Últimas indefectivações

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Uma bata com poderes...


"Pode uma simples bata de enfermaria ter poderes para lá da óbvia função higiénica para que foi feita? A resposta à primeira vista seria não! Mas, na vida, nem tudo o que parece é, e quando abrimos a janela para o mundo do futebol então descobrimos oportunidades inesperadas que podemos aproveitar.
É o caso  desta ideia nascida na liga espanhola há alguns anos: porque não reciclar camisolas de jogadores em final de época e simplesmente cortá-las ao comprido definindo uma abertura nas costas idêntica às que conhecemos nas batas dos hospitais? Porque não, dado o seu tamanho, oferecê-las, não aos adultos, mas aos melhores adeptos do mundo, que serão sempre as crianças? E assim nasceu primeiro um e, depois, sucessivamente, milhares de sorrisos como acontece hoje, também, entre nós.
Desta vez, além dos sorrisos das crianças, a bata teve ainda o poder de juntar dois grandes rivais num mesmo ato solidário, sabendo que no campo da bola se baterão sempre até ao limite, mas que, no campo mais largo que é a vida, não há rivalidades que os impeçam de ser solidários. Que orgulho no nosso Benfica?"

Jorge Miranda, in O Benfica

Seguir em frente na Taça


"Os vencedores da Taça da Liga regressam à competição nesta noite, no reduto do Farense, às 20h15, para disputar os oitavos de final da Taça de Portugal. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Ambição
O treinador do Benfica, Bruno Lage, afirma: "Queremos sempre o melhor Benfica. Depois de vencer a Taça da Liga, pretendemos estar na final da Taça de Portugal. Temos de fazer um jogo muito bom e seguir em frente na competição, que é o nosso desejo."
Bruno Lage assume a vontade de mais conquistas: "Aquilo que mais quero é passar no corredor que temos junto ao balneário, em que temos réplicas de todas as taças, e que o número 38 passe para o número 39, tal como já foi feito com a Taça da Liga. Hoje de manhã, quando passei, já estava lá o número 8. É isso que quero, é isso que os jogadores querem, é isso que toda a gente quer, é isso que os adeptos querem, e vamos trabalhar em função disso."

2. Todos contam: a oitava
Veja o filme da conquista da oitava Taça da Liga do palmarés do Benfica.

3. Bruno Lage centenário
O treinador do Benfica cumpriu o centésimo jogo oficial no comando da equipa profissional de futebol e conta, no seu currículo, com a conquista de um Campeonato Nacional, uma Taça da Liga e uma Supertaça.

4. Carreira abrilhantada de águia ao peito 
O capitão do Benfica, Otamendi, é o defesa argentino com mais títulos e troféus ganhos ao longo da carreira (26). Entre argentinos (jogadores de campo em atividade), apenas Di María (36) e Messi o superam neste particular.

5. Últimos resultados
No basquetebol, o Benfica continua plenamente vitorioso no Campeonato ao ganhar, por 80-66, frente à AD Galomar. Em voleibol, os encarnados venceram, por 3-0, ante o VC Viana e seguem em frente na Taça de Portugal.
Quanto a equipas femininas, a de voleibol assume a liderança isolada da classificação do Campeonato Nacional ao bater o Sporting por 3-1. Registaram-se também vitórias em andebol (38-25 ao Alavarium) e basquetebol (em Vagos por 52-95). No râguebi, derrota, por 17-25, na Taça Ibérica disputada com o CR Majadahonda.

6. Campeã
Vitória Oliveira volta a sagrar-se campeã nacional de marcha atlética 35 quilómetros.

7. Seleções jovens
15 futebolistas do Benfica estiveram ao serviço das Seleções Nacionais Sub-17 e Sub-16.

8. Futebol de iniciação
Há novo recorde de participantes nos treinos de captação e foi realizada mais uma jornada da Liga Benfica – Zona Centro.

9. Benfica 1 Minuto
A atividade desportiva do Benfica dos últimos dias em 60 segundos."

No Princípio Era a Bola: A Taça da Liga deixou pistas para o resto da temporada de Benfica e Sporting. A derrota na Choupana deixará o quê para o futuro do FC Porto?

