Últimas indefectivações

domingo, 27 de maio de 2018

6.ª Taça de Portugal

Benfica 31 - 24 Sporting
(15-10)

Atitude, muita atitude... assim se explica esta vitória, que eu duvidada ser possível!!!
Enquanto os Lagartos pensaram que após bateram os Corruptos nas Meias-finais o Caneco estava ganho, o Benfica entrou a 200%... Estivemos sempre na frente, e quase sempre com uma vantagem 'confortável' e isso também foi importante, até porque a meio da segunda parte, o Sporting acabou por 'perder a cabeça', facilitando a nossa vitória...
Se calhar o Cash-Ball também teve alguma influência, até porque a arbitragem foi 'equilibrada', o que é raro... mas nada pode tirar o mérito aos nossos jogadores, que acreditaram, e tiveram uma atitude inexcedível durante todo o jogo...

A secção com menos 'armas' (dinheiro) para competir com os adversários, acaba a época, com a vitória na Taça de Portugal, indicando que com um pouquinho mais de atenção, podemos lutar pelo título máximo nacional, sem um handicap tão grande, como tem acontecido!!!

Melhor... mas ainda falta muito!!!

Benfica 77 - 75 Corruptos
12-23, 21-15, 22-17, 22-20

Final empatada, e agora temos que ir pelo menos ganhar um jogo no antro Corrupto.
Começamos novamente desastradamente... mas conseguimos a remontada. Mas mais do que a reviravolta, fiquei razoavelmente satisfeito, por termos conseguido aguentar uma vantagem pequena durante bastante tempo...
Voltámos a perder a luta dos ressaltos, mas fomos mais agressivos nos ressaltos ofensivos...



PS1: Em Birmigham, na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Atletismo, acabámos por conquistar a Prata! Foi pena, o Ouro e respectivo Europeu esteve ao nosso alcance, chegámos a passar para a frente, mas as ausências acabaram por ser demais... O facto de alguns atletas que competiram estarem a recuperar de lesões, e não estarem a 100% também não ajudou!!!
Parabéns para o Vital da Silva, com um novo recorde pessoal no Martelo: 73,26m...

PS2: Já estão definidas todas as equipas que vão participar na 3.ª pré-eliminatória da Champions: Fenerbahçe, Spartak Moscovo, Standard Liège, Slavia de Praga... e ainda dois das seguintes equipas: Basileia, Ajax, Paok ou Sturn Graz. O Dinamo de Kiev como será sempre cabeça-de-série não poderá ser nosso adversário na 3.ª pré-eliminatória...
Recordo que depois desta eliminatória, ainda haverá o Play-off de acesso... Destas equipas, só duas terão direito a disputar a fase de grupos da Champions!

Iniciados - 8.ª jornada - Fase Final

Corruptos 0 - 1 Benfica


A vitória era 'obrigatória'! Depois de dois empates comprometedores, só podíamos vencer... E mesmo com um golo inacreditavelmente anulado, não perdemos a esperança com o jogo praticamente a terminar, marcámos o golo da vitória...

Faltam duas jornadas, temos 2 pontos de vantagem, recebemos a Académica e vamos a Alcochete... com o Sporting a ter uma deslocação complicada na próxima jornada, a Braga! Creio que na 'pior' das hipóteses iremos a Alcochete, a precisar de um empate... Está tudo nas nossas mãos!!!

Ricos e pobres

"O caminho da Rússia vai preencher as nossas atenções e lutar, permita-se a ousadia, pela atenção mediática com a crise do Sporting

1. Com a final da Liga dos Campeões ontem disputada em Kiev, e o seu espectáculo atraente, terminou a época do futebol de clubes. Foi uma final de milhões. Num país dividido e com muitos, mas muitos pobres. O certo é que estão definidos os clubes que directamente à próxima edição desta Liga cada vez mais rica, aqueles que vão lutar por nela participarem - como é o caso do Benfica que, aliás, tem de fazer tudo para entrar em Agosto no pote 2 do sorteio da fase de grupos - e, igualmente, aqueles que entram na Liga Europa e os outros que procurarão, igualmente, o acesso aos múltiplos grupos desta competição cujo vencedor - o Atlético de Madrid - conquistou o direito de entrar directamente na Liga dos Campeões. Agora é o tempo das selecções nacionais com o Mundial da Rússia a aproximar-se a passos largos. O caminho da Rússia vai preencher as nossas atenções e lutar, permita-se a ousadia, pela atenção mediática com a crise do e no Sporting. É que, aqui, a palavra crise é bem rigorosa já que é mais associada a conflito do que a mudanças. Mesmo que elas estejam a decorrer. Acredito que seria útil que alguns que acompanham a realidade desportiva e aqueles outros que, num ápice e com um conhecimento fulgurante, analisam essa mesma realidade também lessem, mesmo que fosse de um fôlego, um recente livro de Jorge Valdano com este interessante título: Futebol: o jogo infinito! E aí, leva-nos a Rodolfo Braceli que na sua reflexão acerca «do futebol que somos: a condição argentina» nos lembra que o futebol «espelha a violência, espelha o nacionalismo, espelha o gangsterismo, o fracasso, a existência». E espelhando isto tudo é deformante já que motiva, multiplicando, o exagero. O que é importante, em momentos de conflito como o que, mesmo bem de fora, estamos a assistir, é perceber a valentia e suscitar a serenidade. É aceitar, no limite, a ilusão e motivar a confiança. É multiplicar a determinação e chamar à colação a tranquilidade. Sabendo que a tempestade impõe largos momentos de calma. Que estão para além de actas, actos ou factos! No futebol, como em outras actividades, há que ter uma grande tolerância com a pressão. Por mais imensa e intensa que seja. Sabendo, de experiência vivida e sentida, que há personalidades que, mesmo tendo algum conhecimento do fluir existencial, estão a viver agora alguns momentos dolorosos após instantes de prazer. É que a vida é prazer e dor. Como todos sabemos. E no futebol em particular. Aqui o mencionado lapso vai do bestial a besta. Num instante!

