas não podem ignorar, no mínimo, as Escutas no âmbito do processo Apito Dourado. Essas mesmo que provam à sociedade quem tentou, por métodos perversos, inquinar a Verdade Desportiva em Portugal nos últimos anos.
Em 2004, o então presidente da República, Jorge Sampaio, recebeu-me em Belém, com uma comitiva de jogadores do nosso Clube, a pretexto do lançamento de um livro da minha lavra sobre a história do Benfica. Nesse ano, recusou patrocionar uma cerimónia de felicitações ao FCP que se havia sagrado campeão da Europa, estava ao rubro o Apito Dourado. Sampaio fez bem, embora o diga como juíz em causa própria. O Parlamento continua mal. Muito mal. Não se dá ao respeito. Temos deputados que se esqueceram das conversas da fruta. O que são? Fruta desprezível, fruta abjecta."

João Malheiro, in O Benfica

Objectivamente (Arlequim)

"Há o palhaço rico, o palhaço pobre e o palhaço «morcõuê».
Provocador, arrogante, descarado e também muito rico, que, para além de fazer rir os seus fundamentalistas seguidores, se diverte em festas e em regionais comemorações de conquistas duvidosas.
E fala, fala muito, provoca e é deselegante para com as pessoas que o traumatizam sem querer desde a infância. Compreende-se a doença. Este palhaço sempre foi inferior e tem complexos! E há complexos que por muito tratamento psicológico que se faça... não se curam. Vive este palhaço de graves perturbações psicológicas e de vez em quando no meio de um turbilhão de apalpadelas e abraços lá vem a história deste Arlequim!
Este palhaço desgraçado vivia no meio de um triângulo amoroso com Colombina e Pierrôt e teve o condão de fazer rir mais de mil palhaços num salão com as suas declamações e piadas de mau gosto.
«Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo
amor de Colombina
No meio da multidão».
Mas o Arlequim era um enganador. Se não veja-se a definição histórica dessa figurinha: «Arlequim era um espertalhão preguiçoso e insolente, que tentava convencer a todos da sua ingenuidade e estupidez. Depois de entrar em cena saltitando, deslocava-se pelo palco com passos de dança e um grande repertório de movimentos acrobáticos. Desbochado, adorava pregar partidas aos outros personagens e depois usava a sua agilidade para escapar das confusões criadas».
Os avisos do palhaço Arlequim têm de alertar de uma vez por todas os que não levam a sério estes disfarces. No meio da euforia dizem-se muitas verdades inconvenientes e propagam-se desejos incontidos. Depois há sempre quem faça disso temas desinteressantes.
Não. São muito mais importantes que aquilo que possamos pensar. É preciso estar de olho aberto!"

João Diogo, in O Benfica

Isto vai, meus amigos, isto vai

"Foi publicada a classificação dos árbitros: nos primeiros lugares ficaram os árbitros que mais fizeram para que em primeiro lugar ficasse o clube que venceu o campeonato. Perante isto, defendo que o árbitro classificado em primeiro lugar receba um apito de ouro ou, como os tempos são de crise, um apito dourado. Seria justo e adequado.
Por falar em árbitros, estou curioso para ver no que vai dar todo o processo em torno de Paulo Pereira Cristóvão. Particularmente, no que respeita à explicação, certamente competente e convincente, que dará acerca do tal depósito em numerário na conta bancária de um fiscal de linha. Tenho a convicção de que a Justiça portuguesa chegará à peregrina conclusão de que as motivações do senhor eram puramente pessoais e que nada tinham que ver com o clube de que era vice-presidente.
Por falar em despudor, um grupo de deputados da nação convidou para jantar e recebeu, na Assembleia da República, um conhecido dirigente desportivo que acolhe árbitros em casa, para aconselhamento familiar (mais uma das tais explicações competentes e convincentes), na antevéspera de um jogo da sua equipa. No meio de tamanho desconchavo, lá acabei por concordar com o tal dirigente, quando disse que “infelizmente o número de estúpidos não tem diminuído”. Também lamento isso e, perante essa evidência, resta-me esperar, paciente e serenamente, que esse número comece a diminuir… Como escreveu Ary dos Santos, “Isto vai, meus amigos, isto vai”"

Pedro F. Ferreira, in O Benfica