Terceiro Anel: Diário...

Zero: Tema do Dia - Mundial de andebol começa hoje: o que podemos esperar da competição

Jogo Pelo Jogo - S02E23 - Benfica Campeão de Inverno

Observador: E o Campeão é... - “Renato Sanches não merece este calvário”

Observador: Três Toques - Por fim, Pichardo saltou para fora do Benfica

Bruno Lage: das palavras aos atos


"Aconteceu-me frequentemente, nos últimos meses, não ver em direto, às vezes nem no próprio dia, as antevisões ou análises pós-jogo feitas por Bruno Lage. Tenho todo o interesse em acompanhar o trabalho do treinador do Benfica, mas, enquanto pessoa que trabalha há alguns anos na área da comunicação e do marketing, fui desenvolvendo uma relação de amor-ódio com este tema, e alguma fadiga com o registo de Lage. Nunca sei se a pessoa que vai ouvir aquilo, designadamente eu, vai reagir enquanto adepto, com os seus anseios e legítimas aspirações, ou enquanto indivíduo que lida diariamente com o tema por razões profissionais, e, por isso, ainda mais propenso a procurar subtextos, significados táticos ou leituras mais profundas naquilo que ouve e lê. Com Lage, muitos desses significados têm confundido adeptos que, como eu, desconfiaram do seu regresso, mas têm a mesma vontade de ganhar que o treinador.
Umas vezes acontecem revelações neste hábito de análise discursiva; outras vezes, nem tanto. Há que registar, com humildade, do adepto e do profissional desta área, as potenciais limitações do exercício. Se me perguntassem pela antevisão do Benfica-SC Braga, a que decidi assistir em direto essencialmente porque queria perceber a extensão de duas derrotas consecutivas e se haveria o reconhecimento de um problema, diria, como disse a alguns amigos benfiquistas, que Bruno Lage parecia um pouco atemorizado, talvez fragilizado pelos resultados e pelas críticas crescentes, visivelmente nervoso com o momento, seu e da equipa que dirige.
Tudo isto acontecia enquanto, na comunicação social, muito se dizia sobre Lage, a direção, os jogadores, procurando responsáveis e ilibando outros tantos, no fundo, tudo o que ajudasse à festa mediática realizada sempre que o Benfica atravessa períodos menos bons — felizmente para a comunicação social, e infelizmente para os benfiquistas, têm sido alguns.
Passados estes dias, há uma ilação que vale a pena retirar. Sejamos nós mais ou menos apreciadores do estilo comunicacional de Bruno Lage, o facto é que as suas respostas mais importantes — e as que mais lhe devemos exigir enquanto adeptos — devem acontecer dentro de campo. O que acontece antes e depois, por muito que possa aguçar a nossa curiosidade, alimentar sonhos ou agudizar estados de alma, aquilo que é dito nem sempre nos diz a verdade e, às vezes, corresponde mais ao que queremos ver do que àquilo que acontece. Neste caso, os rumores foram manifestamente exagerados, e há bastante mérito no desmentido.
Não é que os acontecimentos dentro de campo contem a história toda, e raramente tem sido assim no Benfica destes últimos anos. Mas é bom quando reconhecemos mais atos do que palavras num clube em crise auto-infligida.
Foi assim nesta última semana. Vinte e quatro horas depois de ver um Bruno Lage que me parecera atemorizado na sala de imprensa, a equipa do Benfica apresentou-se em campo com uma atitude diametralmente oposta, explorando a fraca réplica do SC Braga, como se exigia naquele momento. Depois disso, não satisfeita, a equipa apresentou-se contra o Sporting com a mesma vontade de vencer. Não tendo feito uma exibição brilhante, fez o suficiente para justificar uma vitória, mesmo que nos penáltis.
