Últimas indefectivações

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Jonas tem dúvidas... naturalmente!

"Aos 35 anos de idade, Jonas deverá terminar a sua carreira de futebolista. Ele próprio o admite, acrescentando que irá falar com Luís Filipe Vieira, o que quer dizer que não tem a certeza da decisão. É natural que assim seja. Um futebolista como Jonas, com uma boa e digna carreira, quando chega ao momento de parar tem sempre dúvidas e, mais do que isso, tem sempre um terrível medo do futuro, das saudades que irá sentir dos tempos em que entreva em campo com as chuteiras calçadas, dos momentos inesquecíveis da celebração do golo, do ruído inebriante do entusiasmo das bancadas a gritarem o seu nome. Não é fácil tomar a decisão de parar. Por vontade do jogador, calculo eu, continuaria até à eternidade, mas há um momento em que é importante tomar a decisão de sair. Esse momento é o da fronteira entre a utilidade e a piedade. O problema é que nunca se sabe, antes, onde está o traço que nos anuncia qual o momento certo.
Será sensato ficar no Benfica mais um ano? Não consigo responder. A seu favor tem o facto de, na última época, ter sido inteligentemente importante. Como se jogasse todos os jogos, como se marcasse em todas as oportunidades, a sua acção, junto da equipa, entre os companheiros, pareceu ser de uma força contagiante; contra tem, precisamente, o perigo de estar a deixar fugir a oportunidade de sair em tempo de glória, levando os adeptos a suspirarem por ele de saudade e não de piedosa condescendência.
Jonas não saberá, ainda, se é este o momento, mas pressente que sim. Talvez fosse aconselhável sair. Por ele, pelo Benfica, pela defesa de uma imagem de ídolo que não morrerá."

Vítor Serpa, in A Bola

'Baixas' são duras...

"Realidade de Benfica, FC Porto e SC Braga. Sporting, a excepção... antes do violento rombo

Arranque da pré-época com fortes baixas em quase todos os 4 primeiros do anterior campeonato (uma excepção - por enquanto...). Evidente: irão dar tudo por tudo para se recompor... Aumentando, mantendo ou baixando o nível.. eis a magna questão.

Benfica. Muito difícil substituir João Félix - chegou, viu  e venceu nos 5 meses de excepcional galopada para o título!; e, noutro ápice, está erguido a vedeta mundial pela estratosférica verba da sua transferência, aos 19 anos! Muito difícil render Jonas, o decisivo goleador, craque mor em Portugal durante 4 épocas a fio. Muito difícil, face à altíssima qualidade de quem parte, e, quiçá, por isso implicar alterações no modelo de jogo...
Chegam Tomás (ponta de lança que desconheço, tendo lido boas referências de quem costuma saber da poda), Cádiz (avançado que brilhou no V. Setúbal, mas, ao que se tem dito, será emprestado), Caio Luvas (extremo vindo da Arábia, contratado há largos meses, antes da era Bruno Lage, como este frisou) e Chiquinho (médio ofensivo, potencialmente vagabundo na frente atacante - e dele tenho boa opinião, pelo que fez na Académica e, sobretudo, no surpreendente Moreirense; noutro texto, coloquei Chiquinho nos destaques da época em equipas não de topo - segue-se crucial teste: tem estrutura para altos voos?).
Benfica procura mais um ponta de lança, capaz de pedir meças a Tomás e Seferovic (óbvia necessidade: não pode limitar-se a ter 2, mesmo que Tomás se afirme e Seferovic se confirme... vindo da mulher, e de longe!, época da sua não curta carreira). E disso, nenhuma dúvida, muito dependerá o nível competitivo ao longo de 10 meses (por cá e na Europa...).
Outra necessidade detecto (desmentida pelo presidente!): defesas laterais que sejam firmes alternativas a André Almeida e Grimaldo (basta ter fé no rápido crescimento dos meninos Ebuehi e Tavares?). E continuidade de Grimaldo parece não garantida...
Trunfo benfiquista: se saídas de pesos pesados se ficarem por Félix e Jonas (também Salvio?), e se estes foram bem substituídos... - há uma semana frisei que os €200 milhões (!) já garantidos isso permitem... -, não haverá fortes solavancos na base já estruturada. Se...

FC Porto. Como há 2 anos, trabalho de Hércules para Sérgio Conceição! Perder Casillas, Felipe, Militão, Herrera e Brahimi (meia equipa!) é quase começar de novo... Forte ataque a aquisições arrancou esta semana. Mas construir outra equipa (e, por isso, outro tipo de futebol?) tem muitíssimo que se lhe diga! Sérgio Conceição não aceitaria tamanho desafio sem garantia de receber o muito de que necessita (de guarda-redes e avançados - não creio que Luiz Díaz, Zé Luís e Nakajima bastem, se também Marega e/ou Soares partirem).

Sporting. A excepção, ao não partir com fortes baixas (saída de Gudelj tem peso, embora superável por Battaglia e Doumbia). Mas não acredito que escape ao rombo violento: o de Bruno Fernandes, evidentemente! E há dúvidas sobre permanência de Acuña e de Bas Dost. Porém, penso que, limitado a dura realidade financeira, tem vindo a trabalhar bem: experiente defesa central (Luís Neto, internacional A), defesa direito Rosier (premente necessidade de que seja bom!, (interessante médio (Eduardo), avançado com apreciável craveira (Vietto) e grandes promessas: aquisição do extremo Camacho ao Liverpool, regresso do avançado Gelson Dala. Investimento vai em €20 milhões. O possível, antes da saída de Bruno (e sabe-se que transferência, se por 60 milhões, dará saldo líquido de apenas 30...).
Oxalá a AG deste sábado, confirmando ou revogando expulsão de Bruno de Carvalho e de Alexandre Godinho, possa curar a crónica doença sportinguista: persistentes, amiúde incríveis!; tumultos internos. Muito provável quimera...

SC Braga. Dos tremeliques, no final da época, na relação presidente/treinador, para a ruptura agora, no tempo mais inesperado: Abel Ferreira no PAOK (financeiramente irrecusável!; arriscado por se tratar do não muito habitual campeão grego). Tempo de frisar: Abel deixa bom trabalho. Meias-finais das nossas Taças, 4.º lugar no campeonato (15 pontos separando-o do 5.º, o grande rival V: Guimarães!). António Salvador exige mais. Ambição tão saudável quanto roçando utopia O SC Braga está longe da massa adepta dos 3 gigantes. E o seu (bom) plantel também deles dista - ou, por exemplo, os titulares Esgaio, Wilson Eduardo, Palhinha teriam continuado no Sporting..."

