Últimas indefectivações

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O Benfica é demasiado grande

"No nosso nome vem uma cidade e um bairro, mas nada poderia ser mais enganador. O Sport Lisboa e Benfica há muito que deixou essas fronteiras e já nem se consegue imaginar este emblema sem o mundo em seu redor. Aquilo que sempre foi uma vantagem em relação aos outros - os regionais ou de nicho - é hoje um problema. O Benfica é demasiado grande. Não só para o país, mas também para os adeptos que tem. Enquanto uns se esforçam para sair do calor da noite e outros continuam a viver os tempos áureos dos seus avós, nós temos de nos preocupar com o presente e com o futuro. E não é fácil. No mais democrático dos clubes portugueses, todos têm voz. Até os que nada percebem de desporto e de gestão, de comunicação ou de justiça. Fôssemos nós um clube feito de provincianos ou de lambe-botas e as coisas seriam, com certeza, mais tranquilas.
Mas felizmente não somos. Somos um clube de gente com opinião. De povo que gostar de deitar cá para fora tudo o que sente. De adeptos que não vêem qualquer mal em dizer mal do seu treinador numa semana e de o colocar num pedestal no minuto a seguir a uma vitória. Somos feitos de homens e mulheres que não colocam outra hipótese que não seja vencer. Não interessam pormenores como a qualidade dos adversários, orçamentos fantasiosos, arbitragens maliciosas, erros infantis de jogadores a favor dos rivais, nomeações de laboratório, jogos da mala ou lenocínio.
Em caso de dúvida, a culpa é sempre do Benfica.
Mesmo para os benfiquistas - alguns  benfiquistas - o mal está sempre cá dentro. E enquanto pensarmos assim, estamos a alimentar a fogueira de quem nos quer ver pequenos. Temos pena, mas somos grandes.
Demasiado grandes."

Ricardo Santos, in O Benfica

Solução para o clássico: correr o dobro

"Nos últimos dias tenho tido alguma dificuldade em raciocinar, fala arrastada, várias tonturas e intermitentes dores de cabeça. A minha mãe, aflita, tem insistido comigo para me dirigir o mais rápido possível às Urgências. 'Olha que esses sintomas podem significar AVC', já me alertou. Enquanto filho, devo confessar que me sinto desiludido. A minha mãe liga comigo há 24 anos e ainda não percebeu que estes sinais só podem derivar de um único motivo: avizinha-se um jogo importante para o Benfica.
Espero que o leitor não me interprete mal: bem sei que todos os jogos do Benfica são de elementar relevância. Porém, um clássico é um clássico. É o vermelho contra o azul. É a águia contra o dragão. É o amor contra o ódio. É o Jonas contra o Felipe. É o Salvio contra o Maxi Pereira. É o Nuno Gomes contra o Jorge Costa. É o Eusébio contra o Carlos Calheiros.
A realidade é severa, mas não há como a negar. Nos duelos com o FCP, o Benfica tem sido como as relações amorosas de Pinto da Costa: infeliz. As estatísticas assim o demonstram - tanto num caso como noutro. Umas vezes por demérito, outras por escassez de sorte, as vitórias tem escapado mais do que o desejável. Confio num triunfo do Benfica, apesar de reconhecer a espinhosa missão, sobretudo pela dificuldade que Pizzi e companhia terão em movimentar-se com uma roupa tão pesada. Caso se confirme o rumor (que estou prestes a inventar) de que os jogadores do Benfica se irão apresentar em campo com um equipamento de GR de hóquei em patins para se protegerem dos lances divididos com o Felipe, o único meio de conquistarem os três pontos será seguirem uma velha máxima de gíria futebolística: vão ter de correr o dobro."

Pedro Soares, in O Benfica

Made in Seixal

"Ederson, Oblak e Bruno Varela; Cancelo, Nélson Semedo, Lindelof, Rúben Dias, Yuri Ribeiro e Mário Rui; Danilo, Gedson, Alfa, André Gomes, Renato Sanches, Ronny Lopes, João Carvalho, Diogo Gonçalves e Bernardo Silva~, Gonçalo Guedes, Cavaleiro, Nélson Oliveira, Hélder Costa e João Félix. Com um ou outro retoque, este poderia ser um plantel candidato a tudo. São 23 jogadores (16 deles internacionais A), todos formados no Seixal. E outros vêm a caminho (Ferro, Florentino, Embaló, Jota, Dantas, etc.).
Faltará aqui talvez um grande ponta-de-lança. Com essa excepção, todas as restantes posições estariam bem guarnecidas. E com dois ou três reforços cirúrgicos, creio que estaríamos perante uma equipa capaz de discutir provas europeias.
Infelizmente, não pudemos segurar a maioria destes jovens tanto tempo quanto desejávamos. As leis do futebol moderno são implacáveis, e empurram o talento para campeonatos de maior visibilidade e riqueza. Em contrapartida, já entraram nos cofres da Luz mais de 200 milhões de euros, fruto das vendas de alguns deles. Entretanto, 6 permanecem no Benfica, e 3 (Rúben, Gedson e Félix) têm sido regularmente utilizados por Rui Vitória.
Há que dizer que Seixal é uma aposta ganha. Mesmo os mais cépticos (dos quais, confesso, eu fazia parte) terão de dar o braço a torcer. A nossa escola de jogadores é mesmo das melhores da Europa, e tem funcionado como verdadeira fábrica de talentos.
Para completar o projecto, falta criarmos as condições económico-financeiras para que mais jovens se mantenham, por mais tempo, na equipa principal.
É esse o desafio dos próximos anos."