2. No futebol português a dança dos treinadores é bem relevante e interessante. Neste momento dos dezoito clubes participantes na próxima principal competição apenas nove mantêm os treinadores que terminaram a época. Ou seja metade dos clubes ou já mudaram ou ainda não confirmaram a anterior equipa técnica. As mudanças são muitas e não se sente nem se pressente que haja milhões - como há na Liga inglesa - seja para salários de treinadores seja para a contratação de jogadores. E o relevante é que, por exemplo, Vítor Oliveira aceita, uma vez mais, - e sempre com a sua ousadia desafiante - descer de divisão e vai treinar o Paços de Ferreira com o assumido sonho de voltar a subir de escalão! O que ressalta é que treinadores que mereciam respeito - pelo que fizeram e pelo que silenciaram - como José Couceiro, foram despedidos e outros como Luís Castro sentem bem reconhecido o seu trabalho. É a meritocracia a ganhar espaço neste âmbito do futebol português. O que importa realçar.

3. O Benfica sabe que importa ter a equipa estruturada no arranque de Agosto, já que tem de fazer tudo, e ter tudo, para conquistar o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Benfica já está a contratar jogadores que podem lutar pela efectiva presença no plantel principal e bem sabe que o Mundial da Rússia pode proporcionar, pela visibilidade indiscutível e por titularidade alcançadas, assédios significantes a alguns dos seus jogadores que marcam presença, em diferentes selecções, nesta competição global. E, por exemplo, da Sérvia ao México, da Argentina a Portugal os olhos dos benfiquistas vão acompanhar com fervor a selecção de Fernando Santos e, porventura, com saudade outros marcos de selecções que vão dominar as nossas atenções ao longo da segunda quinzena de Junho. Pelo menos, e em força, em tempos de São João e de São Pedro. Nesta época desportiva o Benfica não se pode distrair em Agosto. E no final desse mês pode acertar detalhes após sorrir com a presença no atractivo sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões!

4. Sabemos, com Valdano, que o futebol é um jogo emocionante que, no entanto, não tem por vezes coração. Vimos isso ontem na final de Kiev como vimos no domingo passado no Jamor com a entusiasmante vitória do Desportivo das Aves. Aqui houve muito coração. Alma intensa. Um localismo contagiante. Em que não houve a transformação dos adeptos em clientes. Em meros utentes de um estádio. E é esta clivagem que marca o nosso tempo do futebol e que, sei bem, a nossa Federação nas suas oportunas reflexões não deixa de aprofundar e cientificamente suscitar. Entre nós vivemos, com poucas excepções, um jogo de pobres que move uma ilusória indústria de ricos. O nosso futebol caminha a passos largos para ser liderado pelos principais operadores de conteúdos. E, aqui, o regulador vai ser a Federação e já não vai ser a Liga. Aqui a Federação vai ser o suporte dos clientes - utentes já que os clubes na e da Liga vão estar sujeitos às subordinações daqueles que lhes anteciparam as receitas em verdadeiro estado de necessidade. Na certeza que tenho que no meu tempo de menino a bola era o centro da minha atenção de meus queridos netos é ter, por exemplo e por excelência, a camisola de Cristiano Ronaldo. E esta diferença, que também chega às lideranças do futebol - sem que muitas delas se apercebam - transforma o adepto em mero consumidor, qualquer que seja o produto que o motiva. E esta realidade, que chega aos grupos organizados de adeptos e aos seus aparelhos comerciais, está para além de qualquer sonhada ou proclamada Autoridade. É que antes de mais importa perceber que onde não há confiança não há tranquilidade e onde não determinação há ilusão. Já que os problemas não se resolvem com meros anúncios. Resolvem-se sim com a consciência da clivagem, entre nós, entre o jogo de pobres e a indústria de ricos. Dos velhos e dos novos ricos. Principalmente de alguns destes últimos que julgam que tudo dominam e condicionam! Julgam mesmo!

5. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

Desmontando a ladainha

"As próximas semanas serão marcadas pela tentativa de BdC atribuir a outros a culpa de uma crise que ele não só abriu como sempre alimentou.

