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domingo, 6 de setembro de 2015

«Mudança implica dores de crescimento»

" «GOSTARIA DE TER DADO MAIS UM OU DOIS JOGADORES AO RUI VITÓRIA»
Numa fase de mudança estratégica, o presidente do Benfica assume os riscos do novo projecto baseado no Seixal e perante algumas dificuldades anunciadas fala até em dores de crescimento. A aposta em Rui Vitória, as saídas de Jesus e Maxi, as guerras na Liga, nada escapa à análise de Vieira. Que, diz, ainda não pensou nas eleições...
- Fechou o mercado e não houve novidades do ponto de vista de aquisições ou vendas. Está confiante e optimista em relação à conquista do tri?
- Confiante e optimista, sim. Passei as últimas semanas no Seixal e sei que o plantel está motivado e vai dar tudo para conquistar o tri. Mas também sei que assumimos uma opção de mudança em relação ao que era a realidade do Benfica nas últimas décadas, e essa mudança implica algumas dores de crescimento normais neste tipo de processos.

- Mas já se ouvem aqui e ali algumas vozes críticas em relação à opção assumida...
- É normal que assim seja. Seria igual caso tivéssemos decidido continuar a investir como no passado no mercado, fechando as portas da nossa equipa principal aos jovens do Seixal. Vozes discordantes haverá sempre, mas fui eleito para tomar decisões estou muito confortável com a decisão assumida. Quando se avança para uma mudança com esta dimensão, é normal que haja um período de transição, é normal que se necessite de tempo para fazer os ajustes necessários.

- A aposta na formação é por convicção, ou ditada pelas restrições financeiras?
- Claramente por convicção, ou então o Caixa Futebol Campus não faria sentido. Sou testemunha privilegiada do trabalho realizado pelos nossos treinadores das camadas jovens e do talento que desenvolvemos no Seixal. Ao contrário de outros, não fomos forçados a seguir este caminho. Chegamos a esta fase de forma planeada e desejada. Foi para chegar aqui que investimos e desenvolvemos o centro de estágio ao longo destes dez anos. O Seixal é hoje um centro de excelência na formação de jovens, e isso é reconhecido a nível internacional.

- Mas seguir este modelo, se tudo correr como deseja, significa menor investimento na compra de jogadores, ou seja, menos investimento, menos dependência de financiamento?
- Essa será uma das consequências deste modelo, e não a razão de ser desta mudança. É verdade que teremos uma redução das necessidades de investimento, uma vez que deixamos de ter um custo de aquisição, teremos uma redução do custo salarial do plantel e, finalmente, um aumento das mais-valias nas vendas futuras.

- Percebo a lógica que está por detrás desta mudança, a minha questão é se não sente que é uma mudança muito rápida na paradigma do futebol do Benfica?
- Sinceramente, acho que não. Chega no tempo certo. Podemos rapidamente ver como chegámos aqui: até 2008/2009, vivemos um primeiro ciclo deste novo Benfica em que o nosso esforço de centrou na restituição da credibilidade interna e externa do clube, no planeamento, na construção de infra-estruturas, na profissionalização do Benfica a nível dos seus recursos humanos. Depois, uma segunda fase que eu posso situar até ao ano passado, em que se privilegiou um modelo de forte investimento em jogadores estrangeiros com experiência e forte potencial através do recurso ao financiamento alheio, seja bancário ou de outro tipo, que depois amortizámos com as mais-valias das vendas. E agora, em 2015, estamos a entrar numa nova fase em que a estratégia passa por apostar em talentos gerados no Seixal. Jogadores formados dentro de casa, com baixo custo de aquisição, como disse atrás, com menor tecto salarial e, não menos importante, com maior identificação com o clube. É um modelo que equilibra a competitividade desportiva com a redução do endividamento e o reforço dos capitais próprios.

COMPRAR MUITO MENOS ESTRANGEIROS NO FUTURO
- Quer dizer que o Benfica do futuro vai deixar de comprar jogadores estrangeiros?
- Não, mas vamos passar a comprar muito menos. Este modelo, e é assim que está pensado, é compatível com a continuação do investimento em jogadores estrangeiros ou portugueses de outros clubes. Provavelmente, o Benfica de agora não vai investir no Aimar ou no Saviola como fez no passado (com todo o respeito e admiração que tenho pelos dois), mas nada impede que o futuro Aimar seja o João Carvalho ou o futuro Saviola seja outro jovem que cresceu no nosso centro de treinos.