Santos Neves, in A Bola

O Brinco do Baptista - ep. 8

Novela Raúl de Tomás: último episódio (Spoiler Alert)

"3 de Junho de 2019. É este o dia mais negro da história para quem gosta de passar o serão no sofá, enrolado numa mantinha, a ver novelas. Neste dia chegaram ao fim duas das maiores novelas de verão no que ao mercado de transferências do futebol nacional diz respeito. Com o SL Benfica como denominador comum, duas movimentações de mercado históricas foram oficializadas no espaço de duas horas: João Félix é o novo camisola 7 do Club Atlético de Madrid e Raúl de Tomás (ou R.D.T, como o próprio prefere) será (suponho) o novo camisola 9 do SL Benfica.
A venda do português por 126 milhões de euros (com o pagamento de juros à entidade bancária), que na verdade são 120 milhões (valor da cláusula), que na verdade são 108 milhões (após a transacção de 12 milhões para os cofres de Jorge Mendes – se lá ainda houver espaço), é a maior de sempre de um jogador português. A contratação de Raúl de Tomás ao Real Madrid FC por 20 milhões de euros é a segunda maior compra do futebol português (a maior, curiosamente, também foi por parte do SL Benfica e também foi a de um Raúl que jogava em Madrid – Raúl Jimenéz, 22 milhões, 2015). 
Contas feitas, saldo (muito) positivo para o clube da Luz: 88 milhões de euros de lucro. Financeiramente, tudo certo. Mas na vertente desportiva, como fica o SL Benfica? João Félix é um dos maiores “talentos puros” (o pessoal de Madrid tem olho para slogans) do mundo do futebol atual. Acredito, sinceramente, que se alguém, daqui a cinco, dez anos, redigir um dicionário do futebol, o português será a definição de segundo avançado, falso avançado, nove e meio, nove e três quartos, etc. R.D.T. não o é.
Então, quem é Raúl de Tomás? Hispano-dominicano, nasceu em Espanha e ingressou cedo nos escalões de formação do Real Madrid FC. Apontam-lhe o pé direito como pé preferencial, mas pode ser só um mito. Quem o vê jogar não decifra de que pé gosta mais. Bastante salomónico. Com 1,80m e 75kg não pode ser chamado de “possante”, mas também não é um indivíduo franzino. Em Outubro cumprirá o seu 25º aniversário, o primeiro enquanto jogador do SL Benfica.
Na época 15/16, teve a sua primeira experiência fora dos merengues e fora da capital espanhola: jogou, por empréstimo, no Córdoba CF, que militava na segunda divisão espanhola. Participou em 27 jogos e apontou seis golos. O Real Madrid FC gostou da sua prestação, o suficiente para não o libertar do contrato, mas não o suficiente para o integrar no plantel. “Nós ficamos com ele”, disseram os dirigentes do Real Valladolid CF. E assim foi. Mais uma época de empréstimo, mais uma época na segunda liga espanhola. Desta feita, foram 39 jogos e 15 golos.
“E agora, já gostam de mim?”, terá perguntado de Tomás. “Hum”, terá respondido Florentino Pérez, presidente madrileno. “Não se preocupem, já sei o caminho”, terá retorquido Raúl, enquanto se dirigia mais uma vez para o segundo escalão do futebol espanhol. Empréstimo de uma época ao Rayo Vallecano de Madrid, S.A.D., que viria a repetir-se na temporada seguinte (a que findou o mês passado), na La Liga, após um casamento bem-sucedido, em que de Tomás marcou 24 golos em 32 jogos e em que o clube de Vallecas subiu de divisão.
Na época que há pouco se despediu, Raúl de Tomás apontou 14 golos em 34 jogos pelo Rayo Vallecano de Madrid, S.A.D., que veio apenas matar saudades do principal escalão, voltando de imediato para o escalão secundário. No entanto, desta vez Raúl de Tomás não voltou. Com uma proposta de 20 milhões de euros apresentada ao Real Madrid FC e um contrato de cinco temporadas, com um salário de 2,2 milhões limpos, apresentado ao jogador, o SL Benfica impediu que o talento do espanhol continuasse a ser desperdiçado na segunda liga do país vizinho. E ele tem muito talento. 
Matador como poucos, de Tomás finaliza com eficácia de pé direito, pé esquerdo ou de cabeça. Remata, com qualidade, de dentro e de fora de área. Movimenta-se e, sobretudo, posiciona-se muito bem dentro da área adversária. Essa capacidade de posicionamento torna-o um jogador oportunista, que aparenta estar sempre no sítio certo.
Apesar de ser um jogador latino, apresenta muita frieza frente à baliza e na hora da fuzilar, tendo gatilho fácil (muito mais fácil do que o de Haris Seferovic, por exemplo). É um jogador de filosofia simples: o objectivo é marcar, para marcar há que rematar, então eu remato. Fossem todos os pontas de lança assim… Apesar de apresentar alguma mobilidade, não o vejo a substituir João Félix e a jogar como segundo avançado. Creio que Raúl de Tomás cumpre os requisitos de um avançado centro, sendo um concorrente directo e natural de Seferovic. De resto, sou da opinião de que com Seferovic e R.D.T, o SL Benfica bem fica servido no respeitante à ponta da lança que é a equipa de Bruno Lage. Com um jogador a fazer-lhe companhia, de Tomás será letal, tendo tudo para fazer 30/35 golos já esta época. Com a mobilidade que possui, pode resultar também num sistema 4x3x3, como avançado único.
Tudo pesado, o SL Benfica garante um excelente reforço que, acredito, vai agarrar a titularidade a tempo da Supertaça frente ao Sporting CP (4 de Agosto, no Estádio do Algarve). No entanto, as inevitáveis comparações com João Félix têm que começar a ser evitadas. Só assim poderá Raúl de Tomás mostrar tudo o que tem para mostrar e dar ao SL Benfica tudo o que tem para dar. Eu dou o mote: neste texto, não falo mais de João Félix."

Porque o Benfica contratou De Tomás?

