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terça-feira, 17 de março de 2015

Estranhamente perdidas no nevoeiro...

"O Campeonato de Portugal disputou-se entre 1921/22 e 1937/38. Inicialmente, competiam os campeões regionais; depois alargou-se até passar a chamar-se Taça de Portugal. Vamos falar das três vitórias do Benfica na prova - ou das três primeiras das suas 28 taças...

RICARDO ORNELLAS: nascido em Lisboa em Dezembro de 1899, foi empregado de uma companhia de navegação e, nesse tempo que o jornalismo por si só não dava para sobreviver, uma das penas mais lúcidas que escreveram para «Os Sports», para o «Diário Popular» (do qual seria chefe de redacção) e para «A Bola» (assinando com o pseudónimo de Renato de Castro). Chegou a seleccionador Nacional e criou a célebre expressão «Equipa-de-Todos-Nós». Um dos fundadores do Casa Pia Atlético Clube, juntamente com vários elementos saídos do Benfica, autor de várias obras com o Futebol como tema, viria a morrer em 1967.
É precisamente um dos seus livros que tenho nas mãos, e tanto me tem servido de consulta que já perdeu há muito a cola que lhe mantinha unidas páginas e capa. Chama-se «Números e Nomes do Futebol Português».
E por que lhe pego hoje? Para vos poder falar do Campeonato de Portugal, essa prova que o Benfica venceu em três ocasiões e, no entanto, parece ficar no olvido de muitos que seguem a história do clube com atenção.
Ora bem, o Campeonato de Portugal foi criado pela antiga União Portuguesa de Futebol (daria lugar à Federação Portuguesa de Futebol) na época de 1921/22. O objectivo era fazer disputar uma competição entre os campeões regionais, sendo que nesse ano havia quatro: Sporting (Lisboa), FC Porto (Porto), Marítimo (Funchal) e Olhanense (Algarve). Apesar disso, o regulamento para a primeira edição da prova foi assim imposto: «O Campeonato de Portugal, nesta primeira época, só é disputado entre os campeões de Lisboa e Porto em duas mãos». Certamente injusto, mas Marítimo e Olhanense viriam a ter a sua vingança.
Já lá vamos. Aos vencedores, quero dizer.
O Campeonato de Portugal disputou-se até à época de 1937/38. Depois, entendeu-se que o verdadeiro campeonato de Portugal era o da Liga, que ganhou a nomenclatura de Campeonato Nacional, passando o Campeonato de Portugal a designar-se por Taça de Portugal, exactamente por ser disputado em formato de taça, como era hábito dizer-se.
Daí a divergência que faz com que as contabilidades não batam certo. E ficam três taças estranhamente perdidas no limbo...
A questão é clara: ou se levam em conta os Campeonatos de Portugal, que tiveram 17 edições, ou se acrescentam essas 17 edições às 74 da Taça de Portugal, coisa que geralmente se não faz como sabemos, pois ninguém considera o Olhanense, o Marítimo ou o Carcavelinhos como vencedores da Taça, nem põem no topo da lista de vencedores da prova o Benfica com 28 Taças de Portugal, contabilizando apenas 25.

Primeira vitória em 1929/30
ASSIM sendo, vejamos o Campeonato de Portugal como a tal Taça-de-Portugal-antes-de-o-ser, recordando a propósito que o troféu para o vencedor é o mesmo e, portanto, podem ser vistos vinte o oito igualzinhos no Museu Cosme Damião.
Em 1921/22, houve a tal decisão incompreensível de deixar Sporting e FC Porto resolverem a questão a dois, pondo de fora os campeões do Algarve e da Madeira. Venceu o FC Porto, no desempate. No Porto, vitória portista por 2-1; em Lisboa, vit´roia lisboeta por 2-0. Ah! Nessa altura ainda estávamos longe dos desempates por golos fora e marcou-se nova contenda, outra vez no Porto, mas no Bessa. O FC Porto torna-se o primeiro conquistador do Campeonato de Portugal, mas ainda foi preciso prolongamento.
Na época seguinte, instala-se a verdade desportiva. Participam os campeões de Lisboa (Sporitng), Porto (FC Porto), Algarve (Lusitano de Vila Real de Santo António), Madeira (Marítimo), Braga (Sp. Braga) e Coimbra (Académica). Passa a haver uma final única, em campo neutro. Nos anos seguintes, com o aparecimento de mais campeonatos regionais, a prova alargou-se. E, com o tempo, abriu-se finalmente lugar a mais do que uma equipa por associação.
Conta Ricardo Ornellas que assistiu in loco a todas as finais da competição. Vamos abusar da sua prosa nas próximas semanas quando voltarmos a estas páginas para falar das vitórias do Benfica mais em pormenor, e vale bem a pena fazê-lo. Porque a prosa do mestre é boa e porque são momentos únicos da história do clube.
Para já, arrolemos aqui as finais disputadas.
Custou ao Benfica ganhar o seu primeiro Campeonato de Portugal (ou então, se preferirem encaixá-la na sua seguinte nomenclatura, a sua primeira Taça de Portugal), mas venceu de imediato dois consecutivos com uma equipa na qual pontificavam o guarda-redes Dyson, António Pinho, Manuel de Oliveira, Guedes Gonçalves, Vítor Hugo e Jorge Teixeira, por exemplo, mas da qual falaremos em breve mais pormenorizadamente.
Quando às contabilidades vai ao gosto de cada um. No Belenenses, por exemplo, festejam-se as seis Taças de Portugal da vida do clube. No Benfica ficará ao sabor das vontades: 3 Campeonatos de Portugal e 25 Taças de Portugal, ou 28 Taças de Portugal?
Não se podem é esquecer três títulos que tanto suor custaram aos seus heróis...
1921/22
FC Porto 2 - 1 Sporting - Campo da Constituição
Sporting 2 - 0 FC Porto - Campo Grande
FC Porto 3 - 1 Sporting (a.p.) - Campo do Bessa
1922/23
Sporting 3 - 0 Académica - Stadium de Faro
1923/24
Olhanense 4 - 2 FC Porto - Campo Grande
1924/25
FC Porto 2 - 1 Sporting - Campo de Monserrate
1925/26
Marítimo - 2 - 0 Belenenses - Campo do Ameal
1926/27
Belenenses 3 - 0 V. Setúbal - Estádio do Lumiar
1927/28
Carcavelinhos 3 - 1 Sporting - Campo da Palhavã
1928/29
Belenenses 3 - 1 U. Lisboa - Campo da Palhavã
1929/30
Benfica 3 - 1 Barreirense (a.p.) - Campo Grande
1930/31
Benfica 3 - 0 FC Porto - Campo do Arnado
1931/32
FC Porto 4 - 4 Belenenses (a.p.) - Campo do Arnado
FC Porto 2 - 1 Belenenses - Campo do Arnado
1932/33
Belenenses 3 - 1 Sporting - Estádio do Lumiar
1933/34
Sporting 4 - 3 Belenenses (a.p.)- Estádio do Lumiar
1934/35
Benfica 2 - 1 Sporting - Estádio do Lumiar
1935/36
Sporting 3 - 1 Belenenses - Estádio do Lumiar
1936/37
FC Porto 3 - 2 Sporting - Campo do Arnado
1937/38
Sporting 3 - 1 Benfica - Estádio do Lumiar"