- Sente-se o entusiasmo quando fala do Seixal e da formação. isso significa que o investimento no desenvolvimento do Seixal vai-se manter?
- Seguramente, mas o nível de investimento que hoje é necessário é muito menor do que foi no passado. Os benfiquistas têm de ver o Caixa Futebol Campus como um projecto de geração de valor para o clube. E, quando falo de geração de valor, não significa apenas o que vier a resultar de vendas futuras. Quando se fornecem jogadores às selecções nacionais, e é bom recordar que somos o clube que mais jovens fornece, ou quando se disputam títulos nacionais ou internacionais como a UEFA Youth League, isso significa gerar valor e reputação para o Benfica.

- A aposta na formação está reflectida na equipa neste arranque de época. Acha que o Benfica pode ganhar campeonatos com quatro ou cinco jogadores da formação?
- Como foi que o Barcelona ganhou e continua a ganhar? Sim, acho possível, desde que a aposta seja consistente e continuada. E, já agora, apostar na formação não significa a necessidade de jogar obrigatoriamente com quatro ou cinco jogadores da formação na equipa titular. Mas significa dar oportunidades a estes jovens para trabalharem e crescerem junto da equipa principal, e é isso que tem vindo a ser feito.

- Está surpreendido com o desempenho do Nélson Semedo?
- Só pode estar surpreendido com o Nélson Semedo quem não acompanhou o seu percurso até aqui. Para a idade dele, é efectivamente surpreendente a postura e o à-vontade que ele revela em campo. Se é um jogador feito? Não, claramente não é, mas vai crescer muito, e seguramente que, dentro de três ou quatro jogos, será um jogador muito mais confiante, e muito melhor ainda do que é hoje. Mas atenção, ele, como qualquer outro jovem, tem direito ao erro, e, no momento em que errar, temos de o apoiar, não assobiar. É assim que todos eles vão crescer.

- Esta aposta é para continuar nos próximos anos, ou, se o Benfica não ganhar o tri, o projecto fica comprometido?
- A mudança de rumo que deriva da qualidade do trabalho realizado no Seixal implica naturalmente um caminho que não é isento de dificuldades. Já o sabíamos quando tomámos a decisão de implementar a nova estratégia. Os resultados irão aparecer. E espero que apareçam ainda esta época. Independentemente do que aconteça, a aposta deve ser mantida. Ninguém disse que o caminho ia ser fácil. É preciso ter paciência para integrar os nossos jovens na equipa A, mas também é preciso assumir riscos de forma que eles possam crescer. Não temos pressa mas não podemos perder tempo.

- O Benfica tem vendido alguns jogadores da formação por €15 M. Acha que têm sido bons negócios, ou admite que há aqui um risco de venda prematura?
- Qualquer jogador de 18/19 anos que seja vendido por 15 milhões sem ter actuado na equipa principal, e num mercado como é o mercado português, tem de ser considerado um bom negócio. Disso que ninguém tenha dúvidas. Nós vendemos um talento, mas quem compra assume o risco sobre o futuro desse jogador. Sinceramente, espero que todos os jovens que vendemos nos últimos dois anos se afirmem nas suas equipas, porque isso é a melhor certificação de qualidade que podemos dar ao Seixal.

- Mas o valor de mercado do Bernardo Silva já está acima dos 15 milhões de euros...
- Ainda bem, porque isso significa o reconhecimento pelos jovens que saíram do Seixal. Percebo onde quer chegar e não quero fugir à sua pergunta: eu diria que a primeira boa geração/fornada do Seixal foi queimada do ponto de vista desportivo e salva do ponto de vista financeiro.

- Queimada por quem ou porquê?
- Não vou entrar por aí. Apenas reconheço um facto que não creio que possa repetir-se no futuro.

- O jornal L'Equipe escreveu que o Ivan Cavaleiro custou 3,5 milhões de euros e não 15 milhões. É falsa a notícia?
- O único comentário a fazer é que somos uma sociedade cotada em bolsa, e bastará consultar o nosso relatório e contas para poderem verificar o absurdo dessa notícia.

A CORAGEM DE RUI VITÓRIA
- Sei que disse no ano passado várias vezes que, neste ano, estariam quatro ou cinco jovens da formação a trabalhar no plantel, mas esperava ver tantos jovens a jogar neste início de campeonato?
- É uma opção do Rui Vitória, que seguramente vê qualidades neles. A questão na nossa formação sempre foi a de estes jovens terem oportunidades para poderem chegar ao plantel principal. Os jogadores do Seixal tinham de ter oportunidades de crescer trabalhando com a equipa A, mas jogar ou não jogar, como o Rui Vitória bem disse, são eles que têm de merecer e demonstrar que o merecem. Se têm jogado, é porque o treinador vê que têm capacidades para jogar. Já agora, deixe-me que faça aqui um desabafo: nos últimos anos, todos reclamavam porque não apostávamos nos nossos jovens. Jornalistas, comentadores e adeptos. Agora, há miúdos da formação na equipa principal, e de repente já vejo alguns benfiquistas, muito comentadores e jornalistas a dizer que, se calhar, não vamos lá assim? É claro que vamos, mas para tudo é preciso tempo. Vamos ter paciência.

