Últimas indefectivações

sábado, 21 de março de 2020

Falhou o primeiro 'chito' do século XXI

"À boleia de uma tragédia global vieram, paroquialmente, exigir que lhes fosse entregue o título de campeão apregoando uma suposta legislação sustentada em boataria conveniente com os seus interesses de natureza desesperadamente financeira

Que figuras tristes fizeram alguns acólitos do FC Porto e, por fim, o seu presidente durante a semana que antecedeu a decisão da UEFA sobre as competições profissionais no quadro de emergência provocado pelo Covid-19. À boleia de uma tragédia global vieram paroquialmente exigir de campeão apregoando uma suposta legislação sustentada em boataria conveniente com os seus interesses de natureza desesperadamente financeira.
Manchetes amigas garantiram que a UEFA iria ordenar às ligas europeias a homologação das tabelas de todos os 55 campeonatos no estado em que estavam no momento da interrupção das provas. Outros fazedores de opinião alertaram para as manobras do inimigo público número 1 da humanidade nos tempos que correm: não, não é nenhum vírus, é o 'centralismo' lisboeta e os abusos da Capital conjugados para roubar ao FC Porto mais um título. E, finalmente, coroando toda a demagogia com a sua surreal presença, lá surgiu Pinto da Costa a 'dar a solução' depois de uma 'task-force' de esforços paliativos lhe ter ressuscitado a ironia do costume, aquela prosápia bafienta do tempo em que 'dar chitos' era a prática e era a Lei.
A urgência do FC Porto nem é o título de campeão. São, tal como explicam as contas da SAD, os 40 milhões da entrada directa na Liga dos Campeões. Com dez jornadas da Liga por disputar e dispondo de um ponto de avanço sobre o seu perseguidor pretendeu o maior clube da Cidade Invicta dar o primeiro 'chito' do século XXI, celebrando em Março a conquista do título, enchendo - já! - a Avenida dos Aliados de bandeiras azuis e brancas sanitariamente dispostas entre si a uma distância de um metro em observação rigorosa das normas vigentes. A UEFA veio colocar um ponto final no delírio e pode-se, assim, constatar que falhou rotundamente o esforço de muita gente para a homologação do primeiro 'chito' do século, o chito-maravilha.
Não será, portanto, Pinto da Costa a decidir quem é o campeão da temporada de 2019/20. Nem será sequer Pedro Proença. Nem será a 'meritocracia', a que o presidente da Liga se referiu com tanta diplomacia, a decidir o campeonato. Será, naturalmente e, o campeonato com as suas dez jornadas por disputar a decidir quem será o campeão e quem terá entrada directa na próxima edição da Liga dos Campeões e quem desce e quem sobe e quem vai à Liga Europa.
Todo este enredo tão original deixa no ar uma questão que poderá alimentar discussões nas próximas décadas. Se, eventualmente, o FC Porto não ganhar o título em campo - o que é difícil de acontecer porque o Benfica entrou de quarentena já bastante e doente - considerarão os seus responsáveis vir a reclamá-lo na Assembleia da República tal como o Sporting fez em relação aos quatro títulos reclamados dos anos 20 e 30 do século passado? Força!"

