sábado, 15 de março de 2025
Muito Benfica para apoiar
"O balanço sobre a revisão dos Estatutos do Sport Lisboa e Benfica e a agenda desportiva benfiquista do fim de semana em destaque na BNews.
1. Revisão dos Estatutos
O balanço final feito por José Pereira da Costa, presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica.
2. Chamadas internacionais
António Silva, Barreiro, Amdouni, Kökcü, Aktürkoğlu e Otamendi integram as mais recentes convocatórias das seleções de Portugal, Luxemburgo, Suíça, Turquia e Argentina, respetivamente.
3. O Menino do Rio
"O Benfica faz parte da minha vida." A afirmação é de Roger, antigo futebolista, em entrevista realizada no Museu Benfica – Cosme Damião.
4. Skill Challenge
Christy Ucheibe, Joana Silva, Francisco Neto e João Veloso, jogadores das equipas feminina e B do Benfica, respetivamente, puseram as suas habilidades à prova num skill challenge.
5. Agenda para sábado
Em basquetebol, o Benfica visita o Queluz (15h00). Em voleibol, receção à Ala Nun'Álvares no arranque dos play-offs. Em hóquei em patins, partida forasteira com o Óquei de Barcelos dos quartos de final da Taça de Portugal (21h30).
Quanto a equipas femininas, a de andebol visita o ABC na 1.ª jornada da fase final do Campeonato Nacional (18h00). A de hóquei em patins recebe o Escola Livre na Luz (19h00). No polo aquático, o Benfica defronta o Fluvial Portuense em Algés (16h30).
6. Agenda para domingo
Às 18h00, o Benfica visita o Rio Ave em partida referente à 26.ª jornada da Liga Betclic. A equipa feminina desloca-se ao reduto do Damaiense (15h00). A equipa B atua em Tondela (11h00). Também às 11h00, os Iniciados visitam o Farense.
Em futsal, embate no Fundão (17h00). As equipas femininas de basquetebol, voleibol e hóquei em patins recebem, respetivamente, o Imortal (15h00), o Vitória SC (17h00) e o Escola Livre (19h00).
7. Objetivo: hexa
Arrancam os play-offs do Campeonato Nacional de voleibol no masculino, e o treinador Marcel Matz faz a antevisão.
8. Em busca do título
Os play-offs do Campeonato Nacional de voleibol no feminino começam no domingo. Kyra Holt, zona 4 do Benfica, fala sobre o Clube, a importância dos adeptos e a abordagem da equipa à fase decisiva da prova.
9. Sorteio
Já é conhecido o calendário da fase final do Campeonato Nacional de andebol.
10. Contributos internacionais
Os futsalistas do Benfica Lúcio Rocha, Carlos Monteiro e André Coelho participaram na vitória de Portugal ante os Países Baixos.
11. Protagonista
Voleibolista do Benfica e internacional cubano, Nivaldo Gómez é o entrevistado da semana.
12. Atletas em destaque
Medalhados no Campeonato da Europa de atletismo em pista curta, Salomé Afonso e Isaac Nader falam sobre as recentes conquistas e as expectativas para o Mundial de Pista Curta em Nanjing (China).
13. História
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira na BTV."
Benfica: a Champions possível...
"Poderá questionar-se se o desempenho da equipa portuguesa é bom, sofrível, insuficiente ou mau. Se deveria ser melhor, na assiduidade naquelas eliminatórias ou se em fases mais adiantadas. Quiçá, o sonho, enfim, tornado realidade, de ser campeão europeu. Arrisca-se dizer que é o desempenho... possível, considerando os condicionalismos
O Benfica chega aos quartos de final da Liga dos Campeões duas vezes e uma aos oitavos nos últimos quatro anos. Quantos clubes que não pertencem às quatro maiores ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha), excluindo o PSG, o conseguiram? Nenhum.
Poderá questionar-se se este desempenho da equipa portuguesa é bom, sofrível, insuficiente ou mau. Se deveria ser melhor, na assiduidade naquelas eliminatórias ou se em fases mais adiantadas. Quiçá, o sonho, enfim, tornado realidade, de ser campeão europeu. Deixa-se a resposta a reflexão. Porque poderá ser mais ou menos subjetiva. Arrisca-se dizer que é o desempenho... possível, considerando os condicionalismos.
