Últimas indefectivações

sexta-feira, 9 de março de 2012

Javi renova por mais 4 anos, até 2018...

... e eu fico muito, mas mesmo muito feliz!!! E o Javi também...!!!

Obstáculos intransponíveis

"O Benfica fez o que podia na Liga dos Campeões e fez que podia no campeonato. Com Howard Webb no jogo da Liga tínhamos ganho ao FC Porto, com Pedro Proença e a equipa dele a arbitrar o jogo da Champions tínhamos sido eliminados. Há obstáculos intransponíveis.

O FC Porto será um provável campeão, num título que se deve a Proença, em Braga e na Luz se fez um campeão. Campeão sem brilho, injusto e imoral, mas ainda assim campeão. Há mérito do FC Porto nas arbitragens de Pedro Proença e há demérito do Benfica, que mal teve cinco pontos de avanço no jogo da Feira, passou a ser prejudicado em todos os jogos que lhe sucederam. O Benfica respeita os árbitros, mas os árbitros não respeitam o Benfica. O FC Porto não respeita os árbitros mas estes respeitam-no. Como bem ensinou Maquiavel, temem-no, o que ainda é mais eficaz. Passou a valer tudo como na década de 90. Vítor Pereira, que presumo já não ser treinador do FC Porto, sairá como Carlos Alberto Silva. Campeão e a jogar mal. Derrotado pelo inexistente APOEL, pelo limitado Zenit, e goleado pelo lento mas categorizado Manchester City, mas campeão no campeonato de Proença. Vítor Pereira é o novo Carlos Alberto Silva. Proença é o novo Calheiros. Tomasi di Lampedusa bem nos ensina que é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma, ainda assim é preciso um Garibaldi. O Benfica não pode, contudo, desistir e tudo deve fazer para evitar perder mais pontos, pontos esses que depois irão alimentar um discurso justificativo da forma como se fez um campeão.

Na Liga milionária estar no sorteio de dia 16 já é um feito. Real Madrid e Barcelona não estão ao nosso alcance. Com Milan ou Bayern seria difícil. Com Chelsea, Marselha, Nápoles ou Inter haveria eliminatórias equilibradas, onde tudo poderá acontecer. Com o APOEL, seria vitória quase garantida, só equipas limitadas perdem com os simpáticos cipriotas."


Sílvio Cervan, in A Bola

O que eu quero dizer ao Rodrigo

"Saímos da Luz de coração apertado porque a vantagem se transformou em desvantagem, pouco expressiva mas nem por isso menos preocupante, sobretudo numa fase tão crucial do Campeonato. Foi um grande jogo de futebol e o Benfica merecia ter ganho. Mas a verdade é que não ganhou. E isso dói e deixa-nos frustrados, principalmente porque se registaram imperdoáveis erros de arbitragem.

A história repete-se. Quando jogam contra o Benfica, todas as equipas se agigantam, porque a adrenalina sobe e a responsabilidade aumenta. Até o Porto, que tem feito uma temporada sofrível e errática, conseguiu estar na Luz ao nível das suas melhores noites. Porque tinha o Benfica pela frente e estava a jogar na casa mítica do adversário, onde tudo adquire um significado redobrado.

Vi muita tristeza nos rostos de quem foi para a Luz com o coração a transbordar de esperança. Eu sei que nada está perdido, mas também sei que ficou um pouco mais longe de estar ganho, já que, quem vence, fortalece o ânimo e agarra-se com unhas e dentes à vantagem.

Não nutro especial simpatia pelos cronistas que transformam familiares em personagens dos seus textos, mas aqui concedo-me uma breve excepção. Tenho um neto chamado Rodrigo que é um ferrenho benfiquista, que frequenta uma escala de Futebol e que está sempre ansioso por ver o seu homónimo em campo. Os seus olhos brilham quando o outro Rodrigo joga, exibe o seu excepcional talento e consegue marcar. Mas, desta vez, isso não aconteceu. O meu Rodrigo continua a acreditar que o outro Rodrigo, o nosso brilhante Rodrigo, vai ser mesmo campeão. E eu também. Mas há alturas em que as certezas de um avô não chegam para dar alegria a um neto que só vê águias voando em círculos no céu dos sonhos por cumprir.