O Brinco do Baptista #33 - Brinco à distância

Sem futebol

"Este vírus colonizou todas as facetas da nossa vida quotidiana. Não se fala de outra coisa porque todos nós estamos condicionados pela necessidade de conter esta epidemia.
O futebol e o desporto em geral não fogem à regra. O Euro foi adiado para 2021. Para quem comprou bilhetes para ir ver o Euro 2020, passagens de avião e estadia em hotel, vai ter um prejuízo enorme, se, entretanto, não se tomarem medidas. O que se está a passar, é um estado de excepção e as pessoas possam reaver o dinheiro investido num evento desta dimensão ou reagendar a sua ida: bilhetes de jogo, de avião e estadia no hotel.
Não nos podemos dar ao luxo de continuar a assistir a futebol, MotoGP, Fórmula 1, ténis, ciclismo ou basquetebol ao mais alto nível. É o momento de parar para voltarmos mais tarde, de novo, a ver o que mais gostamos.
Este vírus está a ter um impacto brutal nas nossas vidas e na nossa maneira de viver. E, mostra-nos como realmente são as pessoas, há gente magnânima e boa, mas há gente infame.
O futebol também está de quarentena, mas como passou a indústria, a quebra de receitas tem uma enorme influência nas equipas de futebol. Alguns clubes estão a pensar baixar o salário dos seus jogadores. Os clubes são unidades de negócio e não podem fechar tanto tempo, pois há salários chorudos a pagar no fim do mês.
O tema actual do futebol que passou para destaque foi a prisão de Ronaldinho no Paraguai por suposto branqueamento de dinheiro e uso de passaporte falso e Jorge Jesus contaminado ou não. 
Antes da suspensão de todos os jogos de futebol houve jogos sem adeptos o que era algo estranho. Ouvia-se as vozes dos jogadores e dos treinadores, o apito do árbitro era amplamente audível.
Mas um fim-de-semana sem futebol é algo incomum tirando o defeso. O poder do futebol na vida das pessoas é enorme, a vida sem futebol perde o quanto é picante viver. Deixou-se de falar dos árbitros, VAR, treinadores e jogadores.
Mas tenho esperança que isto vai passar e lentamente voltaremos à normalidade. Este período de medo colectivo, e roído de pânico parece uma paranóia. Esta é uma boa ocasião para sentirmos o quanto nos faz falta, ver desporto que não passa só por futebol."

O onze mais desvalorizado do SL Benfica na última década

"Muitos são os jogadores que passam pelos clubes sem nunca chegarem a deixar marca junto dos adeptos. A maioria por falta de qualidade, mas há muitos que somente as circunstâncias os ofuscaram: a maturidade dos jogadores, o nível de desenvolvimento, a adaptação ao país, a adaptação à equipa e até a qualidade do treinador que os recebe. O SL Benfica ainda consegue ser um caso mais especial.
Às contratações que não se afirmaram ainda se juntam os jovens da formação que acabaram por ter de se mostrar em outras paragens.
Deixo-vos então o meu 11, num 4-4-2 clássico, com jogadores que passaram pelo SL Benfica, entre 2009-10 e 2018-19, praticamente sem registo, mas que acabaram por se afirmar noutras paragens e até noutros voos.
Este é um XI que está actualmente avaliado em 254 milhões de euros, enquanto o XI actual de Bruno Lage está avaliado em 223 milhões.

Guarda-redes
Mika Em 2011 foi eleito o melhor guarda-redes do Mundial sub-20, competição na qual a Selecção Portuguesa acabou por se sagrar vice-campeã. Nessa altura, Mika foi contratado pelo SL Benfica à UD Leiria, mas acabou por não realizar qualquer partida pelos encarnados.
No Verão de 2014, acabou por ingressar no Boavista FC e terá sido na baliza dos axadrezados que viveu os seus melhores anos. Foram duas épocas onde agarrou a titularidade de uma equipa da Primeira Liga com exibições que o levaram, em 2016, a ser contratado pelo Sunderland da Premier League.
Acabou por não actuar na Premier League e depois de nova passagem pela UD Leiria e pelo CF “Os Belenenses”, defende hoje a baliza da Académica OAF na Segunda Liga. Teria sido útil na fatídica época 2017-18?

Lateral direito
João Cancelo Um dos principais exemplos dos produtos de sucesso do Seixal que tiveram de se afirmar fora do clube. João Cancelo desde cedo mostrou ser um lateral muito ofensivo. Jogador de garra, rápido, criativo e com um excelente pé direito. Contudo, a sua instabilidade emocional sempre condicionou a sua evolução.
Mas, a verdade é que desde que saiu do SL Benfica a sua carreira não mais parou de evoluir. Foi foi para o Valencia CF e daí seguiu para o FC Inter de Milão, depois para a poderosíssima Juventus FC e já esta época, pela modesta quantia de 55 milhões, foi contratado para o Manchester City FC de Pep Guardiola. Já leva também 16 internacionalizações pela selecção portuguesa.
Com 25 anos, e apenas 73 minutos disputados na principal equipa dos encarnados, João Cancelo seria hoje titular absoluto na equipa de Bruno Lage.

