Últimas indefectivações

sábado, 28 de dezembro de 2024

Terceiro Anel: Bola ao Centro #87 - Um dérbi de ideias!!!

O Benfica Somos Nós - S04E27 - Estoril...

Dan.


"Eusébio, Simões, Humberto Coelho, Coluna, Jonas, Dan.
Conheci o Dan na segunda-feira, 23/Dez, antes do Benfica x Estoril (3-0). Contou-me que passou por Portugal há uns anos e acabou por se apaixonar pelo Benfica. Não me lembro exatamente dos detalhes que levaram um irlandês a ceder ao feitiço das camisolas encarnadas, esta conversa foi acompanhada por várias cervejas, mas sei que não é o primeiro nem será o último estrangeiro a guardar o nosso clube num local especial do seu coração. Como o Dan, e referindo apenas os mais mediáticos, temos vários exemplos: Markus Horn, alemão; Toni Gutierrez, espanhol; Jumpei Fujita, japonês; Pete Domican, inglês. Certamente existirão muitos outros espalhados por esse mundo fora que, por um motivo ou outro, se apaixonaram pelo nosso clube.
Explicou-me num português irrepreensível que aprendeu a nossa língua especificamente para poder acompanhar a vida do nosso clube e, por esta altura, já eu estava de boca aberta. Para ele não basta acompanhar um jogo de vez em quando ou ver um resumo pelo Youtube, sente-se benfiquista e faz questão de acompanhar o dia-a-dia do clube. Nos primeiros tempos através do jornal A Bola e, mais recentemente, assistindo aos programas do Benfica Independente que passou acompanhar com maior frequência. A nível pessoal, não vos consigo transmitir com exatidão o que sinto ao ouvir testemunhos destes. É um misto de orgulho e enorme responsabilidade porque sei que muita gente depende deste tipo de projetos (não só o nosso, certamente) para conseguir estar mais próximos do Glorioso. Mas isto não é sobre mim ou o BI, é sobre o Dan. Voltando ao assunto.
Falámos sobre jogos antigos e expliquei-lhe que já tinha visitado o Reino Unido para ver o Benfica várias vezes, e ele sabia todos os resultados e os marcadores dos golos dessas partidas. Estava estupefacto. "Este rapaz é tão benfiquista como eu", pensei. E é mesmo. Depois descobri que tem esta paixão marcada na pele. Não uma, mas duas tatuagens associadas ao Benfica!
Quando me deparo com situações destas, não consigo deixar de pensar no privilégio que tenho por morar perto do estádio e conseguir acompanhar o nosso clube com relativa facilidade. Estou perto para os jogos de futebol, assembleias, museu, modalidades, etc. Sou um privilegiado e nem todos têm esta sorte, mas esta introspecção leva-me também a meditar sobre a eterna discussão da falta de militância benfiquista no que diz respeito às assembleias gerais e ordinárias. Somos tantos para apoiar as nossas equipas, mas muito poucos para os assuntos mais massudos que se discutem nos nossos pavilhões... e isto gera conflitos. Quanto mais penso nisto, mais acredito que simplesmente temos de aceitar que nem todos temos vidas iguais. Algumas pessoas têm menos disponibilidade e o pouquinho que conseguem dedicar ao Benfica acaba por ser direcionado para aquilo que mais apreciam que é, naturalmente, tudo o que diz respeito à vida desportiva do nosso clube. E não devemos levar isto a mal, cada um vive o Benfica como pode. Da minha parte, tentarei sempre sensibilizar para a importância dos assuntos extra futebol porque é isso que estabelece o caminho que percorremos, mas também me parece óbvio que não se mobiliza ninguém através de insultos, insinuações ou, pior, medições de benfiquismo.
E tudo isto para dizer o quê? Que a minha paixão pelo Benfica desenvolveu-se com as histórias gloriosas contadas pelo meu pai e avô sobre Eusébio, Simões, Humberto, Coluna e ao ver jogar craques como Jonas. Mas hoje em dia é também alimentada por histórias como a do Dan, do Markus, do Toni e do Fujita. Este clube é do caralho, mesmo com todos os seus defeitos. Perdoem-me a grosseria, mas esta é a palavra correta.
Viva o Benfica!"