A coroar essa vitória, alguns dias depois, foi publicado nas redes sociais (e na plataforma de streaming do clube) um vídeo protagonizado por Bruno Lage, filmado no balneário após a derrota contra o Sporting em Alvalade. O treinador do Benfica fala com os jogadores e diz-lhes que a Taça da Liga, agora conquistada, seria deles. E foi mesmo. Só vimos essas palavras depois de uma equipa as ter traduzido em atos. Talvez deva ser tudo um pouco mais assim: menos conversa e mais ação.
Não consigo, a não ser com o otimismo que quase sempre acaba por me trair, medir a longevidade daquilo que vimos nos últimos dois jogos. Mas é possível avaliar esses jogos pelo seu valor objetivo: um novo troféu no museu do clube, uma injeção de confiança que parecia evaporar-se a cada dia que passava, e uma ideia muito clara. Podemos dizer o que quisermos, mas o melhor Benfica será sempre aquele que faz o que tem de ser feito, que sabe crescer à altura de cada momento e não se encolhe, e só depois, levantada a taça, passa dos atos às palavras. No sábado, a atitude renovada valeu a conquista de uma Taça da Liga e, como tal, vale mais do que qualquer manifestação eloquente ou atemorizada numa sala de imprensa.
Veremos o que acontece a partir daqui, sem grandes euforias. Esta época parece assemelhar-se mais a uma aventura numa montanha-russa do que a uma viagem de cruzeiro. Para já, um progresso a juntar ao troféu: a ideia de que é possível tirar mais partido do plantel disponível.
Com isto, volto às palavras. Não sei se Bruno Lage decidiu realmente colocar Schjelderup no onze titular porque, como o próprio explicou depois, entendeu que o miúdo norueguês estava finalmente pronto para o seu close-up, ou se o fez porque, como outros treinadores ao longo dos anos, sentiu que uma multidão o exigia. Nem tudo está certo quando se ganha, e nem tudo está mal quando se perde. E também não me convencerão de que a entrada do norueguês neste momento é o corolário de um fantástico plano, como alguns têm procurado explicar. Por essa ordem de ideias, teriam que me explicar qual é afinal o plano para Renato Sanches, mais uma vez lesionado, dias depois de o treinador ter dito que estava mais preparado para corresponder do que o colega Rollheiser (surpresa: não estava). Lamento não assinar por baixo de todas as palavras, mas esta semana faço-o com um sorriso. Feitas as contas, a verdade é que a opção por Schjelderup se revelou acertada em ambos os jogos da final four e trouxe frescura e capacidade inventiva a uma equipa que parecia apostada em pedir a Di María para desbloquear todos os jogos daqui até ao final. Ainda que o mais provável fosse o génio argentino corresponder na totalidade, não seria prudente fazê-lo.
A partir daqui, ainda não sei o que pretende Bruno Lage fazer e talvez opte por não descobrir nas antevisões nem nas entrevistas pós-jogo. A vitória na Taça da Liga foi a melhor forma que Lage tinha de nos pedir que confiemos no processo. Vou tentar, evitando as palavras e esperando que a equipa continue a responder por ele, com mais atos categóricos que tantas vezes têm faltado aos protagonistas no Benfica. É por aqui."