Defesa central
Stefan Mitrović Este central sérvio chegou ao Benfica em 2013. Central imponente, que nunca teve o seu espaço no Estádio da Luz.
Sem um único minuto realizado pela equipa encarnada, acabou por ser vendido ao SC Friburgo da Bundesliga. Ganhou o seu espaço na equipa alemã, foi três épocas titular no KAA Gent da Bélgica e em 2018 acabou por chegar à Ligue 1. O RC Estrasburgo contratou Mitrovic por três milhões e este não só é titular como também é o capitão da equipa pela qual conseguiu vencer da Taça da Liga da época 2018-19. Conta com 15 internacionalizações ao serviço da Sérvia.
Olhando aos argentinos Conti e Lema, não seria o sérvio melhor concorrência a Jardel? 

Defesa central
Sidnei O central brasileiro enquanto esteve no Estádio da Luz foi sempre um dos patinhos feios dos adeptos. Um defesa que por vezes impressionava com bola, mas que não transmitia à equipa qualquer segurança defensiva.
Foram quatro épocas de águia ao peito – mais três de empréstimos -, mas sem deixar saudades. Foi na La Liga que encontrou o seu espaço de afirmação. Durante quatro anos, agarrou a titularidade da defesa do RC Deportivo da Corunha e acabou por ser contratado pelo Real Betis Balompié em 2018. As lesões condicionaram a sua afirmação, mas já esta época, na última jornada disputada em Espanha, foi o autor do golo inaugural do jogo que deu vitória ao Betis sobre o Real Madrid CF.
Fica à atenção de Ferro.

Lateral esquerdo
Marçal No dia 26 de Fevereiro deste ano, em jogo a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, a Juventus FC deslocou-se a França para defrontar a equipa do O. Lyon.
A jogar em casa, os franceses saíram vitoriosos. Na defesa, a controlar as movimentações de Dybala e Cristiano Ronaldo, estava Marçal, um jogador que nada diz aos benfiquistas apesar do seu nome lhes ser familiar.
Marçal chegou à Luz desde o CD Nacional no Verão de 2015. Não fez um único minuto pelos encarnados e depois de dois empréstimos, onde agarrou a titularidade tanto no Gaziantepspor K. como no EA Guingamp, acabou por ser transferido para o Lyon por 4,5 milhões.
Apesar de não se ter afirmado no Lyon como anteriormente no Guingamp, a verdade é que Marçal tem sido bastante utilizado numa equipa que este ano eliminou o Benfica na Liga dos Campeões. Poderia talvez ser um bom oxigénio para Grimaldo.

Médio defensivo
Bryan Cristante Em 2014, o SL Benfica contratou ao AC Milan aquela que era uma das maiores promessas do futebol italiano. O médio Cristante chegou à Luz envolto numa imensa expectativa que nunca se verificou.
Dono de uma leitura de jogo impecável e de uma qualidade de passe exímia, sofreu do vírus da intensidade que tem afectado o futebol nos últimos anos. Foi época e meia de águia ao peito sem quase dar nas vistas – menos de 900 minutos e só um golo e uma assistência –, seguida de duas épocas e meia de empréstimos a clubes italianos.
Em 2018, foi vendido por 5 milhões à Atalanta BC, num negócio que o faria chegar à AS Roma por 26M. É hoje titular do meio-campo da equipa de Paulo Fonseca, que luta por um lugar na Liga dos Campeões da próxima época.
Nada fica a dever a Samaris nem a Gabriel, só mesmo na dita intensidade.

Médio ofensivo
Bernardo Silva O expoente máximo da falta de aproveitamento da formação do clube. Em 2014, saiu do SL Benfica apenas com 31 minutos disputados. Foram três épocas sempre a crescer de rendimento num excelente AS Mónaco FC, vencendo o campeonato contra o todo poderoso Paris Saint-Germain FC e, depois de ser príncipe no principado, ingressou na Premier League para brilhar no Manchester City FC sobre a batuta e admiração de Pep Guardiola.
Vai na terceira época nos citizens e já conta com uma Supertaça, três Taças da Liga, uma Taça de Inglaterra e dois campeonatos conquistados. Foram 50 milhões que quase se tornam numa borla sempre que Bernardo encanta os ingleses com a qualidade técnica com que o seu pé esquerdo trata a bola.
Guardiola diz que ninguém lhe consegue roubar a bola sem fazer falta. Pois eu digo para os deixarem tentar que o miúdo vai continuar a brilhar. Onde andaria o SL Benfica se contasse com a sua magia…