Entre estes, os maiores, desde logo, o orçamento limitado do clube para suportar plantéis de elevada qualidade, competitivos ao nível das Big-4, ao que são indispensáveis jogadores de topo ou conseguir construir uma equipa que mesmo sem estrelas alcance níveis de competitividade que só um projeto consolidado, sem termo ou a pressão da imediatez de resultados, e a manter no decurso os jogadores mais importantes e o treinador mais competente, permitiria.
Não há orçamento, e não há nada que prenda a um clube português os jogadores, de formação ou que, contratados, despertem o interesse dos tubarões estrangeiros. Nenhuma política desportiva, sem capacidade financeira, é capaz. Nada disso é possível no Benfica ou no futebol português.
Neste último, reside o segundo dos motivos maiores, a lateralidade (menor prestígio e mediatismo) da Liga portuguesa, pouco cativante e mesmo depreciada pelos jogadores estrangeiros.
Por isso, a resposta será o possível. Para ser melhor, ainda mais ocasionalmente e com sorte no sorteio."
Benfica vale metade sem Di María
"Argentino fez muita falta na eliminatória com o Barcelona, até porque não houve Bruma. Uma escolha de Lage que se revelou um erro
O Benfica caiu nos oitavos de final da UEFA Champions League. Natural desde o dia em que o sorteio colocou o Barcelona no caminho dos encarnados e previsível, digo eu, a partir do momento em que tivemos conhecimento que Di María não estaria disponível para a eliminatória com os catalães, devido a lesão.
Considero o argentino um verdadeiro craque. Daqueles de classe extra, apesar dos 37 anos, que, claro, têm cada vez mais peso no seu futebol. O campeão do mundo já não voa, como quando chegou à Luz há 18 anos. Então já era um predestinado e, naturalmente, não demorou a dar o salto para a elite do futebol europeu. Ao currículo acrescentou só Real Madrid, Manchester United, PSG e Juventus!
Há dois anos não resistiu aos apelos ao coração e voltou ao Benfica. Para fazer a diferença. O regresso só não teve mais impacto porque se lhe deparou um fenómeno chamado Gyokeres, o melhor jogador do campeonato. No transato e no atual. Mas depois do goleador do Sporting segue-se… Di María. E como senti a falta dele ao ver os encarnados jogarem no Olímpico de Montjuic.
O extremo é daqueles que faz a diferença a cada momento. A cada drible, a cada cruzamento, a cada remate. Ou mesmo sem nada disto. Basta ter a bola para intimidar o adversário. Bola no pé esquerdo de Di María são segundos, preciosos, para toda a equipa. Para subir no terreno, para se posicionar corretamente. Para ganhar confiança. O argentino é um líder natural, daqueles que contagiam todos os companheiros. Para mim, é claro que há um Benfica com Di María e um Benfica sem Di María. Arrisco mesmo a dizer que o Benfica vale metade sem Di María.
Infelizmente para os encarnados, o argentino lesionou-se num momento de extrema importância para o clube, que sonhava com uma grande época europeia, em regressar aos anos gloriosos. Os astros até se alinharam no jogo da primeira mão desta eliminatória, com a expulsão de Cubarsí logo aos 20 minutos, e logo nesse momento senti a falta de… Di María. Eu e, não tenho dúvidas, Bruno Lage. Tanto assim foi que mesmo a jogar em superioridade numérica o treinador só praticamente a meia hora do fim fez a primeira substituição, fazendo entrar… Samuel Dahl. Um lateral/médio/extremo-esquerdo muito útil, mas longe de ser um desequilibrador. E como o Benfica necessitava de quem fizesse a diferença…
Perdeu na Luz e logo a eliminatória ficou como que hipotecada, pois a partir desse momento era preciso ganhar em Barcelona. O que, obviamente, não era impossível, mas todos sabíamos que era muito, muito difícil, até porque os catalães têm uma grande equipa, recheada de craques, da defesa ao fantástico trio de ataque. O mesmo será dizer que com Raphinha, Lewandowski e Yamal o Barcelona raramente fica em branco, o que só complicava as contas, porque para os encarnados manterem o sonho vivo um golo não chegaria — como não chegou.
Mesmo tendo começado a perder e chegado ao empate em Montjuic, o Benfica nunca deu a sensação de poder discutir a eliminatória. Pedri, um monstro de 22 anos, marcou todos os ritmos no meio-campo das águias, como se Florentino, Kokçu e Aursnes não existissem, e quase durante todo o jogo fiquei na dúvida sobre quem era o defesa e quem era o extremo no duelo entre Baldé e Akturkoglu, tal a diferença de andamento entre o espanhol e o turco! E só me lembrava de… Di María.
A propósito, recordei-me também de… Bruma. Devo confessar que fiquei surpreendido com as escolhas de Bruno Lage no momento de eleger os nomes para as três inscrições permitidas pela UEFA para a fase a eliminar da Champions. Na reabertura do mercado, em janeiro, o Benfica contratou Samuel Dahl, Manu Silva, Bruma e Belotti e o treinador teve de optar por três dos quatro reforços. Prescindiu do ex-bracarense e percebi a decisão, já que estava impossibilitado de disputar o play-off, uma vez que tinha dois jogos de castigo por cumprir, o que o teria impossibilitado de defrontar o Mónaco.
Percebi, mas não concordei. Nestas situações, faço sempre o mesmo exercício: colocar-me no papel de quem tem de decidir.
Sempre pensei que a contratação de Belotti estivesse relacionada com a saída de Arthur Cabral. O brasileiro deixava a Luz e o italiano ficava como substituto de Pavlidis. Só que ficou e a partir desse momento o meu preterido era Belotti. Porque teria Arthur Cabral, que custou 20 milhões de euros…, como alternativa ao grego e porque estava também a potenciar os ativos do clube. O ponta de lança italiano está emprestado pelo Como e tem 31 anos. Samuel Dahl — uma agradável surpresa para mim, que não o conhecia bem e pensava que era apenas lateral-esquerdo e ainda em afirmação; o sueco, afinal, é um jogador versátil, muito bom tecnicamente e com uma cultura tática acima da média, que vai, certamente, dar muito jeito nesta fase decisiva da temporada —, também está cedido, pela Roma, mas tem apenas 22 anos e uma opção de compra bem apelativa: 8 milhões de euros.
Claro que Manu Silva, entretanto vítima de grave lesão, não entra nestas contas. Infortúnio do destino à parte, o ex-vimaranense seria sempre inscrito. Eu teria arriscado na inscrição de Bruma, não só por ter custado €6,5 milhões, mas principalmente por ser um desequilibrador. Um daqueles que decidem jogos e que tem uma característica que muito aprecio: o transporte de bola.
O internacional português teria dado muito jeito frente ao Barcelona, e falo apenas do jogo da Catalunha, porque teria a capacidade de esticar o jogo das águias, que se apresentaram sempre com a manta muita curta. A qualidade coletiva e individual do Barcelona obrigava a baixar o bloco e depois não havia quem conseguisse ligar o jogo com o ataque.
Teria sido muito útil neste jogo, como tem sido no campeonato, principalmente nesta fase sem… Di María."
O melhor jogador português da atualidade
"A devida vénia a Vítor Ferreira, a quem terão dito que era demasiado pequeno ou pouco intenso. Luis Enrique chamou-lhe «o médio perfeito» e não percebo porque não o jogador perfeito
Cansado demais para poder celebrar. Foi assim que Vitinha reagiu à passagem do PSG aos quartos de final da UEFA Champions League e percebeu-se bem porquê. Aliás, até os que viram aquele jogo em Anfield terão ficado demasiado cansados, tal foi a intensidade, qualidade e incerteza no resultado até ao fim. Talvez tenhamos mesmo assistido a uma final antecipada e, apesar da tristeza de um Liverpool a realizar uma excelente época (e de Salah, porque até aqui a Bola de Ouro parecia uma certeza...), é com toda a justiça que os franceses seguem em frente.
Mas Vitinha tem mais razões do que todos os outros para ter ficado demasiado cansado para festejar. O médio português assinou mais uma exibição de excelência e só as defesas de Donnarumma nos penáltis lhe retiraram o mais do que merecido prémio de melhor em campo. Não é só a forma como faz o PSG jogar, é também pelo que não deixa os outros jogar (sendo os outros os pré-anunciados campeões da Premier League...). Luis Enrique já lhe chamou «o médio perfeito» e só uma Europa muito focada em marcadores de golos e estrelas do marketing e das redes sociais pode esquecer-se por vezes de que este é o jogador perfeito.
