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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Benfica Podcast #468 - World Cup hangover

O Cantinho Benfiquista #125 - How Will We Bounce Back?

A Verdade do Tadeia #717 - O futuro de Ronaldo

Efabulação (2)


"As 1001 noites do Sultão Al-Ronaldo

Vivemos ontem, com a distância e o desconto que nos habituámos a dar à excentricidade e fantasia das histórias arabescas, a primeira das 1001 aventuras de Al-Ronaldo ibn Bortuqal, o Sultão do país das laranjas, no grande califado Al-Saud. Tomemos a televisão e a internet como a Sheherazade da Arábia de hoje, onde as mulheres não são tão bem vistas como era a filha do vizir, para se encarregarem da difícil tarefa de manter viva a lenda do antigo grande jogador durante os próximos três anos. Uma história por noite era o que Sheherazade contava ao seu sultão para evitar que ele a matasse e substituísse por uma virgem.
Uma história por dia para adiar o esquecimento é o que os Instagrames vão ter de inventar para o mundo saber que o grande jogador de futebol continua activo e feliz, como Sinbad o marinheiro, Ali-baba o príncipe dos ladrões ou Mahmud o sultão das duas vidas.
Mas não vai ser fácil emocionarmo-nos com o seu “estou aqui” quando marcar golos frente aos Al-Fateh e aos Al-Shabab do deserto saudita.
A velocidade da erosão da carreira do nababo futebolista lembra as tempestades de areia que mudam a paisagem das dunas de um dia para o outro. Os oásis da bola que sempre estavam por perto, para um refresco da imagem e do prestígio, são agora miragens longínquas e intangíveis.
O oásis Jorge Mendes já se diluiu num imaginário de desavença e traição entre sheiks. O nosso herói ficou só e mal aconselhado.
O oued Seleção Nacional está seco e apenas oferece um caminho para lado nenhum, que a sabedoria aconselha a evitar. O sucessor da FEMACOSA estará agora de mãos livres para deixar de convocar um jogador exilado na terceira divisão do futebol mundial.
O palmeiral da Champions deixou de dar sombra e prazer aos ávidos de golos e troféus. Acabou a saga do melhor de sempre na mais difícil competição. A caravana de Messi está cada vez mais distante na travessia do deserto dos maiores de sempre. Vai ser penoso comparar as pilecas do circo saudita aos corcéis dos circuitos europeus.
Resta apenas a lengalenga de contar, recontar, conferir e reconferir, os milhões e bilhões na grande lavandaria de “sportswash”, o que deve tornar-se fastidioso e cada vez menos interessante à medida que as noites passarem. Ou ir acompanhando a vidinha da favorita Georgina na terra dos haréns, qual princesa Zuleica dos tempos modernos."

Morreu aquele cuja alcunha traduz a magia do futebol


"Pelé encantou uma infindável legião de adeptos que encontraram, no astro brasileiro, a personificação dos mais ousados sonhos de infância. Revelou, pelo exemplo, incluindo ante o Benfica, o muito que se poderia fantasiar com uma bola de futebol. Faleceu aos 82 anos.