Médio direito
Nolito O extremo espanhol já caminha para o final da sua carreira. Formado no FC Barcelona, conta com 16 internacionalizações pela selecção espanhola e um período de fortíssima afirmação no RC Celta de Vigo, clube que o contratou ao SL Benfica por 2,6 milhões depois de o espanhol não ter convencido na Luz.
Foi duas épocas jogador do Benfica. Na Luz, começou em alta rotação impressionando ao conseguir marcar nos seus primeiros cinco jogos. Lembro-me de Nolito quase como se fosse um jogador de futsal em pleno relvado – aliás, poderia fazer uma excelente dupla com Raúl de Tomás no pavilhão da Luz. Bola colada ao pé, capacidade de drible curto e de controlo em espaços apertados e facilidade de remate. 2011-2012 foi uma temporada promissora, na qual foi perdendo destaque, tendo desaparecido totalmente na época seguinte.
A verdade é que chega a Vigo e tem três épocas de total afirmação – titular e com um registo no campeonato de 13 golos e 7 assistências por época. As suas exibições levaram-no, em 2016, para o Manchester City FC por 18 milhões.
A sua história em Inglaterra não é de sucesso, mas ainda foram várias as aparições de Nolito com a camisola do todo poderoso inglês. Hoje, encontra-se em Sevilha, já muito fustigado por lesões, mas ainda dando o seu contributo a uma equipa do top 5 espanhol.
Não teria futebol para ter contribuído mais de águia ao peito?

Médio esquerdo
Derlis González Muitos benfiquistas nem sequer se lembrarão deste jogador. Este extremo paraguaio chegou à Luz em 2012, vindo do C. Rubiu Nú, não disputou qualquer jogo pela equipa principal encarnada e nos dois anos em que foi jogador do SL Benfica esteve emprestado a clubes paraguaios.
2014 foi o ano da mudança para um extremo que viria a mostrar-se tecnicamente apurado e com bastante criatividade naqueles pés. O FC Basel contratou-o por três milhões e logo nesse ano agarrou a titularidade, venceu o título suíço e ainda brilhou na Ligas dos Campeões, num Basileia que se apurou para os oitavos-de-final num grupo que contava com o Real Madrid FC e o Liverpool FC. 
Derlis foi o autor do golo da sua equipa no jogo contra o FC Porto na primeira mão dessa eliminatória europeia. Seguiram-se três épocas no FK Dínamo de Kiev, clube que o contratou por 9,4 milhões, onde, apesar de não se ter conseguido afirmar tanto, ainda conquistou a Supertaça e um campeonato ucraniano. Voltou também a marcar ao FC Porto, desta vez numa vitória em pleno Estádio do Dragão.
Hoje, com 26 anos, já conta com 43 internacionalizações pela selecção do Paraguai. Entretanto, passaram pelo 11 encarnado jogadores como Ola John, Bebé, Carcela e Caio Lucas. Derlis González foi melhor e no seu melhor talvez até desse um maior contributo que Cervi.

Segundo avançado
Gabriel Barbosa “Hoje tem gol de Gabigol”. Pouco mais seria necessário acrescentar. Gabriel Barbosa chegou à Luz por empréstimo do FC Inter de Milão. Um avançado móvel, rápido, com excelente capacidade de desmarcação e remate forte. Um avançado de olhos na baliza. Passou pela Luz num período de adaptação à exigência que era esperada de si e também mal entendido por aqueles que o treinavam – sendo utilizado como extremo.
Foram 5 meses, duas titularidades e um golo marcado. Seguiu-se uma época goleadora no Santos FC e outra de consagração com Jorge Jesus no CR Flamengo, onde foi artilheiro do demolidor Rubo-negro, conquistou o Brasileirão, a Libertadores, a Recopa, a Taça Guanabara e foi o melhor marcador do campeonato com 25 golos concretizados.
Hoje, certamente Vinícius adoraria partilhar o ataque com Gabigol.