No Princípio Era a Bola: O início da era Rui Borges no Sporting e os pecados da comunicação de Frederico Varandas

❤️ O sonho do Bryan!

5 minutos: Diário...

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - NES em grande: como se explica o sucesso do Nottingham?

Observador: E o Campeão é... - “Jorge Mendes não está preocupado com o Benfica”

Observador: E o Campeão é... - Só Rui Borges pode salvar a "fanfarronice"?

Verdíssimo!


"A diferença assombrosa entre o sucesso em Portugal e o fracasso em Inglaterra resume-se a uma coisa…
Imagem meramente ilustrativa!"

Ai, ai, doutor Varandas!


"SE A INCOERÊNCIA PAGASSE IMPOSTO ESTAVA RESOLVIDO O PROBLEMA... 

.. do défice do Estado!
1. O doutor Varandas, porque acertou no Amorim depois de Peseiro, Tiago Fernandes, Keizer, Leonel Pontes e Silas, achava-se o supra sumo da gestão desportiva, o supra sumo das decisões acertadas na escolha de treinadores, tinha até a melhor estrutura do mundo, presidida por ele, claro!
2. Pouco mais de um mês bastou para o doutor Varandas cair na real: João Pereira, que daqui a 4 ou 5 anos estaria, não tinha o doutor Varandas dúvidas, num colosso europeu, já foi posto a andar. Afinal, o problema não eram as arbitragens, o problema dos maus resultados da equipa estava no colossal erro da aposta no escuro feita, com a soberba de quem se sente um iluminado, em João Pereira.
3. Se já há 4 anos andava a preparar João Pereira dentro de casa para suceder a Amorim, como já tinha o Rui Borges no radar há mais de um ano? Em que é que ficamos? Será que daqui a uns tempos vai dizer que também ofereceu a Rui Borges um presente envenenado?
4. Pelo que se sabe, Rui Borges está longe de ter sido a primeira escolha do doutor Varandas e da sua infalível estrutura. Já agora, quem não se lembra do que foi dito a propósito da aposta de Rui Costa em Bruno Lage, que diziam ter sido a enésima escolha do presidente do Benfica?
5. Para aqueles que acham que não interessa o que se passa nos outros clubes: o Benfica não compete sozinho na Liga, o que se passa nos outros interessa a todos, como é óbvio. Acresce que este senhor, o doutor Varandas, não é capaz de abrir a boca sem lançar bojardas ao Benfica. Merece que lhas devolvamos em ricochete - todas!
6. Não faço ideia do que o futuro nos trará, mas deixo já aqui expresso, sem hipocrisias, que tenho Rui Borges na conta de um excelente treinador e que preferia que o doutor Varandas fosse coerente com a sua soberba e mantivesse a aposta em João Pereira por mais 4 ou 5 anos - ou seja, até que um colosso europeu o viesse aqui buscar!"

O ponto de partida


"O Benfica lidera isolado a Liga portuguesa. Para muitos uma notícia impensável há uns meses, depois de o Benfica ter desbaratado cinco pontos em apenas quatro jornadas e “cavado” um fosso que então se anunciava irrecuperável para os rivais. Não foi assim que aconteceu e, independentemente dos outros, o Benfica iniciou uma recuperação notável num percurso quase perfeito que só o apagão da segunda parte das Aves manchou. Bruno Lage, pela alma e organização que trouxe, os jogadores, pelo empenho e talento que mostraram, e os adeptos, que sempre apoiaram a equipa, devem sentir-se orgulhosos, mas, feito este minibalanço, devemos rapidamente esquecer o que está para trás e focar-nos no que temos pela frente, pois o pior que pode acontecer é pensar que a décima quinta jornada é o ponto de chegada e não, como é, apenas o ponto de partida. Com a justa vitória sobre o Estoril, num jogo em que Amdouni mostrou mais uma vez que sempre que entra acrescenta, o Benfica conquistou o direito a pensar que, depois dos passos em falso, tem agora condições para lutar pelo título, sem atrasos, e que agora é que “começa” o campeonato. Depois de seis jogos em 23 dias (notável!), a imagem final de Bah, literalmente a cair para o lado, diz muito do que foi este esforço e da necessidade de nestes dias natalícios recuperar a equipa, física e mentalmente, para encarar um mês de janeiro que vai ser muito duro, com todas as competições em jogo, e que promete muita emoção! Descansemos, pois, em paz e com saúde, são os meus sinceros votos de boas festas para todos!"

