Últimas indefectivações

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Vitória em Guimarães...

Vitória 68 - 88 Benfica
22-19, 10-12, 19-33, 17-24

Segundo jogo, segunda vitória, numa má primeira parte e um péssimo segundo período, mas acabámos por melhorar no 2.º tempo... Agora, nas Meias-finais, seja a Ovarense ou a Oliveirense, temos que melhorar!
Nota de destaque para o regresso aos bons jogos do Rorie, parece, pelo menos para já, recuperado... Nota ainda para a ausência do Stone, que na minha opinião, deve ser o estrangeiro a ficar de fora nos jogos mais decisões, pois tem demonstrado pouco compromisso com a equipa nos restantes jogos!

Fever Pitch - Domingo Desportivo - Campeões da Recepção ao Autocarro

Benfica Podcast #560 - Out of Our Hands

Entrada condicionada


"A aproximação ao dérbi foi exaustivamente comentada e todas as possibilidades imaginadas. Muitas contas feitas e cenários traçados ao detalhe. A grande expectativa, o nervosismo geral e a tensão acumulada eram enormes, talvez como nunca, nos dias que antecederam aquele que poderia ter sido o jogo do título.
Para quem partia atrás para o jogo do ano, marcar primeiro era quase obrigatório. Ao contrário do desejado, o golo inaugural adversário acabaria por ser um verdadeiro rombo na estrutura moral da equipa do Benfica, que procurava iniciar a recuperação. Pior cenário não se imaginava e logo a abrir. De repente, a necessidade absoluta de marcar pelo menos um golo passava a dois. As dificuldades eram, assim, logo dobradas, ampliando as dúvidas e projetando um teste muito duro, mas que viria a ser discutido até final. Di María, a dúvida que persistia quanto ao onze, regressava, acrescentando valor de um jogador especial, mas também envolto na dúvida se estaria realmente preparado para o grande embate.
Com a atitude competitiva de sempre, mesmo depois de algumas semanas ausente, foi, ainda assim, um jogador muito ativo enquanto jogou e que ameaçava poder fazer a diferença. No primeiro tempo, os dois remates mais perto do golo são da sua autoria. António Silva, outro dos visados, correspondeu à responsabilidade que sobre ele recaía face ao temível adversário direto. No golo que cedo condicionou o jogo, o avançado sueco atraiu as atenções principais para si, mas soltou para Trincão, que beneficiou de uma deficiente cobertura do espaço central, mesmo com superioridade numérica da defesa. À quantidade não correspondeu a qualidade posicional de preenchimento do espaço defensivo.
Este foi dos jogos em que um início desastroso acaba por condicionar o jogo inteiro. O Benfica sentiu, claramente, a gravidade do momento e mostrou-se precipitado, apressado, preocupado. As ações eram individualizadas e as perdas de bola frequentes. A resposta mais racional e coletiva demoraria a chegar. Mesmo visivelmente afetada pelo golo, a equipa forçou o domínio, mas esbarrando num adversário já reunido atrás, com destaque para o seu trio central defensivo e para Hjulmand, pilar absoluto do meio-campo.
As bolas paradas representam, principalmente em jogos mais fechados, importância especial que decide muitos jogos. Esta arma, da qual o Benfica vinha tirando frequente proveito, não funcionou como vantagem desta vez, também resultado da estatura superior dos defesas do rival. Do banco vieram Schjelderup e Belotti, principalmente estes, que mexeram com a equipa, e o Benfica forçava, ameaçando conseguir a desejada vantagem. A urgência crescia e a tensão também, provocada por faltas e interrupções sucessivas que travavam a fase decisiva do jogo.
Foi um jogo mais combatido que jogado e, com o decorrer do tempo, cada vez mais frequentemente interrompido. O golo de Akturkoglu, servido principescamente por Pavlidis, reavivou a chama, mas também reforçou o antijogo adversário e o alinhamento passivo do árbitro. O intenso desgaste do momento acabou por prevalecer, não premiando quem fez por ganhar.

Factos
Voltando a Di María, no rescaldo do clássico, tenho percebido algumas teorias e opiniões várias sobre a sua substituição. Será que fui o único a vê-lo levar a mão à coxa e logo depois alongar o músculo em causa, pouco antes do intervalo? Quanto a mim, confesso que o meu palpite antes do clássico apontava para a decisão do campeonato na derradeira jornada. Reconheço, no entanto, que esperava que o Benfica chegasse ao último dia a precisar só de empatar e sem depender de terceiros. As probabilidades diminuíram, todos o sabem, mas existem. Aconteça o que acontecer, impõe-se agora uma vitória em Braga.