Bruno de Carvalho vive - e sabe-o - o momento mais delicado da sua presidência. Aliás, se dúvidas existissem sobre ter o presidente do Sporting noção de que ultrapassou todos os limites, elas ficam desfeitas pelos últimos e sucessivos passos atrás de alguém que ao longo dos últimos cinco anos preferiu sempre a política do antes quebrar que torcer. E mais evidente fica a fragilidade de BdC quanto se percebe estar a fugir ao escrutínio dos sócios, logo ele que esteve, neste capítulo, sempre ao ataque, utilizando assembleias gerais para reforçar um poder que nunca tinha estado, até agora, verdadeiramente em causa.
É impossível dizer, a esta distância, que Bruno de Carvalho vai levar, no dia 23 de Junho, um cartão vermelho dos sócios do Sporting. O presidente leonino revelou-se, sempre, um mestre na manipulação das massas e as próximas semanas serão passadas a empurrar as culpas, em comícios disfarçados de sessões de esclarecimentos em que repetirá uma ladainha que convém desmontar:
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que, na noite do jogo em Madrid, criticaram de forma absurda os jogadores, dando início ainda inimagináveis entre Direcção e plantel;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que ameaçaram com processos disciplinares aqueles que ousaram fazer-lhe frente;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que, a menos de 24 horas do jogo com o Paços de Ferreira, reiteraram as críticas a futebolistas e equipa técnica, criando um ambiente em Alvalade que deixou, desde logo, evidente que Alvalade começava a perder a paciência para o seu presidente;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que, a 24 horas do encontro com o Marítimo, que decidia a possibilidade de chegar à Liga dos Campeões da próxima época, voltaram a carregar contra jogadores e treinador;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que, na semana que antecedeu a final da Taça de Portugal, informaram o treinador que estava despedido sob ameaça de um processo disciplinar com suspensão que, ainda hoje, não se sabe se avançará ou não;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que tiveram declarações profundamente infelizes depois das agressões de que o plantel foi vítima em Alcochete;
- Não foram os jornalistas nem os seus críticos (os de sempre e os mais recentes) que, a 24 horas da final da Taça de Portugal, veio culpar, mesmo que indirectamente, os jogadores pelas agressões de que foram vítimas.
Bruno de Carvalho pode dar as cambalhotas que quiser, pode não se demitir (está no seu direito), mas não pode fugir às suas responsabilidades. E, por ter culpas evidentes numa crise tão profunda e de consequências imprevisíveis, merece ficar nas mãos dos sócios, que são - como o próprio sempre fez questão de frisar - os verdadeiros donos do clube. Terão de ser eles a decidir que futuro querem para o seu Sporting, assumindo depois as consequências dessa decisão. Simples. Aí se verá, então, se a estratégia de vitimização pensada pelo ainda presidente chegará para convencê-los de que tudo o que se tem passado se trata, apenas, de uma perseguição a quem não teve problemas em intitular-se de enfant terrible do futebol ou se Bruno de Carvalho ficará na história apenas como um menino mimado que faz birra sempre que alguém não diz yes aos seus caprichos, por mais absurdos que sejam.
Na história ficará sempre Bruno de Carvalho. Independentemente do que acontecer no dia 23, como o presidente que desperdiçou, em apenas alguns meses, um apoio que quase chegou aos 100 por cento. Talvez tenha sido esse, afinal, o seu problema."

Ricardo Quaresma, in A Bola

As 'patellogastropodas'

"A lapa é um molusco que se agarra a uma rocha e não a larga. Há lapas que dizem que a nada estão agarradas, mas todos veem que sim.

A lapa é um molusco que se agarra a uma rocha e não a larga. Há lapas para todos os gostos. Há lapas gordas que fazem curas de emagrecimento, entrando numa espécie de dietas iô-iô. Há lapas bipolares. Afáveis ou histriónicas, consoante lhe dá mais jeito. Há também lapas manipuladoras, que mentem com quantos dentes têm. As mais perigosas são as que juntam bipolaridade e manipulação. Têm uma áurea, quando agarradas à rocha, que encantam os mais frágeis, pois são extremamente sedutoras. Mas lapa que é lapa não desgruda. Está agarradinha à rocha e não a larga. Podem todos vir de faca espetada, prontos para a retirar da rocha, que ela não liga: continua agarrada, embora todos vejam que sim. Até aqueles que antes gostavam de lapa e agora começam a abrir os olhos e a (quase) odiá-la. Dizem que é muito difícil remover uma lapa através de força bruta e que o seu tempo de vida costuma ser longo. O seu nome científico é patellogastropoda. E a um grupo de lapas chama-se, na gíria, Conselho Directivo.

depois a lapa francesa. É cínica. Finge que vai correr e pára. Finge que olha para a direita e olha para a esquerda. Apareceu ontem uma assim em Kiev. Chamemos-lhe a lapa de Lyon. Era um lançamento à mão: fácil. Aliás, facílimo. Mas a lapa francesa, plantada ali como se estivesse agarrada à rocha, levantou a perna e a bola foi nela bater. Depois, obediente, decidiu beijar as redes.

ainda a lapa galesa. Que é diferente. Forte e poderosa. Esteve agarradinha ao banco durante 61 minutos. Patellogastropoda que parecia não querer abandonar a rocha. Até que saltou. E de repente, parecendo sair de um filme de banda desenhada, ergueu-se, bicicletou pelos ares e, marcando um dos mais belos golos da história, tornou-se a lapa do jogo. Minutos depois, soltou-se ainda mais e, pimba, mais um.