Ponta-de-lança
Luka JovićO avançado sérvio chegou esta época ao Real Madrid CF pela módica quantia de 60 milhões. Dois anos antes, Jovic saía de Portugal depois de ter falhado a sua afirmação na equipa B encarnada.
Somou 40 minutos na equipa principal e seguiu para a Alemanha, onde fez duas épocas em crescendo e de total afirmação. Na primeira temporada, venceu a Taça da Alemanha depois de nas meias finais ter concretizado o golo que levou a equipa para a final. Na segunda temporada, já como titular absoluto, conseguiu o registo de 17 golos para o campeonato e 10 golos para a Liga Europa, tendo mesmo chegado a marcar no Estádio da Luz, na eliminatória onde o Eintracht Frankfurt eliminou o SL Benfica da competição.
Hoje, está no Real Madrid CF e ainda pode ter uma enorme história para por lá escrever. Seferovic, Dyego Sousa e Vinicius: algum deles superior ao matador sérvio?"

Cadomblé do Vata (... nunca mais acabava!!! E eu cheio de fome!!!)



"Taça de Portugal 04/05 - Oitavos de Final - 26/01/2005 - Estádio da Luz
SL Benfica 3-3 Sporting CP (7-6 após g.p.)
1. O quê, o António Costa já apitou para o final? Só deixou jogar 90 minutos, mais 30 de prolongamento e 13 penaltys?... depois não querem que o pessoal assobie os árbitros...
2. Até aos oitavos de final defrontamos uma equipa da III Divisão, outra da IIB e agora o Sporting CP... para se chegar longe em provas a eliminar, também é preciso ter sorte nos sorteios.
3. Entre 22 jogadores, Geovanni foi o mais rápido a acorrer à recarga a dois livres directos... dizem que é o Soneca e eu não consigo evitar franzir o sobrolho.
4. No lance do 1-2 o marcador lagarto estava fora de jogo por um pintelho... que é como quem diz "por um Liedson".
5. Terminamos o jogo com João Pereira, Alcides, dois defesas esquerdos e Carlitos em campo... contra o Sporting CP qualquer coisa serve."

Chef Pimenta !!!

Conversas... Luís Nunes...

Benfiquismo (MCDLXXVIII)

Juntos!

Esperar

"A ausência total de Benfica deixa-nos a alma demasiado vazia. Voltar a viver o amor ao nosso clube é uma boa razão para vencer a pandemia

Neste tempo de guerra médica, física, económica e sobretudo psicológica fica ainda mais a nu a falta que nos faz o Desporto. Os jogos do nosso clube, os espectáculos que apreciamos. Até uma polémica estéril e inútil sabe bem como terapia dos nossos quotidianos. Nesta fase de verdadeiros problemas, de quotidianos alterados, de vidas viradas do avesso, resta esperar disciplinados, cumprir as recomendações das autoridades de forma disciplinada. O teletrabalho ainda dá para minorar o impacto laboral das nossas vidas, mas a ausência total de Benfica deixa-nos a alma demasiado vazia. Se há uma boa razão para vencer a pandemia voltar a viver o amor ao nosso clube é uma delas.
Nesta fase em que tudo parece pouco, há pequenos nadas que parecem muito. No meu caso, é um (in)disciplinado jogo de ténis com um amigo ao fim da tarde. Sem contacto com ninguém - o court está isolado pela natureza - de cada lado da rede ambos espancamos a bola como se ela tivesse todas as culpas do que nos vai acontecendo. São 75 minutos de pura terapia, que ajudam muito a vencer cada dia desta guerra que vivemos. Aquelas head amarelas levam pelo Covid-19 e tudo que ele nos tira. Não resolve nada, mas saio do court com a sensação de poder resolver alguma coisa.
Nesta coisa de guerra, a história já nos ensinou que a expectativa é importante. Bem sei que devia emitir a minha opinião sobre quem merece vencer o campeonato e quem vai ocupar que lugar nas provas europeias, e defender o Benfica com um rol de boas razões, mas sinceramente nesta fase interessa-me pouca ou nada. Foi sensata a decisão de adiar o Campeonato da Europa e não seria menos sensata a de anular o campeonato não havendo campeão. Ser campeão não é algo administrativo, ou louros vêm da sorte e dos méritos das batalhas. Campeão é o que joga até ao fim, as batalhas todas, dentro das normas e no respeito pelas regras. Qualquer outra forma ou fórmula interessa pouco ou nada, já só cuida do dinheiro, do negócio, já nada tem a ver com a nossa paixão pelo jogo.
Aguardamos pelas notícias dos Jogos Olímpicos, que muito me surpreenderia se não fossem adiados. Aguardamos pelas notícias dos demais campeonatos nas várias modalidades que muito me admirava que pudessem terminar.
Enquanto somamos amigos e conhecidos infectados temos de nos agarrar a tudo o que nos puder dar um futuro melhor e normalizado com a máxima brevidade.
No meio deste turbilhão informativo tivemos a notícia da morte do sócio número 1 do Sport Lisboa e Benfica. Carlos Galiano era sócio desde 1932, atleta do clube, num amor ininterrupto merecedor da nossa admiração. Deixamos aqui o nosso tributo ao exemplo e à memória. Este clube é enorme pela soma destes exemplos."