Por muitos considerado o melhor jogador de sempre, Pelé, que nos deixou aos 82 anos, forjou uma carreira mítica. Espantou o mundo do futebol quando, aos 17 anos, em 1958, foi campeão mundial pelo Brasil após marcar dois golos na final. Já consagrado, teve aparições discretas nas duas edições seguintes devido a lesões, contribuindo, ainda assim, para o título brasileiro de 1962 (marcou no jogo inaugural). Em 1970, selou o terceiro triunfo canarinho na prova.
O México 1970 é o Mundial de Pelé. Embora já sem o ímpeto goleador de anos anteriores (foi autor de quatro, incluindo o primeiro da final), o "Rei" foi o epicentro de um futebol avassalador e vencedor assente em técnica e criatividade nunca vistas. Seis vitórias nos seis jogos disputados, com 19 golos marcados, quatro na partida derradeira ante a Itália. Puro deleite para milhões de adeptos que viram, pela primeira vez, a principal competição de seleções ser transmitida a cores pela televisão.
Houve também, antes de se ter tornado no porta-estandarte da primeira tentativa séria de introdução do futebol nos Estados Unidos da América, toda a brilhante carreira ao longo de mais de década e meia no Santos, pelo qual Pelé se destacou como figura de proa nos muitos títulos conquistados pelo clube santista. E foi de alvinegro que se deu a conhecer ao Benfica e se apercebeu da existência de um miúdo moçambicano com quem viria a rivalizar no topo do futebol mundial, Eusébio.
Pelé, o jovem prodígio, não chegara ainda aos 17 anos de idade quando defrontou o Benfica pela primeira vez, em 1957. Sob o comando de Otto Glória, o Benfica realizava a sua segunda digressão pela América do Sul, passados dois anos da estreia no outro lado do Atlântico. Invencível nos três primeiros encontros (dois empates com o Flamengo e um com o América), chegou a vez de se deslocar à Vila Belmiro para defrontar o Santos.
Rezam as crónicas que os encarnados fizeram a melhor exibição desde o início da digressão e que o resultado foi injusto. O 3-2 a favor do Santos teve, em Pelé, um dos seus principais artífices: abriu o ativo ("mercê de um excelente remate"); sofreu a falta que resultou no penálti do segundo golo santista; foi protagonista de "espantosa troca de passes" com Tite para este fazer o terceiro. Eis o cartão de visita apresentado por Pelé ao Benfica, numa história com mais capítulos, sempre desfavoráveis às águias.
Uma história que poderia ser diferente, corria o ano de 1958 e já Pelé havia bisado na final do Campeonato do Mundo (sendo autor de três golos nas meias-finais e do tento solitário do Brasil nos quartos de final – estreou-se na 3.ª jornada da fase de grupos). Mas lá chegaremos.
O encontro seguinte ocorreu em 1961, em Paris, tinha o Benfica acabado de se sagrar campeão europeu. Meio mês decorrido da épica vitória ante o Barcelona, as águias participaram no Torneio de Paris, ultrapassando o Anderlecht nas meias-finais. No jogo decisivo, o Santos de Pelé.
O resultado é de má memória (6-3 para os santistas), no entanto, o jogo merece realce na história do Benfica. Para se compreendê-lo há que recuar cerca de três semanas, mais concretamente ao jogo das reservas com o Atlético no preâmbulo da disputa da final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em Berna. No onze figurou Eusébio, estreando-se de águia ao peito após vários meses de árdua luta na secretaria e alcançando um hat-trick no triunfo por 4-2.
Eusébio não foi utilizado na final com o Barcelona, mas continuou a demonstrar que as elevadíssimas expetativas criadas em torno da sua contratação eram solidamente fundadas. Assinou o único golo benfiquista no jogo da infâmia (derrota, por 4-1, em Setúbal, na 2.ª mão dos quartos de final da Taça de Portugal disputada no dia seguinte à final europeia); voltou a marcar na visita ao Belenenses na última jornada do Campeonato; e… de novo celebrou um tento da sua autoria no referido triunfo ao Anderlecht.
Chegado o desafio com o Santos, Guttmann optou pela experiência, embora com a surpresa de Barroca na baliza em vez de Costa Pereira por este se ressentir de uma lesão, fazendo apresentar os restantes titulares que conquistaram a Taça dos Clubes Campeões Europeus, em Berna.
O Benfica fez uma exibição desastrada na primeira parte, perdendo por 4-0 ao intervalo. Pelé, não surpreendentemente, esteve em destaque: fez o segundo golo, assistiu para o terceiro após, "por artes do diabo, desenvencilhar-se de três defesas encarnados que o rodeavam", e assistiu para o quarto. E eis que Eusébio foi lançado às "feras". No início do segundo tempo, a vantagem santista foi ampliada para cinco golos e então a letra M do mito Eusébio começou a ser escrita com tinta dourada: hat trick, em 18 minutos, a recolocar a incerteza no marcador (que poderia ter sido um póquer caso tivesse cobrado e concretizado a grande penalidade falhada por José Augusto). Já perto do apito final, Pelé fez o sexto dos brasileiros. E o jornal "L'Équipe" resumiu a partida numa frase: "Eusébio 3 – Pelé 2."
Por certo, terá sido nesse jogo que espoletou a grande admiração de Pelé por Eusébio, reforçada pela amizade anos depois, no Mundial de 1966, entre as duas grandes figuras do futebol mundial nessa década. O astro brasileiro, após a morte do Pantera Negra, declarou mesmo que considerava Eusébio um irmão.
Pelé voltaria a defrontar o Benfica em mais cinco ocasiões, vencendo quatro e empatando uma: nas duas mãos da Taça Intercontinental, em 1962 (3-2 na Vila Belmiro; 2-5 na Luz); no Torneio de Nova Iorque, em 1966 (4-0) – que Pelé entendeu, confessou-o mais tarde, como uma desforra pela eliminação do Mundial de Inglaterra em função da linha avançada benfiquista ser a de Portugal; e, em 1968, no Torneio Internacional de Buenos Aires (4-2) e num amigável em Nova Iorque (3-3). Destes confrontos, Pelé só não marcou nos dois últimos, merecendo realce aqueles que opuseram os campeões continentais.
Enquanto no primeiro jogo da Intercontinental Pelé bisou frente ao bicampeão europeu, o auge da excelência do melhor jogador brasileiro de todos os tempos estava reservado para a 2.ª mão, na Luz. O próprio elegeu esse jogo, muitos anos depois, como sendo, provavelmente, o melhor da sua carreira. O que consiste num elogio ao Benfica: numa carreira repleta de formidáveis desempenhos, golos, assistências e jogadas inacreditáveis em catadupa, escolher este em particular diz tudo da opinião de Pelé sobre aquele Benfica que defrontou em 1962.
Dizia a crónica ao jogo do jornal "A Bola": "Confessamos, muito honestamente, que não somos capazes de avaliar o que é a equipa do Santos sem Pelé. (…) Esse sr. Edson Arantes do Nascimento que as autoridades não deveriam ter deixado entrar em Portugal. Uma coisa é certa: ele existe, ele está lá e, como aconteceu na Luz, influi em 90% do que a equipa realiza ao ataque. Cinco golos ao Benfica: três marcados por Pelé, em jogadas magistrais, dignas de uma fita de celuloide, e dois forjados por ele, um deles oferecido ao compadre Coutinho como se oferece um fato pronto a vestir…"
Enaltecer os feitos de Pelé, mesmo aqueles ante o Benfica, é um ato de justiça, um louvor mais do que devido a um dos mais extraordinários futebolistas de sempre. Parafraseando Roger Schmidt, "quem ama futebol, ama o Pelé".