Luís Fialho, in O Benfica

Assembleia Geral

"A última Assembleia Geral foi mais uma prova da força do Sport Lisboa e Benfica. Numa reunião muito participada, o Relatório & Contas de 2017/18 foi aprovado por uma esmagadora maioria - 78,9%.
Destaque para os resultados mais uma vez positivos e que fazem do nosso clube um modelo na área da gestão. Um dos indicadores que provam a força e a consistência do Benfica moderno é o resultado da quotização. Pela primeira vez passámos a receita dos 16 milhões de euros. Estamos já a caminho dos 229 mil sócios, e o número não pára de crescer.
A Assembleia Geral ficou marcada por dois grandes momentos - a apresentação das Contas por parte do vice-presidente Nuno Gaioso Ribeiro, e a intervenção do presidente. Com a clarividência e transparência que caracterizam as suas apresentações, o vice-presidente do SL Benfica destacou os resultados líquidos da actividade isolada do Sport Lisboa e Benfica 18,3 milhões de euros. Ou seja, resultados positivos pelo 9.º ano consecutivo. A intervenção do presidente, considero-a histórica, pois revelou uma grande notícia - a renovação do contrato com a Emirates. Foi graças a uma política sólida, de enorme consistência e resiliência que foi possível renovar esta estratégica parceira. Felizes os clubes que têm dirigentes que honram e prestigiam a instituição que servem. Luís Filipe Vieira deu mais uma prova de enorme categorias e, sobretudo, de determinação em garantir o SL Benfica do futuro, ao sublinhar que 'temos um projecto desportivo para ganharmos mais vezes, para sermos mais fortes, para formar e reter os nossos melhores talentos'.
Em suma, o grande vencedor da Assembleia Geral foi o Sport Lisboa e Benfica."

Pedro Guerra, in O Benfica

Desporto sempre, no trabalho, na escola, em toda a parte!

"A actividade física é cada vez mais associada à saúde e ao bem-estar, seja pelos benefícios que fisicamente dela retiramos, seja pela capacidade de agregação e inclusão social que o desporto reconhecidamente tem, muito particularmente no caso dos chamados desportos de equipa. Na verdade, com a prática desportiva, a aproximação entre os indivíduos produz melhorias importantíssimas na relação e salda-se invariavelmente pela atenuação dos níveis de conflitualidade e violência física e psicológica a que os diferentes e os mais fracos estão crescentemente sujeitos nas instituições em que desenvolvem as suas vidas e onde socializam quotidianamente. Na verdade, instituições como a escola ou a empresa cumprem um papel fundamental nas nossas vidas dado o volume de tempo nelas dependido. Assim, para lá da família nuclear e das relações vicinais de maior proximidade e interdependência, é nestas instituições que escolhemos e cultivamos amizades, que desenvolvemos e afirmamos lideranças. E, não menos importante, é também nelas que validamos comportamentos e sucessos pessoais pelo reconhecimento dos nossos pares. Somos uma espécie gregária, cujo sucesso individual no jogo competitivo da evolução e da selecção natural depende em larga medida do grupo que nos acolhe e protege.
Somos indivíduos complexos, porque competitivos entre nós e colaborativos contra as outras espécies ou contra outros grupos culturais da nossa mesma espécie.
Isto faz com que, não raras vezes, surjam disfunções no jogo normal da relação entre os indivíduos, levando à afirmação de lideranças pela negativa e ao jogo competitivo dominado pela força física e/ou psicológica.
O bullying encontra neste terreno a suas melhores lavouras. Acentua-se e legitima-se pela diferença, pela redução dos indivíduos que não atingem patamares mínimos de beleza, destreza física ou intelectual, mas também pela cor, pelo vestuário, pela orientação sexual, pela religião, pela nacionalidade. Ou dentro do mesmo país, pela região donde somos oriundos, ou ainda por dicotomias campo-cidade, pobre-rico. Ou ainda, crescentemente, pela discriminação pela idade, a que até uma nova palavra (o 'idadismo') já veio dar nome em sinal dos tempos que atravessamos...
A tudo isto, e muito mais, faz bem a prática desportiva. Muito para lá de vísceras e músculos, de órgãos vitais ou aperfeiçoamentos físicos, a prática desportiva, regida por valores aproxima, liga e constrói pontes indeléveis entre os indivíduos, acelerando e descoberta mútua, a tolerância e a cooperação e esbatendo a diferença qualquer que ela seja. O desporto conserva intacta a nossa natureza competitiva e predadora, mas também gregária, garantido a satisfação dessas necessidades em sociedade e a convivência pacífica entre todos. É, sem dúvida, uma importante ferramenta de construção de coesão social e bem-estar individual e um importante factor de integração social. É por isso que na Fundação Benfica damos tanta importância à Semana Europeia do Desporto:
Porque, da maneira que vai o mundo, bem precisamos dele, em casa, na escala, no trabalho e em toda a parte!"

Jorge Miranda, in O Benfica

AG: os tempos e os modos

"A Assembleia Geral, sendo sempre um momento de exame a reflexão do Benfica, constitui, não menos, uma soberana ocasião para exaltarmos o fervor democrático do maior clube português, que hoje e sempre há de prevalecer como o seu fundamento essencial. Ao contrário dos rivais mais conhecidos, com cujas reuniões, preferentemente, se cultivam com maior afinco desgraçados populismos ou decisões sempre indiscutidas, o Benfica sempre se vestiu de fala para enfrentar objectivamente as suas realidades; sejam elas mais ou menos favoráveis e positivas.
Num clube com a dimensão do Glorioso - em 'velocidade de cruzeiro', as nossas Assembleias Gerais ordinárias têm quase sempre três, cinco, dez vezes mais participantes do que as reuniões dos outros. Os Sócios do Benfica acorrem geralmente em grande número às sessões magnas e são sempre muitos aqueles que se inscrevem para se pronunciar, com as suas sensibilidades próprias, acerca dos assuntos constantes da 'Ordem do dia', ou nos tradicionais pontos para o tratamento de 'Outros assuntos', confrontando directamente os corpos sociais ali presentes.
Conhecemos grandes oradores que, ao longo dos tempos, habitualmente se distinguiam das intervenções comuns, pelo brilho das suas exposições; mas muito recordemos também, Sócios que não conhecíamos e que, chegados aos pavilhões, vindos do centro da cidade, ou dos confins transmontanos, das Beiras ou do Alentejo, de repente, reunião após reunião, passavam a salientar-se na simplicidade dos seus argumentos, pela genuinidade e fortaleza do seu sentimento Benfiquista.
Aqui, há trinta ou quarenta anos, uns e outros, tantas vezes, conseguiram reverter ou acentuar as tendências em que uma Assembleia decorria... Uns e outros, dos 'retóricos' ou dos 'populares', tiveram o dom de galvanizar, de modo diferenciado e absolutamente motivador, milhares dos seus consócios mais indecisos quanto à decisão mais oportuna... Por seu turno, do lado dos corpos sociais do Clube, das diferentes interpretações dessa verdadeira 'arte' que é saber gerir e conduzir as matérias, a forma e a cadência das intervenções dos Sócios nas nossas magnas sessões, também nos vêm à memória exemplos inesquecíveis e estilos verdadeiramente inconfundíveis, que também não irei nomear.
Hoje, em pleno século XXI, a essência material dos conteúdos das reuniões ordinárias permanece. Mantém-se o tal fundamento essencial do 'fervor democrático' que caracteriza, para sempre, o clube de Cosme Damião e Félix Bermudes. Mas, em todo o caso, os tempos e os modos das Assembleias Gerais do Sport Lisboa e Benfica são diferentes.
O que, no entanto, do meu ponto de vista, não é aceitável, nem sequer concebível, são os impropérios e as faltas de respeito em sessões da Assembleia Geral do Benfica. Ainda que sejam vindos da mesmíssima escassa parte de umas poucas dezenas de Sócios excêntricos que nestas ocasiões persistem na obstinação das suas fantasias - pelo respeito que todos devemos ao Sport Lisboa e Benfica e a todos os seus institutos, entendo que a própria Mesa, em tais circunstâncias, tem o dever de, cautelarmente, tecnicamente, precaver e pôr cobro a todos os comportamentos antissionais que venham a verificar-se."

José Nuno Martins, in O Benfica

Jornada de clássico

"Neste fim-de-semana prolongado, os adeptos do futebol português já vão fazendo a contagem decrescente para o clássico que se disputará no próximo domingo. Um Benfica – FC Porto com as duas equipas separadas por um ponto, no qual águias e dragões vão querer aproveitar a partida para aumentar distâncias entre si e não perder de vista o 1.º lugar, actualmente nas mãos de um surpreendente Braga.
Ambas as formações chegam ao jogo com a confiança em alta, depois das prestações europeias positivas. O Benfica poderia ter tido um jogo mais tranquilo na Grécia, estando a vencer por 2-0, mas a expulsão de Rúben Dias e a recuperação do AEK forçaram a um jogo de sacrifício e entrega, no qual um herói improvável, Alfa Semedo, conseguiu fazer um disparo feliz que garantiu o triunfo. Já o FC Porto, num jogo disputado com o Galatasaray, conseguiu aproveitar uma bola parada da melhor forma para ficar com os 3 pontos.
O clássico da Luz vai ser um jogo de paciência, mas cheio de intensidade. Pela histórica rivalidade, mas também pelas estratégias que os técnicos colocarem em campo. Ninguém quer perder esta partida, pelo que os dois lados surgirão na expectativa, com o objectivo de fecharem os espaços ao adversário e ganharem os intensos duelos individuais a meio campo. Não será de admirar que as equipas reforcem a presença no sector intermédio, no sentido de pressionarem sempre em zonas mais avançadas do terreno. Deste modo, teremos duas equipas a tentar encontrar espaços para surpreender o rival e aproveitar um rasgo individual, ou uma bola parada, para fazer a diferença.
Face às ausências de Jardel e Germán Conti, Rui Vitória terá de mexer no eixo da defesa, estreando provavelmente a dupla Rúben Dias – Cristián Lema, com o central argentino a ter assim um teste de fogo, na sua estreia a titular no campeonato. Será uma das curiosidades do clássico, perceber se a falta de rotina desta dupla, vai ou não afectar o desempenho defensivo. Por seu lado, no ataque, e com Jonas de volta às opções, não seria de admirar que o técnico das águias apostasse na entrada do goleador brasileiro a titular.
Por sua vez, teremos um FC Porto privado de Aboubakar, afastado devido a lesão. Isso já obrigou Sérgio Conceição a repensar a frente de ataque no jogo com o Galatasaray, sendo que Marega correspondeu da melhor forma com o golo da vitória. Repetirá a fórmula do jogo de quarta-feira? Uma boa questão. Soares também passa a estar disponível e pode não ser descabido pensar num meio campo com Danilo, Sérgio Oliveira e Herrera, algo que foi ensaiado nos clássicos da época anterior. Apesar de ainda se notarem algumas falhas, a equipa portista começa a revelar maior acerto defensivo, cumprindo já 3 jogos consecutivos sem sofrer golos.
A história do clássico da Luz tem sido favorável ao FC Porto na última década, com 4 vitórias, 4 empates e apenas 2 derrotas. E os dragões não perderam nos últimos 4 jogos realizados. No entanto, a história vale pouco nestas partidas em que o equilíbrio de forças é semelhante. Qualquer um dos lados pode triunfar.
Uma vitória das águias abre uma distância de 2 pontos e vantagem no confronto directo com o FC Porto. Por seu lado, se os dragões ganharem ficam com um avanço de 4 pontos para o rival. E um empate pode fazer com que o Braga se torne ainda mais líder em caso de vitória na recepção ao Rio Ave. E não esquecer que, se o Sporting vencer em Portimão, vai ganhar pontos a um dos rivais ou mesmo aos dois. Não faltam motivos de interesse nesta jornada.