PortugueseSoccer #254 - Liga Match Day 16; Derby; Pros & Cons of Sporting & Rui Borges

Mais do que mau perder, Guardiola está a aprender a perder


"Estava marcado um jogo de futebol para crianças em Nova Iorque, banal nas entranhas, com pais babados prontos a assistirem em redor, mas o árbitro não apareceu, então o organizador teve de perguntar quem dali, mais do que vagar, teria conhecimento das regras do soccer para safar o imbróglio e servir de pessoa do apito. Perante o entroncamento, um tipo barbudo, com boné a pontuar-lhe a cabeça e pernas arqueadas chegou-se à frente. De bom grado assumiu o posto, mas, durante a partida, outros pais cedo mostraram o seu desagrado perante as insistentes vezes em que ele parava a ação e se punha a dar instruções à canalha e a corrigi-la.
Algures em 2013, a desfrutar do seu ano sabático, Josep Guardiola i Sala nem a gozar do estatuto incógnito no país que pouco liga ao futebol era capaz de relaxar, de por um segundo desligar a ficha da tomada e se escusar a irritar progenitores preocupados apenas com ver os filhos a divertirem-se. Sabemos o que lhe aconteceu antes e depois desse breve interlúdio pelas Américas: o treinador viera de 247 jogos com o Barcelona onde literalmente tudo conquistara em quatro anos, iria para três épocas e 160 partidas dominadoras com o Bayern de Munique e, mais tarde, entraria no Manchester City, que transformou no primeiro tetracampeão inglês e levou à vitória na Champions, feito que lhe cobravam para a sua valia ser provada sem ter um particular argentino na equipa.
A obsessão de Guardiola por futebol, não é de agora, roça o limiar do saudável. Calvo por tanto matutar acerca dos imponderáveis da bola, o catalão vai numa série de apenas uma vitória e dois empates em 12 jogos, cheio de derrotas que confluem para uma pintura inaudita de tão negra: o City recheia-se há quase dois meses de uma constante que é raríssima em Pep e equivalente nem a 13% das 905 partidas da sua carreira. O mais bem-sucedido técnico, porque dominador, dos últimos 15 anos do futebol, guiado por um ditador estilo que verga adversários ao seu carrossel de passes, de repente não arranja forma de ganhar um encontro.
Várias possíveis explicações haverá para o fenómeno. A fulcral será a lesão de totémico Rodri, o Bola de Ouro e mais influente dos médios, sem o qual a equipa fica desguarnecida de quem lhe segure os cordéis das marionetas coreografadas para o jogo de posse de Guardiola. Outras, igualmente detetáveis sem esforço, serão o baixio de forma dos seus pesos-pesados (Phil Foden, Kevin de Bruyne, Gündoğan, Bernardo Silva), incapazes de renderem o que se viu neles em épocas anteriores, as consecutivas mazelas de outros jogadores nucleares (Rúben Dias, John Stones, Akanji) ou os erros individuais que custam golos, minando o Manchester City em quase todos os jogos deste período.
Depois, existirão teorias.
Casmurro no olhar de muitos, compulsivo na estima de alguns, como na do pai de uma criança que o confrontou, noutra ocasião de criançada em Nova Iorque, por o ver a corrigir posicionamentos do seu filho, que jogava pela equipa adversária (episódio também contado pelo viciante podcast ‘Heroes & Humans of Football’), há um caso passível de ser desenhado com base nas falências do próprio treinador.