Quem quer ser Campeão Nacional?


"Sem que haja um ‘favoritíssimo’ ao título (como se pensava que ia acontecer antes de Amorim dizer ‘good bye’) o Sporting parece ter a equipa mais equilibrada

A derrota do FC Porto, frente ao Nacional, no sítio da Choupana, onde se situa o estádio da Madeira, colocou a equipa de Vítor Bruno sob um denso manto de nevoeiro, no que toca ao estofo para ser afirmativa nas horas decisivas. Quando precisavam de ganhar para terminar a primeira volta como líderes isolados, os dragões perderam, o que lançou dúvidas onde parecia haver certezas: sem grandes meios, é verdade, este FC Porto ia chegando para somar pontos onde era proibido perdê-los: e se Famalicão foi um aviso, a Choupana foi um espalhanço ao comprido, imediatamente aproveitado por uma quinta-coluna hiper-minoritária, que se alimenta, para sobreviver, dos desaires daquele que deveria ser o seu clube. Com amigos destes, quem precisa de inimigos?
Se Vítor Bruno não recolocar os azuis-e-brancos nos carris do rendimento mínimo garantido, o resto da época pode não ser aquilo com que Villas-Boas sonhou, neste seu ano-zero de presidência, onde tem de arrumar o salão de baile antes de encontrar uma orquestra que substitua a do Titanic, contratada pela anterior gerência .
Como o FC Porto se fez rogado, o Sporting, que não tem tantas dúvidas como no interinato de João Pereira, nem tantas certezas como no consulado de Ruben Amorim, aproveitou para terminar a primeira metade na frente, ciente de que (tal como o Benfica), a partir de agora há muitas bolas no ar ao mesmo tempo, Liga, Taça de Portugal e Champions, que exigem uma profundidade de plantel difícil de alcançar. A derrota na final da Taça da Liga, da forma como aconteceu, não deve ter tirado a confiança à equipa (embora perder para o Benfica seja complicado em qualquer contexto), o reforço da baliza com Rui Silva, parece adequado, mas o calendário mostra-nos uma segunda volta pejada de obstáculos de alta dificuldade no caminho dos leões, nomeadamente as visitas ao Dragão e à Luz. Sendo verdade que ‘candeia que vai à frente alumia duas vezes’, o conforto deixado em Alvalade pelo atual técnico dos ‘red devils’ foi chão que deu uvas e, a partir de agora, Rui Borges tem de manter a sua equipa focada no jargão que fez o sucesso de Amorim: «jogo a jogo.» Se não aparecer nenhum clube a levar Gyokeres (batendo a cláusula, evidentemente), os leões continuam a ter grandes hipóteses de chagar ao ‘bicampeonato’ que lhes foge desde 1954.
Finalmente, o Benfica, que terminou a primeira volta com duas derrotas, mas que parece ter condições para se manter agarrado à luta pelo título, assim apresente em todos os jogos (e não só em alguns ou, até, apenas em certas fases) a consistência defensiva de que são feitos os campeões: se o meio-campo não for reforçado em janeiro, e se, a partir daqui (com as tais bolas simultaneamente no ar…) não houver assertividade na rotatividade, as possibilidade de atingir o 39 serão diminutas.
A terminar, uma curiosidade, que tem a ver com o título desta crónica: em 2004/2005 (Benfica campeão, com Trapattoni) os encarnados fizeram apenas 1,9 pontos por jogo. Foi a tal época em que parecia que ninguém queria ganhar o campeonato. Em 2024/25, com quantas escorregadelas dos candidatos devemos ainda contar?"