Classe
Rui Borges é alguém que, como por exemplo, Luís Freire, seu próximo adversário, começou como treinador nos escalões mais baixos e subiu pelos resultados que foi alcançando. Estes dois casos, como alguns outros (não muitos), pertencem a histórias onde o verdadeiro mérito fala mais alto, sendo mostrado e confirmado no decorrer do tempo. Porém, como antigo jogador não pode ignorar uma responsabilidade moral acrescida.
Não se pode dizer que seja inédito, mas foi de profundo mau gosto o que publicamente declarou, em referência ao rendimento de jogadores de outras equipas, insinuando supostas diferenças de atitude. Desrespeita a classe a que pertence. Haveria ainda de repetir o excesso, então relativamente à gestão disciplinar dos jogadores do Vitória, atletas que ainda há pouco treinava. Treinador que foi jogador, mesmo que humilde, deve sempre manter o respeito pelo que foi e pelo que é.
Ter a responsabilidade de representar uma classe, cuja atividade é exigente e obriga a frequentes declarações públicas, pede especial contenção no discurso e o respeito pelos outros deve prevalecer, sempre."

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Erros meus… mais fortuna


"Não haverá um grande campeão esta temporada, já o sabíamos há algum tempo, mas no final é sempre assim: quem ganha celebra e quem perde justifica-se. E é mais que provável, ao dia de hoje, que o Sporting celebre e o Benfica tenha de se justificar uma vez mais. As águias voltaram a investir muito para conquistar pouco e acumulam um só título de campeão nas últimas seis épocas. Dá que pensar.
Ambos os clubes cometeram erros relevantes. Anoto dois (ou três) no Sporting: a troca de Ruben Amorim por um João Pereira totalmente inexperiente - mesmo se considero o último mais vítima que culpado - e um mercado de janeiro falhado, que deixou o meio-campo sem alternativas quando já não havia muitas opções e, não tendo Pote para mais alguns meses, um ataque reforçado apenas com Biel (e está tudo dito). Se acontecer o que parece provável, a época pode acabar muito bem, com o título, ou em glória, com uma dobradinha, mas os erros fizeram parte dela e não foram pequenos. O terceiro pode ter sido a escolha de Rui Borges, que nunca apresentou grande rendimento coletivo, tomou opções muito discutíveis (depois do que se criticou Roberto Martínez, que dizer do técnico leonino a propósito de Quenda?) e teve momentos de comunicação muito infelizes (sobre Harder ou o Gil Vicente). Não provou, por enquanto, ser treinador para o Sporting e (ainda) corre o risco de falhar um campeonato tendo Gyokeres no plantel, o que dificilmente se perdoaria. Contudo, se se confirmar campeão, terá o seu cantinho na história, como outros antes. Isso e a responsabilidade de preparar a próxima época, verdadeiramente a primeira depois de Amorim.
O Benfica cometeu erros no plural, mas um deles condicionou quase tudo o resto: a insistência absurda em Roger Schmidt como treinador, que aqui critiquei desde sempre. Rui Costa teimou num treinador que já tinha demonstrado ir de mal a pior, o que redundou numa série de decisões absurdas desde o início, como contratar Beste para lateral esquerdo por não acreditar em Carreras, assumir Barreiro como jogador de nível Benfica (que não é) colocando Kokçu como secundário ou despachar um talento no auge de rendimento como David Neres para celebrar o fim da carreira de Di María. Nesta última, bem como na contratação disparatada de Renato Sanches, o presidente tem, no mínimo, responsabilidade repartida com o treinador alemão. E provavelmente vai pagar por ela, agora a meias com Bruno Lage.
Lage melhorou o rendimento coletivo e, beneficiando da saída de Amorim para Inglaterra, devolveu os encarnados à luta pelo título, mas nunca conseguiu que o modelo de jogo encarnado fosse mais robusto que as suas preocupações estratégicas e, mesmo tendo ganho vários duelos com equipas fortes, falhou na abordagem do jogo em que não podia falhar. Aí, o estatuto de Di María foi mais forte que a estratégia que se recomendava e os 45 minutos de abordagem errada comprometeram a vitória indispensável, mesmo se o Benfica podia ter sido mais feliz quando Pavlidis acertou no poste. Mas é neste ponto que volto ao início: se não acontecer no sábado o que hoje parece mais provável (mais que provável, até), os erros não se apagam, apenas a fortuna, boa ou má, terá mudado de campo. E tivesse qualquer das equipas sido um pouco mais competente e não precisaria da sorte para nada.

