"A primeira volta da Liga chegou ao fim, no último domingo, e há sete heróis que merecem ser destacados: Vítor Bruno (FC Porto, 2º lugar), Vasco Matos (Santa Clara, 5º lugar), João Pereira (Casa Pia, 7º lugar), César Peixoto (Moreirense, 8º lugar), Ian Cathro (Estoril, 12º lugar), Tiago Margarido (Nacional, 13º lugar) e Cristiano Bacci (Boavista, 18º lugar).
Estes foram os únicos sete treinadores – dos 18 que iniciaram a Liga – que estiveram sentados no banco da 1.ª à 17.ª jornada. Há clubes que já trocaram de técnico por mais do que uma vez (Sporting e Vitória de Guimarães), houve quem tivesse saído três dias (!) antes do campeonato começar (Tozé Marreco, no Gil Vicente), houve quem tivesse começado num clube e já tenha entrado noutro e houve quem tivesse começado a Liga como diretor desportivo e hoje seja treinador.
O técnico que ocupa o 2.º lugar, Vítor Bruno, ainda há dois dias ouvia os adeptos do FC Porto pedir a sua demissão. E até o treinador do Benfica, Bruno Lage, recente vencedor da Taça da Liga, foi confrontado na semana passada, em conferência de imprensa, com a clássica pergunta: “Sente que tem condições para continuar?”
Se excluirmos os treinadores que subiram de divisão com o Santa Clara (Vasco Matos) e o Nacional (Tiago Margarido), os restantes cinco “misters” são aqueles que, hoje, estão há mais tempo à frente de uma equipa do principal escalão do futebol português: Vítor Bruno, João Pereira, César Peixoto, Ian Cathro e Cristiano Bacci. É isto: com 17 jogos é possível ser-se o treinador mais “antigo” na I Liga! Parabéns aos cinco.
O caso do mais recente despedido supera tudo o que já se tinha visto. Daniel Sousa, que realizou trabalhos de alta qualidade no Gil Vicente em 2022/23 e no Arouca em 2023/24 (de excelência, neste caso), acaba de sofrer o segundo despedimento fulminante na mesma época. Depois de quatro jogos em Braga (dois empates e duas vitórias), António Salvador dispensou-o após… a 1.ª jornada da Liga! Em Guimarães, o “filme” foi ainda pior: fez três jogos e acabou despedido após a única derrota nos sete desafios que cumpriu em 2024/25: perdeu em Elvas, onde houve “Taça”, e não resistiu nem mais um dia.
A perceção da herança que recebeu de Rui Borges acabou por ser fatal. O anterior treinador fez uma campanha extraordinária na Conference League antes de rumar a Alvalade, “atropelando” equipas como o Floriana, Zurique, Zrinjski Mostar, NK Celje, Djugarden, Mladá Boleslav, Astana e St. Gallen. Criou-se, assim, a ideia de um Super Vitória – que, no entanto, venceu apenas 2 dos últimos 10 jogos que Rui Borges disputou para a Liga Betclic ao serviço do Vitória (Gil Vicente e Moreirense, ambos em casa).
É um facto que Daniel Sousa não ganhou nenhum dos dois (únicos) jogos que teve oportunidade de fazer pelos vimaranenses para o campeonato. Foram dois empates que estiveram muito perto de ser duas vitórias. Em Faro, num jogo em que o Vitória efetuou 28 (!) remates, o triunfo escapou no último lance do jogo (90+8m), que permitiu ao Farense chegar ao 2-2. Uma semana depois, no duelo mais extraordinário da Liga, o Vitória empatou 4-4 frente ao Sporting, com uma obra-prima de Trincão a evitar a derrota dos leões aos 90+6m.
De nada valeu ter feito 15 remates contra 10 do Sporting. Ter tido mais posse de bola (58%), ter chegado a virar um 1-3 para um momentâneo 4-3, ter tido 6 cantos contra apenas 2 do campeão nacional e, no fundo, de ter merecido o elogio de todos os que tiveram o privilégio de assistir a um duelo memorável.
Em Portugal, o processo de jogo, a ideia de um futebol evoluído e a busca por um patamar estético superior são objetivos que não estão ao alcance de gestores frios e desapaixonados, que lideram uma SAD com os mesmos princípios que, seguramente, aplicariam numa agência imobiliária, num talho ou numa fábrica de vidro.
Marco Silva, Vítor Pereira, Nuno Espírito Santo, Sérgio Conceição, Luís Castro ou Artur Jorge são alguns exemplos de treinadores que, a determinada altura, o futebol português “não quis” – por diferentes motivos. A vida, como se vê, reservou-lhes algo melhor. Talvez o destino de Daniel Sousa tenha de ser o mesmo."
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