O absurdo não tem limites


"A primeira volta da Liga chegou ao fim, no último domingo, e há sete heróis que merecem ser destacados: Vítor Bruno (FC Porto, 2º lugar), Vasco Matos (Santa Clara, 5º lugar), João Pereira (Casa Pia, 7º lugar), César Peixoto (Moreirense, 8º lugar), Ian Cathro (Estoril, 12º lugar), Tiago Margarido (Nacional, 13º lugar) e Cristiano Bacci (Boavista, 18º lugar).
Estes foram os únicos sete treinadores – dos 18 que iniciaram a Liga – que estiveram sentados no banco da 1.ª à 17.ª jornada. Há clubes que já trocaram de técnico por mais do que uma vez (Sporting e Vitória de Guimarães), houve quem tivesse saído três dias (!) antes do campeonato começar (Tozé Marreco, no Gil Vicente), houve quem tivesse começado num clube e já tenha entrado noutro e houve quem tivesse começado a Liga como diretor desportivo e hoje seja treinador.
O técnico que ocupa o 2.º lugar, Vítor Bruno, ainda há dois dias ouvia os adeptos do FC Porto pedir a sua demissão. E até o treinador do Benfica, Bruno Lage, recente vencedor da Taça da Liga, foi confrontado na semana passada, em conferência de imprensa, com a clássica pergunta: “Sente que tem condições para continuar?”
Se excluirmos os treinadores que subiram de divisão com o Santa Clara (Vasco Matos) e o Nacional (Tiago Margarido), os restantes cinco “misters” são aqueles que, hoje, estão há mais tempo à frente de uma equipa do principal escalão do futebol português: Vítor Bruno, João Pereira, César Peixoto, Ian Cathro e Cristiano Bacci. É isto: com 17 jogos é possível ser-se o treinador mais “antigo” na I Liga! Parabéns aos cinco.
O caso do mais recente despedido supera tudo o que já se tinha visto. Daniel Sousa, que realizou trabalhos de alta qualidade no Gil Vicente em 2022/23 e no Arouca em 2023/24 (de excelência, neste caso), acaba de sofrer o segundo despedimento fulminante na mesma época. Depois de quatro jogos em Braga (dois empates e duas vitórias), António Salvador dispensou-o após… a 1.ª jornada da Liga! Em Guimarães, o “filme” foi ainda pior: fez três jogos e acabou despedido após a única derrota nos sete desafios que cumpriu em 2024/25: perdeu em Elvas, onde houve “Taça”, e não resistiu nem mais um dia.
A perceção da herança que recebeu de Rui Borges acabou por ser fatal. O anterior treinador fez uma campanha extraordinária na Conference League antes de rumar a Alvalade, “atropelando” equipas como o Floriana, Zurique, Zrinjski Mostar, NK Celje, Djugarden, Mladá Boleslav, Astana e St. Gallen. Criou-se, assim, a ideia de um Super Vitória – que, no entanto, venceu apenas 2 dos últimos 10 jogos que Rui Borges disputou para a Liga Betclic ao serviço do Vitória (Gil Vicente e Moreirense, ambos em casa).
É um facto que Daniel Sousa não ganhou nenhum dos dois (únicos) jogos que teve oportunidade de fazer pelos vimaranenses para o campeonato. Foram dois empates que estiveram muito perto de ser duas vitórias. Em Faro, num jogo em que o Vitória efetuou 28 (!) remates, o triunfo escapou no último lance do jogo (90+8m), que permitiu ao Farense chegar ao 2-2. Uma semana depois, no duelo mais extraordinário da Liga, o Vitória empatou 4-4 frente ao Sporting, com uma obra-prima de Trincão a evitar a derrota dos leões aos 90+6m.
De nada valeu ter feito 15 remates contra 10 do Sporting. Ter tido mais posse de bola (58%), ter chegado a virar um 1-3 para um momentâneo 4-3, ter tido 6 cantos contra apenas 2 do campeão nacional e, no fundo, de ter merecido o elogio de todos os que tiveram o privilégio de assistir a um duelo memorável.
Em Portugal, o processo de jogo, a ideia de um futebol evoluído e a busca por um patamar estético superior são objetivos que não estão ao alcance de gestores frios e desapaixonados, que lideram uma SAD com os mesmos princípios que, seguramente, aplicariam numa agência imobiliária, num talho ou numa fábrica de vidro.
Marco Silva, Vítor Pereira, Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição, Luís Castro ou Artur Jorge são alguns exemplos de treinadores que, a determinada altura, o futebol português “não quis” – por diferentes motivos. A vida, como se vê, reservou-lhes algo melhor. Talvez o destino de Daniel Sousa tenha de ser o mesmo."