A habitualmente louvável fidelização de Guardiola ao seu estilo, à sua forma de fazer as coisas, está a tramar o City por manter a linha defensiva subida no campo, a conceder a enormidade de espaços que a equipa é incompetente a resguardar quando perde a bola. Ao não mudar a postura, não está a proteger quem joga. Também se pode apontar que está a colher os frutos podres de ter empurrado, até restringido, a liberdade criativa dos seus jogadores para momentos tão específicos dos padrões coletivos que agora, quando precisa de alguém que fuja às chocalhas e resgate a equipa das masmorras, faz com que ninguém se solte. Nem Jack Grealish, antes o maior vagabundo em campo do futebol inglês, espírito livre dos raides e dribles, hoje amestrado pela ordem que com os anos lhe tirou o risco da finta, a ousadia do remate, em prol de ser o porto seguro a quem se dá a bola, mas para ele a reter, conquistar faltas e deixar os companheiros recuperar o fôlego.
Além da insistência em não se desviar do plano, expondo aos adversários o conforto de saberem que é assim e assado que podem machucar o Manchester City, pode Pep ter ido longe demais na sua domesticação dos libertários?
Até o bem-disposto Jack, leve no trato, bonacheirão de gestos e ânimos, que não marca há 36 jogos e deu três assistências em ano e meio, mostrou três dedos da mão aos adeptos do seu Aston Villa, este fim de semana, lembrando o trio de Premier Leagues que tem no currículo com o City, rendido ao tipo de reação atiçada que Pep Guardiola já tivera, em Liverpool, com seis dedos dos seus esticados no ar para responder ao escárnio da falange em Anfield Road. Isto no homem que leva as mãos à careca, agacha-se, afunda a cabeça nas cócoras e chegou a quase mutilar-se, abrindo feridas no crânio e nariz com as unhas durante um dos jogos desta recente travessia em que confessa estar stressado e a ter noites pouco dormidas. O lado azul de Manchester cedeu às artes ocultas do mau perder, ou pelo menos aos sintomas.
Mas a explicação mais plausível no futebol em que os neurónios queimados no treino, a pensar em tática e sistemas, apenas te levam até certo ponto, será ir ao lado factual da coisa: Guardiola nunca tivera de ir ao tutano, em 16 anos de carreira, para tirar uma equipa de um ciclo destes, em que perder parece fácil e ganhar custa horrores. Provavelmente, um dos melhores treinadores da história, porventura quem mais influenciou o futebol moderno, não está a saber lidar com a continuidade da derrota.
É um estímulo novo para Pep. O máximo que estivera sem ganhar, mas empatando aqui e acolá, fora em 2016, já com o Manchester City, quando esteve seis jogos sem vitórias. Não somos moscas na parede para atestarmos como discursa o treinador perante os seus nestes delicados momentos, que conversa tem com cada jogador à parte, os truques a que recorre, o trato que dá ao cerne da pessoa diferente para ressuscitar os ânimos. Um técnico distingue-se pelo conhecimento tático, nos treinos e a agir durante os jogos, mas as habilidades pessoais têm de seguir em paralelo. E não sabemos, porque é inédito, como a obsessão de Guardiola se molda a uma secura de resultados desta aridez.
Uma outra explicação, tão simples se bem que palpiteira, pode estar na hipótese de os jogadores sentirem fastio com os seus métodos. São já muitos anos juntos, muitas épocas a ganharem, ninguém é imune ao tédio das rotinas. Apesar de ser sinónimo do que mais excelso existe no futebol, Pep Guardiola está a aprender no posto a conviver com a realidade que visita, às tantas, a enorme maioria dos treinadores - a ter que tirar uma equipa de hábitos perdedores. Constatar isso será elogiar-lhe a carreira mais do que empolar uma crítica ao declínio recente. Só na sua 16.ª época, e aos 53 anos, se pôs a jeito para experimentar tal coisa no futebol."