E SE…
O impacto de Pelé no triunfo brasileiro do Campeonato do Mundo realizado na Suécia, em 1958, foi extraordinário. E apesar de ser ainda um tempo em que as transferências internacionais pouco faziam parte da agenda noticiosa, não surpreende que o nome de Pelé tenha surgido associado ao interesse de vários clubes. E um em particular remete-nos para o domínio do sonho nostálgico…
O "Mundo Desportivo" lançou a pergunta: "Pelé disse não ao Real Madrid. E ao Benfica?" E avançou a resposta: "O Real Madrid ofereceu a Pelé cerca de 1400 contos. Pelé disse NÃO e declarou (segundo o "L'Équipe") ter também recebido uma vantajosa proposta do Benfica e que só não a aceitou por motivo de a CBD não consentir que os campeões do mundo saiam do Brasil."
O artigo refere que se trataria de "fantasia, com certeza", mas fantasiemos então.
O Benfica era treinado por Otto Glória, brasileiro com longa carreira no seu país e ao qual não terá passado despercebido desde o primeiro momento, mesmo à distância, o enorme talento que despontara no Santos. E o Benfica até estivera em digressão pelo Brasil, inclusive fora vítima de Pelé, um ano antes. Será assim tão descabido que esta hipótese tenha mesmo existido?
É certo que só passados 20 anos foi aprovada, em Assembleia Geral, a utilização de jogadores estrangeiros pela equipa de futebol do Clube. Mas era Pelé. E é crível que Otto Glória, figura central da revitalização do futebol benfiquista a meio da década, tivesse o poder de persuasão suficiente para acelerar as vontades. Por exemplo, usando um dos argumentos de Nélson Rodrigues, o celebérrimo escritor brasileiro, notável cronista de futebol, para justificar o seu regozijo pelo triunfo benfiquista, em 1962, ante o Real Madrid na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus: "Qualquer brasileiro já foi português, algum dia."
Com Pelé, quantas vezes mais teria o Benfica conquistado a Europa nos anos 1960? Fantasias… A gloriosa história do Benfica é extraordinária por si só, basta a realidade!
Até sempre, Pelé. Obrigado!"

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