Ténis, ténis e mais ténis, sim por favor


"Não sei se também vos acontece aí desse lado, a vocês que em princípio são gente alheia ao jornalismo, arrumarem o vosso navegador de internet como uma prateleira horizontal, encafuada de coisas por ler, a cada reinício de labuta restaurado o seu histórico de às vezes dezenas de separadores porque um dia tem 24 horas, das quais apenas oito reservadas para deveres laborais se habitássemos um mundo de unicórnios, duendes e fadas, mas nem as mais horas que dedicamos ao trabalho chegam para dar vazão ao ‘deixa cá abrir este artigo e guardá-lo aqui para ler mais tarde’, em especial para clicar no simbolozinho da “GQ” que deixei ali encostado no canto superior esquerdo até esta manhã.
Mais depressa acordei, despertei a TV nesta segunda-feira e apanhei o provável melhor tenista da história a pingar em suor, com ar atónito, barafustando coisas em sérvio e esbracejando em Melbourne, em plena passagem pelas passas do Algarve, longe da sua versão maquilhada e sem olheiras, a conceder um olhar galante para a fotografia que abre uma longa reportagem com ele a bordo de um veleiro em Kotor, no Montenegro, cheia de poses sedutoras da câmara, com roupagem à civil do seu patrocinador e encabeçado por um sugestivo título sem uma ponta de mentira: “Novak Djokovic conquistou o ténis. O que se segue?”
Seguiu-se, primeiramente, a sua desalentada postura ao perder o primeiro set contra o incógnito Nishesh Basavareddy, olha a surpresa e um sérvio com máscara de trombas no campo, mas, no segundo parcial, o acordar de Djokovic causou cãibras ao norte-americano que lentamente capitulou para suceder o previsível e seguir-se o imprevisível até há bem poucos dias de o tipo que “completou o ténis”, li agora mesmo na reportagem que estava em lista de espera, ir defrontar Jaime Faria na segunda ronda do Open da Austrália. O português que se está a estrear em quadros principais de Grand Slams jogar contra quem mais torneios destes (24) tem entre homens seria, por si só, motivo para rejubilarmos pela chegada desta fatia do ano, a que sacia a fome e nos presenteia com ténis do melhor.
Mas, e perdoem-me a ousadia, creio que o facto de o novato tenista que ainda há dias confessou à Lídia Paralta Gomes nada ter dormido, nem conseguido comer na véspera do derradeiro jogo do qualfying, estar prestes a defrontar o suprassumo das raquetes infelizmente não guarda tudo o que deveria sustentar a nossa rendição ao ténis, pelo menos durante esta próxima quinzena.
Fala-se muito, não o suficiente, das intrincarias do ténis, por alguma razão a mais mediática das costelas do desporto em que os atletas estão vetados a eles próprios, sozinhos no court com as suas qualidades e defeitos, os seus bicharocos mentais. À melhor de cinco sets (no caso dos Grand Slams) e naquele campo com uma rede no meio, cada um está por sua conta e talvez isso justifique a pletora de acrescentos a que os tenistas mais ricos, com maiores aspirações, recorrem na caça aos ganhos marginais.
Vencedora de um dos majors de 2024, Coco Gauff trocou de treinador para mudar por completo a maneira como serve, assim a meio da carreira; Naomi Osaka contratou uma antiga bailarina que a ajudasse a melhorar o seu jogo de pés; Novak Djokovic convenceu o biónico Andy Murray, recém-reformado com a sua anca de titânio, a quem ganhou 25 vezes nos bons velhos tempos, a ser seu treinador e perguntar-lhe como fazia antigamente quando jogava contra o sérvio. Isto além de rigorosamente fazer análises de sangue à semana para averiguar como está o seu corpo e, quando come fora de casa, inquirir minuciosamente quem o serve acerca das origens dos alimentos e da sua confeção, como contou à “GQ” que estou a fazer por tirar do acumulado de separadores aqui do browser.
O detalhe alcançado pela miúça a que o ténis obriga os seus até se vê refletida na polémica em voga neste Open da Austrália, já não a da deportação do sérvio, em 2022, mas a da possível suspensão que poderá ser aplicada ao número um do ranking, Jannik Sinner: falhou o ano passado dois controlos anti-doping porque, segundo alegou, um massagista da sua equipa comprou um creme em Itália com clostebol, substância proibida detetada em níveis ínfimos após ser absorvida pelos poros da pele do italiano quando foi massajado pelo tal sujeito. O caso paira no ar e nas redes sociais, onde Nick Kyrgios, o fleumático trash talker australiano, não tem poupado palavras a criticar Sinner e o que diz ter sido um tratamento diferenciado das autoridades por ser quem é. 