Finalmente, a lapa madrilena. A maior lapa de todas as lapas: 13 Champions no total. Três de rajada. Quatro nas últimas cinco. Primeiro tri desde 1976. Se isto não é uma patellogastropoda, que será uma patellogastropoda? Mas a lapa madrilena é, afinal, um grupo de lapas. Ou seja, um Conselho Directivo: Zidane, Ronaldo, Benzema, Bale. ZZ tornou-se a lapa das lapas: três Champions de rajada, algo que nenhum treinador conseguira. E igualou Bob Paisley e Carlo Ancelotti, únicos que venceram a prova por três vezes (não seguidas). E que dizer da lapa madeirense? Quinta Champions. Mais só Real Madrid (13), Milan (7) e Paco Gento (6). A patellogastropoda das patellogastropodas."

Rogério Azevedo, in A Bola

'Os Possessos'

"A história é do Dostoiévski: rapaz bem-amado foi em audiência ao governador de uma província russa, velho petrificado na sua dignidade quase sobre-humana. Aproximou-se, inclino-se reverente - e, com sorrateira dentada, arrancou-lhe metade da orelha. Ele, empedernido na sua vetustez, nem em aí ciciou - e o rapaz sai sem que o guarda suspeitasse do que fizera. Ao saber-se, pôs-se o povo em escarcéu a matutar em justificações - e a  ninguém ocorreu que fora apenas um simples acto de loucura!
A história é de Os Pessessos - esse genial romance que mostra como um revolucionário pode acabar como um tolo a mortificar-se sem entender que o inferno está dentro de si (e sem de lá querer sair). Mas é mais: é o romance onde demónios entram pelas gretas de almas em dissolução - e uma festa é interrompida por fogo posto, ouvindo-se o clamor:
- O fogo não está nos telhados, está na cabeça das pessoas.
É o romance em que, perante o horror a despegar-se, a multidão formiga em torno do culpado ou na ânsia do bode-expiatório - e em murmúrio se solta:
- Tudo o que aconteceu, aconteceu de modo acidental... Eles estavam bêbados e por isso irresponsáveis...
É o romance em que o terror da chantagem se apaga no restolho da lucidez - e se revela à mulher atormentada que aparece de vestido amarrotado e botões desabotoados, amolgada do seu fado:
- Eu não os matei. Fui contra... E só sabia que eles acabariam mortos...
É o romance onde há psicopatas e dissolutos, esfaqueadores e criminosos:
- Todos os meios são justificáveis para se atingirem os fins da revolução.
É o romance onde há o abastardar do bem pela ilusão do mal - falsos profetas em embustes e apóstolos em vazios de carácter. E, para mim, bem mais perturbador do que eu ver (amiúde) em Bruno de Carvalho o espírito de comedor de orelha - é ver este Sporting (que não pode ser o Sporting) atacado pelo pior desses outros demónios do Dostoiévski."

António Simões, in A Bola

Dimensão europeia (III)

"Este ano a Comissão Europeia publicou um relatório sobre a evolução do mercado de transferências no futebol desde 2013 em termos das principais tendências económicas e também do ponto de vista do enquadramento legal.
A transferência de jogadores é uma construção económica e jurídica complexa. De facto, enquanto as regras e regulamentos desportivos são projectados para preservar a competitividade, o volume e o nível dos valores das transferências (especialmente no mercado de futebol) têm consequências económicas significativas. Neste sentido, o estudo leva em conta o enquadramento jurídico fornecido pela UE na abordagem da peculiaridade e da dupla natureza das transferências: uma forma de manter a competição justa e equilibrada, bem como um actividade económica. Para a UE, o sistema de transferências é justificado pela especificidade do desporto, conforme estabelecido no Livro Branco sobre o Desporto de 2007, que reconhece que este mecanismo desempenha um papel importante no desenrolar dos desportos colectivos.
O estudo termina com oito recomendações. Apostar no processo de diálogo social existente no futebol profissional para abordar de forma mais directa as questões ligadas à transferência de jogadores. Reformular o Regulamento da FIFA sobre intermediários; Melhorar a transparência no mercado do futebol; Aumentar o percentual do mecanismo de solidariedade e fortalecer a sua execução; Abordar a questão das bridge transfers; Melhorar as regras sobre menores e jovens jogadores; Estabelecer um imposto de luxo sobre os valores de transferências que vão para além de um determinado montante."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

As minhas memórias da nossa selecção

"O mundial está aí à porta e decidi revisitar os últimos anos da selecção nacional e ver o que mais me ficou na memória. Não sei a matrícula do meu carro de cor, mas lembro-me daquele golo de cabeça do João Pinto em 2000.