PS: Schjelderup tem 20 anos e está longe de ter um talento banal. A jogar entrelinhas é mesmo capaz de ser o mais competente entre os médios ofensivos do plantel encarnado. Atirar sobre um jovem que nem sequer é titular num momento de fracasso coletivo é muito injusto, além de revelar uma ignorância atrevida."

Glory Days


"Viram o Rodrigo Mora no Bessa? Marcou um grande golo, mais um. Mais do que isso, o Mora não joga com a bola. Mora joga com um segredo. E quando, num rasgo de generosidade, decide mostrá-lo, fá-lo quase a pedir desculpa. Com a melancolia incurável dos predestinados

Viram o Rodrigo Mora este fim-de-semana? Não viram; deviam ter visto. E deviam ter vergonha. De repente, o mundo suspendeu a sua giratória — e giraram os pés do Rodrigo Mora. Numa valsa lenta, exuberante, inevitável.
É que o Mora não joga com a bola. Mora joga com um segredo. E quando, num rasgo de generosidade, decide mostrá-lo, fá-lo quase a pedir desculpa. Com a melancolia incurável dos predestinados. Como se nada daquilo fosse com ele. Como se fosse apenas um instrumento. Um vidro fosco. Um portador. Como se fosse — o nosso Paulinho Cascavel.
Neste momento, o leitor franze a testa e pensa: — “Paulinho Cascavel? Como assim? O do Vitória? Do Sporting? O brasileiro?”
Nada mais errado. Falo de outro. Do verdadeiro. Do único. Paulo Alexandre Carvalho da Silva. De Areias. De Santo Tirso. De Portugal. Jogava tanto, com tamanha realeza, que o nome que lhe deram era pouco. Precisava de um nome com uma coroa. Certo dia, num recreio, alguém disse: “Paulinho Cascavel!” E ficou. Porque era ele.
Todo o pátio de toda a escola tem a sua lenda. Um pequeno D. Sebastião de chuteiras. O herói trágico de um futebol que não aconteceu. Aparece aos seis. Encanta aos sete. Desaparece aos quinze. E toda a lenda tem o seu tempo. A sua década. O seu crepúsculo. Em Santo Tirso, nos anos 90, foi ele.
No sistema de escolhas do futebol-de-intervalo o Paulinho era sempre aclamado capitão — porque todos queriam jogar ao seu lado: os irmãos mais velhos, os vigilantes, os adversários. Jogava com todos, mesmo sem precisar de ninguém. Porque o Paulinho, como os maiores, como os santos, tinha em si o aceno magnânimo. Mesmo que a bola se recusasse a abandoná-lo, ele dava-a, fazia o passe — o gesto mais caridoso de todo o futebol. Até aos cepos como eu.
O futebol era a Primavera, e a bola a abelha junto de sua flor, numa afeição mutuamente necessária. O Paulo jogava com a alegria dos inocentes. Era a graça sem esforço, sem vaidade e sem metáfora. O nosso Baggio, o nosso Rui Costa, o nosso mundo inteiro. Silencioso e puro — uma Cordélia com um número 10 nas costas.
Claro que era futebol a mais para aquele recreio. Por isso, já jogava no ARCA — o mesmo onde brilhou Ricardo Rocha — até que o Manelzinho do Tirsense o levou. Era o destino com dê maiúsculo. E foi aí, aos onze anos, que tudo pareceu confirmar-se. Um torneio internacional em França. Equipas estrangeiras. Campos a sério. E o Paulo brilhou. Um emissário do Boavista aproximou-se. Havia interesse. Queriam levá-lo.
Mas do Abel Alves Figueiredo até ao Bessa era uma travessia. Mudar de clube, de escola, de amigos. Mudar de mundo. Em 1994, a grande cidade era ainda um monstro. E o futebol não vinha com motorista nem psicólogo. O Boavista hesitou. O Tirsense endureceu. Pediram dinheiro. O outro lado recuou. “Miúdos de onze anos há muitos”, terão dito. E o Paulinho ficou.
O futuro, que era largo, começou a encolher. Deixou de ser “ele e mais dez” para ser apenas “só mais um”. Ele, que era dos mais altos e mais fortes, tardava em dar o salto. Como se o próprio corpo reagisse ao “E se?” que lhe ficou entalado na alma.
A vida seguiu o seu caminho. Mas com o som ligeiramente abafado. Não era homem de livros. Não tinha grandes planos para grande coisa. Num tempo em que se adiava a tropa para não adiar a vida, ele foi para a tropa para ganhar algum tempo.
Nunca chegou a jogar como sénior pelo Tirsense. A camisola que seria sua foi ficando na cruzeta. À espera de um corpo que já não viria. Jogou por clubes pequenos, em campos menores. Onde os balneários cheiram a detergente barato e sopa de couve. Depois, desapareceu.
Quando nos cruzamos, pergunto-lhe pela loja. Trabalha numa casa de artigos desportivos. Ele responde com um sorriso onde ainda cabe tudo. O talento. A memória. A ironia. O ocaso. A paz. Porque o Paulo sempre soube uma coisa que vos vou dizer agora e que é vital: o futebol é só uma das formas possíveis de perder com elegância.
Mas depois — depois eu vi o Mora a fazer aquilo. Talvez tenha sido o domínio com o lado de fora do pé direito. Ou o rosto sereno. Ou então porque, naquele instante, o mundo pareceu endireitar-se. Como se tivesse cabido ao Rodrigo do Porto cumprir o destino do Paulinho de Areias. Como se, aos 20 minutos de jogo, nesse movimento imperturbável, nessa noite de Domingo no Bessa, o futebol se tivesse tornado em promessa saldada com atraso."