"O novo reforço chegou. Raúl de Tomás finalmente assinou, numa transferência a rondar os 20 milhões. O avançado proveniente do Real Madrid assinou até ao ano de 2024 e no seu contrato está incluída uma cláusula de rescisão no valor de 100 milhões.
Números do ponta de lança
O espanhol na última temporada fez 33 jogos pelo Rayo Vallecano ( emprestado pelo Real Madrid ) e marcou 14 golos com uma média de 2.8 remates por jogo, fez 1 assistência e têm uma média de 0.5 passes-chave por jogo, números relativamente bons tendo em conta que jogou pelo último classificado da liga espanhola.
Características do jogador
Raúl de Tomás é um 'bicho de área', sendo capaz de jogar também fora dela, hábil em espaços curtos, com bom posicionamento. Joga e remata bem com ambos os pés e tem um jogo aéreo interessante. Acrescenta muita qualidade ao plantel do Benfica.
Entendam como Raúl de Tomás encaixa no sistema de jogo de Bruno Lage
Como o Benfica actua em 4-2-2, a posição indicada para o espanhol será a de ponta de lança, onde Seferovic jogou na última época. Sendo um avançado capaz de pressionar a saída de bola adversária e de jogar em transição, encaixa como uma luva no Benfica, porém necessita de um jogador mais criativo ao seu lado para jogar nas entre linhas. Agora que João Félix foi vendido para Espanha e o Benfica contratou Chiquinho, podemos esperar por uma dupla luso-espanhola com muita qualidade no ataque encarnado caso não hajam saídas no núcleo do plantel encarnado."

Um golo por cada milhão

"Pelas minhas contas, somando aos já célebres 120 + 6 + 1,2, os 84 milhões de euros que o Atlético de Madrid vai pagar a João Félix em salários nos próximos sete anos, cada golo que o jovem português marcar ou oferecer aos colegas vai “custar” mais de um milhão de euros.
Teria de estar ligado a pelo menos 30 golos por ano, ou 210 em sete épocas, para produzir, a esse “preço” unitário, os 211,2 milhões que custa toda esta operação inesperada e sensacional.
Confirmou-se que o jogador português mais caro de sempre está agora entre os cinco mais valiosos da história do futebol, mas há uma significativa parte de compatriotas, incluindo muitos no espaço mediático, que não acreditam, não aceitam e não valorizam, seja pelo montante, seja pela modalidade de pagamento, seja pelo envolvimento do empresário Jorge Midas, seja pelo “perigo” de fortalecimento do maior clube nacional.
Tem-se ouvido e lido de tudo nesta mais “silly season” de sempre. Há quem vaticine o desastre para a carreira de João Félix e até quem admita a falência do Atlético e o endividamento do Benfica.
O melhor que os invejosos desejam ao embaixador de Viseu é que se transforme num novo Renato Sanches, um fracassado que aos 21 anos já foi campeão da Europa, tricampeão nacional e pertence há três anos aos quadros do clube mais poderoso da Alemanha e dos mais importantes da Europa.
Há um enorme factor de risco nos negócios do futebol, sabendo-se que apenas 20 por cento dos jogadores transferidos no Verão vão acabar a época com maior valor de mercado. Apenas um em cada cinco “reforços” do mercado corresponde à expectativa e não acaba desvalorizado ao fim de alguns meses.
Esta fórmula aplica-se, aliás, aos mais caros da lista de transferências onde João Félix ocupa agora o quinto lugar.
1. Neymar (222 milhões) vai sair de Paris por metade do preço e sem atingir os objectivos.
2. Mbappé (180m) é o único dos cinco mais caros que vale hoje mais do que há dois anos.
3. Philippe Coutinho (160m) tem as malas à porta em Barcelona e pode servir de moeda de troca.
4. Dembelé (145m) idem, idem.
5. João Félix (126m) aceitou o maior desafio que algum desportista português enfrentou até hoje, num clube e com um treinador que talvez não sejam os mais adequados."

João Félix é (finalmente) colchonero!

"A novela que se antevia longa chegou ao fim! Após muita incerteza e especulação (que inundou jornais e programas de televisão desportivos, todos à procura de dar a notícia antes que ela saísse), João Félix deixa mesmo o SL Benfica e ruma ao Atlético de Madrid por 120 milhões de euros.
Na verdade, são 126 milhões de euros, que se concretizam na forma que o Atlético encontrou para pagar o valor completo da transferência. De acordo com o comunicado lançado pela CMVM, os colchoneros pagaram 30 milhões de euros a pronto e o Benfica realizou “uma operação de desconto sem recurso dos restantes 96 milhões”, onde entram os 6 milhões excedentes, respeitantes a custos financeiros que perfazem o total de 126.
Acrescenta-se também “que os encargos com os serviços de intermediação relativos a esta transferência ascendem a 12 milhões de euros”, à parte do valor de transferência, cuja responsabilidade cabe ao Atlético de Madrid de pagar o valor do Mecanismo de Solidariedade a clubes terceiros, em que se incluí o FC Porto por direitos de formação.
Os colchoneros batem assim a cláusula de rescisão e ganharam a concorrência de outros interessados como Manchester City, Real Madrid e Barcelona.
Aos 19 anos, o também internacional português assinou um contrato válido para as próximas sete épocas e irá auferir um salário de sete milhões de euros limpos por época. A cláusula de rescisão quase que triplica, pois passará a estar blindado por 350 milhões de euros.
O viseense, homenageado recentemente pela Câmara Municipal como embaixador da cidade com o Viriato de Ouro, concretiza assim a maior transferência no futebol português e passa a ser o jogador mais caro em Portugal e na história do Atlético, superando os 70 milhões despendidos pela contratação de Thomas Lemar em 2018/2019, e o quarto mais caro do mundo, atrás de Neymar (222 milhões), Philippe Coutinho (145) e Kylian Mbappé (145).
Félix já conheceu a nova casa onde vai jogar, o Wanda Metropolitano, já realizou exames médicos antes da oficialização do negócio e foi teve direito a uma apresentação com toque artístico, como se pode ver aqui. A necessidade da sua contratação resultou sobretudo na procura incessante por um substituto à altura de Griezmann, que já anunciou a saída do clube, e inclusive possui a cláusula no mesmo valor com que Félix foi contratado. Curiosamente, é com o número 7 na camisola – que era do francês – que o novo reforço vai jogar nas próximas sete temporadas. O legado não podia ser maior!
A transferência de João Félix para o Atlético de Madrid atingiu, como é facilmente perceptível, valores estratosféricos e tentadores. Muito se escreveu e muito se falou, mas perante tanta cobiça, a probabilidade de Félix ficar nos encarnados era muito reduzida. A saída foi a única opção possível e a que mais facilmente conduziu a este desfecho. Pena que o Benfica a tenha tentado esconder secretamente, ao tardarem em admitir as conversações numa altura em que estas já estavam longas. (Só mesmo na reta final se dignaram a esclarecer o que já tinha sido esclarecido há muito!)
Quanto ao jogador, é importante não esquecer o tremendo talento para a idade que tem, nunca esquecendo que o mundo do futebol é muito instantâneo. Por algum motivo, as carreiras terminam aos 36 anos e, em alguns casos, mais tarde. É de realçar que foi colocado num pedestal em tão pouco tempo – não vale a pena negar – e daí resultou uma pressão exagerada e bastante preocupante vinda de todos os lados, principalmente da comunicação social.
O que mais importa neste momento é o que o futuro reserva para João Félix. Nada do que está para trás é relevante. A transferência está consomada e, em breve, vai estar às orientações de Diego Simeone. Deseja-se o melhor, com a esperança de que estas pressões não afectem o seu percurso pessoal e profissional. A exigência e o rigor são ainda maiores, é um facto, e a margem de erro muito curta, pelo que a maturidade tem de jogar lado a lado com a técnica em campo.
João Félix já é um dos maiores nomes do futebol mundial e nunca se falou tanto nele como agora. Era certo e sabido que o Benfica não o conseguiria segurar por muito mais tempo. 43 jogos e 20 golos depois, é o Atlético que o leva para as suas fileiras, como uma prova de maior crescimento e exposição.
Neste momento, o mundo desportivo gira em torno de Félix, mas é bom que se meta uma coisa na cabeça o quanto antes: Félix não é o melhor jogador do mundo, mas pode ser; não é Bola de Ouro, mas pode ser; não é titular na Selecção, mas pode ser. E a lista prossegue! Para já, acalmem-se porque João Félix é só jogador do Atlético de Madrid, internacional por Portugal e um jogador extraordinário, mas que tem apenas 19 anos. Como tal, há que manter a calma: etapa a etapa e não numa tentativa de as queimar à força. Não faz bem ao jogador, que é o principal protagonista desta grande novela que já é a sua curta e promissora carreira.
Muito obrigado por tudo o que deste à família benfiquista. Vamos sentir a tua falta! Eis a nova coqueluche do Atlético de Madrid a quem desejamos muitas felicidades!"