Sílvio Cervan, in A Bola

Miseráveis

"Passados poucos dias da interrupção das competições desportivas e de quase tudo o resto no país devido ao coronavírus, não se fazendo ideia de quando regressaremos à normalidade, logo Pinto da Costa e os propagandistas de serviço se apressarem a reclamar a atribuição do título de campeão nacional de futebol.
A única decisão possível será, considerando que estão dez jornadas por disputar, não haver campeão nesta temporada. Eles, no entanto, por falta de dignidade, escrúpulos e vergonha, já se movimentam para tentarem que o título lhes caia no colo. Já são muitos anos a não olharem a meios para atingirem os fins e sabem, por experiência própria, sem se preocuparem com isso, que passados alguns anos de homologada a classificação, quase ninguém prestará atenção às notas de rodapé.
Como, por exemplo, as relativas aos alargamentos das edições do Campeonato Nacional em 1939/40 e 1941/42, ambos para possibilitarem a participação do FC Porto, o qual não conseguira o apuramento através do Campeonato Regional. O primeiro desses benefícios até resultou em título para os portistas, mas que lhes interessa isso? Ou aquela ainda acerca dos seis pontos retirados em 2007/08 devido a práticas de corrupção anos antes, castigo de que não recorreram, aceitando implicitamente a culpa, não obstante terem sido ilibados, passados dez anos, por questões administrativas...
Ou, só para dar mais um exemplo da irrelevância das notas de rodapé, aquela em que, nos seus exercícios revisionistas sobre Calabote, omitem sempre que foram os campeões na época em questão... Ou a da treta do clube do regime em que nunca revelam que o FC Porto era instituição de utilidade pública, ao contrário do Benfica..."

João Tomaz, in O Benfica

Saudades tuas, pá!

"Tenho saudades de ver jogar o Benfica. Na Catedral e nos estádios deste país. Nos pavilhões da Luz e de todas as cidades portuguesas. Sinto falta de ver os nossos atletas a chutar, rematar, lançar, correr, lutar, receber, atacar, passar, fazer golos, pontos, marcas. E se eu sinto esta falta, imaginem eles: sem poder treinar juntos, sem poder fazer o que melhor sabem, sem competir.
O tempo que vivemos é de excepção. Ainda na semana passada voz escrevia sobre o jogo à porta fechada e, afinal, houve paragem de todos as modalidades. Uma paragem que é geral, que nem as greves mais justas conseguiram. Uma paragem que é necessária para evitar um adversário muito mais traiçoeiro do que aqueles que há anos enfrentamos. Sem foras-de-jogo, grandes penalidades e expulsões para fazer crescer audiências, o debate parece ser agora e da atribuição do título. Há opiniões para todos os gostos, mas será que é isso que agora importa? Esta é a altura em que temos de relativizar tudo, até o futebol, o desporto em geral. O que mais importa é ultrapassar, a tempestade, cuidar de quem precisa, evitar que o mal se propague e fazer a nossa parte.
Tenho muitas saudades de ver o Benfica, acreditem. Já dei por mim nestes dias a ir ao YouTube ver jogos antigos, até já assisti a uns bons minutos do campeonato angolano, que até este momento ainda está a decorrer, mas nada é a mesma coisa. O dia a dia sem o Benfica não é a mesma coisa, tal como não é a mesma coisa não estar com quem gostamos, sem cumprimentar as pessoas à nossa volta, sem a nossa volta, sem a nossa vida normal. Esta é uma situação única. Na vida de muitos de nós já houve guerras, revoluções, restrições à liberdade, doenças, fugas, clausura, mas tudo isto é nove. E perigoso. Um dia de cada vez, cumprindo o que nos é pedido, o que nos é exigido moralmente. No fim, fazemos as contas."