O sentido de humor vai acabar?


"Numa altura em que tanto se define no futebol nacional, pode ser difícil conseguir juntar uma pitada de graça a todas as emoções em causa. Mas não custa tentar...

No final da partida no Bessa, Martín Anselmi tinha os olhos a brilhar durante a flash-interview da SportTV, tendo afirmado que gostou muito do ambiente e que há algum tempo que não vivia um jogo assim. O que, vindo de um argentino, não pode ser coisa pouca...
É verdade que a estrutura deste estádio ajuda a criar uma atmosfera mais vibrante, com o apoio (ou outras formas de expressão) dos adeptos a sentir-se intensamente, mas com Boavista e FC Porto em estado de depressão, só mesmo um dérbi especial podia ter algum encanto. A rivalidade da Invicta nunca se aproximou da que se vive na capital, devido à grande diferença entre as duas equipas, mas é suficiente para animar um pouco até quem luta por um 3.º lugar ou para não descer.
O assunto era sério, claro, porque os portistas não admitem uma época desportiva destas e os boavisteiros podem cair novamente num poço bem fundo. Não há grandes motivos para sorrir na cidade. Mas é precisamente nestes momentos que pode sobressair algo que muito prezo, no futebol e na vida: o sentido de humor. Houve portistas munidos de bóias de salvamento e balões em forma do número 2 e a certa altura o narrador até elogiou a festa que se vivia na bancada visitante, tendo sido alertado que o que os azuis e brancos estavam a cantar, enquanto agitavam as luzinhas dos telemóveis, era «o Boavista vai acabar». Não era uma festa, até porque não há razões para isso, mas uma provocação, que não magoa. Os axadrezados, obviamente, não gostaram, mas eles melhor do que ninguém sabem que o Boavista não vai acabar, porque mesmo em condições muito difíceis, o clube renasce sempre graças aos seus adeptos.
E é por isso que, depois de um fim de semana com dois dérbis, em que felizmente não tivemos notícias tristes para dar neste aspeto, quero mencioná-los. Quando a rivalidade é saudável, o futebol respira melhor - até porque precisa dela. Se houver sentido de humor, então, por mim, ainda melhor. Não somos grandes especialistas nisto: os portugueses, que são tão bons a fazer piadas nos momentos mais deprimentes, parece que têm um bloqueio no futebol. Há insultos para os rivais, tensão, vandalismo e por vezes violência. Mas raramente há algo que faça rir, sem que isso desvalorize a seriedade do momento. Quando ouço cânticos ingleses para os rivais com piada, ou vejo um adepto espanhol com uma bola de praia para mostrar a Vinícius Jr., dou por mim a pensar que Portugal podia fazer muito melhor, e nem sequer sou nacionalista."

Revolução em França. E por aqui?


"Se os franceses, com o seu elevado orgulho, conseguem admitir que outros fazem melhor que eles, o que impede Portugal de seguir o mesmo rumo?

