Últimas indefectivações

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Ainda não temos um 'onze' !!!

Benfica 1 (5) - (6) 1 Torino
Vives (a.g.) (Jiménez, Jonas, Grimaldo, Samaris, Pizzi)


Foi um dia de homenagens, de memórias, emoções, boas e más... Este confronto veio atrasado um bom par de anos! A história acabou por ligar o Benfica e o Torino, e para o bem e para o mal, as duas instituições estão eternamente interligadas...

O jogo foi morno (para menos...), a variável mais surpreendente foi mesmo alguma virilidade dos Italianos... aliás nesta pré-época do Benfica os nossos adversários jogaram sempre a 'sério', talvez o Wolfsburg tenha sido o mais meigo!!!

Se o Benfica marcou num auto-golo após um erro infantil do guarda-redes adversário, o Torino marcou um grande golo, após uma falta inventada pelo árbitro... nem na pré-época!!!!

Não me agrada voltar a este assunto, mas o regresso do Luisão ao 11, voltou a desequilibrar a equipa: na defesa e no meio-campo! As linhas de pressão que tinham ficado tão bem definidas com o Wolfsburg não existiram... isto mesmo fazendo o seu melhor jogo da pré-época!!! O Horta, num jogo onde o espaço para a saída da bola era muito reduzido, não foi capaz de pegar no jogo... A ausência do Pizzi no onze inicial, também criou problemas, já que o transmontano nos jogos com menos espaço é precioso devido às movimentações onde sai do flanco e aparece na zona do Jonas!
No inicio do 2.º tempo, com as alterações, melhorámos ligeiramente... mas sem o Fejsa permitimos alguns contra-ataques...  nos últimos minutos, fomos muito melhores, e até merecíamos ter marcado... O Carrillo ainda longe da melhor forma, terá feito os melhores minutos... e com o Jonas em campo, tudo muda na nossa organização ofensiva!

Apesar da exibição apagada, o mais negativo da partida, foram as potenciais lesões... é importante chegar a Aveiro sem muitos problemas, principalmente na defesa... já que na frente, existem muitas opções! No jogo na Áustria fiquei logo com pé atrás com aquela substituição do Jardel (confirmou-se lesão...), mas o mais azarado da pré-temporada acaba por ser um Zivkovic, que após uns minutos muito promissores com Derby County, ficou K.O. nos primeiros minutos com o Sheffield... logo o jogador que mais me encantou com a bola nos pés!!!! Vamos ser se amanhã não temos más notícias...!!!

Com a anunciada contratação do Danilo, parece que o plantel vai ficar 'fechado' (nas contratações... as movimentações até ao final de Agosto devem-se restringir às saídas...), parece-me claro que vamos ter um plantel melhor que o do ano passado... agora, falta construir um 11 melhor do que o do ano passado, algo que ainda não conseguimos nestes primeiros testes...

Já agora, eu sei que gostamos de ser hospitaleiros, mas 3 vitórias em 9 edições da Eusébio Cup, começa a ser embaraçoso...!!!

Novo mandato na liderança do SLB

"Luís Filipe Vieira decidiu recandidatar-se a um novo quadriénio como presidente do Sport Lisboa e Benfica. A grande maioria dos benfiquistas - na qual me incluo - aplaude a sua disponibilidade.
Assim se consagrá a estabilidade como valor patrimonial de um grande clube e se assegurará continuidade de um trabalho globalmente positivo.
Luís Filipe Vieira tem tido a sabedoria de, com perseverança e solidez, reconstruir um Benfica inovador, ecléctico, profissional e com forte sentido de antecipação face às alucinantes mudanças no mundo da gestão desportiva.
Fê-lo aprendendo com a humildade de reconhecer alguns erros, a ousadia de saber arriscar com fundamento, conciliando, em crescendo, a experiência, a intuição e a exigência. Conjugando, coerentemente, os projectos com a acção e o tempo da palavra com o tempo do silêncio. Soube amadurecer a forma de lidar com os decibéis de certas vozarias e de se distanciar da poluição emocional que anda por aí.
Resistiu, em pleno,a afirmação reputacional de que os benfiquistas se podem envaidecer. Fê-lo com descrição e efectividade. Foi pioneiro em aspectos estratégicos: canal televisivo, museu, direitos de transmissão e outros que, seguramente, vão surgir. Devolveu-nos a haitualidade e normalidade das vitórias e dos títulos. Fortaleceu o património e proporcionou condições invejáveis para os atletas. Investiu, com retorno humano e financeiro, na formação, aspecto de que quase já não tínhamos memória.
Assim, o Benfica continuará a ser a primeira instituição desportiva portuguesa: nas vitórias, no orgulho de pertença, nos novos desafios e projectos."