- Mas acha que este plantel dá garantias em relação aos desafios que vão ser exigidos?
- Dá garantias de trabalho, de empenho, de total dedicação, o que é sempre o primeiro passo para garantir o sucesso. Acho que temos um plantel sólido, que vai praticar bom futebol e que vai lutar pela conquista do tri. Se este caminho implica riscos? Claro que sim, mas não há opções sem riscos. Ou outros clubes foram por caminhos diferentes, mas também assumem riscos. São diferentes, é certo. No final, espero que os benfiquistas se possam orgulhar dos resultados alcançados.

- Disse no dia da apresentação de Rui Vitória: «Há uma garantia que aqui te quero deixar: vais ter as mesmas condições que outros tiveram e vais poder contar com uma equipa competitiva capaz de dar corpo às tuas/nossas expectativas». Acha que o Rui Vitória conta com as mesmas condições que o treinador anterior?
- Assumo que gostaria de poder ter dado mais um ou dois jogadores ao Rui Vitória. Não foi possível, mas isso não significa que a equipa seja menos competitiva, ou que tenha menos soluções que no ano passado. É verdade que perdemos o Maxi e o Lima e, momentaneamente, estamos sem o Salvio, mas encontramos soluções para esses lugares, e creio que a equipa vai crescer muito a partir daqui. Prefiro uma equipa de fato-macaco, que deixe tudo em campo, a uma equipa de fato-gravata, sem compromisso.

- Que avaliação faz do trabalho de Rui Vitória até agora? O treinador já foi fortemente criticada por analistas e alguns benfiquistas porque não ganhou jogos na pré-época, perdeu a Supertaça e um jogo do campeonato...
- No Benfica é assim, passamos da euforia à depressão em muito pouco tempo, e o inverso também é verdade. A mudança que fizemos foi muito grande, e o Rui faz parte desse processo de mudança, portanto é normal que haja um período de adaptação. O Rui chegou ao Benfica pelas capacidades que demonstrou nos últimos 12 anos, e disso que ninguém tenha dúvidas, tem as qualidades necessárias para estar à frente do projecto. E, mais do que um treinador, é um gestor que faz a coordenação de todo o futebol do Seixal, coisa que até aqui nunca tivemos. Há momentos em que temos de ser pacientes, em que temos de apoiar. O trabalho vai acabar por dar resultados. E há uma coisa que devemos reconhecer no Rui, é um treinador corajoso.

- Portanto, não é um treinador a prazo?
- Todos os treinadores são treinadores a prazo, o último esteve seis anos no clube. O Rui tem capacidade para ficar aqui muitos anos. Vai deixar a sua marca no Benfica.

- Mas não fica preocupado com este início de época? A Supertaça perdida, dois jogos ganhos nos últimos 15/20 minutos, a derrota com o Arouca...?
- A equipa actual tem menos de dois meses de integração, muitos jovens, uma nova liderança, novos métodos de trabalho. Seria interessante ver como é que nos seis anos anteriores esteve a equipa antes da pausa de Setembro.

- Dos três grandes, qual é o principal favorito a ganhar o campeonato?
- Creio que partimos os três em situação de igualdade. O Benfica vai defender o título, temos essa ambição; o FC Porto e o Sporting, pelo investimento feito, têm obrigatoriamente de lutar pelo título.

- Temos um Benfica que baixou drasticamente o investimento de anos anteriores, ao contrário de FC Porto, que, embora baixando, mantém o investimento num nível elevado, e do Sporting, que deixou a contenção dos últimos anos para investir com algum significado no plantel e no treinador. Não teme ser vítima desportiva da nova opção desportiva/financeira?
- É uma opção que dará frutos. Se não for de imediato, a médio prazo sairemos reforçados. Digo isto, mas acredito que mesmo desportivamente podemos ganhar no imediato. Quanto aos outros clubes fazem aquilo que entendem fazer e não me vou pronunciar.