Em vésperas de mais um Mundial, vou tentar puxar pela memória e ver o que me lembro dos últimos mundiais e europeus de futebol, numa bonita cronologia do percurso da selecção das quinas, que tanto sofreu até chegar ao tão famigerado título de campeão europeu.
Mundial 1998
Ficámos em casa a descansar, ainda a ressacar do chapéu do Poborsky no Euro, dois anos antes.
Euro 2000
Ninguém acreditava que Portugal pudesse fazer algo de jeito num grupo com Inglaterra, Alemanha e Roménia. Fazer um ponto contra a Roménia já seria bom para o espírito pessimista do fado tuga. Começámos a perder por 2-0 contra a Inglaterra e tememos a goleada, já se ouvia nos cafés “Mais do mesmo, vamos levar abada, mais valia não termos ido”. De repente, Figo inventa um golo, João Pinto faz um dos melhores golos de cabeça que já vi, e Nuno Gomes mata a partida. Começou a euforia e a história feliz em jogos contra a Inglaterra. Ganhámos à Roménia e demos 3-0 à poderosa Alemanha com a equipa de suplentes, com Sérgio Conceição a fazer o jogo da vida dele. Tudo era possível e teria sido se o nosso cabeça amarela – ainda antes de existirem YouTubers – não metesse a mão na bola. Todos gritámos a dizer que era roubo e que o árbitro estava comprado, mas quando vimos a repetição encolhemo-nos no sofá e ofendemos a mãe do Abel. Viemos para casa de cabeça erguida, mas com um sabor amargo na boca. A França passou a ser a nossa inimiga – já o havia sido em 1984 – mas à qual, anos depois, iríamos servir o prato mais frio de sempre.
Mundial 2002
Grupo acessível com uma geração de ouro no seu auge. Levámos na boca de um país que chama futebol a um jogo que se joga com as mãos. Goleámos a Polónia para depois perder contra os anfitriões, Coreia do Sul. O João Pinto trocou os cabeceamentos pelos murros no baixo ventre dos árbitros e viemos para casa envergonhados.
Euro 2004
Chegou Scolari e com ele uma onda de apoio à selecção nunca antes vista, ajudada pelo facto de jogarmos em casa. A euforia esmoreceu quando levamos na boca dos gregos. Demos a volta ganhando à Rússia, mas ninguém acreditava que ganharíamos à Espanha até que Nuno Gomes, à meia volta, nos meteu nos quartos de final onde ganharíamos à Inglaterra (mais uma vez), desta feita nos penáltis com Ricardo, o guardião sem luvas, a marcar o último tento, meio carambola e sem querer, e a dar-nos a alegria. Seguiu-se a Holanda que levou na boca como gente grande e chegámos à final com a Grécia. Era desta que iríamos ser campeões europeus, não havia dúvidas… perdemos. Tivesse a bola no poste do Figo entrado e a história seria outra, mas para essa história fica que perdemos em casa, duas vezes e no espaço de um mês, contra a Grécia que nunca mais vai fazer uma destas. Orgulhosos, mas insatisfeitos, recolhemos timidamente as bandeiras das janelas.
Mundial 2006
Passámos a fase de grupos meio a brincar, encostámos a Holanda e a Inglaterra mais uma vez (até começámos a ter pena deles) e esbarrámos com a França onde a história se repetiu. Voltámos com um honroso 4º lugar e assumimo-nos, finalmente e sem medos, como uma das potências mundiais no futebol.
Euro 2008
Vencemos o grupo que era acessível. Apanhámos a Alemanha, demos luta, mas viemos mais cedo para casa. Foi giro.
Mundial 2010
Viemos com a vitória moral de termos perdido contra a toda poderosa Espanha, que acabou por se sagrar campeã mundial. Perdemos 1-0 nos oitavos com um golo em fora de jogo. Viemos com aquela sensação que nos tranquiliza “Fomos roubados!”. Ah, e demos 7-0 à Coreia do Norte, mesmo a arriscar levar com uma ogiva nuclear.
Euro 2012
No chamado grupo da morte, conseguimos passar e chegar às meias finais, onde perderíamos, novamente, com a Espanha que se viria a sagrar, mais uma vez, campeã da europa. No fundo, se a Espanha calha em não existir, éramos capazes de ter já três ou quatro títulos. Começávamos a ficar mal-habituados, mas no mundial a seguir voltaríamos à terra.
Mundial 2014
Nem me lembro bem, sinal que devemos ter jogado mal. Sei que viemos para casa mais cedo, ainda na fase de grupos, mas depois da tempestade viria uma bonança não anunciada.
Euro 2016
A desconfiança era generalizada e ninguém acreditava, mas… E Foi o Éder que os… deixou muito aborrecidos. Finalmente, a vitória, que não vamos mentir, foi ainda mais saborosa por ser uma final contra a França, em França. Foi o pináculo da vingança. Foi o gaspacho dos gaspachos! Vergámos o nosso eterno inimigo em casa com o mais improvável dos heróis: Éder e a sua coacher motivacional. Um percurso de empates, com equipas relativamente acessíveis, mas o que é que isso interessa? Fomos campeões!
Agora, perdemos o pessimismo humildezinho que nos caracterizava e estamos mais confiantes. Sonhamos, até, com o título mundial apesar de não estarmos nos favoritos e de andarmos a jogar que nem cepos. O futebol tem esse poder de nos subir a autoestima e o de treinar a memória, já que não sei a matrícula do meu carro, mas lembro-me de todo este percurso e muitos outros detalhes que não couberam. A selecção tem o condão de nos unir, mesmo com cores clubísticas diferentes; o futebol tem muitas coisas más, como temos visto ultimamente, mas é das poucas coisas que tem esse dom de nos juntar a todos, sem excepção, em torno de algo. Pode ser triste que apenas nos unamos por causa do futebol, mas ao menos sabemos que é possível.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Se quiserem recordar isto e muito mais, podem aceder a Chegámos lá, cambada! onde podem recordar toda a história da nossa selecção.
Podem ver o primeiro episódio de um documentário sobre a Selecção Nacional: Saltillo, 1986. O 25 de Abril do futebol português ou algo muito parecido."