SportTV: NBA - S03E12 - Que Celtics são estes?

Os passes musicaisdo Canela de Vidro


"Pagão era o símbolo da leveza, frágil e com pés suaves como uma estola de vison, ou assim…

O Chico Buarque cantava:
«Para Mané/para Didi
para Mané Mané para Didi
para Mané para Didi
para Pagão/para Pelé e Canhoteiro».
E o filho de Benedicto Luiz de Araújo e Perpétua Rodrigues enchia o campo com o seu futebol de firulas e tabelinhas, para Pelé, para Didi, seus companheiros do Santos, alegrando a Vila Belmiro. Porque seu Benedicto só resolveu batizá-lo já garoto, a malta das ruas de Vila Mathias, católica até ao tutano, benza-a Deus e os seus acólitos, tratou de lhe arrumar a alcunha de Pagão. Ficou. Paulo Sérgio Araújo, seu nome autêntico, nunca deu para decorar. O Chico adorava o homem. Pagão foi sempre o seu ídolo, jogasse ele no Santos, no São Paulo ou na Portuguesa Santista, e até no Jabaquara onde acabou a carreira com apenas duas presenças na selecção brasileira. «Injustiça descomunal!», gritaria o enorme Nelson Rodrigues naquele exagero de prosas que deviam levar sempre ponto de exclamação. Pouco jogou na canarinha, mas jogou no Politheama, a equipa de Buarque e seus comparsas que costumava disputar peladas rijas com os nossos de A Bola, quando vinha a Lisboa e em tempos que já lá vão. O Chico falando: «Ele era demais em campo. Era um jogador de uma leveza admirável. Adorava quando ele pegava a bola no ar e, com a parte de fora do pé, vindo de trás, chapelava o adversário». Às vezes o Chico não via. Só ouvia. Sem dinheiro para pagar bilhete, ficava do lado de fora do estádio à espera do bruá da mutidão.Pagão jogando: era como se flutuasse. Pés de estola de vison, ou assim. Walter Dias, dos dias da rádio: «Classe como a dele, leveza e graciosidade como a dele, nem Pelé. Homem de futebol ritmo, de futebol enredo, de futebol arte». A arte do Chico:
«No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha».
Pagão costurado: vitima de lesões, de ataques brutos, de botinadas. Perseguiam-no no campo, acertavam-lhe em todo o corpo para baixo das amígdalas. Saía da equipa. Entrava. Saía outra vez. Jogador de linho. No Santos, Coutinho foi agarraando o seu lugar: «O maior centroavante que alguma vez vi», dizia o garoto da Vila, catorze anos e já no meio dos homens. O povão deu-lhe uma alcunha: Canela de Vidro. Pagão ficava triste. Pelé afirmando: «Metia bem bola, muito inteligente para jogar, muito rápido, mas não era um jogador de choque». E então, do outro lado, sinistro, o inimigo preparava o choque. Valia tudo para parar Pagão, o menino que foi baptizado demasiado tarde e usava camisa acima do umbigo. O Santos tinha Coutinho. Pagão sobrando. Queria jogar mas faltava espaço entre Pelé e Coutinho que não era nenhum canela de vidro. Em 1963 foi para o São Paulo por treze milhões de cruzeiros. No dia 14 de agosto, a sua equipa desfez o Santos: 4-1. O Santos e o seu orgulho. Não quis perder. Toda a gente armou uma confusão danada, Armando Marques, o árbitro, ia expulsando aqui e ali, até Pelé e Coutinho. A equipa saiu de campo sob um coro imenso de vaias. Pagão vencera Coutinho e Pelé. Canta, Chico, canta:
«Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega/Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga».
No dia 4 de Abril de 1991, o Canela de Vidro estava morto. O médico registou o óbito como se fosse uma letra de música. Ou como se fosse um passe musical de Pagão: «Falência múltipla de órgãos». Um morto por completo. Sem intromissões. Tinha 56 anos. Ainda tanto Pagão para viver no Pagão morto. Nem de propósito: foi sepultado no Cemitério da Filosofia. O Destino não se esquece dos seus preferidos mesmo que tenham canelas de vidro. Uma saudade bateu nos adeptos do Santos. Uma espécie de culpa, também, por não terem protegido a arte do homem dos passes musicais. O futebol é mesmo assim: ingrato. Pagão segurando a bola como se pegasse num cachorrinho vadio. Fazia-lhe festas. E o cachorrinho correndo com ele sobre a relva, subindo no ar, descendo pelas costas dos defesas. Pagão fugindo alegre como o sabiá da gaiola. Ia piar no alto do carapeteiro. No alto das bancadas do Pacaembú que rebentava pelas costuras para ver os seus chapéus de mestre chapeleiro sem metafísica. Pagão furando defesas como se tivesse asas nos pés. Um Mercúrio frágil levitando entre homens comuns e brutos que não gostavam do seu sorriso torto de gato de Alice. Pagão, o único. O Chico que o diga. O Chico que continue a cantá-lo que nunca mais ninguém o esquece. O Canela de Vidro e os seus dribles afinados, musicais suaves como Bossa Nova. De vez em quando o golo e uma brisa. «Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para Didi para Pagão…»."