Bagão Félix, in A Bola

Remoinho de milhões

"Os dados revelados ontem pelo Transfer Matching System (TMS) são esmagadores: até ontem, dia 25 de Julho, só os clubes das cinco principais ligas da Europa, gastaram mais de mil milhões de euros em 146 contratações durante o ano de 2016. É o maior valor de sempre registado a esta data e, atenção, ainda não englobada nenhum dos negócios milionários que se perspectivam para breve: Paul Pogba da Juventus para o Manchester United e Gonzalo Higuain do Nápoles para a Juventus. Só estas duas mudanças vão acrescentar mais de 200 milhões de euros ao bolo!
Os números têm tantos algarismos que às tantas se tornam quase impossíveis de ler, mas não é preciso entendê-los na perfeição para perceber que estamos a entrar de vez num remoinho de milhões e mais milhões. Os ingleses estão de bolsos cheios com o novo acordo de televisão e, com isso, provocam o efeito dominó pelo resto do continente, distribuindo dinheiro que depois é gasto em cascata - e até algumas 'pingas', mais ou menos pesadas, acabam por chegar a Portugal.
Pagar 120 milhões de euros por Paul Pogba pode parecer uma loucura, sobretudo quando comparamos com o negócio de Cristiano Ronaldo. Mas o médio francês, cuja qualidade não pode ser posta em causa por causa de um Europeu abaixo das expectativas, será apenas fruto do contexto. Isto é: há duas ou três temporadas, ninguém pagaria tanto dinheiro por este Pogba; da mesma forma, se Cristiano Ronaldo tivesse agora 24 anos (a idade que tinha quando se mudou do Manchester United para o Real Madrid), facilmente ultrapassaria os 200 milhões de euros.
Os recordes existem para ser batidos. No futebol, não surpreende que os números cavalguem de forma tão vertiginosa, sobretudo quando já se percebeu que há muita gente interessada em fazer rodar os jogadores para ganharem comissões a cada negócio. A palavra já pouco vale e já entrámos na era em que os contratos também já valem pouco. Afinal, como dizem os norte-americanos, é o dinheiro que faz o Mundo girar."

Roleta russa

"Podemos dizer que muitos atletas russos andaram, ao longo dos tempos, a 'brincar' com coisas sérias. Ser desportista profissional, mas fazer depender o respectivo rendimento do consumo de produtos proibidos é lamentável. E, sinceramente, nem estou a pensar nos problemas que isso acarreta para a sua saúde. Hoje, aliás, ninguém desconhece os perigos que enfrenta. Quem julga que é por aí que deve seguir... siga. A questão é que essas práticas são sinónimo de batotice. Quantos títulos e medalhas, em Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos, nas mais diversas modalidades, podiam mudar de dono caso todos jogassem 'limpos'... ou 'sujos'. Assim sendo, defenso que muitos russos não compitam no Rio de Janeiro.
Mas ser contra os trapaceiros não significa, por si só, apoiar esta verdadeira 'caça às bruxas' que se está a tentar fazer no desporto russo. Como é que se pode considerar legítimo, por exemplo, que se impeça alguém que nunca teve um controlo positivo de marcar presença nos Jogos Olímpicos?
Mais interessante: quantos atletas, de outras nações, vão ao Brasil lutar por medalhas depois de, no passado, terem sido castigados exactamente por consumo de 'doping'? Vários! Mas, defendem alguns, após cumprir castigo estão aptos a competir. Pelos vistos, mais aptos do que um qualquer russo da equipa de atletismo, toda ela barrada. Este critério não se compreende e vai fazer com que Putin esteja atento aos outros batoteiros. Vai começar um jogo perigoso, uma autêntica roleta russa."