Ricardo Santos, in O Benfica

Ficar em casa? Quem tem as chaves da Luz?

"Por todo o lado se promove o mesmo aviso: fiquem em casa, fiquem em casa, fiquem em casa. O meu maior problema é que a minha casa é o Estádio da Luz. De vez em quando costumo ir até outro espaço onde pratico algumas actividades, como comer e dormir, porém a meu verdadeiro lar tem uma estátua do Eusébio à porta. Nunca me imaginei a morar sozinho, pelo que estou habituado a partilhar tecto com mais de 60 mil residentes. Tecto, que é como quem diz, uma vez que a mansão foi construída a céu aberto. No inverno aquilo é fresco, no entanto quando Pizzi marca um golo abraçamo-nos todos e ficamos logo mais quentinhos. Sim, nos últimos jogos ele deixou-nos ao frio, o que foi extremamente desagradável.
As chaves da Luz não estão comigo, por isso não tive outro remédio a não ser manter-me hospedado com os meus pais, a minha irmã e a minha namorada. Tenho acompanhado com atenção e preocupação e evolução da covid-19 e sou favor de todas as medidas que ajudem a combater esta pandemia. A ideia de sensibilizar os portugueses a ficarem em casa é inteligente, todavia é injusta para alguns. A Juve Leo não só não está habituada a ficar em casa como agora nem sequer tem uma. Frederico Varandas é o único médico do país que não quer saber das instruções da DGS (Direcção-Geral da Saúde) para nada. Circularam algumas notícias onde se questionava qual o critério que deveria ser utilizado para determinar o campeão nacional desta época. Acho que o mais justo seria atribuir o título ao líder da primeira volta, porque é evidente que na segunda o Benfica já estava a jogar sob o efeito do vírus."

Pedro Soares, in O Benfica

De pantanas

"A necessidade de entregar o artigo antes do fecho de cada edição gera por vezes - nomeadamente quando há jogos importantes a meio da semana - alguma incerteza quando ao que escrever, havendo o risco de uma verdade à segunda ou à terça-feira já não o ser à sexta, quando o jornal vai para as bancas.
Ora, numa altura como a que o país e o mundo atravessam, em que tudo está virado do avesso, em que os contextos se alteram quase ao minuto, é ainda mais difícil de prever qualquer cenário futuro, mesmo que esse futuro seja apenas de algumas horas. Em suma, no momento em que escrevo não faço a mais pálida ideia do que possa estar a acontecer ao nosso Portugal, à nossa Europa e ao nosso mundo, quando o leitor tiver o jornal em suas mãos, esperando que tudo não esteja ainda pior do que já está. Jamais vivêramos uma situação como esta, em que o futebol e o desporto passam totalmente para segundo plano. E é agora que melhor conseguimos relativizar essas nossas paixões face a valores muito mais elevados como a saúde pública, e sobretudo as vidas que se vão perdendo. Além do terrível impacto económico que esta situação deixará, que é inevitável, e vai afectar todos - mesmo os que tiveram a felicidade de não adoecer.
Em mais de dez anos de colaboração com o jornal, esta é a primeira vez que aqui não falo de desporto, nem do Benfica.
Há situações desportivas por definir, que terão de ser definidas de forma equilibrada e sem prejuízos assimétricos, mas, por agora, as preocupações,minhas, do estimado leitor, e de toda a gente, seja do Benfica, do Sporting ou do FC porto, infelizmente são outras."

Luís Fialho, in O Benfica