Últimas indefectivações

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Para recordar

"1. Foi uma vitória bem importante (e indiscutível) aquela que conseguimos no passado domingo, frente ao FC Porto. Pelo resultado, pelos pontos, pela superioridade e... por Eusébio! Como ele teria gostado de ver este jogo...
No entanto, no cômputo geral do Campeonato, tratou-se apenas de uma jornada vitoriosa (embora frente a um outro candidato ao título), que vale os mesmos três pontos de qualquer outra. Nada de excessos de optimismo nem de mais pontos perdidos tipo-Arouca e Belenenses...
Foi bonita a homenagem feita a Eusébio neste jogo, com uma coreografia que terá corrido Mundo e um minuto de silêncio respeitado praticamente por todos (meia dúzia de insurrectos não contam). Já o mesmo respeito não tiveram as claques do Sporting aquando do minuto celebrado antes do seu jogo no Estoril.

2. A semana passada foi toda ela dedicada (e bem) a Eusébio (ia a escrever 'nosso' mas ele é de todos os portugueses). Mas claro, houve exageros e oportunismos, com vários partidos políticos e personalidades e colarem-se à sua imagem, cada qual avançando as suas propostas, uma correctas, outras exageradas, outras simplesmente disparatadas mas, na generalidade, todas elas a necessitarem de um período de amadurecimento. E isso é válido tanto para as homenagens extra-clube como internas. Foram bonitas e justificadas as homenagens no dia do funeral. Foi justificada (e de muito bom gosto) a estrutura de protecção à sua estátua. Foi bonito que os nossos jogadores tivessem jogado com o seu nome nas costas. Mas, agora, convirá fazer uma pausa e, com mais cabeça e menos coração, delinear futuras homenagens. Sem demagogias...

3. Artur Soares Dias fez uma arbitragem com demasiados erros no Benfica - FC Porto. Mas teve uma virtude: errou para os dois lados. O que, infelizmente, não tem sido hábito nos jogos anteriores entre os dois clubes..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Deste Mundo e do outro

"1. Eusébio merecia. O Benfica, e os benfiquistas, estiveram à altura da ocasião.
Não terá sido uma partida excepcional sob o ponto da vista técnico, mas foi uma grande tarde de futebol, com Estádio cheio, muito entusiasmo, emoção a rodos, bons golos, desportivismo dentro e fora do campo, e uma grande vitória do Glorioso.
É justo dizer-se que também os adeptos do clube rival, na sua maioria, souberam comportar-se com dignidade, respeitando a memória do Rei, e contribuindo para a fantástica atmosfera que este jogo - devolvido ao horário nobre do Futebol - proporcionou.
A nossa vitória foi justíssima. Podia até ter sido mais ampla, dada a demonstração de superioridade que o conjunto 'encarnado' foi capaz de exibir ao longo dos noventa minutos. Não enchendo o olho, o Benfica deixou claro que tem a melhor equipa do panorama nacional, sendo, nesta altura, o mais forte candidato ao título.
Conquistámos apenas três pontos. Na tarde do próximo domingo estarão em jogo mais três. Faltam ainda quinze finais, e em cada uma delas será necessário repetir o empenho dentro do campo, e o apoio nas bancadas. Se tal acontecer, em Maio a festa será nossa.

2. Cristiano Ronaldo venceu a Bola de Ouro da FIFA pela segunda vez. Trata-se de um reconhecimento justo pelo seu desempenho ao longo do ano de 2013, em que foi efectivamente o melhor.
As comparações com Eusébio são dispensáveis, pois não acrescentam nada a um ou a outro - ambos estrelas planetárias, cada qual a seu tempo. Bom seria, isso sim, que noutros sectores de actividade o nosso País mostrasse ao Mundo tão eloquentes representantes.
Eusébio no Benfica, Cristiano Ronaldo no Manchester United e no Real Madrid, ambos na Selecção Nacional, alcançaram um nível apenas ao alcance de um estrito lote de predestinados. Juntamente com Di Stefano, Pele, Maradona, Cruyff e Messi, fazem parte integrante da história do Futebol. Oxalá o Mundial do Brasil consagre definitivamente Ronaldo, tal como o Mundial de Inglaterra consagrou Eusébio."

Luís Fialho, in O Benfica

Reforço de Inverno

"O Benfica bateu o Porto, subiu isolado à liderança do Campeonato e muito contribuiu para tanto o seu grande reforço deste Inverno, independentemente de qualquer transacção que venha a fazer-se no mercado. A equipa jogou sem complexos nem temores, dominadora e destemida, mandando no jogo e no marcador, fulgurantemente apoiada por um Estádio praticamente cheio, como ainda não se vira este ano. Creio que para além do valor dos jogadores e da equipa técnica esse foi um factor decisivo para uma vitória que até poderia ter sido mais dilatada: o Benfica desperdiçou algumas oportunidades, o adversário não criou praticamente nenhuma.
Há muito tempo que não se via em Portugal futebol de elevadíssima emoção às quatro da tarde, num estádio lotado onde quase não se dava pelos apoiantes do adversário. O Benfica jogou em casa e o que vimos foi o completo significado desta expressão. Claro que a rivalidade das equipas em presença e as incertezas da classificação contribuíram para a emoção que transbordou da bancada para o relvado. Mas desta vez foi decisiva a grande exibição do 12.º jogador. David Luiz, que veio expressamente de Londres para apoiar na bancada o seu Benfica, expressou o que ia na alma dos Benfiquistas.
Os Benfiquistas alimentaram o motor da equipa. E o que mobilizou os Benfiquistas para aquele jogo em especial não foi apenas a ambição de ganhar e de subir ao comendo da tabela. O que alimentou a 'chama imensa' no derradeiro jogo da primeira volta do Campeonato foi a memória de Eusébio da Silva Ferreira, o nosso grande, inigualável e insubstituível reforço deste Inverno e de sempre. Os Benfiquistas têm mais uma razão para lhe dizer: Obrigado Eusébio."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Nome de código: Manel

"Jorge Jesus é um manancial de ideias, conceitos e fórmulas que hão de perdurar muito para lá da sua carreira de treinador que marca este início de século. Graças ao seu carisma 'sui generis', qualquer pensamento em voz alta se transforma em 'punch line' mediática com disseminação pelas redes sociais, a mais das vezes a cargo de pessoas, sobretudo jovens, que escrevem bem pior do que o treinador do Benfica.
A última tirada, para gáudio da malta do Facebook, foi a revelação do nome de código Manel, quando lhe falaram da problemática sucessão de Matic. A franqueza do treinador é um maná para os humoristas e ninguém lhe agradece ser, praticamente, o único agente profissional do futebol português que comunica à margem da formatação discursiva ditada por uma inteligência reinante que continua a pensar que entrevistas honestas prejudicam o rendimento dos jogadores e das equipas.
Quando lhe perguntaram quem seria o novo Matic, o treinador encolheu os ombros e disse o primeiro nome que lhe veio à cabeça, o agora famoso Manel, simplesmente Manel. O que ele queria dizer era que a equipa voltaria ao campo com 11 jogadores e que o trabalho da prospecção, havia de lhe oferecer uma solução. Inconscientemente, Jesus destacava o lado mais elogiado do seu trabalho, que tem consistido em promover jogadores mais ou menos conhecidos para patamares de excelência e correspondentes mais-valias. O último foi o próprio Matic, na verdade, o Manel de Javi Garcia, há um ano e meio.
Neste vaivém de jogadores são muitos os que não chegam as estatuto de titular dos grandes clubes, pressupõe-se que mais por falta de oportunidades do que de qualidade. As promoções no balneário são ditadas pelas vagas que se abrem ao longo da época: há sempre um Manel à espreita da transferência de um titular ou de uma lesão grave.
No caso de Rodrigo, foram os problemas físicos de Cardozo que lhe valeram a oportunidade, meses depois de não ter conseguido aproveitar os problemas disciplinares do paraguaio. Nunca esteve em causa a qualidade deste internacional, avançado espanhol com imenso mercado na Europa ocidental, a ponto de recusar uma venda milionária para a Rússia. O problema dele era a (falta de) confiança do treinador, a (falta de) paciência do criador de Manéis que o deixasse sentir o prazer de uma titularidade sem pressões imediatas:os golos começaram a sair com naturalidade. O Manel de Cardozo estava encontrado."

Em roda livre

"A estratégia mantém-se. Aquecendo o ambiente e na míngua de resultados, os dirigentes “tradicionais” da bola elegem o alvo “externo”: o árbitro, os conselhos de arbitragem e de disciplina/justiça, o presidente da Federação/Liga, os jornalistas. Monta-se o esquema em várias frentes (desde que se tenha público), antecipa-se a agência noticiosa, coordena-se com os assalariados que terão acesso às conferências de imprensa e prepara-se a escalada da linguagem a passar como “sound bite”. Escolhem-se palavras que para uns são difamação e para outros são liberdade de expressão; os treinadores e jogadores falam grosso mas sem insultar; o dirigente abusa porque conta com a impunidade; os juristas farão o resto. Faz-se um “second call” para os editorialistas, para os alinhados dos “blogs” e das redes sociais, assim como para os “comentadores” que o são porque são do clube e assim ganham a vida: as linhas essenciais da mensagem têm de sobreviver e prolongar-se. Aprenderam com o melhor “doutrinador” da “pressão” e honram a sua perspicácia sobre as “tácticas da guerra”. Beneficiam da submissão, da falta de rigor e da mediocridade; em suma: da dependência e do medo. Manipulam a obsessão e o fanatismo dos adeptos como se estes fossem marionetas acéfalas. E concluem: “agora é deixar arder”!
Segue-se a fase do “divertimento”. Da percepção dos resultados: dos comentários dos atingidos e da habitual defesa sobre o banimento deste tipo de “declarações”. Da previsão do melhor efeito: condicionar o futuro. Depois, a fase da “irrelevância”: a fraqueza dos órgãos disciplinares. Mesmo que a execução da estratégia traga castigos para os dirigentes-actores, qual o grau de privação e de prevenção-exemplo para outros actores se a justiça desportiva (actual e posterior à entrada do dr. Gomes na Liga) não fiscaliza nem pune, por “não acatamento”, o desrespeito das “inabilitações” durante o período da suspensão? Se o dirigente punido continua a poder representar a sociedade desportiva no âmbito da competição, a emitir declarações públicas em seu nome e a actuar no exercício da esmagadora maioria das funções regulamentares, que força tem o risco de castigo disciplinar? Nenhum! Para completar, o montante das multas compensam o “crime” e a lei ainda não foi ao ponto (como deveria) de alargar o castigo ao regime das incompatibilidades, inibições e suspensões dos administradores e gerentes dos clubes-sociedades. Assim sendo, siga o regabofe. A que o dr. Gomes deu vida em 2010. E os seus se incumbem de alimentar, com denodo e folia: para quê o incómodo?..."

Jesus não pode nascer dez vezes

"Há meia dúzia de anos, chegava Jorge Jesus a Braga, após duas excelentes épocas no Belenenses, um atual dirigente do Benfica confidenciou a um amigo comum que só não defendeu a sua contratação porque, dizia, “o Benfica não pode ter um treinador que não sabe falar”. Não tardou muito a que a necessidade derrotasse a “sensibilidade auditiva” e o técnico fosse chamado aos serviços de urgência.
Se é verdade que Jesus, com o traquejo que ganhou, se expressa hoje melhor, é também certo que o domínio da palavra continua a não ser o seu forte, tanto mais que enfrenta duas inimigas ferozes: a espontaneidade, que faz com que por vezes responda primeiro e pense depois, e a dificuldade do improviso, que o força a nem sempre utilizar os termos adequados. E como não consegue fugir ao destino, volta que não volta sai asneira.
Não creio que no caso do “têm de nascer dez vezes”, que irritou os jovens da formação, se tenha tratado propriamente de asneira. Por um lado, jogadores como Matic não nascem aos pontapés, pelo que Jesus podia até ter optado por “têm de nascer 50 vezes” em vez de dez porque era a raridade do aparecimento desse tipo de futebolista que pretendia sublinhar. Por outro, a qualidade alcançada pelo sérvio não se encontra simplesmente porque se quer, nos “dentes de leite” da academia. William Carvalho, por exemplo, teve de fazer 50 jogos na Bélgica e trabalhar muito para alcançar a maturidade que lhe faltava e ser o que é. E o próprio Matic “enganou” o Chelsea, que o dispensou e com isso perdeu 20 milhões de euros. 
Infelizmente para ele, Jesus não pode ter a filosofia de Leonardo Jardim, que lapida os diamantes da academia com tranquilidade porque o nível a que o Sporting tinha descido lhe dá agora tempo para construir uma equipa. No Benfica não é assim, os investimentos obrigam a retorno urgente, a pressão sobre o técnico é tremenda e o “Manel” que ele tem de arranjar já, para o lugar de Matic, deve também corresponder de imediato porque LF Vieira e os adeptos não dão margem de erro ao treinador. Jesus não terá oportunidade de “nascer dez vezes”. Se calhar, nem só mais uma."