PS: Até pode ser injusto para alguns atletas, mas o 'castigo' neste caso, é contra os dirigentes Russos, que organizaram durante todos estes anos, um esquema mafioso... e quando foram descobertos (ainda não pediram desculpa...), tentaram encobrir e desvalorizar tudo!!! Este é um problema cultural, na Rússia... e se não houvesse castigo, os batoteiros seriam premiados!!!!
Haverá outos Países com esquemas idênticos?!
Claro que sim: China... os EUA na velocidade no passado... o meio-fundo Inglês neste momento é muito suspeito (a team Salazar...)... os espanhóis no passado... Outras modalidades como a Canoagem, o Halterofilismo...etc... Mas o facto de existirem outros batoteiros, não invalida, que os batoteiros que foram apanhados, não sejam penalizados!!!!

Nem o Brexit travou loucura...

"Nada trava pura loucura, pulverizando recordes, no futebolístico mercado de transferências. Nem o Brexit, que se supunha ir preocupar os clubes ingleses, face à desvalorização da libra. Mas eles são tão ricos que mais 11% por causa do novo câmbio parece ser-lhes igual.
Chegada de Guardiola ao City e do Mourinho ao United intensificou labaredas (até por implicar reacções na Premier Liga, vide Chelsea, Arsenal, Liverpool...). Guardiola sonha, por exemplo, tirar Kroos ao Real Madrid e Thiago Alcântara ao Bayern. Mourinho já conseguiu Ibrahimovic e estará pertinho de chamar a si Pogba, médio francês que nem brilhou no Europeu mas obriga a fasquia de €120 milhões, varrendo transferências de Bale e de Ronaldo!
A Juventus, toda poderosa na Itália e decidida a tudo por tudo para voltar à máxima glória europeia, nada se incomodou com cláusula de rescisão de Higuain no Nápoles: 90 milhões, já está!
Crise financeira na Europa? Nem ao de leve no futebol; acima de €1000 milhões já movimentados! E vá lá saber-se até onde irá este recorde, no final de Agosto... Os clubes portugueses procuram aproveitar. Benfica vai em 60 milhões, de Renato + Gaitán (estranho é o Atlético de Madrid pagar só 25 milhões por Gaitán e, em sentido inverso, Jiménez ter custado 22 milhões), decide saída de Talisca (20 milhões?) e hesita em arrecadar mais cerca de 60 milhões por Lindelof, Salvio e Jardel. Sporting coloca em píncaros o valor de João Mário, William, Patrício, Slimani (proeza seria nenhum sair!). FC Porto tem muito menor potencial no plantel, mas só comprar não deverá ser-lhe possível... Quer Rafa. Mas o SC Braga, até porque nem metade dos direitos económicos são seus, insiste na bitola 20 milhões."

Santos Neves, in A Bola

Benfiquismo (CLXXIV)

Grand Torino
3 de Maio de 1949
Jamor

A tarde em que a morte desceu do céu...

"Já se cumprem 67 anos sobre o desastre de Superga. Regressado de Lisboa, o avião que transportava o «Grande Torino» despenhou-se quando se aproximava de Turim. Nesse dia, o clube deu um passo definitivo para a eternidade das lendas. Agora, o Torino regressa a Lisboa.