Bruno de Carvalho, como Estaline, tem os seus fãs

"Bruno de Carvalho tem todo o direito a defender-se das acusações de que é alvo, mas é estranho haver ainda adeptos que sonham com o regresso de um dos presidentes mais polémicos da história do Sporting. A personagem espalhou ódio e prepotência em doses cavalares enquanto esteve à frente do clube e a sua responsabilidade ou não do ataque à academia de Alcochete será decidida pelo tribunal. 

Bruno de Carvalho tem todo o direito a defender-se das acusações de que é alvo, mas é estranho haver ainda adeptos que sonham com o regresso de um dos presidentes mais polémicos da história do Sporting. A personagem espalhou ódio e prepotência em doses cavalares enquanto esteve à frente do clube e a sua responsabilidade ou não do ataque à academia de Alcochete será decidida pelo tribunal. 
O antigo presidente dos leões é que parece nada ter aprendido nos últimos tempos em que esteve afastado dos holofotes, já que no último sábado deu uma entrevista ao Expresso em que disse da procuradora que ia ouvi-lo ontem o seguinte: “Todos nós pudemos observar aquela coisa hedionda que foi o interrogatório da procuradora Cândida Vilar ao Fernando Mendes. Toda a gente pôde observar esta perseguição e esta forma de actuação que ela tem para comigo. Eu não tenho grandes dúvidas que, das duas uma: ou a procuradora Cândida Vilar tem uma agenda, coisa que eu não quero acreditar, porque seria demasiado grave, ou tem um distúrbio”. Elucidativo e demonstrativo de que vive noutro mundo. No dele.
O homem que durante longos meses fez posts às cinco da manhã no Facebook para depois apagar alguns já durante o dia convenceu-se da realidade que criou para si próprio, tomando tudo o resto como falso. Só a sua verdade interessava e, por isso, podia atacar o bem mais precioso do clube, os jogadores e treinadores, não se importando com as consequências, já que a sua figura estava num lugar perto do céu. Outro dado impressionante é como Bruno de Carvalho ainda consegue ter adeptos do seu lado, fazendo estes lembrar aquelas romarias em Moscovo aquando do aniversário de Estaline.  
P.S. O futebol é mesmo um mundo à parte. A comissão que tomou conta dos destinos do clube depois da destituição de Bruno de Carvalho parece ter ficado com o bichinho do poder e Sousa Cintra já demonstrou que está arrependido de não se ter candidatado ao cargo de presidente. Mas será o único? Não haverá outros que também gostaram do poder de levar as multidões atrás?"

Predadores(as) sexuais (II)

"Em Julho de 2017, o treinador de futsal Humberto Cunha foi condenado pelo tribunal de S. João Novo, no Porto, a 10 anos de prisão por abusar sexualmente de quatro menores. Em Dezembro desse mesmo ano na Polónia vieram a lume alguns casos de abusos sexuais a várias ciclistas, sendo que algumas eram alegadamente menores.
A Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas afastou em 2018 três atletas apuradas para a selecção nacional - Lia Martins, Denise Eusébio e Geisa Vieira - por terem cometido um suposto abuso sexual contra uma colega de equipa. O episódio teria ocorrido em Fevereiro de 2017, e, de acordo com o relato da vítima, após um treino da equipa Gladiadoras / Grupo de Ajuda dos Amigos Deficientes de Indaiatuba, do interior de São Paulo, Lia, Denise, Geisa e Gracielle Silva, então coordenadora do clube, usaram um pénis de borracha para abusar sexualmente da colega, que foi retirada à força de sua cadeira de rodas. O ataque foi registrado em imagens que circularam por grupos de Whatsapp. Gracielle viria a cometer suicídio no final de maio de 2018.
Em Janeiro de 2018 Larry Nassar, antigo médico da selecção de ginástica olímpica dos Estados Unidos, de 54 anos, foi condenado a 175 anos de prisão por abusos sexuais cometidos contra jovens ginastas. Barry Bennell, que treinou as equipas jovens do Manchester City e do Stoke City, de 64 anos, foi condenado a 31 anos de prisão por violação e abuso sexual de jovens jogadores em Liverpool, também na mesma altura.
Em Março de 2018 o escândalo na Argentina: jovens das equipas de formação do Independentiente prostituíam-se a troco de botas e de calções – seis indivíduos identificados e um árbitro de futebol juntamente com o seu advogado detidos – num caso que poderá ter afectado seis clubes da primeira divisão.
Em 2019, Khalida Popal, ex-capitã da selecção feminina afegã de futebol, vem a terreiro reforçar aquilo que recai sobre Keramuddin Keram, o responsável máximo do futebol no Afeganistão, acusado de ter violado e agredido várias jogadoras da equipa feminina, e afirma que o escândalo envolve mais pessoas da federação, incluindo treinadores.
Vítor Rosa num excelente artigo aqui mesmo publicado sob o título “A violência sexual no desporto” (1) fala-nos das vulnerabilidades existentes no desporto, dizendo-nos que “a vulnerabilidade remete-nos para a fragilidade da existência humana.” Mas esta vulnerabilidade também nos remete exactamente para o lado contrário… o lado dos que se aproveitam dessa vulnerabilidade. E aqui teremos de distinguir dois conceitos: perversão e perversidade. Ambos designam uma anomalia no comportamento, mas é preciso não os confundir porque não têm o mesmo sentido: a perversão é um desvio comportamental de carácter sexual. A perversidade é igualmente um desvio comportamental mas de carácter mais intelectualizado: pressupõe um atropelamento dos valores morais e define-se como uma prevaricação em relação a normas sociais estabelecidas. Esta última é consciente e nela se incluem pelo menos a violência (física, gestual, psicológica, verbal) na prática desportiva, a corrupção, a fraude, a utilização de meios dopantes, o treino intensivo precoce (nome pomposo para camuflar a exploração infantil) e a morbilidade entre outras. Temos estado a tratar de perversões no desporto, mas quando Afonso de Melo e Rogério Azevedo (2) afirmam que na antiga RDA, nos anos 80 e 90, imensas vezes foi injectada determinada quantidade de hélio no intestino grosso de vários nadadores abordam uma perversidade.
É o desporto um campo propício às violências sexuais? Declaradamente sim! Tal como muitas outras actividades embora isso não seja justificação para que elas aconteçam.
A relação treinador-desportista leva a uma submissão à autoridade que é totalmente aceite e consciencializada pelos desportistas. Aquele que treina é o que ensina, é o que faz progredir, é o que seleciona este ou aquele para determinada competição… Entre pares, a dominação masculina é um factor omnipresente – índice de uma cultura de virilidade machista. Um(a) competidor(a) de alto nível aprende a tentar superar (ou a controlar) a dor, quer seja física ou psicológica. Uma vítima de violência sexual é capaz de “ignorar” a situação e concentrar-se apenas nos seus objectivos desportivos fechando-se para não comprometer os mesmos: se denuncia, a sua carreira estará acabada. Ou também por medo, ou por vergonha…
No desporto existe uma relação muito específica com o corpo. É óbvio que um(uma) treinador(a) terá um contacto físico com seu(sua) atleta para exemplificar as tarefas, para corrigir gestos ou posições, para ajudá-lo(la) a alongar os músculos, avaliar o pulso, ver se ele(ela) solicita bem cadeias musculares...
É óbvio, como nos diz Sidónio Serpa (3), que o facto de o desportista estar habituado a correr riscos na sua prática desportiva lhe transmite uma sensação de invencibilidade, dentro e fora do campo (daí os tantos casos de violação sexual por parte de jogadores fora do contexto desportivo – referimo-nos apenas aos condenados em tribunal, pois também há os absolvidos –, alguns dos quais ainda andam pela justiça)… mas isso não obriga o desporto – ou antes, qualquer um dos agentes desportivos – a ser perverso… nem o autorizam! Isso não obriga, nem autoriza, qualquer agente desportivo a ser um(uma) predador(a) sexual!
Vítor Rosa, no artigo citado, propõe que o Governo Português, através do Instituto Português do Desporto e Juventude, promova um inquérito nacional sobre os abusos sexuais no meio desportivo… talvez seja mais de propor que o mesmo seja desenvolvido pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto… pois não interessa só conhecer a situação mas essencialmente instalarem-se medidas de prevenção.
Será assim tão vasta a predominância de comportamentos de violência sexual envolvendo agentes desportivos que justifique esse investimento? Na falta de estudos, não sabemos se é vasta ou não, mas o investimento justifica-se nem que seja só para se evitar mais um caso. Necessitamos desses estudos “para explicar essas realidades, há muito ocultadas ou subestimadas por agentes desportivos, não como «abusos lamentáveis» ou «excessos deploráveis», mas como as próprias consequências da competição desportiva globalizada” como nos diz Jean-Marie Brohm (4).
Sim, porque como disse Jacques Personne (5) em 1991 (repare-se que já lá vão 28 anos), nenhuma medalha vale a saúde de uma criança. E não vale a saúde nem física nem psíquica."