O Benfica tem o melhor grupo de jogadores do Campeonato (desculpem mas nunca da palavra 'plantel'), um grande treinador e uma poderosa base de apoio espalhada pelo País e pelo Mundo. É aí que reside toda a diferença. Desculpem lá, mas tem de ser!"


José Jorge Letria, in O Benfica

Faltou

"Sexta-feira à noite, o jogo terminara, o nosso Benfica perdera, em casa, o clássico. Para muitos terminaram também as ilusões quanto à possibilidade de sermos campeões. Uns revoltados, outros angustiados, outros tantos a exigir cabeças, mas todos irmanados na dor. É sempre assim, já Torga o escrevera a respeito de outras justas, também elas alfa e ómega de um vão quotidiano, “Vitorioso, cobrem-no de flores; derrotado, abatem-no impiedosamente”.

Como sempre, em ritual, após a reunião no nosso Estádio, em torno do nosso Benfica, segue-se a reunião de amigos à mesa do jantar. Nesse altar ouve-se a pluralidade das vozes do benfiquismo. Nos momentos da vitória são os sorrisos que enquadram a refeição em que também partilhamos os despojos de guerra. São momentos de plenitude. Nos momentos de derrota, a pluralidade de vozes ecoa a ausência. Já nada é pleno, cheio, e em tudo se nota a falta. Nessa sexta-feira, não havia vitoriosos para cobrir de flores, restava o abate. E na pluralidade de vozes ecoava a falta: “faltou vergonha ao árbitro”; “faltou atitude”; “faltou um defesa esquerdo eficiente”; “faltou um Gaitan menos displicente”; “faltou a visão a um fiscal de linha”; “faltou um treinador que se transcenda nos momentos verdadeiramente decisivos”; “faltou uma equipa de arbitragem que não nos tivesse prejudicado vergonhosamente; “faltou o calor do público durante algumas fases do jogo”; “faltou estratégia à Direcção para lidar com o problema da arbitragem em Portugal”; “faltou o sistema sonoro no 3º Anel”; “faltou sorte”; “faltou um Artur mais perto do Artur e mais longe do Roberto”; “faltou Benfica ao Benfica”… E assim, entre vozes famintas de vitória, se foi conjurando um rosário de faltas que saltavam entre o tom resignado e o indignado, entre o encolher de ombros e o punho cerrado.

Ainda com os ouvidos cheios dessas vozes, dessas faltas, acabei o jantar sabendo que nenhum dos presentes faltaria ao próximo jogo."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

A hora de Nélson Oliveira

"Vi Nélson Oliveira jogar pela primeira vez na Fase Final do Mundial de Sub-20 e fiquei impressionado com a sua velocidade, pujança física, criatividade e espírito de sacrifício. Há muito tempo que não via um jogador tão jovem a evidenciar qualidades já tão amadurecidas e inequívocas. Em boa parte, por causa dele lamentei que o título não viesse para Portugal. Toda a equipa o merecia, mas ele foi um elemento decisivo para um êxito no qual muito poucos quiseram acreditar desde o início. Costuma ser assim em Portugal: só quando o comboio já vai adiantado na viagem é que se começa a acreditar que chega ao destino, e ainda por cima a horas. Agora tenho-o visto jogar com as cores do nosso Benfica e não me equivoco se disser que, se não houver contrariedades e imponderáveis, estamos em presença de um dos maiores jogadores portugueses e internacionais desta década, que será a da sua consagração e triunfo.

Nélson Oliveira é um ponta-de-lança natural, possante e inspirado, com sentido de golo e um poder concretizador invulgares. Jorge Jesus sabe-o bem e está a abrir-lhe o caminho para que a sua posição se consolide, e o mesmo está agora a acontecer com Paulo Bento na Selecção Nacional, cujas portas acabam de lhe ser franqueadas. Por isso acredito que Nélson veio para ficar e que vai ter uma palavra importante a dizer ainda nesta época do Benfica, ajudando a fazer esquecer estas pequenas derrapagens que custaram cinco preciosos pontos num momento em que não se pode dar a mínima margem de manobra à má sorte, sobretudo quando se tem a melhor equipa do Campeonato e se está a praticar, de longe, o melhor futebol.

E é justamente quando o cansaço começa a pesar nos músculos que é preciso trazer sangue novo, ainda por cima nacional e da melhor lavra. Nélson Oliveira tem no rosto, mesmo olhando-o à distância, a determinação dos campeões e sabe que as grandes oportunidades só se têm uma vez na vida. A dele chegou agora e não vai ser esbanjada."