O Craque – André Silva em alta
Com 7 jornadas decorridas na liga espanhola, André Silva surge como o melhor marcador com 7 golos, à frente de nomes como Messi, Benzema ou Luis Suárez. O ponta de lança português está a aproveitar da melhor forma o empréstimo ao Sevilha e a recuperar a veia goleadora que lhe faltou ao serviço do Milan. Em Itália, não foi uma aposta regular no onze e isso também prejudicou o seu rendimento (10 golos em 40 jogos e apenas 2 golos na liga italiana, onde só foi titular em 7 ocasiões). No Sevilha, o avançado está a mostrar o que vale e poderá continuar a evoluir.

A Jogada – Selecção em duas versões
são conhecidos os convocados para os próximos compromissos da Seleção Nacional e Cristiano Ronaldo continua de fora. E assim será até ao final do ano. Como se viu no jogo com a Itália, Fernando Santos está a trabalhar novas ideias e a introduzir opções no grupo. E a resposta tem sido positiva. Portugal tem matéria-prima e talento para garantir o seu futuro. Mas Cristiano Ronaldo continua a ser uma mais-valia inquestionável. A necessidade de gerir estas duas versões, com e sem CR7, exige gestão atenta. Mas o capitão fará sempre falta.

A Dúvida – Arranque tremido?
Uma eliminação precoce da Taça da Liga inglesa, uma série de 4 jogos sem vencer e rumores de uma relação fragilizada com diretores e jogadores do plantel do Manchester United, colocam José Mourinho no centro das atenções. Com a equipa em 10.º lugar na liga, a 9 pontos de Manchester City e Liverpool, naquele que é o pior arranque dos últimos 29 anos dos Red Devils na Premier League, o treinador português enfrenta um momento complicado. Segue-se agora um ciclo de jogos que inclui Newcastle (casa), Chelsea (fora) e Juventus (casa). Conseguirá dar a volta por cima?"

Sobre a simplicidade das coisas - e não há nada mais simples do que um jogo de futebol

"No futebol como na vida, as coisas podem ser simples. Muito simples. Peguemos num exemplo actual: o clássico do próximo domingo, entre Benfica e FC Porto. É mais um jogo importante, com história e pergaminhos, que se perspectiva intenso, animado e disputado.
Os jogadores, verdadeiros actores deste filme, têm uma missão muito clara: vencer o adversário, colocando em prática estratégia colectiva, inspiração momentânea e talento individual.
Árbitros e treinadores, os outros dois intervenientes directos na partida, têm missões semelhantes: os primeiro tentarão zelar pelo cumprimento das regras. De preferência, com respeito e desportivismo. 
Têm obrigação de se preparar física, mental e emocionalmente e de obedecerem, apenas e só, à sua consciência. Devem ser a neutralidade em pessoa e exercer a sua missão com máxima seriedade, competência e enorme sentido de justiça.
Os segundos tentarão ganhar os três pontos. De preferência, proporcionando bom espectáculo, jogando bom futebol.
São fundamentais na conduta dos seus jogadores e, quando jogam em casa, têm responsabilidade acrescida quanto ao comportamento dos seus adeptos. Devem lutar pela vitória, com responsabilidade, carácter e personalidade.
Por último, os adeptos. Os adeptos, que são quem verdadeiramente sustenta a indústria, têm direitos e deveres. Têm o direito a assistir ao maior e melhor espectáculo possível e de vivê-lo intensa e apaixonadamente. São eles que pagam as quotas, os bilhetes e os canais pay-per-view. Têm, pois, direito a libertar as suas emoções e a entregar ao jogo toda a cor, magia e emoção.
Por outro lado, têm o dever - cívico - de se comportarem como pessoas. Pessoas de bem.
Não gostar, discordar ou criticar faz todo o sentido. Vandalizar, bater, ofender, perseguir, magoar e ameaçar... não.
No futebol, há sempre espaço para quem vem por bem. Não há, não pode haver lugar para usar o jogo como pretexto para cometer crimes.
Simples, não é? Agora vamos ao outro lado.
O que se espera dos restantes intervenientes - responsáveis dos clubes, generalidade da imprensa, comentadores desportivos (onde agora me incluo) e afins - é que cumpram a sua função de dirigir, descrever e opinar/criticar, com sentido ético, respeito e independência.
O futebol do vale-tudo não é compatível com um estado de direito democrático, com um país livre e igual para todos. É terceiro-mundista.
É a antítese do que deve ser um universo que movimenta tantos recursos humanos, técnicos e materiais.
O futebol em Portugal é uma indústria que factura centenas de milhões de euros por ano. É a maior e mais visível montra do país. É o exemplo maior de jovens, meninos e meninas, que anseiam por imitar os seus ídolos e crescer para ser como as suas grandes referências.
Os dirigentes dos clubes, não apenas destes mas de todos - têm essa noção e por isso sabem que recai sobre isso tremenda responsabilidade social.
Sem prejuízo de defenderem intransigentemente as suas cores, têm o dever de manter uma conduta digna e um comportamento correto.
Devem evitar guerrilhas verbais que intoxicam o povo e que nada contribuem para pacificar o ambiente. Devem evitar estratégias desonestas ou condutas pouco claras, que os desprestigia. A eles e às instituições que representam.
Devem respeitar-se mutuamente. Devem saber perder e saber vencer. Devem perceber que há muitos adeptos que pensam pela sua cabeça. Devem gerir o rumo das suas equipas, honrando dignamente o voto de confiança que lhes foi dado em ato eleitoral.
No fundo, os dirigentes do futebol moderno, por força do seu mediatismo e das marcas que representam, têm a obrigação moral de serem pessoas exemplares. A imprensa é o maior veículo de ligação entre quem está lá dentro e quem está cá fora. Tem o direito a aceder à maior informação possível e o dever de a reportar factualmente.
A imprensa tem que ser corajosa e ética. Muito ética. Deve trabalhar com a verdade, para a verdade, pela verdade.
Não pode servir outro interesse que não o interesse público. Deve saber manter distâncias entre o que gosta e o que faz. Entre o que sente e aquilo que tem que publicar para o exterior. Um bom jornalista respira independência e isenção. É firme, corajoso, coerente. É livre. Por isso, é respeitado. É o maior jogador da sua equipa, nunca o ponta de lança de outra.
Os comentadores generalistas (não os associados às equipas) têm idêntica missão: opinar de forma clara, consciente e ética. Devem dizer o que pensam, sem receios nem dependências. Devem ser fiéis às suas ideias, não subservientes ao que sugerem os outros. Devem ser tão factuais quanto possível, fundamentando cada raciocínio de forma a que todos entendam, ainda que discordem. Ainda que não gostem.
No futebol como na vida, é tudo muito simples.
Por trás de cada jogador, árbitro, adepto, dirigente, jornalista ou comentador mora uma pessoa. E se essa não tiver valores, o que produzirá será sempre dúbio e quase sempre nocivo, tóxico e imoral.
O futebol será tão melhor quanto a integridade de quem o joga, arbitra, dirige, aplaude, comanda, critica e comenta.
Tão simples, não é? Por que é que custa tanto?"

Teve de ser Odysseas a conduzir o Alfa

"Exibição do guarda-redes alemão e pontapé do guineense evitaram um embaraço a Rui Vitória

Desta vez o Alfa chegou a tempo, como dizia a manchete do Maisfutebol na terça-feira à noite, mas foram as mãos seguras de Odysseas Vlachodimos a conduzir o Benfica ao regresso às vitórias na Liga dos Campeões.
Mais do que o golo de Alfa Semedo, foi a exibição do guarda-redes alemão a evitar um embaraço a Rui Vitória, que durante largos minutos foi incapaz de controlar aquilo que se estava a passar em campo.
Um eventual empate teria sempre uma carga negativa. Não só por ser o segundo consecutivo, antes do clássico com o FC Porto, mas sobretudo porque o Benfica renegou as condições favoráveis que criou no próprio jogo de Atenas. Frente a um adversário de um patamar claramente inferior, como a fase inicial do jogo comprovou, por mais que depois o próprio Benfica tenha andado a contrariar esta realidade.
E a expulsão de Rúben Dias não é atenuante suficiente para a desorientação encarnada, até pelos sinais dados mesmo antes do cartão vermelho do central. Com o conforto de dois golos, o Benfica foi incapaz de gerir o jogo em posse. A saída de Salvio ao intervalo também não ajudou, ainda que a necessidade de lançar Lema e os problemas físicos recentes do argentino possam ajudar a entender a opção. Mas este é um problema antigo da equipa de Rui Vitória, e que já alguns pontos tem custado. 
Perante isto o AEK foi assumindo o jogo, e mesmo com onze jogadores a equipa portuguesa começou a revelar insegurança defensiva. Limitada tecnicamente, a equipa grega dispôs de enorme liberdade na primeira fase de construção, muito por força da distância de Seferovic para os colegas. A missão de Seferovic seria cortar a ligação entre os centrais, mas isso tornou-se ineficaz perante a saída a três do AEK, e porque a linha intermédia do Benfica estava muito distante.
Na segunda parte, já sem Rúben Dias, o Benfica entrou num estado de profunda desorientação defensiva, patente sobretudo no lado direito. Colocado no lado direito, Pizzi nunca se entendeu com André Almeida para controlar os movimentos interiores de Mantalos e as subidas de Hult, que a dada altura parecia um lateral de classe mundial, tantos os desequilíbrios que consegue criar, incluindo a assistência para o primeiro golo. Pizzi e André Almeida nunca se entenderam relativamente ao posicionamento defensivo. Nunca ficou claro quem acompanhava os movimentos interiores do médio-ala e as subidas do lateral.
Perante a assustadora simplicidade com que o AEK explorava o lado esquerdo do ataque, Rui Vitória decidiu tirar Pizzi e lançar Alfa Semedo, deixando Gedson a fechar o lado direito. A equipa ainda estava a adaptar-se às mudanças quando sofreu o golo do empate.
Pouco depois Odysseas assinou o ponto alto da sua exibição, ao negar o golo a Klonaridis, e como que a lançar o golo de Alfa Semedo, que surgiria dois minutos depois. Só aí o Benfica entrou alguma estabilidade. Mais pelo efeito psicológico do remate certeiro do guineense do que propriamente pela capacidade de adaptação às circunstâncias do jogo."

Celebração e requinte

"Foi uma semana para recordar. Em Stamford Bridge, no paradisíaco Jardim do Eden, Maurizio Sarri e Jürgen Klopp celebraram o jogo e o requinte das equipas que dirigem. Depois do apito final do Chelsea v Liverpool, Sarri estava tão deslumbrado com o remate curvado de Sturridge e com a categoria exibida pelas duas equipas nos noventa minutos que nem sequer valorizou muito a perda de vantagem dos Blues no placar. Primeiro, o prazer.
O Liverpool está muito forte e constitui-se candidato consistente à conquista da Premier League. Antevê-se, por isso mesmo, um desafio titânico em Anfield no próximo domingo contra o Manchester City, dias depois de Guardiola ter confrontado um Hoffenheim bastante sagaz, com o cunho de Nagelsmann, particularmente no modo como Demirbay e Grillitsch planearam anestesiar Gundogan e David Silva.
De qualquer forma, o Chelsea foi do oito ao oitenta da época anterior para a presente. Com Sarri na sucessão de Conte, o Chelsea dá muito mais valor ao passe, ao controlo, à troca posicional - cenários onde facilmente sobressai Mateo Kovacic na desenvoltura técnica da meia-esquerda dos azuis, combinando com Marcos Alonso e Eden Hazard. A propósito do belga, viram como marcou o golo contra os Reds no jogo em Londres? Em Anfield, na Taça da Liga, já tinha assinando um solo monumental com um slalom inacreditável partindo do flanco direito.
Mas reparem no 1-0 em Stamford Bridge, como ele arrastou Alexander-Arnold para a zona do grande círculo. Kovacic e Jorginho entraram no “meínho”, descongestionaram e o lateral-direito do Liverpool ficou desorientado, sem saber quem tinha de pressionar e em que posição é que tinha de se estabelecer. Em poucos metros quadrados, como Sarri instiga em Cobham, o Chelsea saiu da zona de pressão efectuada pelo adversário e Kovacic transmitiu o passe frontal para a corrida de Hazard, que rasgou no corredor onde faltava… Alexander-Arnold, perdido algures na linha do meio-campo. Se há equipa que sabe como desajustar o adversário, essa equipa é o Chelsea de Sarri.
Hazard disse que vai deixar de celebrar os golos a deslizar os joelhos no relvado para evitar lesões. Tenho pena porque era dos festejos mais sensacionais do campeonato inglês. Mas, para além disso, todos estavam curiosos em ver como iria Morata celebrar o golo que marcou, ontem, aos húngaros do Vidi, na Liga Europa. Na verdade, não foi particularmente efusivo e até pareceu ter chorado, avaliando pela carga negativa que tem tido em cima dele, de precisar de muitas oportunidades para pôr a bola dentro da baliza, pelo jogo picado que estava a ter com Juhász, e pelo facto de ter perdido a titularidade para Giroud. Morata não é tão dominante na frente como era Diego Costa. Giroud também não o é, mas, na função de ponta de lança utilitário, fornece uma referência mais fixa e potencia mais tabelas para as combinações rápidas com Hazard, Willian e Kanté.
Noutra esfera, Benfica e Porto safaram-se nesta jornada europeia. Os lisboetas, notoriamente superiores ao AEK como demonstraram na primeira meia-hora, viveram uns bons minutos de pânico na segunda parte e Alfa Semedo fez um milagre. O Benfica era tão melhor equipa que, mesmo considerando a expulsão de Rúben Dias, não se justifica uma quebra tão abrupta da equipa de Rui Vitória.
Na Invicta, o jogo foi mais ritmado e Marega fez a diferença no pontapé de canto batido por Alex Telles. O maliano concluiu na zona coberta por Nagatomo (!). Os campeões vão à capital defrontar os vice-campeões no domingo para o campeonato. Sem o poder de Aboubakar e guardando André Pereira no banco, Conceição pode restabelecer a dupla Tiquinho e Marega para arrombar o eixo remendado do Benfica, enquanto Rui Vitória não pode dar-se ao luxo de colocar Gedson no banco. Seferovic tem tido uma boa participação a gerar apoios fora da grande área como foi visto em Chaves e vai marcando golos ocasionalmente, como em Atenas. Talvez ainda não seja desta que Jonas, Ferreyra ou Castillo lhe tiram o lugar no onze, ainda que a fasquia esteja bem alta para o suíço.
Não é muito fácil prever quem é que terá mais volume atacante na Luz. O Benfica não tem, de todo, essa obsessão, pois até prefere privilegiar ataques incisivos de pouca duração com os raides de Cervi/Rafa e Salvio, bem como pedir a Gedson ou Pizzi que se desmarquem pelo corredor central. E, para isso acontecer de forma mais bem planeada, Rui Vitória contempla uma equipa ligeiramente recuada no campo, chamando o adversário até à sua metade do campo, ganhar espaço e partir para a invasão. Essa até pode ser, também, uma boa forma de reduzir um dos pontos fontes actuais dos dragões: o momento excelente de Otávio na manobra e no pressing, como ficou comprovado contra o Tondela e contra o Galatasaray.
Conceição também prefere que o adversário abra espaço nas costas da defesa para favorecer a explosão de Marega, daí que possamos ter um dilema interessante interpretado pelos dois treinadores: dar um pouco de iniciativa ao oponente pode ser o caminho encontrado para o triunfo: "Joga tu, que eu espero".
Não sei como vai ficar o resultado, nem a ênfase com que ambos os treinadores vão querer as respectivas equipas propositadamente recuadas para obter o desejado espaço que permite a afirmação dos atacantes, de Salvio a Marega. No entanto, já não seria nada mau se, no fim, os dois treinadores celebrassem o futebol como vimos em Londres no sábado. Aquele sorriso de Sarri no abraço a Klopp será uma das imagens mais icónicas da história da Premier League. Em Portugal, estamos a precisar do mesmo respeito pelo jogo."