Afonso de Melo, in O Benfica

Contra factos, não há argumentos !!!


É engraçado ler os comentários no post do Facebook do Árbitro de Bancada - autor deste vídeo. Os Anti's, na impossibilidade de colocarem em causa as expulsões que beneficiaram o Benfica, são todas claras... refugiam-se nos 1.º amarelos, que não aparecem!!! É indicador da falta de argumentos...

Jogar sem risco

"A vontade, ou até mais do que isso, a exigência que é apresentada a Luís Filipe Vieira em apostar cada vez mais na prata da casa tem lógica mas não pode ser a qualquer custo. O mais romântico dos cenários poderá ser derrubado pela cruel realidade das exigências inerentes à competição. Espaço à formação, sim, mas de forma estruturada e faseada ou cairá a SAD no erro de triturar jovens e de se triturar também. Ter mais formação e mais portugueses no plantel é uma promessa de Vieira. Pizzi é um jogador de Selecção, e para sorte dele está nas mãos de um treinador que conseguiu ver mais qualquer coisa, o que nem é novidade em Jorge Jesus. No meio-campo interior ganha um protagonismo que nas alas jamais teria. Na Luz ou na Selecção. Vale a pena, por isso, pensar no futuro de Pizzi, especialmente numa altura em que até Fernando Santos equaciona reabrir-lhe a porta da equipa nacional. É certo que, nesta altura, as hipóteses de aparecer uma proposta milionária por Pizzi são ínfimas. Joga com o tempo, o Benfica."

Vanda Cipriano, in Record

O David Luiz

"Deixem-me recuar uma semana, pois no futebol há imagens que perduram e renovam a paixão. Quando, num volte-face, o David Luiz marcou o golo que dava uma vida adicional a um PSG que tinha tudo para estar derrotado pelo Chelsea, tive a certeza de estar perante um desses momentos de reencontro de futebol consigo mesmo.
Mas não há momento sem contexto, e o de Londres era linear. De um lado, um jogar administrativo, que amarra jogadores talentosos a um modelo que tem tanto de eficaz como de desinteressante - é este o futebol do Chelsea de Mourinho; do outro, uma equipa em inferioridade numérica e que, muitas vezes, não ultrapassa a sua condição de repositório de craques com contratos milionários.
Provavelmente, sem um acrescento de drama, o PSG teria sido o amontoado de talento que teima em ficar aquém das suas capacidades. Ora, o drama eram as circunstâncias pessoais de David Luiz - o defesa que Mourinho viu partir com um alívio que não se cansou de verbalizar, que participou num cataclismo futebolístico no último Mundial, regressava a Londres.
Vi, vezes sem conta, as arrancadas irresponsáveis de David Luiz, pelo meio-campo acima, de bola controlada e com o abismo atrás de si, e sei que se trata de um jogador que tem o condão de desequilibrar, num só movimento, a sua equipa e o adversário. É essa atracção pelo risco que faz do brasileiro um jogador singular, que oferece improviso a um futebol que se deixou burocratizar.
Quando eu e o meu filho gritámos o primeiro golo do PSG como se fosse do Benfica, o Vicente, com o olhar ingénuo que tentamos não perder quando vemos um jogo de futebol, repetiu, perante as celebrações do David Luiz: 'Pai, ele está a dizer Benfica'. É muito provável que estivesse. Afinal, o David Luiz, na sua imprudência táctica, ajuda-nos a preservar um olhar infantil sobre o futebol. É essa a matéria de que são feitos os craques que não esquecemos."