GAITÁN, LIMA, CARCELA E TAARABT
- O melhor reforço do Benfica chama-se Nico Gaitán?
- Diria que o melhor reforço do Benfica é todo o plantel. É evidente que o Nico é um jogador com um talento único e que sempre esteve comprometido com a equipa. E isso é algo que vale a pena dizer. Com todas as notícias que houve ao longo de meses, o jogador esteve comprometido com o Benfica, o que é justo destacar.

- Mas houve, ou não, ofertas?
- Vou responder de outra forma: não houve nenhuma oferta que fosse merecedora de levar o jogador para fora do Benfica.

- Esta dedicação do Gaitán merece um prémio?
- Os adeptos e os sócios vão dar-lhe esse prémio. Sei onde quer chegar com a pergunta, mas isso são assuntos que tratamos dentro de casa, e não nos jornais.

- Era inevitável perder Lima?
- Seria injusto para um jogador que tanto deu ao Benfica não o deixar fazer o contrato da sua vida.

- Entre os que entraram, há dois avançados: Raúl Jiménez e Mitroglou. Num ano em que o Benfica gastou tão pouco em contratações, faz sentido investir nove milhões por metade do passe de um avançado?
- Faz, se tivermos as garantias de que é um jogador que nos vai trazer rendimento desportivo e de que nos pode dar, no futuro, retorno financeiro. Confesso, que não foi uma decisão fácil, mas entendi que era um jogador que nos iria trazer uma mais-valia desportiva que justificava o investimento.

- E também houve duas apostas de risco e que ainda estão por provar: Carcela e Taarabt...
- São dois jogadores com muito potencial, e têm um desafio que não podem desperdiçar: provar o seu valor aqui. O Benfica não representa para eles mais uma oportunidade, representa a oportunidade. E tenho, a certeza de que a vão agarrar.

- Entre os que saíram está Maxi Pereira. Como é que o Benfica perdeu Maxi Pereira para o FC Porto?
- O Benfica não perdeu Maxi Pereira. Ele é que não quis continuar aqui. Mas isso é um capítulo fechado. O jogador e o seu empresário escolheram outra equipa para continuar. Já não tenho a visão romântica do futebol, isso já lá vai. Não lhe desejo felicidades desportivas, obviamente, mas também não vou dizer mal do Maxi. Tomou a sua opção, e nós vamos seguir o nosso caminho.

- O Benfia fez tudo para continuar com o jogador?
- Sinceramente, creio que sim. E também acredito que não foi pela vontade do jogador que se deu a mudança. Mas antes quero falar dos que cá ficaram e dos que entraram no plantel do que de jogadores que não são nossos.

- Jesus sai do Benfica, é hoje treinador do Sporting e, entretanto, muito coisa se disse e escreveu. Foi o Benfica que não quis JJ, ou foi JJ que não quis o Benfica?
- Disse bem, muita coisa se escreveu e disse que não tem nenhum fundamento, nem correspondência com a verdade, mas isso é passado. Seguimos por caminhos diferentes, e cada um do seu lado vai fazer o melhor na defesa dos seus interesses.

- Se voltasse atrás, teria feito tudo da mesma forma em relação ao processo Jorge Jesus? Fez tudo para o manter?
- Sinceramente, acho que fui muito honesto e muito sério com Jesus e com a sua família. Mas o meu treinador chama-se Rui Vitória. Interessa-me falar do presidente e do futuro, não do passado.

- É inevitável o processo de saída de Jorge Jesus acabar em tribunal?
- Quando há diferendos entre as partes, os tribunais servem exactamente para isso, para decidir quem tem razão, e é isso que neste caso vai acontecer. Sem qualquer tipo de dramatismo... Dei instruções - em função do entendimento do nosso departamento jurídico - para defender os interesses do Benfica, e é isso que importa dizer.

- E depois disto... daqui para a frente: como é que vai ficar a relação Benfica-Jesus e a relação Luís Filipe Vieira-Jesus?
- Não me interessa a relação de A com B ou de B com C, o único que interessa aqui é o Benfica e a defesa dos interesses do Benfica.

- E a relação Benfica-Sporting e Luís Filipe Vieira-Bruno de Carvalho?
- É ao nível da Liga, que é onde se deve falar e defender o futebol português.

AS ELEIÇÕES DA LIGA E PINTO DA COSTA
-Antes das últimas eleições na Liga, falou-se de uma aproximação Benfica-FC Porto...
- Falou-se de muito coisa. Numa altura em que o negócio do futebol esteve seriamente ameaçado, houve necessidade de convergir na procura de uma solução, de um nome que ajudasse a credibilizar a Liga e a trazer os patrocinadores de volta. Luís Duque foi esse nome, e houve, nessa medida, não diria uma aproximação, mas uma convergência na necessidade de salvar os campeonatos nacionais. Mas no capítulo desportivo, cada um por si. Como sempre foi e sempre será!