Afinal, que género de desporto queremos? (não, o desporto não é coisa de “macho”)

"O desporto era coisa de “macho”. As mulheres não tinham sequer entrada no stadium, já que se tratava de medir “habilidades de homem” – elevação, força, velocidade – mais do que delicadezas de mulher (mesmo se esta já fora tanto a caçadora da família, como a guerreira da nação). Hoje, felizmente, tudo é diferente: as mulheres não só frequentam entusiasticamente o estádio, como são protagonistas de pleno direito da prática desportiva; ou, pelo menos deveriam sê-lo, à luz da lei.
Não vamos, portanto, fazer a apologia do desporto no feminino. Vamos tão só tentar alertar para um dos maiores perigos que, acreditamos, o ameaça: a livre opção de género; a morte desportiva da mulher! O objetivo é, apenas, retomar a apologia do desporto e a defesa da sua perenidade, baseados no superior princípio da igualdade de direitos entre mulheres e homens.
A tendência evidenciada pelo desporto moderno sugere uma evolução no sentido certo: no do reforço da igualdade de oportunidades, de direitos e de deveres. Inclusivamente, acreditamos que se tenderá a reconhecer ao desporto no feminino (e ele tenderá a conquistar) a espectacularidade e, consequentemente, o mediatismo (e tudo o que ele transporta), característico do desporto no masculino. Isto acontecerá em paralelo com a valorização da mulher nas modalidades mistas: umas que obrigam ao desempenho partilhado de um homem e de uma mulher (ou de vários homens e mulheres) em cada “equipa” e outras em que mulheres e homens competem entre si de forma directa e sem “handicaps” distintos (sobretudo aquelas em que os desportistas se vêm “transportados”, como são os casos do hipismo e dos desportos motorizados). Apesar deste desporto “unissexo” ser interessante e apelativo, não acreditamos que possa tornar-se predominante, nem nos motiva a defesa desse paradigma!
Defendemos é um desporto limpo e honesto, escorado numa ética de valorização e respeito pelo indivíduo; que não traia nem os praticantes nem os demais agentes desportivos, e muito menos que defrauda as legítimas expectativas dos que acreditam nele como móbil de superiores valores educativos. É por isso que defendemos um desporto por categorias de prática, mas onde as categorias sejam justas e respeitadas; seja no desporto Paralímpico, no desporto Olímpico ou noutras formas de manifestação desportiva. Que crianças e jovens se confrontem com os da sua igualha, que gerontes o façam com gerontes, que homens o façam com homens e mulheres com mulheres, quando assim for determinado pelas “regras”. Não podemos é admitir que humanos se vejam obrigados a competir com “pós-humanos”, quando estejam provadas as vantagens trazidas pelo “tecno-doping”, seja através de que itinerário da bioengenharia o fenómeno possa ocorrer. Como não podemos admitir outras misturas!
Neste contexto, caro leitor, liberalizar a opção de género e transportá-la para o desporto parece-nos muito arriscado. Transporta os riscos de esconder nela a solução para o menor sucesso desportivo de uns quantos (homens); riscos de, através dela, se conseguir de forma mais fácil o sucesso, a fama e o lucro; riscos de perverter a essência do desporto: o talento, a disciplina e o trabalho. No fundo, riscos de matar o desporto; pelo menos de matar o desporto no feminino, trocando-o por uma coisa de outro género…"