Tem alguma piada ver o PSG já sem Messi ou Neymar e agora Mbappé a tornar-se uma equipa melhor, sob a batuta de um português que por diversas vezes terá ouvido na sua carreira que era demasiado pequeno ou pouco intenso para aquela posição. Espero que haja muita gente arrependida no Wolverhampton e que Sérgio Conceição já duvide se fez sentido começar uma época com Bruno Costa a titular em vez de Vitinha. Mas sobretudo espero que o médio/jogador perfeito tenha o devido reconhecimento. Que a cada toque na bola de Vitinha haja um Thierry Henry que percebe que se trata de outro nível, um desporto que poucos conseguem jogar. E que nunca deixemos de apreciar este talento nacional, porque depois deste jogo Vitinha mal podia celebrar, mas o seu futebol perfumado nunca nos cansará.
Estamos perto da paragem para seleções e Vitinha irá juntar-se a outros craques. Neste momento, poderá mesmo entrar na Cidade do Futebol com a sensação de que é provavelmente o melhor português da atualidade. Rúben Dias e Bernardo Silva sofrem com a época do Man. City, Bruno Fernandes destaca-se num Man. United sofrível, Rafael Leão não encontra a estabilidade necessária para tal designação. E Cristiano Ronaldo está num fuso horário que pode não ter permitido ver o Liverpool-PSG...."
O que a arbitragem precisa
"O penálti do Atlético de Madrid correu mundo, pesquisaram-se imagens, fizeram-se zooms, mas a essência global da arbitragem não está aí
O penálti de Julián Álvarez correu mundo. Imagens de vários ângulos, frames, zooms e nenhum braço levantado a jurar que o argentino do At. Madrid tocou duas vezes na bola antes desta entrar na baliza de Courtois. O golo foi anulado pelo polaco Szymon Marciniak após indicação do VAR e deixou o Real Madrid na frente de um desempate por penáltis, o qual viria a confirmar os merengues nos quartos de final.
No que toca a arbitragem, o foco foi todo para aquele duplo toque, com a internet, tão rápida nestas coisas, a lembrar lances de Cristiano Ronaldo e, sobretudo, o penálti de Messi frente a França, na final do Mundial 2022, como uma infração idêntica que não foi identificada. O árbitro era o mesmo, já agora…
A UEFA emitiu um comunicado e, melhor do que qualquer texto, mostrou as imagens e ainda disse que ia levar a questão ao International Board. Mas houve uma coisa que a UEFA não disse e devia ter dito. Que a arbitragem de Szymon Marciniak foi boa – haverá sempre quem encontre erros e de certeza que houve.
Mas é aqui que a arbitragem se deve focar. Tem-se falado demasiado de tecnologia, do VAR, dos foras de jogo semiautomatizados, de chips em bolas, mas parece-me que a própria arbitragem está a necessitar de reforçar aquilo que é a sua essência: a competência do árbitro de campo.
O VAR é uma ferramenta ótima, mas que tem um efeito perverso em quem leva o apito: proporciona algum relaxamento na tomada de decisões. Ou seja, influencia comportamento de quem é, de facto, o dono do apito, porque transmite-lhe uma sensação de segurança, muitas vezes falsa. Sobretudo, mascara a incerteza de alguns árbitros. E ter um árbitro que duvida do que decide é ter um árbitro sem critério e que agora assinala uma coisa como a seguir a sua contrária num lance idêntico.
Já chega os «penáltis de VAR» obrigarem os árbitros a assinalar coisas para gerir a perceção e a controvérsia de um contacto que não desequilibrou um avançado ou lhe causou dor, sequer, apesar de se ver um toque.
A arbitragem precisa de juízes que arbitrem o jogo como ele é e cuja autoridade lhes seja percecionada e reconhecida. Pelos jogadores, claro, mas pelo público também. Collina, o melhor de todos, nunca precisou de VAR para acertar mais do que os outros e se fosse juiz nesta era aposto um dedo mindinho que, nas estatísticas, seria o juiz com menos idas à TV na linha lateral.
Olhando para cá, Portugal esteve sempre na frente da videoarbitragem na Europa, mas deve insistir fortemente na formação e evolução contínua da arbitragem, digamos, «tradicional».
Pedro Proença já foi considerado o melhor árbitro do mundo. A par de termos o melhor jogador do mundo de futebol, do futsal ou da areia, esse é um desígnio que deve procurar também na presidência da FPF."