José Jorge Letria, in O Benfica


PS: Esta crónica foi escrita antes dos jogos com os Corruptos e o Zenit.

Maxi Pereira. Um campeão sul-americano à conquista da Europa

"Muslera é guarda-redes do Galatasaray, mas nunca mais se ouve falar dele depois de defender a baliza do Uruguai na Copa América. Lugano é o central do Paris SG, mas nunca mais se ouve falar dele depois de capitanear o Uruguai na Copa América. Forlán é o avançado do Inter, mas nunca mais se ouve falar dele depois de decidir a final da Copa América a favor do Uruguai com dois golos ao Paraguai. Mas afinal digam-nos lá o nome de um uruguaio que continue a fazer boa figura na Europa depois de conquistar a América do Sul em Julho do ano passado?

A resposta é simples e está mais perto de si do que imagina. Chama-se Maxi Pereira. O lateral fala a língua de Octávio Machado – trabalho, trabalho, trabalho – e é uma fonte inesgotável de energia. É campeão sul-americano pelo Uruguai na tarde de 24 de Julho e voa para Montevideo para participar na festa do título. Passa um dia, dois... e decide voltar a jogar futebol. Pelo Benfica, com o Trabzonspor, para a primeira mão da 3.a pré-eliminatória da Liga dos Campeões. De Montevideo a Lisboa (não) é um tirinho. É uma viagem de 11 horas.

E então? Maxi aterra na Portela na manhã do dia 27, todo sorridente, e vai para a Luz, onde entra a 27 minutos do fim, a tempo de participar na vitória por 2-0. Começa aqui a odisseia do Benfica na Europa (12 jogos, seis vitórias, cinco empates e uma derrota). E também a de Maxi nas Eurotaças (11 jogos, porque falha a recepção ao Otelul Galati, quando o feliz destino do Benfica nos oitavos--de-final já está mais que traçado).

Como se isso fosse pouco, Maxi é o homem de quem se fala. É verdade que Nélson Oliveira marca o 2-0 e é o primeiro português de um clube nacional a marcar depois de Fábio Coentrão em Novembro de 2010 (4-3 vs. Lyon, na Luz), mas o fenómeno Maxi é o mais relevante na noite da qualificação do Benfica para os quartos-de-final. À conta do seu golo (1-0, após brilhante toque de calcanhar de Witsel), não só o Benfica se coloca à frente na eliminatória como o uruguaio volta a marcar ao Zenit depois de o ter feito em Sampetersburgo, na primeira mão.

OK, e quem é o último lateral (direito ou esquerdo, tanto faz) de um clube nacional a fazer isso? Ora bem... deixa cá ver... é o Maxi. Nãããããã. Sim senhor, Maxi Pereira marca no 1-1 com o Marselha e no 2-1 em Marselha, também nos oitavos-de-final, mas da Liga Europa em 2009/10. É um repetente, portanto.
E antes do Maxi Pereira de 2010? Há quem diga Pietra, outro benfiquista, em 1976/77. Ele marca de facto ao B 1903 Copenhaga na Luz (1-0) e na Dinamarca (1-0), mas joga como médio-direito. Em ambos os jogos, o lateral é António Bastos Lopes. Voltamos então à estaca zero e repetimos a pergunta: quem é o lateral goleador antes de Maxi? A resposta vem de Alvalade. É Pedro Gomes em 1971/72, com o Rangers. Em Glasgow, faz o 2-3 definitivo. Em Lisboa, marca o 3-2 que dita o prolongamento. Ambos aos 87 minutos! Isto é que o Maxi já não consegue. Mas ainda vai a tempo."


O Benfica e o "sistema"

"Luís Filipe Vieira estava convencido de que, finalmente, o Benfica controlava o “sistema”. Não controla. O apoio à candidatura de Fernando Gomes à presidência da FPF foi dado no pressuposto de uma lógica de dissidência.

Luís Filipe Vieira apoiou o ex-administrador do FC Porto e, por arrastamento, o “ex-futuro” nomeador dos árbitros (Vítor Pereira). Adivinhava-se um compromisso tácito: ausência ou moderação nas críticas supostamente em troca de nomeações coerentes e arbitragens não penalizadoras. Parecia estar tudo a correr maravilhosamente, tão bem que até se falou de “levar o Benfica ao colo”, quando -- num momento crucial do campeonato -- apareceram as primeiras arbitragens comprometedoras, coroadas com um golo do FC Porto obtido de forma irregular (fora de jogo descarado de Maicon).