- Depois do processo eleitoral na Liga, está outra vez mais distante de Pinto da Costa?
- Não é uma questão de estar mais ou menos distante. Houve opções diferentes ao nível da Liga. Nada mais do que isso. Para bem de todos temos de ter uma Liga forte e credível. No meu entendimento, Luís Duque dava essas garantias. A opção foi outra, vamos trabalhar para que não se volte atrás no tempo...

- O Benfica apoiou Luís Duque e perdeu. Também foi uma derrota do Benfica?
- Não foi o Benfica que perdeu, foi uma derrota da coerência dos clubes da primeira e da segunda Liga, que 15 dias antes aprovaram um voto de louvor pelo trabalho desenvolvido por Luís Duque. É uma falta de gratidão enorme em relação a uma pessoa que devolveu a credibilidade à Liga.

- E que avaliação faz do trabalho do Pedro Proença até agora?
- Não se pode fazer a avaliação do trabalho de alguém que chegou há menos de um mês ao cargo.

- Os clubes deram passos atrás com esta mudança na Liga?
- Só o tempo e a gestão do novo presidente poderão responder a essa pergunta. Sinceramente, espero que não.

«CENTRALIZAÇÃO? DESDE QUE GARANTA PRINCÍPIOS DE LIVRE CONCORRÊNCIA...»
O projecto BTV não está em causa. Mas a centralização dos direitos TV pode alterar parâmetros.
- Como é que está o processo de centralização dos direitos televisivos, em estudo há algum tempo?
- Era um projecto que se estava a trabalhar na anterior direcção da Liga. Neste momento, desconheço em que ponto é que está. Não estamos contra o princípio, pelo contrário, até acho que pode ser uma boa solução, desde que os critérios em relação à distribuição de verbas sejam justos e, fundamental, desde que sejam garantidos os princípios de uma livre concorrência entre os candidatos a ficar com esses direitos.

- Este processo não coloca em causa o projecto Benfica TV?
- Não, embora seja evidente que, se a centralização vier a avançar, a BTV terá de ter um enquadramento diferente daquele que tem hoje, mas não vale a pena falar do que será a BTV em função de um cenário que está longe de se concretizar.

- A abertura da BTV 3 é um hipótese em estudo?
- É algo que estamos a equacionar.

- A Premier League vai continuar na BTV?
- É esse o nosso desejo.

- A mensalidade da BTV tem-se mantido nos 9,90 euros. É para continuar?
- Apesar de neste ano a BTV ter incorporado as ligas francesas e italiano, vamos manter o valor.

«HOJE GANHAMOS PORQUE CRIÁMOS CONDIÇÕES PARA ISSO»
É com satisfação que fala do sucesso das modalidades. O orgulho pelo projecto Olímpico.
-Olhando ao futebol e às principais modalidades de pavilhão, o Benfica venceu cinco campeonatos em seis possíveis e fez quadro dobradinhas. A melhor época de sempre a nível desportivo...
- Foi sem dúvida um ano excepcional, e só tenho pena de o andebol não nos ter acompanhado neste percurso, mas, tal como no hóquei levámos tempo a construir uma base sólida, no andebol vamos fazer o mesmo. Vamos lá chegar. Mas as pessoas, quando olham para o sucesso da época passada, têm de olhar para o trabalho dos últimos 14 anos. Chegámos aqui porque fizemos aquele percurso. A credibilização do clube, as infra-estruturas criadas, a BTV, o museu, tudo isto foi importante para chegar aqui. Hoje ganhamos porque criámos condições para isso.

- Lembro-me de muitas vezes se ter ponderado acabar com esta ou aquela modalidade...
- Nunca defendi esse caminho, pelo contrário, sempre defendi que o ecletismo era uma das marcas do Benfica. As modalidades fazem parte do ADN do clube. Toda a reestruturação e aposta que fizemos no futebol de formação e profissional também fizemos nas nossas modalidades. Este trabalho nunca é um trabalho que dê frutos a curto prazo, é sempre um trabalho de paciência. Soubemos ter essa capacidade e agora estamos a colher os frutos. No atletismo, por exemplo, foi um trabalho praticamente iniciado do zero com a Professora Ana Oliveira. Foram anos a formar, a criar condições, a consolidar trabalho e agora o Benfica passou a ser a principal referência do atletismo português.