Quando fez o avião correr pela pista da Portela e elevar-se molemente como uma gaivota preguiçosa nos céus de Lisboa, o comandante Pier Luigi Meroni estava longe de pensar que esse poderia vir a tornar-se num voo complicado. Aliás, Meroni era um piloto com experiência e conhecida amplamente o trimotor G.212 I-ELCE que comandava, bem como o percurso que previa uma escala técnica em Barcelona.
E estava um dia bonito, ainda por cima. Tanto assim que a primeira etapa da viagem decorreu de forma agradável e absolutamente sem incidentes. É claro que os tempos eram outros. Em 1949 não se ia de Lisboa a Turim nas poucas mais de duas horas de hoje. Às 9h45, o controlador aéreo do aeroporto de Lisboa registou, muito provavelmente, a partida do aparelho da companhia Avio-Lire-Italiana com satisfação de mais um dever cumprido. A chegada a Turim estava programada para cerca das 17h15. O voo não cumpriria o seu destino.
Convenhamos que Pier Luigi Merino já não saiu de Barcelona com a mesma tranquilidade com que tinha iniciado a sua manhã portuguesa. Sobre o norte de Itália chovia há três dias. Na véspera, uma intempérie terrível abatera-se sobre a Ligúria e o Piemonte cortando estradas, danificando edifícios, deixando gente sem abrigo. Razões mais do que suficientes para um redobrar lógico de todas as atenções.
Superga dista meia dúzia de quilómetros de Turim. É um local aprazível, de passeios domingueiros em redor de uma colina onde se ergue a basílica e o cemitério onde repousam os velhos reis italianos de casa de Sabóia. Mas talvez sejam precisamente os sossegos as atracções milenares das tragédias.
Em Maio os dias já são longos. Todavia, nessa tarde escurecera cedo por causa das nuvens negras que se acautelaram nos horizontes e foram descendo do céu como um prenúncio de morte. Por volta das cinco horas da tarde um nevoeiro espesso atravessou-se no caminho da aeronave que já deixara Lisboa há tanto tempo. Pier Luigi Merino e os seus coadjuvantes, o co-piloto Cesare Banciardi, o telegrafista Antonio Tangrazi e o mecânico Caleste D'Inca, iam fazendo os possíveis e impossíveis para se orientarem dentro de um «cockpit» no qual o altímetro deixara pura e simplesmente de funcionar. Diria mais tarde o relatório do inquérito levado a cabo pelo governo italiano que as fortíssimas rajadas de vento terão provocado a deslocação do aparelho para uma rota diferente da habitual. Merino continuou a descida de aproximação ao aeroporto, tudo indica que convencido de já ter ultrapassado os montes de Superga e a colina da basílica que se ergue até praticamente setencentos metros de altura. Seria um erro terrível e irremediável. Quando os recortes da igreja surgiram, aterradores, na frente de uma tripulação ansiosa, era já demasiado tarde. A máquina choca contra a cúpula do templo e despenha-se em chamas pelo derredor.
Tudo terá sido, porventura, demasiado rápido para o drama colectivo dos pânicos, das preces e das certezas inequívocas do fim. Exactamente às 17h20 a notícia caiu, taxativa e crua, nas redacções dos jornais italianos: «O avião-especial - um trimotor da companhia Avio-Lire-Italiane - no qual viajava de regresso a equipa do Torino caiu perto de Superga. Morreram todas as pessoas que seguiam a bordo da aeronave - 31, incluindo a tripulação». Os adjectivos tinham ainda de esperar mais um pouco. Aliás, os próprios jornais sentiram na intimidade a extensão dessa noite de desgraça. Renato Casalbore, director do «Tuttosport», Renato Tosatto e Luigi Cavallero, redactores da «Gazzeta del Popolo» e do «La Stampa», eram três dos cadáveres carbonizados que se espalhavam por entre uma amálgama de ferros entortecidos. Como se o infortúnio fizesse questão de abraçar a todos.
A equipa que fez nascer a lenda
Chamavam-lhe em Itália, «Il Grande Torino». E os jornais e jornalistas, sempre dispostos a promover heróis, referiam-se-lhe como «uma das mais poderosas e maravilhosas equipas que o futebol italiano jamais soube exprimir». Falava-se, ao tempo, das extraordinárias proezas de uma «squadra» capaz de marcar 125 golos no campeonato de 1947-48 e de golear o Alessandria por 10-0 na mesma época. E ninguém punha em causa que tal obra de arquitectura futebolística tinha sido obra de um industrial turinense, Ferrucio Novo, conhecido por «commendatore Novo», chegado à presidência do Torino aos 42 anos, em 1939, com vontade de transformar o clube num exemplo de organização à... inglesa.