Violência doméstica

"Bruno de Carvalho toma posse da presidência do Sporting em Março de 2013, e pouco depois, em maio, despede o treinador Jesualdo Ferreira, apesar de este ter feito um trabalho meritório: tomou conta da equipa no final da época, quase em risco de descer de divisão, e acabou o campeonato em 7.º lugar.

O despedimento suscita dúvidas a muitos sportinguistas – mas a contratação de um treinador em ascensão, Leonardo Jardim, fá-las esquecer.
Bruno de Carvalho ordena uma auditoria à gestão dos antecessores. A iniciativa provoca um natural sobressalto no clube, pois significa pôr em causa sportinguistas respeitados, mas a maioria compreende que o novo presidente não queira arcar com responsabilidades que pertencem a outros – e aceita a iniciativa.
Leonardo Jardim acaba a época em 2.º lugar, o que representa uma grande melhoria em relação ao ano anterior, mas o treinador sai. Os sportinguistas estranham, mas percebem que Jardim não poderia resistir a uma proposta do Mónaco. E o novo treinador, Marco Silva, agrada aos adeptos.
Marco Silva consegue um honroso 3.º lugar e ganha a Taça de Portugal, mas Bruno de Carvalho despede-o com um pretexto infantil. Os sportinguistas não gostam. Mas Bruno de Carvalho, num golpe considerado genial, consegue a contratação de Jorge Jesus, ex-treinador do Benfica. E tudo esquece.
Em Outubro de 2015, Bruno de Carvalho revela o ‘caso dos vouchers’, que consiste na oferta de senhas de refeição e camisolas do Benfica a árbitros que vão arbitrar ao estádio da Luz. As acusações não parecem muito graves – mas os sportinguistas aplaudem, porque os ataques ao Benfica são sempre bem-vindos em Alvalade.
Em Março de 2017, Bruno de Carvalho é reeleito com 86% dos votos.
Bruno de Carvalho usa abundantemente as redes sociais para atacar os adversários, mas tolera mal as críticas. E em maio anuncia a saída do Facebook, desiludido com a ingratidão dos adeptos: «Depois de uma profunda análise, creio que chegou a hora de abandonar o Facebook. A minha vontade de proximidade com o universo leonino acabou por ter um lado perverso que não pretendo ver aumentado». Muitos sportinguistas respiram de alívio, pois o Facebook estava a tornar-se incómodo mesmo para os apoiantes do presidente.
1 de Julho de 2017. Bruno de Carvalho casa com pompa nos Jerónimos. Há convidados que são desconvidados à última hora, por se terem entretanto desavindo com o noivo.
Bruno de Carvalho volta inesperadamente ao Facebook em fins de Julho, e regressa a instabilidade ao Sporting.
Em princípios de Fevereiro de 2018, Bruno de Carvalho inicia uma guerra de morte contra o Conselho Leonino, onde se ouvem vozes críticas – a que o presidente chama «sportingados». E em 5 de Fevereiro ameaça demitir-se. Mas depois admite ficar se os sócios lhe derem uma maioria de dois terços numa espécie de plebiscito para mudança dos estatutos, que lhe reforça os poderes.
Em 17 de Fevereiro, o ‘plebiscito’ dá a Bruno de Carvalho 87% dos votos. Embalado pelo triunfo, diz aos sportinguistas para não comprarem jornais nem verem televisão. Os jornalistas presentes são ameaçados. Os sportinguistas acham o apelo do presidente irrealista, mas percebem que ele reaja, porque é alvo de muitos ataques da imprensa. Nas vésperas do jogo com o Braga, em fins de Março, Bruno de Carvalho chama «labrego, trolha e aldrabão» ao presidente daquele clube. Muitos sportinguistas não se identificam com esta linguagem, mas admitem que são as guerras do futebol.
O Sporting perde 2-0 com o Atlético de Madrid, e no próprio dia, 5 de Abril, Bruno de Carvalho faz no Facebook críticas violentas à equipa. Os jogadores respondem em comunicado, mas Bruno chama-lhes «crianças mimadas» e suspende toda a equipa de futebol. Depois recuará na decisão.
No domingo seguinte, 8 de Abril, Bruno de Carvalho é assobiado no estádio de Alvalade. É a primeira vez que os adeptos o condenam publicamente. Gera-se grande confusão. O presidente, queixando-se de dores na coluna, volta a falar da «ingratidão» dos sportinguistas.
Bruno de Carvalho anuncia saída do Facebook em fins de Abril. Os seus defensores voltam a respirar de alívio.
A 5 de maio, em Alvalade, no início do jogo contra o Benfica, uma das claques atira tochas ao guarda-redes Rui Patrício, considerado um dos cabecilhas da ‘revolta’ contra o presidente, o que é interpretado como um apoio a Bruno de Carvalho.
No Facebook do pai de Bruno de Carvalho surgem, a 7 de maio, críticas a Jorge Jesus, por causa do empate com o Benfica, perguntando se ele quer um «aumento de ordenado».
A 13 de maio, o Sporting perde no Funchal e falha o acesso à Champions. Os jogadores são insultados por membros da claque no aeroporto da Madeira e depois ameaçados na garagem de Alvalade. Bruno de Carvalho não se manifesta.
14 de maio. Em reunião em Alvalade, Bruno de Carvalho despede verbalmente o treinador Jorge Jesus e toda a equipa técnica.
15 de maio. Adeptos encapuzados invadem Alcochete e agridem treinador e jogadores. Bruno de Carvalho diz que «foi chato», mas que as pessoas têm de se habituar a estes crimes.
Tudo isto se passou exactamente como nos casos de violência doméstica.
Nessas situações, o homem dá os primeiros sinais, mas a mulher ignora-os. Acha que são coisas esporádicas. O homem começa a insultá-la mas ela esquece; quer acreditar que tudo se irá recompor. O homem bate-lhe mas a seguir pede desculpa – e ela desculpa-o. O homem volta a bater-lhe uma e outra vez mas depois diz-se arrependido. Ela acredita que o homem poderá emendar-se e que ainda será possível salvar o casamento. E cala-se. Até que um dia o homem a agride a sério – e aí ela percebe que não há remédio.
Em Alvalade aconteceu o mesmo.
Ao longo de cinco anos, os sinais foram inúmeros, inequívocos, mas os sportinguistas não queriam ver.
Bruno de Carvalho foi descendo nos actos e na linguagem, e os adeptos iam-se habituando, acreditando sempre que o presidente iria regenerar-se. E foi preciso chegar-se às agressões de Alcochete, onde poderia ter acontecido uma tragédia, para muitos sportinguistas se convencerem de que Bruno de Carvalho é um caso perdido. Veremos se não foi demasiado tarde."