Uma narrativa não ficcionada

"Sempre guardei ciosamente a minha identidade e, o mais que pude, a minha independência. Daí, que os meus signos não sejam os mais usados e os meus códigos pareçam transgressivos. Daí, que a prática dita desportiva, ou se apresenta com valor formativo, ou não se reduz à linguagem financeira, ou surge norteado por valores – ou, para mim, não é desporto. Iniciei, com 31 anos, a minha actividade quase literária, no extinto jornal Os Belenenses, ora criticando, com filtro severo e apaixonado, a vida do meu Clube, ora relatando avidamente jogos de futebol. Passados alguns anos, comecei a escrever, a convite do jornalista Luís Alves, no caderno desportivo do jornal O Século. E, em 1971, o dr. Raúl Rego, director do jornal República, honrou-me com um convite para colaborar neste jornal de genuíno ideário liberal, laico e anti-fascista. Nas minhas visitas semanais à redacção, onde deixava a minha colaboração habitual, conheci pessoalmente o Alberto Arons de Carvalho, o Mário Mesquita, o António Reis, o Jaime Gama, o Álvaro Guerra, o José Jorge Letria e outros jornalistas que sabiam usar palavras de atraente recorte e ressoante contestação. Os meus escritos que pareciam (e parecem) de mera convivência pacífica e que não merecem qualquer assomo de crítico empolamento, também não pretendiam (não pretendem) instalar-se no “desporto pelo desporto”. Rejeitando embora o lardo da intolerância, faço do desporto (como já o tenho dito inúmeras vezes) um “pretexto” para concorrer, na medida das minhas posses, ao enraizamento dos valores universais do humanismo, na História, na Sociedade e na Vida. Concordo com os que dizem que “o futebol é a coisa mais importante das coisas pouco importantes”. Não diria o mesmo do desporto – que, no meu modesto entender, não se confunde com o gongorismo e a truculência de um certo futebol muito publicitado e propagandeado.
Relembro com saudade a minha conversa com o Dr. Armando Rocha, director-geral dos Desportos, a quem fui pedir autorização para colaborar no “República”. Acolheu-me com simpatia (éramos sinceros amigos) e, com fremente curiosidade, perguntou-me: “ Ainda não reparou que a sua colaboração no República pode criar-lhe problemas, como funcionário público que é?”. E, porque nele a amizade se tornara um ponto de honra, murmurou ainda: “Embora você de mim só possa esperar compreensão e estima”. Na sua autobiografia, intitulada Memória (Federação Académica do Desporto Universitário, Lisboa, 2003) escreve, no prefácio, o Prof. Veiga Simão: “Armando Rocha é uma personalidade fascinante, que merece a estima e admiração dos que o conhecem, até porque o seu relacionamento humano é marcado por uma frontalidade e acutilância invulgares, traduzidas na forma como coloca e analisa os problemas da vida e avalia o comportamento das pessoas e das instituições. Ao mesmo tempo, e sejam quais forem as perspectivas com que nos debrucemos sobre os actos da sua vida, emerge sempre com nitidez o amor ao trabalho, o respeito pela hierarquia, a lealdade ao Estado e uma preocupação constante pelo rigor, pela verdade, pela justiça”. Armando Rocha consagra um capítulo da sua Memória à “colaboração de um oposicionista” (pp. 108/109). O oposicionista fui eu, mas… sem paixões espectaculares, nem lances supérfluos, quero eu dizer: escrevia, pensava, defendia os ideais democráticos com alguma audácia juvenil. Mas nunca passei disto – o suficiente, no entanto, para não confundir-me com os que ainda admiravam António Sardinha e deitavam melancólicos adeuses ao miguelismo e ao integralismo… na década de 70 do século passado!
A verdade é que saí do gabinete do Dr. Armando Rocha, com a firme convicção de que ele me concedera um afectuoso “nihil obstat”. E assim comecei a colaborar no República, acentuando, logo no primeiro artigo (há mais de 40 anos!) a minha visão do desporto e do “homo competitivus” que o corporiza: “Também concorre ao aperfeiçoamento das características psicológicas de todas as idades e de cada um dos sexos. Nada esquece no movimento humano, sob o ponto de vista articular, muscular, funcional. Pretende dar ao praticante força, velocidade, “endurance”, resistência, coordenação. Não se limita a fazer bestas esplêndidas, ou mesmo animais racionais com impecável coordenação neuromotora. É mais ambicioso: quer ser um factor de enriquecimento das estruturas sociais, porque reivindica tempo de lazer e nível de vida aceitável, porque quer fazer parte da vida quotidiana de todos (todos!) os homens, porque se afasta do “panem et circenses” das turbas massificadas e quer ser um meio de o homem se exercitar no uso da liberdade. Este é o desporto em que eu acredito. Conserva intacta a função biológica do desporto percepcionado à maneira antiga. Mas acredita firmemente que tem uma função social e política, por outras palavras: que se situa na esfera da responsabilidade social. Pensando bem, talvez possa mesmo adjetivá-lo de político. Isso mesmo! Achei! Um desporto político! Porque recusa a esfera do primado do íntimo, do subjectivo e aceita o predomínio da categoria do encontro e do intersubjectivo. Este é o desporto em que eu acredito. Não ostenta recordes, estádios monumentais, campeões-superstar. Não tem por ele as letras grandes das páginas dos jornais. Mas tudo considera instrumental, em relação ao ser humano. Tudo!”.
Desde então, até hoje, não mudei de caminho, de ritmo e de sinal, fazendo da palavra uma forma decisiva de participar na transformação de um desporto, que mais parece “guerra” do que outra coisa qualquer, num desporto como poderosa expressão de transcendência física, psíquica, emocional, social, política. O “homo competitivus”, ou melhor: o “homo ludens-competitivus”, ou seja, o praticante desportivo, tanto no lazer, ou na educação, ou na reabilitação, como no espectáculo desportivo e na alta competição – o praticante desportivo não deverá esquecer-se nunca que é homem e são as mais lídimas qualidades humanas que nele devem brilhar e como fundamento das próprias qualidades desportivas. A vida nunca me foi fácil. Aos 22 anos de idade tinha, como habilitações literárias, a Instrução Primária; aos 27 anos, completei o sétimo ano dos liceus, trabalhando simultaneamente no Arsenal do Alfeite. Mas nunca invejei ninguém. Quem, como eu, criou, em larga medida, o seu próprio destino, procura mais os seus próprios defeitos e limitações do que as limitações e defeitos do seu semelhante. Sendo impiedoso para comigo, dou pouco crédito à impiedade dos outros, designadamente os que se mostram incapazes de admirar as virtualidades alheias. Posso antipatizar com uma pessoa, mas este sentimento não me impede que aplauda os seus méritos indiscutíveis. Será isto sinal de fraqueza? Aceito sempre a minha fragilidade! No entanto, muitas vezes o faço também por imperativo categórico das minhas mais profundas convicções. A nossa cultura ocidental aceita, quase sem pensar, o polo ateniense (e iluminista, acrescente-se) da Razão e com dificuldade o polo pascaliano do Coração, em poucas palavras: prefere as leis à poesia. Nesta narrativa não ficcionada de uma pessoa que sempre viveu próxima do desporto, há mais cultura do que civilização, há mais coração do que razão, há mais sabor do que saber. E há Amor, acima de tudo!"

Benfiquismo (CMLXX)

Vamos dançar...!!!

Aquecimento... antevisão...

Capitão de bancada...!!!

Reconquista...