Num ápice, o “compromisso tácito” transformou-se em “compromisso trágico”. Foi a gota de água e a prova de que afinal o (velho) “sistema” ainda funciona e está de boa saúde.

Fernando Gomes não se arrisca. Nem como presidente da Liga nem como presidente da Federação. Gere os silêncios, independentemente do grau de ruído que se manifeste em seu redor.

O futebol português nos últimos anos consolidou a caracterização de matriz oligárquica através do poder de certas entidades, pela influência de rostos visíveis mas também de eminências pardas, especialistas nos jogos de bastidores. Foram algumas dessas eminências pardas que asseguraram a eleição de Fernando Gomes como presidente da FPF, mais ou menos indiferentes às alterações suscitadas por força da lei.

É neste quadro que emerge uma figura, que teve o alento e a perspicácia de construir um monopólio à custa da fraqueza dos clubes e de quem lhe atapetou o caminho.

A agência de viagens, os adiantamentos feitos aos clubes à luz dos acordos em torno dos direitos televisivos, o posicionamento accionista junto das principais SAD do futebol português, as alavancas do marketing e da publicidade, as dinâmicas dos patrocinadores e a marcação abundante no território da comunicação social fazem parte da mesma lógica de poder. Quem não perceber isto, não percebe nada.

Não é fácil contrariar a força tentacular e, neste momento, principalmente num quadro de crise geral e de contracção do tecido económico também no futebol, só o Benfica poderia arriscar-se a fazê-lo.

Talvez o Benfica não queira afinal um sistema justo, mas apenas um sistema protector. A verdade, porém, é que, seja por uma razão, seja por outra, o Benfica nunca vai conseguir impor o contraciclo se se dispuser a alimentar este “jogo de sombras”.

A negociação dos direitos televisivos não pressupõe apenas um acordo de natureza financeira. O que está em causa, igualmente, é a lógica de poder que esteve na base da afirmação do seu grande rival.

É verosímil que o Benfica ainda se ponha de acordo com a Olivedesportos, mas está visto que este “sistema” não lhe serve.

Luís Filipe Vieira não pode deixar de ter consciência disso. Mas... terá coragem e fôlego para alterar, finalmente, os pressupostos que estão na base do “sistema” do futebol português?"


Gestão à Benfica

"A renegociação dos direitos de televisão com a Olivedesportos prova que o Benfica vive uma era diferente. Mais próspera. O clube acaba de recusar uma proposta para o triplo do valor que recebe hoje, o que não pode estar a fazer sem um plano B. Nem sem ganhar na Champions.

Há pelo menos dois anos que Benfica e Olivedesportos estão a negociar os direitos para os jogos na Luz. Os negócios da controladora da Sport TV com o Porto e o Sporting já foram fechados, mas o Benfica cisma em subir o preço. Está a conseguir: o preço já está no nível mais elevado entre todos os clubes. O Benfica, que hoje recebe 8 milhões por ano, recusou 22 milhões para cada um dos anos entre 2013 e 2018, num total de 111 milhões.

O valor está muito afastado dos 40 milhões de euros que, supostamente, Miguel Pais do Amaral estaria disposto a oferecer. Aqui escrevi que Pais do Amaral devia estar louco se ponderava tal valor. Se ponderava, “desponderou” – desistiu. O Benfica está agora entre a Olivedesportos e a gestão própria dos direitos. Na prática, isso significaria também uma mudança de poder entre duas empresas detrás destas negociações: a ZON (acionista da Sport TV) e a PT (dona do Meo, que tem acordo com a Benfica TV). Ora, dificilmente a Sport TV poderá esticar mais a sua oferta: o mercado da publicidade está péssimo, a ignóbil pirataria prolifera.

O Benfica está a controlar o processo, o que no passado era impossível, por fragilidade económica. A presidência de Vieira é responsável pela inversão do estado calamitoso do clube, agora gerido com estratégia – e resultados. Só esta época o Benfica encaixou 19,2 milhões na Champions. E, mesmo abaixo dos sonhos impossíveis dos 40 milhões por ano, os direitos televisivos vão trazer uma pipa de massa à Luz. Olé."