Parem de falar sobre o Sporting

"Nunca vi no Brasil, o famoso país do futebol, uma questão relativa ao esporte que tomasse tamanhas proporções como a do caso de Bruno de Carvalho no Sporting.

Ao contrário do que pode parecer, sou uma mulher que gosta muito de futebol. Trabalhei como advogada na área do direito desportivo, frequento o estádio, acompanho campeonatos europeus e latino-americanos, assisto jogos do campeonato brasileiro de madrugada, por conta do fuso horário. Longe de mim ter um discurso anti-futebol.
Mas confesso que estou mesmo assustada com as proporções que a situação do Sporting tomaram nas últimas semanas, ocupando uma parcela brutal dos telejornais, jornais impressos e online, redes sociais, mesas de bar, jantares e conversas no sofás de sala.
Conheço bem, por já ter trabalhado nos bastidores do futebol, a complexidade que impera nas políticas internas dos clubes. As trocas de favores, as promíscuas relações com os políticos, os interesses escusos e tantas outras coisas que não deveriam ter nada a ver com o esporte, mas que têm muito a ver com o poder e o dinheiro que rondam o futebol. Sei que é um cenário difícil.
Mas não é possível que a situação político-administrativa de um clube de futebol ganhe tantos holofotes a mais do que os debates acerca da legalização da eutanásia, do que a estreia de “O Labirinto da Saudade” nos cinemas, do que a feira do livro de Lisboa, do que a chegada da época dos incêndios e do que toda política internacional.
Bruno de Carvalho passou a protagonizar todo o horário nobre, como se esse fosse o assunto que mais preocupa todos os portugueses e que merece horas e horas de atenção de torcedores do Sporting, do Benfica, do Porto, do Belenenses, do Marítimo ou do Gil Vicente, bem como daqueles que simplesmente não ligam para futebol.
Nunca vi no Brasil, o famoso país do futebol, uma questão relativa ao esporte que tomasse tamanhas proporções. Nem nos tempos de Mustafá no Palmeiras, de Dualib no Corinthians, de Juvenal Juvêncio no São Paulo ou de Eurico Miranda no Vasco. Sim, tivemos escândalos. Tivemos pancadaria. Tivemos patrocinadores em polvorosa. Mas nunca reduzimos nosso debate a isso.
O mais impressionante é que Portugal é um país culto - muito mais culto do que o Brasil. E a política do pão e circo, em tese, funciona bem melhor lá do que aqui. Mas, nas últimas semanas, chega a parecer o contrário. É preciso falar menos do Sporting. Até porque, se os incêndios recomeçarem, não será Bruno de Carvalho quem apagará o fogo."