Coreia do Sul Versus Coreia do Norte

"Para os que não sabem, mas deviam saber, estive cerca de dois anos na Coreia do Sul como adjunto do Humberto Coelho, na selecção nacional de futebol. Foram os tempos mais calmos e relaxados que vivi na minha longa vida profissional. Ser técnico de uma selecção de futebol, mesmo que se trabalhe muito, é um paraíso comparado com o inferno quotidiano que o treino de uma equipa de clube de futebol consubstancia.
Por isso, naqueles dois anos deu para muita coisa além do trabalho. Por exemplo, viajar e ler muito. Interessou-me, sobretudo, estudar a realidade sociológica da Coreia do Sul tendo o desporto como referência. Mais ainda, tentei, através do desporto, aquilatar as flutuações relacionais entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Fundamentei o meu labor heurístico em fontes tão diversas como filmes, livros, conversas e principalmente nos jornais diários escritos em inglês. E assim cheguei a algumas conclusões interessantes.
A análise do desporto na península da Coreia revela ainda os reflexos emergentes da guerra fratricida que entre 1950-1953 destruiu por completo os dois países. Podemos afirmar que o desporto vai aproximando o que os interesses políticos e militares tendem a afastar. O desporto, como arma política, serve como pano de fundo a algumas das esporádicas relações que estes dois países mantêm.
No entanto, paralelamente à dificuldade de resolver as diatribes sociopolíticas entre Sul e Norte, surge a dificuldade interna de cada país resolver as suas contradições históricas perpassadas de sangue e intolerância. Ainda hoje, custam a ultrapassar as memórias do massacre de Kwangju, em 18 de maio de 1980, quando o exército sul-coreano matou milhares de pessoas, principalmente estudantes, que se manifestavam contra o governo do ex-presidente Chun Doo-hwan, clamando contra a tutela dos USA e tocados por um certo sentimento de rendição sentimental à Coreia do Norte. Ainda hoje, veem-se frequentes manifestações de estudantes que, numa atitude naif e inconsciente, destilam ódio aos americanos e tecem loas ao regime comunista de Pyongyang.
Para a história fica que Chun Doo-hwan, após ter matado milhares, foi recebido com pompa e circunstância por Ronald Reagan. Coisas da geoestratégia e a suposição que os milhares mortos eram agentes disfarçados de Pyongyang.
A relação entre as duas Coreias assume por vezes um carácter trágico-cómico. Não raras vezes, disputas territoriais de águas originam confrontos sangrentos com vítimas letais de ambos os lados. Contudo, basta um mau ano agrícola, situação recorrente na Coreia do Norte, para de imediato os norte-coreanos pedirem, quase exigindo, o apoio do Sul que, de imediato abre a mão aos seus irmãos comunistas mitigando-lhes a fome endémica. São milhares de toneladas de leite, trigo e fertilizantes que todos os anos chegam a Pyongyang em dádivas recorrentes que visam preparar a reunificação.
As relações entre estes países irmãos apresentam contornos interessantes. Em 2000, o presidente da Coreia do Sul, Kim Dae-Jung, foi agraciado com o prémio Nobel da Paz pela realização da primeira cimeira inter Coreias. Só que essa tentativa de aproximação foi manchada por um escândalo político. Kim Jong-il só aceitou a cimeira após ter recebido 150 milhões de dólares. Este cash-for-summit foi pago usando um dos ramos da Hyundai que sempre teve facilidades de relação com o Norte, já que o fundador do conglomerado nasceu na Coreia comunista e ficou sempre afectivamente preso à sua terra natal. Este processo levou à prisão do chairman da Hyundai e ao suicídio de Chung Ju Yung, filho do fundador e profundamente relacionado com o processo, que em 2003 se lançou de alto do prédio, sede da firma.
Na sequência dessa cimeira algumas situações anedóticas se verificaram. A Coreia do Norte tem um programa de propaganda interno pleno de sofisticação. Criaram grupos de jovens controleiros que zelam pela manutenção da pureza revolucionária. Algumas desses jovens, no caso mulheres, a esquadra do aplauso (cheering squad) ao passarem por um cartaz que mostra Kim Jong-il a cumprimentar o presidente da Coreia do Sul, Kim Dae-jung, saíram do autocarro e arrancaram o cartaz considerando-o blasfemo. Aquilo que foi colocado para atenuar o clima de crispação entre as duas Coreias, foi considerado pelas jovens como atentório da dignidade do seu presidente que é quase divinizado pelos prosélitos do regime.
O desporto tem tentado estabelecer pontes relacionais entre os irmãos desavindos, mas a beligerância está atrás da porta. Em 29 de Junho de 2002, navios das armadas dos dois países abriram fogo, tendo morrido 6 marinheiros do Sul; o Norte não referiu as baixas. A batalha aconteceu nos finais do Campeonato do Mundo de Futebol, um momento de forte promoção internacional da Coreia do Sul que atingiu as meias-finais, feito extraordinário para o então incipiente futebol asiático. Analistas militares afirmam que o confronto naval foi uma atitude premeditada por parte da Coreia do Norte para desviar as atenções do sucesso internacional do vizinho do Sul.
Em Setembro de 1988, Seoul hospedou os 28ºs Jogos Olímpicos que surgem como resultante natural do milagre económico que levantou a Coreia do Sul das cinzas da destruição provocada pela fratricida guerra de 1950-53. Estes JO foram um sucesso o que provocou os ciúmes políticos dos “irmãos” do Norte. Pyongyang no final dos anos 80 ainda alimentava a ilusão de competir internacional com o Sul. Por breves momentos Pyongyang teve esperanças de boicotar os JO de Seoul. Esse desiderato chegou ao ponto de justificar a utilização de tácticas terroristas. Em 1987, a Coreia do Norte, no sentido de assustar os países estrangeiros, fez rebentar uma bomba num avião sul-coreano matando 115 pessoas. De igual forma tentou mobilizar os países “irmãos” comunistas para boicotar os jogos; isso também não resultou.
Assim, à Coreia do Norte não lhe restava outra solução que não fosse organizar um evento internacional que emulasse com os JO do país “irmão”, o que era difícil pois os JO não têm concorrente em termos de popularidade e prestígio internacional. No entanto, os norte-coreanos encontraram um substituto plausível – o Festival Mundial da Juventude e Estudantes que os regimes da área comunista organizavam periodicamente, fortemente subsidiados por Moscovo. Uma espécie de Internacional da Juventude. O programa destes festivais incluía discussões políticas, concertos de rock, competições artísticas. É lógico que todos os conteúdos tinham que ter um fundo político cujo objectivo era simultaneamente zurzir no imperialismo norte-americano e exaltar as virtudes dos regimes comunistas. Pyongyang ganhou o direito de organizar esse festival em 1989. Mas, nos finais dos anos 80, os regimes comunistas, com crescidas dificuldades económicas, tinham perdido o zelo panfletário e não estavam dispostos a gastar elevadas somas nesses exercícios de propaganda. 
Embora, sem grande motivação internacional, o festival foi um evento de grandes gastos no sentido de ultrapassar os JO de Seoul. Isso correspondeu a um esforço económico nacional imenso, sabendo-se que o PIB norte-coreano era, na altura, um décimo do da Coreia do Sul. Foi esticar a corda e gastar os escassos recursos que dispunham. Foram construídos caros complexos de apartamentos para alojar os participantes, as rações de alimentos do povo foram reduzidas em 10% para alimentar o festival. Uma série de despesas supérfluas, como a compra de 1.000 Mercedes para transportar os participantes acompanhou o início de alguns ambiciosos projectos de construção para impressionar das delegações estrangeiras, como a construção de um hotel gigantesco que não foi acabado a tempo e continua ainda por acabar. As exigências de segurança interna aumentaram os gastos. As autoridades queriam que o contacto entre o povo local e os estrangeiros fosse reduzido ao mínimo o que originava custos adicionais. Acresce que algumas delegações de países escandinavos começaram a questionar acerca dos direitos humanos na China e Coreia do Norte.
De uma forma geral o festival foi uma grande e pomposa manifestação deliberadamente tendenciada para emular com os JO de Seoul. No aspecto humano, pôde-se, malgrado as restrições impostas pelas autoridades, assistir ao contacto entre o povo e estrangeiros o que permitiu destruir alguns dos estereótipos impostos pela propaganda oficial e permitiu ao povo norte-coreano o contacto com as modas e tendências artísticas ocidentais. De igual forma, a música rock, anteriormente banida do panorama social norte-coreano como símbolo da decadência ocidental e das intenções agressoras norte-americanas, teve os seus momentos altos nas ruas de Pyongyang.
