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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A 'delegação' e o beijo da morte

"Em setenta anos da vida do Jornal oficial do Benfica, talvez seja esta a primeira vez em que nos pronunciamos directamente sobre o fadário dos vizinhos ali do outro lado. Mas os lamentáveis espectáculos de dissensões em que se têm entretido há décadas, com a mesma farronca genética de sempre, no contumaz registo da mais completa incapacidade técnica de gestão e no esbanjamento da dedicada cegueira (e do dinheiro...) dos seus enganados sócios, só podiam tê-los levado onde hoje estão e, pelo andar da carruagem, onde hão-de ficar por muito tempo. São merecidos os enxovalhos por que passam? São. São totalmente merecidos e por exclusiva culpa própria: em vez de se dedicarem ao rigor e à prudência que, há muito, os tempos aconselhariam à curta medida das suas pernas, parece que com o que sistematicamente mais se preocupam é em iludir e iludirem-se, nas basófias de que ali se alimentam órgãos sociais, directores e treinadores e mesmo muitos atletas, passados, presentes (e futuros...)
Grandeza? Glória? Onde é que isso já vai! Agora só lhes vê é miséria, vergonha e desgraça, no negro futuro que têm pela frente. No estado em que se encontram, o que ainda lhes pode vir valer não é nenhum da meia dúzia de proto-candidatos, numas eleições de opereta pontuadas com novas cenas de pugilato. São os bancos. Os bancos vão ter que se chegar à frente e pôr alguma ordem naquilo, porque precisam ver de volta tudo quanto outrora ali foram dando de barato.
O problema é que a impressionante baderna estrutural que os devastou e a vergonhosa ruína competitiva em que mergulharam, não os prejudicam só a eles próprios: contribuem para a lenta desconstrução da estrutura competitiva do país e, pior do que isso, continuam a afectar gravemente o clima de seriedade que, de uma vez por todas, carece ser reposto na indústria do desporto e nas suas envolventes, em Portugal.
É que, ainda por cima, tudo faz supor que, mais a norte, mais depressa do que as pitonisas possam prever, mal se fine o presente consulado, de repente se venha a escancarar um processo idêntico, porventura ainda mais escandaloso, com a explosão de outro albergue espanhol, em que as comadres zangadas acabarão a lavar a roupa suja toda. Nessa altura, finalmente, há-de vir à luz do dia a completa narrativa de podridão das arbitragens, da corrupção e das trafulhices jurídicas, ou, quem sabe, até dos dopings que, em duas décadas, valeram tantas taças e campeonatos ganhos à matroca, cá dentro e lá fora. E só então muitos dos nossos tristonhos vizinhos irão compreender o que verdadeiramente significa o prolongado beijo da morte em que há tanto tempo se enleiam com 'a sede'..."

José Nuno Martins, in O Benfica

Para que serve um regulamento?

"Um regulamento, normalmente, serve para reger os deveres e direitos dos membros de uma organização. Há casos em que não é bem assim. Há casos em que um regulamento serve para ser contornado, subvertido e ignorado. Há casos documentados em que o atropelo de um regulamento serve, inclusivamente, para silenciar todas as instituições que deveriam zelar pelo cumprimento do mesmo. 
No passado dia 14 de Dezembro, Pedro Proença decidiu adiar um jogo entre o Setúbal e o FC Porto. O regulamento diz que o jogo se deveria realizar nas 30 horas seguintes, salvo se os delegados dos dois clubes declararem no Boletim do Encontro o seu acordo para a realização do jogo noutra data, respeitados os limites regulamentados. O mesmo regulamento diz que os jogos das competições oficiais adiados no decurso da primeira volta têm de ser realizados obrigatoriamente nas quatro semanas que se seguirem à data inicialmente fixada para o jogo, salvo casos de força maior devidamente comprovados e reconhecidos por deliberação da Comissão Executiva da Liga. Assim sendo, pergunto-me acerca de qual terá sido a fundamentação para justificar o motivo de força maior que ‘legitimou’ a realização do jogo no dia 23 de Janeiro. Além disso, importa esclarecer se os delegados de jogo escreveram ou não, no próprio dia, no boletim de jogo, a nova data concreta do encontro. Algo me diz que tal não se verificou e tudo indica que esta marcação para o dia 23 de Janeiro não tem qualquer base regulamentar.
Atropelar os regulamentos implica sanções desportivas. Neste caso, o atropelo dos regulamentos implica apenas o silêncio. Um estrondoso e vergonhoso silêncio."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Sporting precisa de uma 'perestroika'

"Na última jornada vimos um FC Porto muito competente, organizado e capaz em Guimarães, e um Benfica que passou com facilidade e sem grande brilho o obstáculo V. Setúbal. Mesmo sabendo que, segundo as regras, ganhou 3-0 no Dragão para a Taça da Liga, o V. Setúbal é uma equipa frágil.
Bem mais difícil será a deslocação à Madeira, frente a um Nacional tradicionalmente difícil. A nota positiva do último jogo (para lá dos três pontos) foi a confirmação de um Enzo de superior qualidade e rara inteligência táctica.
Dos seus jogos fora de casa que faltam ao Benfica neste Campeonato, este é um dos 3 mais difíceis e por isso merecedor de cuidado e atenção. Jogadores vindos de viagens longas com as selecções, a deslocação à Madeira e o pensamento num jogo Europeu são tudo perigos que se têm que contornar este fim-de-semana. Acredito que se possa manter um trilho de vitórias para não fugir do principal objectivo.
O Sporting é um clube com uma história de respeito e tradição. Este degradar da sua imagem, esta bandalheira institucional, esta agonia desportiva são más para o desporto português. Neste momento é mais fácil ao sportinguista esperar uma derrota do Benfica, do que uma vitória do Sporting para se alegrar. Este caminho leva à satelização e menoridade de um dos maiores emblemas portugueses. Gostava de ver o Sporting recuperado. Gostava de ver gente competente e séria a assumir candidaturas. Bem sei que não são um benfiquista típico nesta matéria, mas um rival de respeito e tradição é bom para o desporto e aumento o mérito das conquistas.
Daquela amálgama de azedume, incompetência, arrogância, invejas pessoais, tem que renascer um Leão com brio e dignidade. Os sportinguistas estão capazes de recorrer a uma troika embora a minha sugestão fosse pelo contrário e de fazerem uma perestroika."

Sílvio Cervan, in A Bola