- Ainda recentemente o Nélson Évora ganhou o bronze em Pequim. Espera que os atletas do Benfica ganhem muitas medalhas no Rio de Janeiro?
- Ainda bem que falou do Nélson Évora, é totalmente justo destacar a medalha ganha nos mundiais de atletismo e é, naturalmente, um dos atletas de quem sinceramente espero possa trazer uma medalha para Portugal. E é curioso porque muita gente já não acreditava que ele pudesse voltar a este nível, mas o Benfica através do seu projecto Olímpico sempre acreditou e sempre o apoiou, e quase que apostava que se não fosse este trabalho desenvolvido aqui, talvez o Nélson não tivesse voltado a ser o que é. E isso para mim é motivo de orgulho. Não devo andar longe da verdade se disser que o Benfica será o clube que mais atletas vai emprestar à nossa representação Olímpica e que espero que alguns deles possam fazer ouvir o nosso hino no Rio.

- Isto é recado para alguém?
- O quê? A questão do Nélson ou o facto de sermos o clube que mais atletas vai levar ao Rio? Não é recado, são duas constatações. Vamos lá ver, com o projecto Olímpico contribuímos - com gosto - para que a nossa representação Olímpica seja a melhor a cada quatro anos. Só gostava que da parte das instituições públicas, fosse feito esse reconhecimento, em vez do discurso recorrente que hostiliza os clubes e os menoriza enquanto instituições que nada fazem pelo desporto português.

«AINDA NÃO PENSEI NAS ELEIÇÕES»
Daqui a um ano há eleições e ainda não sabe se se recandidata. Não governa a pensar nisso...
- Falta pouco mais de um ano para as eleições no Benfica. Já pode revelar se vai recandidatar-se para mais um mandato?
- Um ano é muito tempo. Sinceramente, nem sequer pensei nisso. Portanto, não tenho ainda uma reposta.

- Acha que a conquista do título de campeão vai ser determinante na sua decisão de continuidade?
- Nunca o foi o não será também desta vez. Em todo o caso, esta mandato deve ter sido um dos mandatos mais bem-sucedidos do ponto de vista desportivo de qualquer presidente na história do Benfica. Mas não será isso que determinará a minha decisão.

- Em ano eleitoral, não considera arriscado optar pelo modelo da formação e do menor investimento no futebol?
- O caminho mais fácil seria continuar como até aqui, mas isso, sim, é que seria perigoso. As decisões não devem ser tomadas em função de haver ou não eleições. Fizemos uma escolha que privilegia o futuro, a independência e a sustentabilidade do Benfica, e é isso que importa.

- A um ano das eleições, como é que estão as contas do Benfica? Há um plano em marcha para reduzir o passivo? Quais são as metas?
- As contas estão equilibradas. Temos vindo a reduzir o passivo, mas não há uma meta fixa. Se tudo correr como acho que vai correr, vamos voltar a ter capitais próprios positivos.

- Já disse que consigo o Benfica não será vendido a um investidor externo; neste momento, é difícil o acesso ao crédito bancário. Perante a dificuldade na captação de investimento, como é que se consegue manter esta máquina a funcionar sem correr o risco de ela parar?
- Com inovação, com uma equipa muito dinâmica. Mais de 90% das propostas feitas pela nossa equipa de marketing são feitas para fora de Portugal. O patrocínio da Emirates foi trabalhado durante quase um ano e meio. Nada se consegue sem trabalho e sem bons profissionais. Felizmente, é algo que existe na nossa organização.

- O Benfica perdeu cerca de 100 mil associados de acordo com a última actualização de sócios. Consegue entender esta redução quando o Benfica fechou em 2014/2015 a época com mais títulos na sua história?
- Há sempre maneiras diferentes de olhar a mesma realidade. É verdade que se perderam quase 100 mil sócios, numa década terrível do ponto de vista das dificuldades económicas e em que as pessoas foram sujeitas a grandes sacrifícios. Mas também podemos ver isto de uma outra forma. Na última renumeração, em 2005, o Benfica tinha 95 mil sócios. Portanto, nós, nos últimos dez anos, crescemos e consolidámos mais de 50% em relação a 2005. Estou satisfeito? Claro que não, mas agora compete-nos voltar a crescer. E se na próxima renumeração voltarmos a crescer e a consolidar mais de 50%, então isso será uma excelente notícia."

Entrevista a Luís Filipe Vieira, por José Manuel Delgado, in A Bola

Horas e números

"Importa ter cuidado com a selecção albanesa, sofreu poucos golos e está a um passo de concretizar um sonho.