O festival teve a presença de uma estudante sul-coreana, Im Su-gyng, que contrariando a proibição oficial do seu país foi dar ao norte o que eles consideraram uma vitória política. Os estudantes, sempre eles, a assumirem posições de generosidade mesmo que eivadas de ingénua fé nos amanhãs que cantam.
Desporto e política, na dialógica pouco dialogante entre as duas Coreias, são formas atenuadas e por vezes manifestas de guerra. A Coreia do Norte exige garantias de segurança para o regime e ajuda económica em troca do abandono do seu programa de armamento nuclear. Depois de obter o que quer não abandona, antes intensifica o seu programa nuclear. Os do Sul esperam, debalde, que a atitude mude. Parece, por incrível que pareça, que o alaranjado Trump está a ser mais eficaz que os seus antecessores na contenção nuclear da Coreia do Norte. Esperemos para ver.
As crises relacionais recorrentes entre as duas Coreias têm as origens mais incríveis. Uma delas, em 1997, que originou inclusive a paragem temporária da construção do reactor nuclear “light-water”, um projecto importantíssimo para a economia do Coreia do Norte, teve origem num motivo mesquinho, mas que para os comunistas foi crime de “lesa-majestade”. O que aconteceu na realidade? Um número do jornal Rodong Sinmun foi encontrado torcido e amarrotado no caixote do lixo no dormitório dos engenheiros que trabalhavam no reactor nuclear. E depois? Podemos nós perguntar, aceitando que esse é o fim lógico dos jornais lidos. Mas não, na Coreia do Norte a atitude para com os jornais é quase de idolatria, pelo menos oficialmente, já que as páginas frontais apresentam, usualmente, a fronha “sagrada” dos grandes líderes Kim Il-sung e Kim Jong-il. Além do mais o Rodong Sinmun é um jornal especial, publicado pelo Comité Central do Partido do Trabalhadores, e cada publicação tem de ter o imprimatur do partido e do líder.
O Rodong Sinmun foi criado em 1946 e, durante os primeiros anos, foi dirigido por uma série de jornalistas soviéticos de origem coreana. A lógica editorial era idêntica da de todos os jornais de partido comunista. Os editoriais não assinados constituíam fonte de doutrina para os leitores já que eram considerados como a voz do partido. Normalmente estes jornais são “chatos como a potassa”, até para os próprios defensores do sistema totalitário, mas parece que o Rodong Sinmun passa das marcas. Os editores do jornal esclarecem o seu staff que a missão do jornal não é entreter, informar ou distrair as massas, mas sim educá-las. O Rodong Sinmun tem usualmente 6 páginas; as primeiras quatro são matéria oficial contendo relatos das acções “heróicas” dos trabalhadores, agricultores e soldados norte-coreanos. Vários textos afiançam a grandeza e sabedoria dos líderes; a quinta página é preenchida com relatos da vida infernal na Coreia do Sul, e da miséria existencial dos irmãos do Sul que vivem debaixo da patorra colonial dos States (e.g. relatos de crianças pedindo esmola para comer, estudantes vendendo o seu sangue para pagar as propinas, etc.). A última página é preenchida com notícias internacionais. Estou a ver o tipo de notícias internacionais. Faz-me lembrar aquela anedota acerca de um hipotético torneio USA-URSS em Atletismo. Os américas ganharam. O relato do Pravda afirmava: “Os imperialistas americanos ficaram em penúltimo lugar, os nossos gloriosos atletas obtiveram um honroso segundo lugar”.
O jornal também tem lugar para momentos de auto-crítica e crítica de algumas falhas do sistema que responsabilizam alguns, mas somente após o beneplácito dos editores. Ser criticado no jornal corresponde a ficar marcado com o estigma da incompetência e pode fazer perigar uma carreira profissional ou ter resultados ainda piores, como por exemplo ir passar “férias para um campo de trabalho”.
O que aconteceu aos engenheiros que amarrotaram o jornal? Retomaram o trabalho prometendo que iriam tratar o Rodong Sinmun com mais respeito? O que teria acontecido se os engenheiros tivessem limpado o cu às fuças do “grande educador”?
A esta hora estaríamos, talvez, a colher os cacos de uma guerra nuclear entre as duas Coreias.
As relações entre as duas Coreias foram quase sempre marcadas pela lógica do golpe e contra-golpe. 
Em 1966, durante o campeonato do mundo de futebol, a Coreia do Norte, vencendo a Itália atingiu, meritoriamente, os quartos-de-final. Feito inédito até então para qualquer país asiático o que arrastou imenso prestígio para o já reclusivo país governado monarquicamente por Kim Il-sung. Para a história fica que a Coreia do Norte só soçobrou perante a equipa-maravilha portuguesa de Eusébio et al., após um jogo dramático que terminou com a vitória lusa por 5-3 depois de ter estado a perder por 0-3 ao intervalo. Esse jogo marcou um dos momentos mais altos da nossa história desportiva e catapultou Eusébio para o areópago dos heróis do desporto internacional.
A Coreia do Norte conseguiu, com esse feito, grande proeminência internacional o que provocou um estado de “ciumeira galopante” na Coreia do Sul. Os anos sessenta caracterizaram-se por uma luta incessante entre o Norte comunista e o Sul capitalista, valendo qualquer situação ou oportunidade para exprimir a superioridade de um lado sobre o outro. Nesse cadinho efervescente de animosidade social e política era óbvio que o Sul tentaria a resposta a esse êxito marcante do futebol norte-coreano.
Que fazer? A célebre pergunta leninista foi respondida de forma firme e eficaz pelo poder político do Sul. O temível braço secreto da ditadura militar então vigente – a KCIA (Korean Central Intelligence Agency), famosa pela “arte” de torturar os dissidentes políticos, ficou encarregada de organizar a resposta futebolística do Sul à repentina emergência do Norte. Interessante esta responsabilização dos serviços secretos pela organização de uma equipa de futebol, o que demonstra a importância política desta modalidade desportiva.
Assim, a KCIA pegou nos vinte melhores jogadores da nação visando não só suplantar o Norte como transformar a Coreia do Sul no baluarte supremo do futebol asiático, posição que foi conseguida com o quarto lugar obtido no Campeonato do Mundo de 2002. É óbvio que a organização conjunta desse campeonato entre a Coreia do Sul e o Japão ajudou a atingir esse desiderato, como ficou demonstrado pelos “ventos” favoráveis que em algumas ocasiões sopraram a favor da Coreia do Sul.
A equipa então formada não era um simples agrupamento de desportistas, mas um verdadeiro “comando” político que recebeu, inclusivé, um nome de guerra – Yangji que significa “terra iluminada pelo sol”. As palavras mobilizadoras tinham um forte cunho bélico que anunciavam uma verdadeira guerra contra o Norte, em que as armas e baionetas eram substituídas por uma bola e um campo relvado. Durante três anos os jogadores foram literalmente sequestrados pela KCIA, sujeitos a treino intenso e cuidados médico-nutricionais especiais entre os quais se salienta a ingestão de vitaminas expressamente compradas nos USA e transfusões de soro fisiológico durante a noite nos momentos de maior fadiga. Os jogadores foram recompensados com robustos ordenados, prendas variadas outorgadas pelo chefe da polícia política e foi-lhes considerada como prestação do serviço militar obrigatório, que era então de três anos, a estadia na selecção nacional.
Eles diziam que faziam tudo por nós...desde que ganhássemos jogos, afirma Cho Jong-soo, um dos defesas da equipa hoje com 59 anos de idade. Os jogadores eram mimados com várias benesses, mas era-lhes exigido uma dádiva absoluta à equipa. Durante as raras folgas que tinham eram seguidos por agentes secretos da KCIA, descobrindo-se facilmente qualquer atitude menos consentânea com a nobre missão patriótica que lhes estava incumbida, como por exemplo beber um copo com os amigos.
A prática de parada e resposta em relação ao Norte também marcou a preparação da equipa. Quando os homens da KCIA souberam que a Coreia do Norte tinha enviado a sua equipa para fazer estágios na União Soviética e Jugoslávia logo providenciaram no sentido de fazer estagiar a sua equipa em vários países da Europa Ocidental. Só duma vez ficaram 105 dias fora do país.
O presidente Park Chung-hee, que tomou o poder através de um golpe militar em 1961 e que dirigiu o país com mão de aço durante 18 anos, manifestou publicamente um claro apoio à equipa tentando “matar dois coelhos com uma só cajadada”, visando por um lado cimentar o fervor nacionalista contra o comunismo e por outro criar uma manobra de diversão em relação à sua direcção autoritária. Parece que a tríade Fado-Fátima-Futebol que esteve na base da estruturação da esfera noológica lusitana durante muitos anos transformou-se na Coreia do Sul na díade Futebol e Autoridade. Coitado do futebol, sempre aproveitado como um dos “ópios do povo” quando é simplesmente um jogo com uma bola que dá momentos de sonho e evasão tanto ao mais comum dos mortais como ao intelectual mais evoluído. A culpa não é do futebol – é dos homens."

