"Para regressar ao topo da Liga dos Campeões, os objetivos e as estratégias do Benfica devem ser redefinidos. As eleições de Outubro, terão de ser um ponto decisivo de viragem. Uma politica de continuidade, seria o triunfo das promessas adiadas sobre uma experiência de quatro anos. Para mudar de rumo, é preferível olhar para quem mais sabe do assunto. E em matéria de Champions, a opinião dos especialistas e os resultados convergem: o comandante dessa Liga é o Real Madrid.
No mesmo sentido, numa entrevista à Marca, a estrela do futebol mundial, Ronaldo Nazário, declarou: "o verdadeiro Bola de Ouro é Florentino Pérez". Pérez contratou Ronaldo em 2002, para reforçar o Real Madrid. dos "Galácticos". Presidente e CEO do Grupo ACS, um dos maiores no competitivo setor de Construção e Engenharia Civil, Pérez compreendeu precocemente que num mundo globalizado, o sucesso desportivo se joga na interseção entre o terreno de jogo, as atividades comerciais dos clubes e os investimentos.
Pérez conduziu o Madrid a uma dupla liderança: desportiva e económica. Das últimas dez edições da Liga dos Campeões, o clube venceu cinco. No Ranking das Receitas Operacionais, superou, em 2023/24, pela primeira vez na história do futebol, a barreira de um bilião de euros. Uma questão central, da qual importa retirar aprendizagens para o futuro do Benfica, é esta: como é que um clube espanhol, pode dominar consistentemente, no plano desportivo e no económico, os seus rivais britânicos, alemães, italianos e franceses, suportados por mercados económicos internos bem superiores ao espanhol? Como pôde ultrapassar a posição europeia relativa, que a sua condição teoricamente lhe atribuía? Pérez (um inovador que foi capaz de arrancar Figo ao FC Barcelona), chegou à Presidência com o Real Madrid quase em insolvência. Mas logo comunicou a sua ambição de transformar o clube no mais rico e mais bem-sucedido do mundo. Rompendo com as políticas dos seus predecessores, orientadas ao mercado doméstico, Pérez surfou a vaga da Globalização, fazendo do Real Madrid uma potência global. Uma equipa global, um reconhecimento de marca mundial e uma maciça e universal plêiade de seguidores. Para alcançar esse perfil, Pérez baseou-se no modelo clássico da NBA, o "Star Power", o poder de arrastamento de jogadores-estrela, aptos para ganhar no terreno de jogo e capazes de potenciar o valor económico da marca Real Madrid. Hoje, o Real Madrid é simultaneamente o dominador da Champions, o primeiro clube bilionário em receitas operacionais, o clube com maior número de seguidores nas redes sociais (411M em junho 2024) e o clube com maior número de visitas à sua Website (9M em média mensal). O Real está sediado em Madrid, mas Pérez expandiu a sua geografia tornando-a absolutamente global.
Num contexto em que as receitas de bilheteira (antes da reforma do Bernabéu) estagnavam e as relativas aos direitos televisivos abrandavam o seu crescimento, a captura global de receitas comerciais, tanto por via dos patrocínios, como as de merchandising e licenciamento, foi a rota estratégica trilhada para sustentar a dupla liderança, desportiva e económica. No centro desta estratégia, estiveram os jogadores nucleares do plantel, tanto pelo seu valor desportivo, como pelo seu potencial mediático. Na época em curso, só Mbappé acrescentou 150M de seguidores à massa madridista, além de um previsível record de venda de camisolas, ultrapassando CR7. Em que é que esta narrativa interessa para o futuro do Benfica? Importa, na medida em que certifica que a economia globalizada do século XXI, apresenta oportunidades e desafios novos, que requerem dirigentes experientes na competição empresarial internacional, atualizados e inovadores. Hoje, os jogadores de topo, portadores de um valor de marca (como o prematuramente transacionado João Neves) são personagens incontornáveis. Ninguém melhor que CR7, representou este futebol remodelado. No Real Madrid alcançou 450 golos (1 por jogo), vitórias na Champions e na Liga, "vendeu" 1M de camisolas no seu primeiro ano, gerou dezenas de milhões de euros em vendas de merchandising e direitos de imagem e empurrou o Madrid para todos os pontos do globo, graças à sua massa de seguidores (atualmente cerca de 1 bilião!). Numa etapa avançada da sua carreira, levou o Al-Nassr a ter 55M de seguidores nas suas redes sociais, cerca de cinco vezes mais que o Benfica. O paradoxo do Benfica atual é este: prometer anualmente aspirações europeias e depois vender recorrentemente os seus melhores jogadores. Como se observou acima, são realidades que colidem. Um real desígnio europeu sucumbe ao mercantilismo financeiro (Porquê? Para quê? Para quem?) As receitas operacionais devem assegurar o essencial da sustentabilidade do clube. As receitas extraordinárias deverão ser um complemento, e só terão valor estratégico se não debilitarem o sucesso desportivo corrente e não afetarem o potencial económico futuro. É sim urgente, reformar a estrutura de custos operacionais, para otimizar a Conta de Exploração do clube.
O Benfica tem infraestruturas de topo, estádio e academia, uma história lendária no futebol europeu, uma vasta massa de sócios e adeptos e pode contar com a diáspora portuguesa. Tem uma muito boa base de talento formada no Seixal, sob a direção de treinadores competentes, e tem contado, na primeira equipa, com alguns jogadores de elevado potencial desportivo e económico, que não tem conseguido reter. O círculo vicioso criado é claro: não se retem o talento (alegadamente) por falta de recursos, gerando-se escassez de recursos operacionais por falta de talento. E as épocas sucedem-se, habituando os benfiquistas a considerar uma meia-final da Liga dos Campeões como um fantasma. Mas é um erro. O sucesso na Europa é parte da nossa essência e temos de manter essa ambição viva e credível. Falta-nos alguém como Pérez, um líder de gabarito internacional, experiente e inovador, que transforme o enorme potencial do Benfica, em resultados desportivos e económicos de topo na Europa. As eleições estão próximas e o padrão de excelência da visão e da gestão de Pérez, deveria ser um referencial para as candidaturas."