1. Nestes dias sabemos bem a que horas joga a nossa selecção nacional. É às oito menos um quarto. Em rigor às sete e quarenta e cinco. Tal como os jogos da Liga dos Campeões. Esta é a hora do futebol de primeira: Da Liga e das selecções. Antigamente, no meu tempo do Colégio Militar, os jogos eram às três ou às quatro horas da tarde. Todos. E já no final da tarde de domingo, poderia comprar, antes de reentrar naquele espaço que me moldou como jovem, o então Diário Popular e saber as equipas e os golos da jornada. De toda a jornada. Agora o futebol vai de sexta a segunda. As horas variam. E agora até há, pela primeira vez, jogos em dia de eleições. As competições europeias determinam, que neste quatro de Outubro, os três grandes joguem no dia das eleições. Para ser sincero, e na linha de um grande e ponderado amigo que conhece, e muito bem, o futebol e 'todas as suas gentes', o calendário desse domingo poderia não envolver os três grandes. Mas parece que houve um 'pacto de solidariedade'! Todos no domingo. Todos a quatro. De Outubro. Dia certo para a decisão quanto ao futuro Parlamento e conexamente quanto ao futuro Governo de Portugal.
2. Teremos algumas dúvidas acerca dos dias dos jogos das selecções e dos nossos clubes e logo ficamos surpreendidos ao saber que jogamos, amanhã, segunda feira contra a difícil selecção da Albânia. Mas a gestão dos jogos pela UEFA também envolve as suas transmissões televisivas. Que são rigorosamente organizadas. Em razão das televisões. Sabendo que sábado e domingo pode haver jogos às cinco da tarde. E outras à hora habitual, às oito menos um quarto. Que é na Europa um produto atractivo em razão da diferença horária. Uma hora mais! Logo jogo ao princípio da noite! Mas importa ter cuidado com esta selecção albanesa. Sofreu poucos golos - apenas dois - e está a um passo de concretizar um sonho: marcar presença na fase final de uma grande competição do futebol europeu. Esperamos que em disputa directa com a Dinamarca a partir da noite de segunda feira. Mas basta olharmos para o quadro da Liga Europa para percebermos que a Europa dita do Leste - a Europa oriental- está a chegar às fases de grupos das principais competições europeias. Com duas equipas do Azerbaijão! E o Benfica bem o percebeu já que jogará contra o campeão do Cazaquistão, o Astana. E com o jogo a disputar-se a 25 de Novembro, num campo sintético e com uma temperatura que será, se não houver significativa alteração climática, bem negativa! Há mudanças na Europa do futebol. Não tantas quantas àquelas que o drama dos refugiados estará a provocar. Com as nossas almas em dor com imagens que jamais esqueceremos!
3. Mas o quadro da Liga dos Campeões evidencia-nos duas realidades que importa não ignorar. Das trinta e duas equipas envolvidas na fase de grupos vinte e uma repetem a presença. Ou seja 65%! O que mostra que começa a haver uma clara hierarquia de participantes na principal competição europeia. Há clubes com presença certa. Entre outros, os grandes de Espanha, de Inglaterra (aqui com o United a substituir o Liverpool), os alemães Bayern e Leverkusen (com o Dortmund a disputar a Liga Europa este ano), o francês PSG, a Juventus e a Roma, o Zenit e o CSKA e os nossos Benfica e Futebol Clube do Porto são presenças confirmadas. Mas se olharmos para as três grandes ligas - espanhola, inglesa e alemã - elas representam 40% dos clubes participantes nesta fase de grupos da Liga dos Campeões. Com a Espanha a ter cinco representantes em razão do Sevilha ter conquistado, uma vez mais, a Liga Europa! As novidades, para além do Astana, são, esta época, o Dínamo de Zagreb, o Dínamo de Kiev, o Gent e o PSV Eindhoven. Ou seja nas conhecidas ligas intermédias há mudanças com a não presença dos habituais Ajax e Anderlecht. E com a nota que há dois anos que o Celtic, o escocês Celtic, só chega à Liga Europa. Importa olhar para os quadros e perceber que há estabilidade nos grandes e alguma instabilidade em ligas intermédias que são, também elas, e os seus clubes, 'exportadoras de jogadores'. Ou, em rigor, 'grandes exportadoras'. E, aqui, entra, necessariamente, a nossa Liga. Como acabámos de constatar neste mercado de verão. O que implica uma reflexão estratégica por parte da nova Direcção da Liga de Clubes. Seja dos representantes dos grandes clubes seja, igualmente, daqueles, como Guimarães ou Rio Ave, que, este ano, se ficam pelas competições internas. Mas os quadros aí estão. Para ver e para ler! Com a atenção que esta importante indústria já exige. Para além da hora e dos dias dos jogos. E, também, e já agora, do canal que os transmite! E já lá vai o tempo, tanto tempo, em que o futebol tinha a sua hora e não outra. Tudo mudou. Mas a hierarquia do futebol europeu está a sedimentar-se. Talvez seja conveniente não ignorar os números. Aqueles números. Sessenta e cinco por cento de repetentes e quarenta por cento das três grandes ligas! Dados que a 4 de Outubro se não verificarão. A não ser nos números da abstenção!"