Benfiquismo (MCCXXVI)

Inconfundível...

Raúl de Tomás

É oficial, RdT no Benfica!!!
Não é o substituto do Félix nem do Jonas... é um jogador de características diferentes, parece-me mais o Rodrigo: velocidade, garra, força e facilidade de remate. Agora, não é um criativo, normalmente recebe a bola vira-se para a baliza, assistências para golo são raras...!!! Em relação ao Rodrigo, tem melhor movimentos dentro da área... E curiosamente o Rodrigo também veio do Real Madrid!!!

Eu sei que o pessoal, está à espera de um novo Félix, mas isso dificilmente irá acontecer. O mais provável é jogarmos no mesmo Modelo, mas com jogadores de características diferentes, mudando as movimentações... Seferovic/RdT será a dupla mais provável... sendo que jogadores como o Caio ou o Chiqunho, podem ser a opção para um 'esquema' diferente, com os avançados a jogarem em 1+1 em vez dos dois em paralelo...

Não é fácil convencer jogadores da Liga Espanhola (Inglesa, Alemã ou Italiana) a virem para Portugal. O Grimaldo é uma das excepções, e o facto de as boas exibições no Benfica do esquerdino, não serem relevadas em Espanha, é um bom exemplo de como pode ser 'perigoso' sair de Espanha, para quem tem ambições de chegar à selecção!!!

Não foi um jogador barato, mas grande parte do pagamento, irá ser efectuado com a percentagem que o Benfica tem a receber do Jovic... assim 'dói' menos! Mas o Jiménez também não foi barato!!! E os números do RdT na La Liga, são realmente muito bons, ainda por cima numa equipa de fundo da tabela!!!

Comunicado: saída do Félix

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD (“Benfica SAD”) informa, nos termos e para o efeito do disposto no artigo 248.º-A do Código dos Valores Mobiliários, que chegou a acordo com o Club Atlético de Madrid, SAD para a transferência a título definitivo dos direitos desportivos do jogador João Félix Sequeira pelo montante de € 126.000.000 (cento e vinte seis milhões de euros).
Mais se informa que o Club Atlético de Madrid, SAD pagará a pronto um valor de € 30.000.000 (trinta milhões de euros) e que a Benfica SAD efectuará uma operação de desconto sem recurso dos restantes € 96.000.000 (noventa e seis milhões de euros), sendo os custos financeiros associados a esta operação de € 6.000.000 (seis milhões de euros).
Desta forma, a Benfica SAD garante o recebimento do montante de € 120.000.000 (cento e vinte milhões de euros) no momento da transferência do jogador.
Por último, de referir que os encargos com os serviços de intermediação relativos a esta transferência ascendem a € 12.000.000 (doze milhões de euros) e que o Club Atlético de Madrid, SAD será responsável pelo pagamento do valor do Mecanismo de Solidariedade devido a clubes terceiros, o qual não poderá ser deduzido ao montante da transferência acordado com a Benfica SAD acima mencionado."