O ténis, mais além do detalhe, e ainda bem, também convida a esta abertura, à faceta vocal dos seus intérpretes que se munem de assessores como em qualquer outra modalidade, mas estão sozinhos nas reações em court e nas salas de imprensa, por sua conta diante dos microfones, sem generais da comunicação ao lado a acharem-se no direito de determinar o que se pode ou não falar. As entrevistas são muitas e, quando falam, fazem-no sem cassetes estragadas.
O russo Andrey Rublev, número 9 do ranking, admitiu ter-se questionado se fazia sentido viver há poucos meses, quando tomava medicação anti-depressiva e partia raquetes contra o próprio corpo. Finalista de Grand Slams, a tunisina Ons Jabeur, apelidada de “Ministra da Felicidade”, alongou-se sobre a tristeza e raiva que a atormentam devido ao massacre em Gaza, que critica sem pés ante pés, dizendo tentar não ler notícias para que elas não a atormentem à noite. Em 2023, ainda mais catraio do que ainda é, Carlos Alcaraz explicou que o poço de nervos em que estava ao perder contra Djokovic na meia-final de Roland-Garros causou-lhe cãibras. Os protagonistas baixam a guarda, destapam as suas fraquezas e criticam o que pretendem criticar.
O ténis não é um sol radiante a toda a hora. Tem as suas coisas más e irritantes como tudo quanto é desporto, o que lhe gabo é a abertura de quem joga a desvendar-se, são os tapetes estendidos à emanação das personalidades apesar da contrição a que estão obrigados no campo, onde a fasquia da exigência não cessa de ser elevada agora que se julgava que estaríamos próximos do teto construído por Djokovic, Nadal, Federer e os 66 torneios do Grand Slam que têm em conjunto.
A maior das responsabilidades recentes pertence a Alcaraz e Sinner, o binómio da nova vaga, rivais desta geração que partilharam os majors do ano passado e sem pruridos, amigalhaços confessos, treinaram juntos em Melbourne antes de arrancar o Open da Austrália, onde só se poderão cruzar nos seus campos de azul vibrante na final. Porque eles estão a deturpar o que é errar.
Os caracóis cenoura do cabeludo italiano e o espanhol que tem huevos tatuado na pele são os candidatos a ganharem tudo. E têm encarecido a expressão “erro não forçado”, banalizada no ténis, presente no glossário da modalidade e nas estatísticas de qualquer jogo. Com eles, errar deixou de ser murchar uma bola contra a rede ou atirar um smash para fora, errar hoje é não acertar com a bola em cima da linha ou já com mais da sua superfície fora do que dentro. A escala está nos milímetros. Contra quem é mais do que uma parede e devolve bolas em espargata, ou com o corpo em pose de ginasta, com a mesma potência como se estivessem a batê-la nas condições ideais, errará todo aquele que não for capaz de jogar no limite, ou pelo menos de ousar tentá-lo.
O ténis é fascinante, também, por ter um mais do que provado campeão de tudo, acabado de ganhar o ouro olímpico que lhe faltava, ainda com desejos, aos 37 anos, de desafiar a juventude de Alcaraz e Sinner. Escrevo isto e nem acabei de ler a prosa sobre Novak Djokovic banhado pelo Adriático, o separador vai continuar ali acumulado em cima por um pouco mais de tempo. Mas, pelos vistos, não será na Austrália, onde persegue um 11.º título, que o sérvio pensará no ‘quando’, porque ainda estará entretido com a forma: “Penso mais no ‘como’ gostarei de terminar a carreira. Se começar a perder mais vezes, a sentir que a distância é maior, que começo a ter mais obstáculos grandes nos Slams, aí provavelmente vou parar.” Prometo que entre hoje e amanhã acabarei de ler o resto, nos intervalos do happy slam.

O que se passou
O campeão de inverno, nobiliárquico título inventando para dar tração à prova menos estimada do futebol Portugal, é o Benfica, após vencer o Sporting, nos penáltis, na final da Taça da Liga. No dia seguinte, sumido o nevoeiro na Choupana, enquanto os rivais descansavam o FC Porto falhou o assalto à liderança no campeonato, perdendo contra o Nacional da Madeira. A Lídia Paralta Gomes contou o que se extraiu de um jogo e do outro.
Lá fora, igualmente a 11 metros da baliza, o Manchester United sobreviveu a um prolongamento com menos um jogador em casa do Arsenal e eliminou os londrinos da Taça de Inglaterra. Há mais oxigénio no balão de Ruben Amorim. Bem longe, na Arábia Saudita que recebe a Supertaça de Espanha, o Barcelona terraplanou o Real Madrid."

Zero: Afunda - S05E30 - Com Brito Reis e Francisco: os nossos All-Stars e discussão