Vale a pena estarmos atentos ao que se passa em França: políticos e dirigentes desportivos estão na iminência de provocar uma revolução nas competições profissionais de futebol, aproximando-se do modelo inglês, com a extinção da atual Liga e substituindo-a por uma empresa da qual todos os clubes serão acionistas, mas não donos. Uma Premier League à gaulesa, cuja Direção não é eleita, mas nomeada.
A diferença relativamente ao modelo atual estará precisamente aqui e merece uma reflexão: os clubes não parecem oferecer resistência, mesmo que percam poder. Transpondo para a realidade portuguesa, seria algo do género: Benfica, Sporting e FC Porto (só para citar os grandes) seriam acionistas de uma sociedade e quanto mais lucro desse a empresa, mais ganhavam; nem Benfica, nem Sporting nem FC Porto iriam andar num pé de vento para eleger o presidente da Liga porque esta nova entidade teria um conselho de administração nomeado e não eleito; as assembleias gerais da Liga para aprovar regulamentos (disciplina ou de competição) pura e simplesmente desapareceriam e essa responsabilidade passava para a Federação, com um papel verdadeiramente regulador.
Pode soar estranho, mas é precisamente isso que os franceses se preparam para fazer: colocar os clubes como donos do espetáculo mas não donos da organização; acabar com a autorregulação e entregar esse papel à Federação Francesa de Futebol (FFF) no seu papel de mediador entre as competições e o Estado.
Muitos dirão que uma mudança tão radical só acontece em caso de desespero ou por um estado elevado de maturidade. Não parece ser nenhum dos casos: há um óbvio problema na Ligue 1 de desequilíbrio face ao poder do PSG, mas é um campeonato que continua a formar grandes jogadores e tem estádios cheios; por outro lado, maturidade é relativo quando vemos o dono do Lyon a aparecer de chapéu de cowboy como resposta a provocações do homólogo do PSG ou a invasões de campo muito piores que a do senhor do Benfica no final do dérbi, coitado, só quis desabafar.
O que realmente fez a diferença neste processo foi a existência de uma visão, arrojo e iniciativa. Aquilo que, no fundo se pede a quem dirige, seja na política ou no desporto. Aqueles que têm a responsabilidade de fazer alguma coisa perante os sinais de preocupação.
O mais curioso é verificar que projeto não é original, mas uma adaptação (para não lhe chamar mesmo uma cópia) do modelo da Premier League. Quem conhece os franceses e a sua história sabe o quão difícil é engolir o sapo e admitir que os ingleses fazem algo muito melhor do que eles, mas assumem-no sem problemas. Um problema que não se coloca aos portugueses, cujo orgulho nacional é muito mais baixo relativamente ao dos gauleses e que adora copiar o que vem lá de fora. Estranhamente, no entanto, no futebol luso teima-se em continuar a ignorar as boas práticas europeias, mantendo-se um modelo datado há muito tempo: regulamentos criados à medida dos clubes e não em prol de um interesse comum, modelos de gestão arcaicos e um permanente sectarismo.
Vamos apenas imaginar o seguinte: se no final de um Liverpool-Man. United um adepto entrasse no relvado e fizesse ameaças físicas ao juiz, tudo ficaria reduzido a uma multa? Quando tivermos um real alcance da resposta talvez entendamos o quão necessária é uma revolução à francesa."

Acidentes desportivos


"A Lei n.º 48/2023 estabelece o regime jurídico relativo à reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais. Bem se compreende que exista um enquadramento próprio destes praticantes, pois a sua atividade apresenta especificidades relativamente à relação laboral comum.
A Lei define os limites máximos da indemnização por incapacidade temporária parcial, da pensão por incapacidade permanente parcial e por incapacidade permanente absoluta.
No primeiro caso, a lei define os limites máximos das indemnizações por incapacidade temporária parcial igual ou inferior a 5%, impondo que, nesse caso, a reparação tem como limite máximo 14 vezes o montante correspondente a 5 vezes a retribuição mínima mensal garantida em vigor. Caso se trate de incapacidade temporária parcial superior a 5%, não existe limite máximo para a reparação. Esta situação, embora se compreenda na perspetiva da proteção do praticante, pode gerar — como tem gerado — o aumento dos valores que os clubes têm de suportar a título de prémios de seguro dos seus atletas.
No que diz respeito à pensão por incapacidade permanente parcial, a lei distingue os limites máximos da pensão anual em função do grau de incapacidade e da idade do praticante desportivo.
Assim, a fixação do valor máximo da pensão dependerá de vários fatores, a saber: (i) de a incapacidade ser igual ou inferior a 5% ou superior a 5%; (ii) de o praticante desportivo profissional ser menor de 35 anos; (ii) de o praticante desportivo profissional ter entre 35 e 45 anos de idade; e (iv) de o praticante desportivo profissional ter completado já 45 anos de idade."