Racistas no futebol
"O racismo não é «de evitar»: o racismo é para não ser tolerado, ponto! Não, um golo anulado não é mais importante do que um insulto racista. Não, o racismo, quando acontece, não pode ser apontado só numa nota de rodapé.
Há pouco mais de um ano, a 24 de fevereiro de 2024, durante jogo entre Farense e Famalicão, da jornada 21 do campeonato nacional (1-1), o famalicense Chiquinho — então cedido aos minhotos pelo Wolverhampton e agora emprestado pelos ingleses aos Maiorca, de Espanha — foi vítima de insultos racistas. Dessa vez, o então treinador dos algarvios, José Mota, desvalorizou o caso.
«Não me apercebi absolutamente de nada. Estou longe, sentei-me no banco, estávamos a perder e queria que o jogo fosse rapidamente recomeçado. Se realmente existiu alguma coisa nesse sentido, tem de ser penalizado, como é óbvio. Mas vocês conhecem o São Luís, as pessoas de Faro são respeitadoras, são boas e gostam de futebol. Se calhar, amanhã, vocês vão realçar mais um caso no meu ponto de vista sem grande significado, mais do que o caso do nosso golo [anulado]. Isto é que é importante. Fizemos dois golos, merecíamos ter ganhado, porque fizemos dois e acabámos por empatar. Esse caso era importante que vocês frisassem. Quanto a isso [situação com Chiquinho], não estava presente, disseram-me que era por uma 'boca' qualquer que veio da bancada»
No domingo passado, no Boavista-Vitória de Guimarães (1-2), foi o guarda-redes vimaranense, Bruno Varela, alvo de outros estúpidos insultos também de teor racista. O treinador da equipa da Cidade Berço, Luís Freire, também apareceu a desvalorizar.
«Ainda não tive oportunidade de esclarecer, mas é sempre de evitar. O jogo teve tantas coisas boas que não vou fazer desse momento um tópico. A nossa equipa tem estado a crescer bastante, fizemos um jogo completo com muitas coisas positivas. Foi incrível a atmosfera vinda das bancadas que nos contagiou»
Não. O racismo não é «de evitar» como disse o técnico do Vitória: o racismo é para não ser tolerado, ponto! Não, um golo anulado não é mais importante do que um insulto racista. Não, o racismo não pode ser uma nota de rodapé num jogo de futebol. Quando acontece o que aconteceu no domingo no Bessa e quando acontece o que aconteceu há um ano no São Luís, todos, os treinadores também — se calhar sobretudo os treinadores e mais ainda os dirigentes —, têm de falar do assunto em vez de o varrer para debaixo do tapete. E depois tomar-se mediadas. Porque o racismo é crime.
Sempre que estes casos acontecem, o que se tem verificado é que são falados durante meia dúzia de dias (às vezes horas apenas) até caírem num esquecimento que me parece conveniente para muita gente... Tirando o caso Marega, talvez por ter sido o primeiro com grande impacto mediático em Portugal, tanto a situação de há um ano em Faro como o do passado fim de semana no Bessa poucas linhas mereceram, pouca discussão gerou. Já caiu no esquecimento. Será que mais do que vontade de combater a estupidez da intolerância, os clubes receiam os castigos que podem sofrer? Ou melhor, que deveriam sofrer por nada fazerem para tentar, pelo menos, mitigar situações como as de Faro e do Bessa — e claro, racistas há em todo o lado, basta apenas... olhar para o nosso lado.
Olhemos para estes dois casos e estão restritos a poucas pessoas em estádios com muita gente, sim. Mas hoje em dia não seria assim tão complicado identificar os estúpidos racistas nas bancadas, pelos meios tecnológicos que existem, assim os queiram usar — é preciso não esquecer que no caso Marega o castigo de um jogo à porta fechada foi anulado porque as imagens das câmaras de vigilância não tinham som...
Se a jusante há, ou deveria haver, a punição, a montante há a educação. É através dela, desde tenra idade, que se devem passar os valores de tolerância e diversidade. É na educação, pela prevenção, que se deve agir e apostar. Sobretudo numa época de extremos intolerantes em que, por exemplo, há quem questione a disciplina de Cidadania nas escolas, que há assuntos que é para tratar apenas no seio familiar, dizem... Como se não vivêssemos em sociedade, que tem valores comuns. Pois que esses valores comuns sejam os da tolerância e não os do ódio e do medo pelo que é diferente."