Ferrucio Novo rodeou-se de sábios. Sobretudo dois: Roberto Copernico e Ernst Egri-Erbstein, um trânsfuga húngaro que chegou a ser por mais de uma vez treinador da equipa. Foram eles os responsáveis pelo reforço de um conjunto que sonhava com o título italiano. E a obra foi ganhando corpo com a aquisição, a pouco e pouco, daquela que seria a sua constelação de estrelas: o médio de ataque Ossola, do Varese; o ponta-de-lança Gabetto, da Juventus; os alas Menti, da Fiorentina, e Ferraris, do Inter, Mas o passo decisivo deu-se no momento em que Novo garantiu o concurso da dupla de contro-campistas do Veneza, Ezio Loik e Valentino Mazzola. E Mazzola rapidamente se transformou na grande figura do Torino, «capitão» e símbolo de uma «squadra» que venceria nada menos de cinco «scudetos» consecutivos, embora interrompidos pelas épocas de 43/44 e 44/45 durante as quais as sequelas da II Grande Guerra impediram a disputa do campeonato italiano.
O Torino era um clube de ideias futuristas e de uma dinâmica imparável. Pretendia formar dois conjuntos de igual qualidade, um para disputar as competições internas, outro com nomes mais sonantes para viajar pelo Mundo como «Globetrotters», recebendo os «cachets» elevados que esses nomes garantiam. Seria o «Torino Esportazione». E a curiosidade do mundo para ver esta «squadra da sognare» ia-se fermentando na maneira como ela se passeava nas Taça Latina e sobretudo no «calcio» onde conseguira manter-se invencível em casa durante nada menos de 88 jogos consecutivos.
Quando a mecânica da morte, da forma brutal como geralmente funciona, pôs um fim a esta sede insaciável de vitórias do Grande Torino, a equipa então treinada pelo inglês Leslei Lievesley seguia na frente da classificação e, no domingo anterior à sua viagem a Lisboa, empatara 0-0 no campo do Inter, obtendo dois novos recordes para a época: 19 jogos seguidos sem perder no campeonato e dando 10 jogadores titulares à selecção italiana. Seria esse empate, que lhe garantia praticamente o título de 48/49, que faria o presidente Novo dar a autorização definitiva para a deslocação a Portugal onde o Torino defrontou o Benfica num jogo de homenagem a Francisco Ferreira, «capitão» dos 'encarnados' e da selecção portuguesa.
O Benfica venceria por 4-3 num confronto espectacular. Para o Torino seria a última derrota antes daqueloutro, dolorosa e irrevogável. A Federação Italiana, com o acordo expresso de todos os outros clubes, declarou o Torino campeão a título póstumo. A «squadra granata» respeitou os seus derradeiros compromissos apresentando a equipa júnior.
Os adversários, cavalheirascamente, jogaram contra eles com jogadores da mesma idade. Seriam precisos vinte e sete anos para que o Torino voltasse a ser campeão de Itália. A calamidade de Superga pusera fim ao que o «L'Equipe» chamava «orgulho do desporto latino». A morte destruíra a técnica e a beleza plástica de um grupo de futebolista extraordinária mas dera-lhes, em troca, um lugar único na lenda e no catálogo dos heróis. Porque, como toda a gente sabe, só a morte nos dá a eternidade.
No Jamor, antes de Superga
A última derrota do Torino
«A vitória do Benfica sobre o Torino foi nítida, regularíssima e teve brilho», escrevia-se em «A Bola». E logo abaixo: «Mas a categoria dos italianos em nada ficou apoucada». A equipa redactorial era de luxo: José Olímpio, Cândido de Oliveira e Alberto Valente. E, como é lógico, os elogios a uma equipa e a outra multiplicaram-se. Aos italianos porque eram... o Grande Torino; aos portugueses porque foram capazes de vencer o... Grande Torino. Por curiosidade, a ficha do jogo aqui fica: 
Estádio Nacional
Árbitro: Harry Pearce (inglês)
Benfica: Contreiras (depois, Pinto Machado); Jacinto e Fernandes; Moreira, Félix e Francisco Ferreira «cap»; Corona, Arsénio, Espírito Santo (depois, Júlio e logo Vítor Baptista por lesão deste), Melão e Rogério.
Torino: Bacigalupo; Ballarin e Martelli; Gregor, Rigamonti e Castigliano; Menti, Loik, Gabetto (depois, Bongiorni), Mazzola «cap.» e Ossola
Na primeira parte: 3-2
0-1 por Ossola; 1-1 por Melão; 2-1 por Arsénio; 2-2 por Menti; 3-2 por Melão; 4-2 por Rogério e 4-3 por Menti, de «penalty».
Resultado final:4-3.
Entre os 31 mortos
18 jogadores para a história
A catástrofe de Superga matou dezoito jogadores. A saber: os guarda-redes Bacigalupo e Ballarin II; os defesas Ballarin I, Maroso, Rigamonti e Operto; os centro campistas Grezar, Castigliano, Loik, Mazzola, Martelli e Fadini; os avançados Menti II, Gabetto, Ossola, Grava, Schubert e Bongiorni. Com eles desapareceram igualmente os técnicos Ernest Egri-Esbstein e Leslie Liesvseley; os dirigentes Agnisetta e Civalleri; o massagista Cortina; os responsáveis pelos equipamentos, um agente de viagens, três jornalistas e, logicamente, a tripulação do aeroplano. O funeral dos homens do Grande Torino foi uma terrível imagem de dor de todo um país."

