Últimas indefectivações

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

As medalhas

"Para Portugal, os melhores Jogos Olímpicos foram os de Atenas. No primeiro dia, numa conjugação feliz de mérito e oportunidade, Sérgio Paulinho curou à nascença a habitual virose de medalhite, que costuma inocular pelo orgulho extremoso na passeata da bandeira na Cerimónia de Abertura e irromper em forma de delírios lancinantes de quem não tem a mínima noção da realidade desportiva nacional e internacional, cinco ou seis dias depois, quando se avoluma a contagem de “deceções”, “frustrações” e “desilusões” e a de outras tantas medalhas “falhadas” por um grupo de “privilegiados” que, afinal, ninguém conhecia. Sem uma medalha na primeira semana, antes do início do Atletismo, os nossos proto-heróis olímpicos transformam-se em vergonha nacional – e adeus até daqui a quatro anos.
Os Jogos de Londres coincidiram com as férias do futebol e os portugueses foram obrigados a descobrir, num misto de espanto e ignorância, que há compatriotas capazes de jogar pingue-pongue, pedalar, velejar, remar, pagaiar ou atirar a um nível superior ao que, habitualmente, a maior parte das estrelas da bola praticam o seu desporto, dito Rei.
De quatro em quatro anos, descobrem que cerca de 80 jovens garantiram, por vias insondáveis, o direito a estarem presentes na maior competição, passando à margem das polémicas mediáticas, das más arbitragens ou da desorganização nacional. Em torno do desporto não há debates televisivos por painéis de entendidos, chicotadas psicológicas de treinadores, dirigentes sob escutas policiais ou orçamentos obscenos.
Mas a admiração e respeito que todos os atletas merecem não invalidam a necessidade de reorganizar o movimento olímpico, otimizando os recursos humanos, de enorme valia, que o país já conseguiu gerar e que estão subaproveitados."

Os JO desde do Alentejo (II)

"Depois de diplomas (adquiridos sem equivalências), dois bravos portugueses conquistaram, com brilho, em canoagem, a medalha mínima garantida e colocam-nos no quadro dos 76 países já medalhados.
O que gosto nos JO é do ecletismo universal e do pormenor personalista, ainda que muitas vezes maltratados pela obsessão de vitórias a todo o custo.
O que sempre retenho é o desportivismo da generosidade na vitória e da serenidade no desaire. Este ano, houve a riqueza humana da comoção do atleta dominicano Félix Sanchez, nos 400m barreiras, transportando anos de sofrimento, luta e memória familiar. Houve o francês 2.º classificado dos 3000m obstáculos a pegar literalmente ao colo o queniano vencedor, envoltos numa espécie de bandeira mista. Houve e expressivo depoimento de Jéssica Augusto («Fui um peixinho entre tubarões»), o sorriso tão simples quanto verdadeiro de Dulce Félix após o desfalecimento na meta e o grande exemplo de Clarisse Cruz nos 300m obstáculos. Houve o choro da decepção do sonho de ginastas e a alegria partilhada de vencedoras. Houve o soberbo trajecto da maratona pelas entranhas de uma Londres tão bela quanto acolhedora. Apenas exemplos de deliciosos detalhes que nesta coluna não cabem.
Mas estes JO também deram lugar a batotas. Desde castigadas equipas de badminton que fizeram por perder para influenciar partidas seguintes, até à vergonha no basquetebol em que a Espanha forçou a sua própria derrota contra o Brasil para evitar os EUA antes da final. Ou do argelino que fingiu lesão nos 800m para depois, são que nem um pêro, ganhar o ouro nos 1500m!"

Bagão Félix, in A Bola

Os JO desde do Alentejo (I)

"Sempre que posso tenho acompanhado, no Alto Alentejo, os Jogos Olímpicos na - para mim - mais bela cidade do Mundo. E com a enorme vantagem do mesmo fuso horário. Do que já vi, escrevinho nesta semana apontamentos do que mais me impressionou ou surpreendeu. Tenho presente a notável asserção de Virgílio Ferreira: «o importante não é o que acontece em nós desse acontecer.»
1 - A até agora sofrível representação nacional, se exceptuarmos o ténis de mesa, o 7.º lugar da maratonista Jéssica Augusto e, sobretudo, o magnífico 5.º lugar no double scull com Pedro Fraga e Nuno Mendes. Aqui se pode dizer, quase literalmente, que remaram contra a maré.
2 - O notável jogo de basquetebol entre os Estados Unidos e a Nigéria, onde se marcaram 229 pontos (uma média de 10,48 segundos por ponto dos 156 americanos e os não excepcionais 73 dos africanos!).
3 - O desinteresse de uma modalidade que destoa nos JO: o sacrossanto futebol. A Espanha bicampeã europeia e mundial não marcou nenhum golo contra o Japão, Honduras e Marrocos! Umas meias-finais que além do Brasil tiveram o Japão, a Coreia do Sul e o México. Curioso haver futebol e não râguebi nos JO...
4 - As belíssimas jornadas de ginástica, sobretudo feminina, agora aparentemente com menos crianças exploradas e escravizadas até à alma.
5 - A ausência de transmissão televisiva (pelo menos do que pude observar) de desportos que raramente há a oportunidades de ver fora dos JO. Refiro-me, em particular, ao hóquei em campo. Uma pena, como pena é a sua fossilização em Portugal desde os tempos do quase sempre campeão Ramaldense."

Bagão Félix, in A Bola

Dia Histórico para a Canoagem Portuguesa...



Parabéns ao Emanuel Silva e ao Fernando Pimenta pela conquista da Prata Olímpica no K2 1000m. Não foi uma prova fácil, mantiveram a calma, não exageraram no início, e no final, até podiam ter ganho o Ouro...!!!

As raparigas no K4 500m ficaram em 6º. A diferença para as medalhas foi significativa, mas o 6º lugar Olímpico é um excelente resultado... foi, justamente, ofuscado, pela Prata dos rapazes, mas as 'meninas' devem estar orgulhosas e confiantes para as provas que ainda faltam...
Se a Joana Vasconcelos, amanhã na final do K2 500, com a Beatriz Gomes, não vai ter vida fácil (não são favoritas às medalhas, mas...), a Teresa Portela amanhã na Final B do K1 500 deverá gerir o esforço, porque na Sexta-feira tem as qualificações do K1 200m, prova onde pode chegar longe, se não estiver desgastada...
Aliás, recordo que o Fernando Pimenta conseguiu a qualificação no K1 1000 para estes Jogos, mas a Federação não permitiu que o Fernando fosse ao K1 1000, para não se desgastar, concentrado todas as suas forças no K2 1000. Decisão polémica, que levou inclusive à criação de Petições Públicas... Felizmente o tempo, veio dar razão à Federação. No sector feminino não houve esta preocupação, espero que não seja fatal para a Teresa!!! (agora é fácil falar, mas se calhar a participação no K1 500m era escusada, digo eu...)...



PS: Não tenho a estatística oficial, mas será curioso no final destes Jogos fazer-se o balanço: provavelmente vamos chegar à conclusão que estes Jogos Olímpicos, serão aqueles, com mais Top-8 (finalistas, com direito a Diploma Olímpico), e quase de certeza absoluta, aqueles com mais Top-16 (semi-finalistas)!!! Que alguma vez uma Missão Portuguesa conseguiu!!! Se não forem, será por muito pouco...