O excel e a gestão de um plantel
"Não creio que exista algum atleta chamado Excel, mas este texto é mesmo sobre a ferramenta excel e a gestão de um plantel no dia a dia e no planeamento seja ele para amanhã ou a próxima época. Pela minha experiência e porque também acredito que a gestão de um clube precisa de rigor e métricas, a convivência e cedência entre uma gestão feita a excel e a gestão baseada naquilo que é importante do ponto de vista de gestão humana, de talento e do plantel, tem-se aproximado. Não posso falar por todos, mas nos clubes onde trabalhei a experiência que tenho é que há, como em tudo, pessoas mais flexíveis e recetivas a aprender e outras nem tanto. Faz parte.
Os diretores desportivos são vistos como pessoas da gestão para os treinadores e atletas e pessoas do desporto (seja lá isso o que signifique na cabeça das pessoas) para as pessoas de gestão. E muitas das vezes o dia a dia, é esta pedagogia que é necessário ter para não deixar cair o que é realmente importante, ceder em alguns pontos, forçar noutros e manter, porque não, uma paciência que nos ajude a alcançar o que na minha opinião é importante: mantendo uma gestão rigorosa e com critérios, nunca esquecer que se trata de um clube desportivo e, por isso, o mais importante (com regras) são os atletas e treinadores e dentro das possibilidades de cada clube ou equipa ter um plantel o mais competitivo possível.
Creio que as pessoas do desporto tem uma vantagem, que é perceber muito rapidamente que são precisas várias peças para se realizar uma equipa. Nem todas com o mesmo peso e relevância, mas que no final há que ter a equipa equilibrada, regras claras e que vamos passar a vida a ter que ajudar o colega do lado e vice-versa. Faz parte. E que todos contam (no dia que deixam de contar, sabemos por experiência própria que têm de ser afastados). Isso traz-nos algumas competências como a capacidade de percebermos que temos para explicar que o excel, por muito interessante e informação que possa dar, a gestão de um balneário, de um plantel, da construção de uma equipa vai muito para lá de uma folha de excel. Mais complexo!
Será uma ciência daquelas mesmo muito complicadas? Nem sei. Mas esqueçam se acham que é um Moneyball ou um Ted Lasso. Moneyball é sobre um desporto de não invasão e isso faz muita diferença até no perfil de quem preenche uma equipa e do seu treinador por exemplo. E apesar de alguns clubes parecerem que são geridos por Teds Lassos, infelizmente não o são. São mesmo pessoas a sério! Mas que nesse caso usam apenas cheiro de balneário como métrica."
Alguém lhe arranja um martelinho?
"Comentador australiano foi despedido depois de comentários contaminados pela misoginia
A semana passada, um locutor de uma rádio australiana foi despedido. Marty Sheargold foi demitido, apesar de ter pedido desculpas, depois dos comentários sobre o jogo de futebol entre os Estados Unidos e a Austrália, durante o qual a coisa mais simpática que disse foi que as jogadoras lhe faziam lembrar as «miúdas do 10.º ano».
As americanas venceram o encontro para a Taça SheBelieves mas foi ao falar sobre a hipótese de ver a equipa australiana, conhecida como as Matildas, jogar a Taça asiática, no próximo ano, que o comentador e comediante de uma das maiores cadeias de rádio da Austrália, disse que «preferia espetar um prego no pénis».
Enquanto gracejava sobre o tema, o locutor disse ainda que o jogo foi aborrecido.
Ora, para evitar que uns fiquem entediados, outros esquecidos e outros ainda distraídos, a Federação Portuguesa de Basquetebol teve uma iniciativa, aproveitando o Dia Internacional da Mulher, que pode ajudar nestes casos.
Não distribuiu martelos, nem daqueles fofinhos do S. João no Porto, mas colocou os 12 clubes da Liga a jogar com uma bola com várias mensagens escritas com tinta termossensível. À medida que o jogo decorria e as mãos das jogadoras aqueciam a bola, as frases desapareciam - num gesto simbólico que reforça a resiliência das atletas. «Deviam jogar com roupa justa», «Meninas não podem jogar basquetebol» ou «Franganitas» são foram apenas alguns dos mimos que se ouvem por muitos pavilhões espalhados por esse mundo fora.