O futebol, soberano da República

"A promiscuidade entre o futebol e a política ficou exposta, como raramente aconteceu, com o recente e deplorável episódio do assalto de um grupo de ‘mascarados’ ao centro de estágio do Sporting em Alcochete, maltratando jogadores e técnicos.

Dias a fio, os mais altos representantes da Nação sentiram-se ‘obrigados’ a falar sobre o assunto, enquanto as televisões dedicavam horas de ‘tempo de antena’ ao ‘amor’ clubista de diferentes actores, com um fervor a beirar o patológico.
Desfilaram pelos estúdios políticos de quase todos os credos, advogados e médicos com nome na praça, além de intelectuais e académicos que nunca falham nestas coisas, e do habitual corpo de comentadores residentes – que alimentam e atiçam rivalidades nas intermináveis emissões onde o futebol domina, como poderoso anestésico social.
Entre a palavra ponderada e a histeria houve de tudo, como se estivesse em causa algum problema grave para a Pátria. A chamada imprensa de referência apressou-se a competir com a desportiva, em largueza de títulos e de espaço. O controverso presidente leonino conquistou o estatuto de figura de capa em diários e semanários, com um relevo que nunca tivera antes.
A final da Taça, um clássico do Jamor, foi antecedida de um ‘suspense’ digno de Hitchcock, onde as principais figuras do Estado se interrogavam sobre se deviam ou não comparecer no Estádio Nacional. Convenhamos que se exagerou.
Senão, vejamos: António Costa tirou logo da cartola uma Autoridade Nacional contra a Violência no Desporto, porque «o futebol é algo suficientemente importante para todos para adoptarmos as medidas necessárias para o proteger de quem o quer destruir». Bonito.
O pior é que, quando era ministro em 2007, extinguiu o Conselho Nacional contra a Violência no Desporto, cuja missão se assemelhava à do novo órgão anunciado, ou seja, «promover e coordenar a adopção de medidas de combate às manifestações de violência associadas ao desporto, bem como avaliar a sua execução». E nunca mais se lembrou disso.
Perguntar-se-á para que servirá, então, mais uma Autoridade Nacional dotada de «recursos e não apenas de competências», enquanto falha a coragem política para interditar as claques, que são ninhos de violência, e para fazer reverter para os clubes os custos reais dos dispositivos de segurança montados nos perímetros dos estádios nos dias dos jogos.
Tenciona o primeiro-ministro em exercício criar mais um corpo de polícia ‘especializado’ na segurança do futebol? Ou deseja simplesmente lançar outra estrutura para dar emprego a uns quantos boys insaciáveis, como já aconteceu nos quadros da Protecção Civil, com os resultados que se conhecem?
A ‘ajudar à festa’, Ferro Rodrigues entendeu que poderia «falar na qualidade de presidente da Assembleia da República» sobre os incidentes de Alcochete, exigindo às autoridades que «investiguem quem faz do Sporting a miséria a que hoje assistimos». Esqueceu-se, porém, do distanciamento e da reserva a que está obrigado enquanto presidir à Assembleia da República, para o que não conta ser sócio antigo do clube em causa.
Finalmente, Marcelo Rebelo de Sousa sentiu-se «vexado pela imagem projectada por Portugal no mundo», e pela «gravidade do que aconteceu». Foi excessivo.
Embalado pelas suas paixões desportivas – em particular, com o futebol e o ténis – o Presidente atribuiu aos actos de vandalismo no centro de estágios uma dimensão desproporcionada.
Permitiu, depois, que se especulasse sobre se estaria ou não no Estádio Nacional para entregar a taça ao vencedor, o que acabou por acontecer, como é de tradição. Ora o Presidente da República não tem que alimentar rumores. Decide e anuncia a sua decisão.
Com tantos passos em falso, o país adormeceu e acordou dias seguidos sob o efeito de um dilúvio de suspeitas, de contradições e de bravatas, que fecharam a época de futebol com um travo amargo de derrota para aqueles que ainda acreditam no desporto como escola de virtudes.
Em contrapartida, graças à crise do Sporting, eclipsaram-se do espaço público aqueles temas verdadeiramente incómodos para o poder político, envolvendo suspeitas de corrupção lesivas da imagem de Portugal no exterior, com um ex-primeiro-ministro e ex-governantes socialistas a contas com a Justiça.
Moral da história: a ‘roupa suja’ ficou por conta da ‘lavandaria’ de Alvalade. O futebol tornou-se soberano na República. Com os populismos das ‘tribos’ a vicejar…
(...)"

Benfiquismo (DCCCXL)

1.º golo...!!!

Governo Sombra... Realidade mais cómica do que a ficção!!!

Circus Lagartus - XII episódio