Fernando Seara, in A Bola

No labirinto de Proença

"Não teve a discussão merecida a súbita mudança de opinião dos clubes que acabaram por rejeitar Luís Duque e colocar Pedro Proença na cadeira de presidente da Liga de Futebol Profissional. Depois de uma aclamação generalizada por ocasião da 'prestação de contas' da sua gestão e do avanço (induzido por essa aclamação) para uma 'renovação' de mandato determinada pela revisão dos Estatutos da Liga, não se compreenderam as razões (a não ser, objectivamente, da Sporting SAD e, perfunctoriamente, da FC Porto SAD) para o decaimento maioritário de Duque e essa conversão súbita ao ex-árbitro. Se foi pelo projecto, não se apreendeu nada de especialmente diferente de Duque ou, na novidade, compatível com os tempos e com a lei. Se foi pela equipa, nada foi avançado quando aos 'executivos' que se perfilavam, sendo certo que Proença trabalharia com os órgãos das listas de Duque. Se foi para minar o poder de Fernando Gomes e Vítor Pereira na FPF, só pode ser vista essa hipótese no espectro de um 'conto de crianças' - como a rejeição na Federação do sorteio dos árbitros decidido pelos clubes na Liga mostrou à saciedade. Se foi para os clubes obterem jogadores emprestados do Sporting e do FC Porto (táctica usada durante anos para constituir 'sindicatos de voto' nas assembleias da Liga), só pode ser ingenuidade pensar que essa cooperação dura mais do que o tempo dos negócios de ocasião. Enfim, se Mário Figueiredo se percebeu, Proença na presidência da Liga é um daqueles factos que parece ter sido uma espécie de capricho concretizado de alguns. Segue-se a pergunta cimeira: o que esperar da vontade de Pedro Proença em assumir este cargo e da capacidade da sua direcção?
Para além dos tacticismos e das manipulações, Proença marca um novo ciclo na gestão de topo do futebol associativo: um agente desportivo 'puro', que comungou do relvado e dos balneários com jogadores, treinadores e dirigentes ao mais alto nível. Sabe tudo do jogo e dos seus intervenientes, o que lhe confere outro tipo de autoridade e bom senso. Terá sido lúcido para aprender sobre aquilo que o 'negócio' hoje solicita e qual a posição comparativa que o nosso futebol pode ambicionar. Não terá contas para ajustar e, se as tem. deve optar pelo estilo federador (nomeadamente chamando árbitros, treinadores e jogadores para associados da Liga). Terá proveito em socorrer-se de recursos humanos íntegros e capazes, mesmo que isso desagrade aos 'interesses'. Se Proença agarrar esta oportunidade, outra história se começará a contar."

Árbitros recusam fazer exames

"Os árbitros da primeira categoria recusaram realizar os exames escritos e físicos agendados para ontem, em Tomar. Uma posição que, no fundo, constitui um ato de protesto contra o peso que estes parâmetros de avaliação têm na classificação final dos juízes. Actualmente, os testes representam 5% da nota final, percentagem que os homens do apito consideram ser elevada. O que pretendem, segundo apurámos, é que os referidos testes tenham um peso menor, semelhante a um jogo de futebol. A falta de acordo levou a que não se tivessem realizado os exames. Os árbitros acabaram por deslocar-se a Tomar e de lá saíram sem terem cumprido essa tarefa. Posto isto, a realização das provas escritas e físicas foi adiada para o próximo dia 24, igualmente em Tomar. Até lá, o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol irá reflectir sobre o assunto, existindo da parte dos árbitros a esperança de ver reduzida a percentagem da classificação final dedicada aos exames. Aliás, o CA, presidido por Vítor Pereira, terá mesmo prometido corresponder à exigência dos árbitros. Mesmo que haja acordo entre as partes, este não deixa de ser mais um factor a agitar um sector que tem dado que falar neste arranque de temporada...

A.G. / E. Q., in Record