A tinta desaparecia com o calor das mãos das jogadoras, no único local onde realmente importa o que fazem, o que gostam e como são.
A minha sugestão é que a Federação distribua estas bolas por outros locais fora dos recintos de jogo, que as entregue a homens e mulheres nos gabinetes, nas bancadas, aos pais, aos filhos, aos irmãos, às mães, às filhas, às amigas. Porque este tema não é exclusivo do género masculino, desenganem-se. Esfreguem bem, várias vezes, para ver se desparecem rapidamente e, em último caso, arranjem um martelo do S. João porque não gosto de violência."
Isto não está nos livros
"À boleia dos 40 anos do nosso CR7, o Canal 11 realizou entrevistas com diversos atores do futebol português que estão no futebol árabe. Destaca-se a entrevista a Jorge Jesus, atual treinador do Al Hilal. Uma entrevista rica em conteúdos sobre futebol. Para suportar a sua opinião sobre diversos assuntos da sua boa prática reflexiva, Jorge Jesus utilizou diversas vezes a expressão «isto não vem nos livros». Que o futebol não se aprende nos livros é uma ideia perigosa, principalmente quando vem de um treinador de sucesso como JJ. Há uma frase que eu gosto de lembrar a quem acha que os livros não ensinam nada e que ouvi pela primeira vez da boca do Professor Doutor Júlio Garganta: «Os livros não ensinam nada, principalmente a quem não os lê.»
É verdade que a aquisição de conhecimento pela prática é tão legítima como a aquisição de conhecimento por qualquer outra via. Contudo, é bom lembrar que a carreira de treinador de JJ começou na época 1989/1990 (35 anos de aprendizagem), com um 3.º lugar na então III Divisão Nacional, mas passou por momentos menos brilhantes até chegar a campeão nacional 20 anos depois, no Benfica. Coincidências, ou não, 1989 é o ano do primeiro título mundial das seleções jovens de Portugal: campeão Mundial de sub-20 na Arábia Saudita, sob o comando de Carlos Queiroz.
E aqui se juntam duas linhas de formação que no mundo fizeram a diferença, tornando Portugal como um pioneiro da formação de treinadores. Por um lado, tínhamos um conjunto de treinadores oriundos da prática (ex-jogadores), alguns com uma maior capacidade de reflexão sobre essa mesma prática que lhes permitia produzir conhecimento e inovar — Artur Jorge, nos anos 80, ou Fernando Santos, nos anos 90, são dois exemplos disto. Por outro lado, assistia-se ao crescimento, dentro do então designado ISEF, que após 1989 deu lugar à atual Faculdade de Motricidade Humana (FMH), do futebol nos livros. No à data chamado de Gabinete de Futebol, professores como Carlos Queiroz, Jesualdo Ferreira ou Nelo Vingada, entre outros, começavam a sistematizar e a escrever sobre futebol. Estando na academia e ao mesmo tempo na relva, como treinadores da formação da FPF, conseguiram transformar o conhecimento sobre o jogo, fazendo mais uma vez com que Portugal desse novos mundos ao mundo, desta vez no mundo do futebol.
Daí para cá, outros nomes têm brilhado, sendo José Mourinho a maior dessas estrelas. José Mourinho que, refira-se, é o exemplo maior da sorte que é poder juntar diversas formas de formação e aquisição do conhecimento. Nascido numa família de futebol, viveu desde menino dentro de balneários e praticou o desporto-rei, ainda que nunca tenha chegado, como futebolista, a um nível elevado. Reconhecendo cedo esta limitação, foi ler livros e ouvir quem os escrevia, sempre com a necessidade de saber o porquê das coisas e transformando essa informação em conhecimento. Outros se seguiram e o que vai sendo comum é ver que os que têm mais sucesso são os que melhor juntam as diversas fontes de informação, da relva aos livros, e transformam essa informação em conhecimento.
Hoje, o produto treinador de futebol português (vamos designá-lo assim com o máximo respeito e devido agradecimento a quem dele faz parte) é reconhecido com selo de qualidade e que se espalha por todo o mundo. De São Paulo a Riade, de Luanda a Istambul ou de Lisboa a Kokkola, na Finlândia (63º50’N), o treinador português, com a sua formação, continua a dar cartas e a brilhar, vencendo competições e/ou criando jogadores para o mundo. Com mais ou menos livros lidos."
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