Afonso de Melo, in O Benfica

Os sorrisos que precederam as lágrimas

"A vinda do Torino a Lisboa, em 1949, não se resumiu apenas a futebol e tragédia. Houve alegria, convívio e... atum.

É com bastante pesar que se recorda, anualmente, o 'desaire de Superga' e, consequentemente, a vinda da equipa de honra do Torino a Lisboa, em 1949, para o jogo com o Benfica. Igualmente, todos os anos, são lembrados e homenageados os que, aí, viram findada a sua vida. No entanto, a viagem da comitiva turinense a Lisboa não se resumiu apenas a futebol e tragédia. Houve alegria, passeio e convívio. Mazzola, capitão do Torino, quando questionado pelo Mundo Desportivo se estava satisfeito coma visita a Lisboa, respondeu: 'Oh! Muitíssimo'.
O Torino chegou a Lisboa na tarde de 1 de Maio para participar na festa de homenagem a Francisca Ferreira. Nesse mesmo dia, antes de se instalar no Hotel do Parque do Estoril, foi conhecer o Estádio Nacional: 'Como é belo o vosso estádio!', exclamou Mazzola.
No dia seguinte, depois de 'um «galope» de treino no campo do Estoril', foi a vez das visitas oficiais. Começaram por ir à secretaria do Benfica, onde se de moraram 'a admirar os centenares de troféus que o clube dos «encarnados» guarda na sua monumental «Sala das Taças»', e seguiram para a Câmara Municipal de Lisboa. Antes do regresso ao Estoril, houve ainda tempo para uma passagem por Sintra.
O dia 3 foi o dia do jogo. Ao Jamor 'acorreram simpatizantes de todos os clubes' para ver o encontro 'entre os «encarnados» da Itália e de Portugal'. O desafio terminou a favor do Benfica mas, sem ressentimento, rumaram ao Restaurante Alvalade, para um banquete de confraternização, em que não faltaram brindes e trocas de lembranças.
Na manhã seguinte, bem cedo, estava marcado o regresso a Itália. Já no aeroporto, pouco antes da partida, 'Francisco Ferreira abraçou o capitão do grupo italiano (...) e ofereceu-lhe (...) pacotes de latas de atum'. 'E foi entre abraços e risos de satisfação que os homens do Torino entraram no avião', levando consigo as conversas portugueses 'que eles muito tinham gabado'.
Na exposição permanente do Museu Benfica - Cosme Damião a tragédia do Torino não foi esquecida. Na área 15. No caminho do tempo, está representada através de um galhardete do clube italiano, da Taça Olivetti e de um fragmento dos destroços do avião."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica