Últimas indefectivações

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Ninguém ganhou, na verdade

"Não tendo de ser vista como uma vitória para o Benfica, não há duvidas de que a decisão do tribunal foi uma derrota para o FC Porto

O tribunal condenou o FC Porto, e Francisco J. Marques, ao pagamento de dois milhões de euros (podem ser mais uns pozinhos) ao Benfica pela divulgação da sua correspondência privada e logo o clube da Luz falou em vitória total. É, percebe-se, posição manifestamente exagerada, por duas razões: primeiro porque o caso está, ainda, longe do fim, já que os dragões, como se esperava, de pronto anunciaram recurso da decisão; segundo porque o tribunal assumiu (não era preciso, já todos o sabíamos, mas agora está escrito...) a veracidade dos emails, alguns dos quais (não todos mas alguns) suscitam legítimas dúvidas sobre a actuação do clube da Luz nos últimos anos. Sim, é verdade que o tribunal escreveu também que os emails, por si só, não são prova de coisa alguma, mas mesmo que as coisas fiquem por aqui, o que não é certo, a dúvida ficará sempre no ar. Falar em vitória total será, portanto, ir longe de mais.
Ainda assim, e dito isto, percebe-se também a reacção de regozijo do Benfica face a uma decisão que, não tendo de ser, necessariamente, vista como uma vitória para o Benfica foi, sem dúvida, uma derrota para o FC Porto e para Francisco J. Marques, o titularíssimo ponta de lança dos dragões nesta guerra, que não ficam nada bem na fotografia. Não pela condenação. Nem pelo valor da indemnização - dois milhões de euros não são trocos mas os encarnados até pediam quase 18 milhões. Aliás, seria até muito estranho (para não dizer até de um amadorismo inadmissível para um clube com a dimensão do FC Porto) que os seus dirigentes não soubessem, quando assumiram a decisão de avançar para a divulgação de correspondência privada de outro clube, que estavam a cometer, só por isso, um crime. Aliás, o acórdão não deixa, aí, margem para dúvidas: independentemente do interesse público, justificação utilizada pelos responsáveis portistas para as suas acções, a simples posse de informação privada sem autorização é crime. Quanto mais a divulgação. Não me parece, portanto, que a condenação tenha apanhado o FC Porto, que como qualquer clube grande tem advogados ao seu serviço em permanência, de surpresa. Os dragões saberiam que seriam condenados, mas acharam que os resultados das suas acções valeriam a pena. Simples.
A grande derrota do FC Porto, e de Francisco J. Marques, neste processo está, antes, no acórdão em si. Primeiro porque mata quase por completo a tal tese do interesse público sempre utilizada para a divulgação dos emails encarnados. Aliás, o tribunal é, nesse capítulo, muito claro: de toda a correspondência apresentada pelos dragões, pouca é aquela que se enquadra, de facto, na esfera de interesse público. A grande maioria, diz o acórdão, foi apenas divulgada com a intenção de denegrir a imagem - até de gozar... - de alguns dos dirigentes do clube da Luz. Eram, digamos assim, assuntos sem qualquer relevância para a suposta luta do FC Porto a favor da verdade desportiva. E foi a divulgação desses que mais caro saiu, em especial dos supostos contratos de bruxaria, que o tribunal entendeu ser particularmente lesiva dos interesses comerciais do Benfica. E, de, facto, pensando à distância: contratar bruxos afecta em quê a verdade desportiva? Só mesmo para quem acreditar muito...
Mas ainda pior para os dragões foi, sem dúvida, o juiz ter dado como provado que houve, pelo menos, dois emails truncados ou adulterados. Ou seja, e está no acórdão, pelo menos dois casos em que os responsáveis dos dragões omitiram frases, ou parte de frases, que, se divulgadas, tirariam força àquela que seria a intenção de expor o que apelidaram de polvo encarnado. E é aqui que reside, basicamente, a derrota do FC Porto e de Francisco J. Marques, que saíram, mais pelo acórdão do que pela condenação, bastante fragilizados da sua heróica luta por um futebol mais limpo. Tão heróica que nem tiveram problemas em sujar, também eles, as mãos."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Olhar para como Portugal ganhou

"Não é um Mundial ou um Europeu e ainda veremos o valor que terá, daqui para a frente, esta Liga das Nações, mas Portugal pode e deve festejar com sorrisos rasgados o caneco (e também Fernando Santos, reconheça-se).
Depois de diante da Suíça terem ficado aquém das expectativas, todos excepto os que vivem no planeta Ronaldo, a Selecção elevou índices. Só mesmo assim poderia vencer um rival em grande crescimento, mas ainda puzzle por completar: muito provavelmente, Babel, Bergwijn e até Memphis, por exemplo, não farão parte, a médio prazo, da nova laranja.
Houve melhorias evidentes. Viram-se na forma como Portugal encaixou no associativo futebol holandês. Pressionou com critério, cortou linhas de passe e partiu veloz para a transição. A química entre Bruno, Bernardo, Ronaldo e Guedes, na sequência do trabalho de sapador de William e Danilo, e que resultou em velocidade nas trocas e constantes esticões, deixou os adversários em sentido. A contrapressão chegou tarde, o domínio laranja que a capacidade com bola sugeria não chegou. O golo surge, naturalmente, com a Holanda apanhada em contrapé.
Guedes deu razão à aposta e diluiu imagem do Mundial. Também Fernando Santos terá ficado a acreditar que detém mesmo a fórmula do sucesso. Só que é também quando se ganha que se deve olhar para como se lá chegou. Houve um Ronaldo mágico com a Suíça e Portugal sentiu-se à vontade sem bola perante a Holanda. Rivais que, apesar de crescerem em competência, são Suíça e Holanda.
Para ligar com adversários do topo há todo um caminho que ainda tem de ser percorrido. Será preciso ligar mais o talento. Saber o que fazer com bola. É importante, sobretudo, que este triunfo não sirva para camuflar o que se não tem conseguido evoluir.
Agora, festejemos! Bom dia de Portugal!"

Luís Mateus, in A Bola

O jogo pedia coração e testículos, e Danilo e William proporcionaram aos tenrinhos holandeses isso mesmo: uma suruba

"Rui Patrício
Nem a posição irregular de Wijnaldum impediu Rui Patrício de fazer uma mancha que mais pareceu uma fortaleza, tal foi a área coberta. Não foi a única defesa, mas talvez tenha sido o lance em que os holandeses melhor compreenderam que a laranja ainda estava verdinha para estas andanças.

Nélson Semedo
Mais uma exibição competente que permite a Nélson Semedo vencer in extremis a Liga Portuguesa dos Laterais Direitos Em Condições de Jogar na Selecção 2018/2019.

José Fonte
Descansa em paz, Memphis.

Rúben Dias
Parecia uma daquelas máquinas de espremer laranjas. Os avançados iam aparecendo à vez e Rúben Dias enxotava-os.

Raphael Guerreiro
Muito bem a criar as condições para que Gonçalo Guedes brilhasse, nomeadamente de cada vez que este foi obrigado a correr desalmadamente para lhe fazer a dobra. Devia mudar de apelido e passar a chamar-se Raphael Medroso.

William Carvalho
Saiu-lhe na rifa um anão holandês que, segundo o hype, é o melhor passador de bolas do futebol mundial. Ai sim? O rei William começou por anular a progressão do tal Frenkie de Jong, depois mostrou-lhe como é que se progredia no terreno com bola, a seguir mostrou-lhe como é que se guardava a redondinha, depois como é que se punha o adversário na rabia, e no final ainda o ajudou a encontrar os pais na bancada, para que o rapaz voltasse a casa em segurança. Rei.

Danilo
Ocupou o lugar de Rúben Neves e toda a gente se surpreendeu, não por falta de qualidade de Danilo mas porque Rúben parece oferecer mais soluções ao jogo. Depois foi o que se viu. O jogo pedia coração e testículos para uma batalha aguerrida no meio-campo, e Danilo juntou-se a William Carvalho para, em conjunto com Bruno Fernandes, proporcionarem aos tenrinhos holandeses uma suruba de que tão cedo não se esquecerão.

Bruno Fernandes
Ainda não foi desta que enfiou um daqueles mísseis, mas pelo menos jogou na posição certa. Um dia de cada vez, amigos. Agora é aproveitar as férias e as propostas de Inglaterra.

Bernardo Silva
Percebemos que isto hoje era nosso quando o jovem Bernardo cortou as vazas a uma iniciativa cheia de classe do jovem Frenkie de Jong, que naquele instante regressou aos seus tempos de titular dos iniciados do Ajax. Se nas meias finais a vitória coube essencialmente ao extraterrestre Cristiano, desta vez dir-se-á que a vitória foi do colectivo, mas a grande verdade é que tal só aconteceu, em larga medida, devido a este pequeno génio que emancipou um conjunto de futebolistas despromovidos a trabalhadores de colarinho azul e os ajudou, a cada passe precioso, sempre no melhor interesse do país, dos colegas, enfim, dos muitos milhares que precisavam de um pretexto para continuar a beber numa noite de domingo.

Gonçalo Guedes
Nem foi preciso dizer "chuta daí car%&$%" porque já toda a gente sabia que era isso que o miúdo ia fazer com aquela bola à sua mercê, mesmo a pedir para ser violentada por aquelas magníficas orelhas de abano. Assim foi.

Cristiano Ronaldo
Desta vez não teve que se lesionar. Menos mal.

Rafa
Felizmente o árbitro apitou para o final, caso contrário Rafa teria continuado a ultrapassar holandeses como se fossem pinos. Pouco faltou para matar o último boss aka Van Dijk.

João Moutinho
Campeões de Inverno, Chupem!

Rúben Neves
Custou mas foi. Entrou mesmo a tempo de festejar o seu primeiro título no Dragão. Vá lá, não se chateiem.

Fernando Santos
Apesar do futebol chatinho que dói, venceu mais uma final e fê-lo como achava melhor. Disse que tinha uma estratégia para bater a Holanda e eu ignorei. Mexeu duas vezes na equipa - João Félix / Rúben Neves - e eu insultei. A grande verdade é que esta vitória teve o seu dedo, Portugal anulou um adversário complicado que tem alguns dos melhores futebolistas da actualidade, e, quando assim é, fica muito difícil dizer mal. Quando o mister Fernando Santos sair da selecção, lá para 2048, deixará um legado muito difícil de igualar."

A masterclass de Rúben Dias na final da Liga das Nações


"* Encostar em Transição Defensiva para impedir saídas;
* Controlar a profundidade;
* Abordagem 1×1 contra muito espaço;
* Controlo do Espaço intersectorial;
* Movimentação – Deslocamento lateral e rotação pelo ombro que permite manutenção do campo visual"

Porque o futebol me conquista uma e outra vez

"A primeira vez que me lembro de sonhar, recordo-me que o sonho era o de ser jogador de futebol. Queria jogar à bola, divertir-me dentro de quatro linhas e fazer disso vida. Brilhavam-me os olhos quando ouvia o apito inicial, fosse do jogo da minha equipa, vestida de vermelho e branco com a águia ao peito, ou daquelas que ainda nem conhecia e apenas sabia qual era qual quando uma marcava golo e via o marcador subir para um do lado de um dos emblemas. Ia para o sofá ver televisão, quando ninguém estava lá, metia em canais onde se jogava futebol e via a bola a rolar, chegando até a ver partidas em que a imagem desfocava devido à fraqueza do sinal na antena parabólica.
As primeiras lágrimas que me lembro de deixar cair – que não fossem relacionadas com birras de criança – foram pelo Simão Sabrosa, quando noticiavam uma possível despedida do glorioso ou a derrota de Portugal frente à Grécia na final do Europeu de 2004.
Orgulhosamente vestia os mantos sagrados – e não via aquelas camisolas como sagradas só pela expressão – do Benfica e da selecção nacional e passeava-os na escola com uma alegria extra que fazia o coração mais palpitante que o normal.
Jogava futebol nos intervalos das aulas, nos treinos do meu clube depois da escola e, em dias que não havia treino, juntava-me com os meus amigos para uma partida feita com uma bola e duas balizas cujos postes eram feitos de mochilas ou de camisolas que as nossas mães nos tinham obrigado a vestir por cima das t-shirts do Benfica, Sporting, FC Porto, Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Juventus ou até de mais modestos, como o Boavista.
Esta felicidade, este modo de transe acompanhou-me, não só a mim, como a milhões de outras crianças deste mundo. Uma emoção que quase chega a ser viciante. A bola a rolar na relva, os cânticos da nossa equipa que são mais altos que os da outra, os equipamentos que são mais bonitos que no ano anterior, as botas de futebol que desejamos ter nos pés para fazer inveja aos amigos no treino – dormindo com elas nos pés, no caso de ter a sorte de as receber como prenda de aniversário –, o grande drible do nosso jogador favorito, o remate que tirou tinta ao poste, o “hino ao futebol” que o comentador diz na televisão, o “mas que perigo” que o comentador diz no FIFA, o “atenção ao livre” que avisa antes da bola ser rematada pelo jogador mais habilidoso para o fazer. E depois… depois acontece isto:
A trajectória da bola desde que sai do impulso do atleta, enquanto avanço lentamente no sofá em forma de antecipação; a bola avança lentamente em direcção à baliza, mas ainda tem de ultrapassar o guarda redes; parece que a bola está fora do seu alcance, e eu a erguer-me da cadeira a prever o desfecho; a bola a chegar à linha de baliza, passou as mãos do último homem adversário, então olho frenético para os que me acompanham; o esférico toca nas redes e tudo deixa de estar em câmara lenta; grito para a televisão, abraço os meus companheiros, ergo os braços em celebração; estou em pé, senão a saltar em euforia; fecho com firmeza os punhos e saboreio o momento que me leva de volta à minha infância.
Não há explicação para gostar deste desporto da maneira que gosto. Não há uma razão lógica que consiga dar. É belo, entusiasmante, toda a rotina, toda a festa que está envolta nesta actividade. O convívio, o espectáculo nas quatro linhas, a derrota que nos faz ferver, a vitória que nos faz sorrir. O perder que nos faz melhorar, o vencer que nos faz sentir recompensados. A magia dos que por ali andam a dançar com a bola nos pés e nos enfeitiçam por curtos 90 minutos de show de bola.
Se abriram e leram este texto à espera de que nele estivesse a resposta à pergunta que vocês próprios têm na cabeça e não conseguem responder, lamento ter-vos induzido em erro, mas não o consigo fazer. Na verdade, não encontro razão. Simplesmente adoro isto. Tal como vocês. E é algo que vos vai acompanhar até ao fim dos nossos tempos, sem nunca sabermos bem porque adoramos tanto isto. Mas adoramos, e, assim que uma época termina, estamos prontos para o adorar uma e outra vez."

Pedro Afonso Estorninho, in Bola na Rede

A maior vitória de Fernando Santos

"Duas vezes campeão de provas continentais à frente da selecção, Fernando Santos reivindica um lugar como o maior treinador da história do futebol português. Tem o reconhecimento do povo e das elites, mas falta-lhe a benção dos inteligentes que falam nas televisões ou escrevem nos jornais.
Ou seja: como treinador, Fernando Santos assegurou a imortalidade popular, mas nunca viverá com o prazer da unanimidade mediática. Agora, coloquemo-nos no lugar dos críticos, uma pequena aldeia de rezingões que não se deixa anexar pelo grande império dos Santistas e se mantém irredutível na defesa de uma matriz de inteligência, criatividade e ambição.
Sendo portugueses, nunca desejariam o insucesso da selecção, apenas como poção mágica imbatível para justificarem as suas dúvidas relativamente aos métodos, às soluções técnicas e tácticas e ao próprio discurso do seleccionador nacional. Sendo observadores do jogo há décadas, não imaginavam ser possível ganhar com mau futebol.
A história da selecção nacional era o inverso de tudo o que Fernando Santos vem conquistando desde 2014: tinha sido durante décadas a equipa das vitórias morais, do quase sucesso, do fatalismo de derrotas cruéis em meias-finais (1966, 1984, 2000, 2006, 2012) e da tragédia desportiva de perder uma final em casa perante um adversário manifestamente inferior (2004). Na realidade, tantos jogos jogando bem e perdendo…
A vitória sobre a Suíça por 3-1 na meia-final da Liga das Nações não mereceu qualquer crítica para lá de Badajoz, mas ainda foi tema de infindáveis reflexões caseiras sobre a actuação insatisfatória de algumas individualidades, com consequências no funcionamento colectivo, independentemente do resultado. Por isso, não seria de esperar que, para a final com a Holanda, o treinador fosse alterar substancialmente a composição da equipa nem a solução táctica, mantendo as convicções treinadas na semana anterior.
O que aconteceu, porém, foi precisamente o oposto: Fernando Santos “ouviu” os críticos, mudou significativamente, arrumou o que tinha de ser arrumado (Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Rúben Neves, João Félix) e alcançou a maior vitória com cunho pessoal da sua carreira na selecção. Uma vitória retumbante e inequívoca, sobre a melhor selecção europeia do último ano, uma vitória que não saiu de qualquer pontapé fortuito nem de algum momento de inspiração individual, uma vitória que consolida um caminho e marca grandes encontros com o futuro.
Com 39 triunfos em 64 jogos (60 por cento), diz ele que jogar bem é diferente de jogar bonito e que o futebol é resultado. Tem razão, desculpe, e até à próxima vez que jogar mal (mesmo que ganhe)."

Habituámo-nos a dizer que não gostamos daquele futebol, mas a verdade é que ele dá troféus

"A taça é de Fernando Santos.
A vitória da Selecção – escrevo assim porque é desta maneira que também nos tratam na imprensa internacional – deve-se, antes de mais nada ao treinador Fernando Santos. Não vale a pena lembrar os queixumes e as lamúrias que se seguiram a outros jogos, mesmo que vitoriosos, ou, nesta Liga das Nações, ao estado em que a equipa estava.
A maior parte convinha que eram muitos jogadores vagabundos dentro de campo. Ou que muitos executantes especiais não faziam uma equipa. Obviamente que estavam certos. Mas, hoje, no dia da final, os que puxam para trás, felizmente, perderam. 
Ao contrário do que sucedeu no jogo da meia-final com a Suíça ou, se quisermos ser mais exigentes, no dia em que Portugal foi eliminado do Mundial pelo Uruguai, a Selecção esteve sempre em controlo do jogo. Apesar das brilhantes exibições de todos e mais alguns, desde Rui Patrício a Rúben Dias, Danilo a Bernardo Silva, Bruno Fernandes a Cristiano Ronaldo, que soube pôr gelo sempre que foi preciso, a fatia mais honrada desta vitória cabe a Fernando Santos. Afinal, foi ele quem foi capaz de montar uma boa equipa para defrontar uma Holanda que se distinguia pela valia dos seus jogadores. 
Contra os milhões das transferências de cada um dos da equipa laranja, Portugal apresentou um sistema que não deu hipóteses: ofereceu a posse de bola, sobretudo nos primeiros minutos da primeira parte, mas foi sempre quem teve as melhores oportunidades do jogo. Deixou a posse de bola para a equipa de Ronald Koeman, mas soube defender, atacar e contra atacar com muito mais perigo. Isso não foi um episódio da primeira parte. Foi com notória satisfação que notámos, após o intervalo, que essa predisposição se mantinha.
A Selecção foi de longe a equipa que mais mereceu ganhar este jogo. E, como em qualquer jogo, até o podia ter perdido. Contudo, as substituições de Fernando Santos acabaram com qualquer veleidade da equipa holandesa. Depois do míssil de Gonçalo Guedes, o que se viu da equipa adversária foi uma tímida tentativa de apresentar resultados sem que para isso existisse substância. Até nesse período final o engenheiro venceu.
Porém, a maior vitória foi ter colocado no jogo mais importante, precisamente a final, a equipa mais capaz. E com ela ter desenhado a estratégia mais eficaz. Se o facto, comprovado logo nos primeiros minutos, de não termos bola causava calafrios, o certo é que o veneno destilado deitou a Holanda por terra. A Selecção acabou a primeira parte a esmagar e veio para o segundo tempo com a mesmíssima predisposição de vencer o jogo. É raro, mesmo em equipas de Fernando Santos.
Eu, que estive na final de Saint Dennis, sei que o golo de Gonçalo Guedes é praticamente igual ao de Eder. O empenho da equipa – e, já agora, do público presente no estádio – também.
Não tenhamos dúvidas que apesar da consistência da equipa de Portugal, estes momentos são raros. Cristiano pode reformar-se quando temos Bernardo ou Bruno, mas ganhar finais assim, não é para todos; nem mesmo para os melhores. Por isso, esta conquista deve ser completamente dedicada a Fernando Santos. Obrigado, engenheiro, este ar do mar faz bem."

Uma breve reflexão sobre o Benfica...

"Encontrei, num texto de João Bigotte Chorão, uma página autobiográfica de Almada Negreiros, onde colhi: “A pintura era, na minha infância e mocidade, primeiro que tudo o pintor e depois o quadro (…). Hoje (…) penso exactamente como em criança: para mim, em pintura, primeiro o pintor e depois o quadro” (in Brotéria, Lisboa, Março de 1994). Eu venho dizendo o mesmo, há mais de 40 anos, acerca do desporto (e do futebol, portanto). Trata-se de uma especialidade de uma ciência humana, onde necessariamente o ser humano é o fundamento da prática desportiva (e da prática do futebol, portanto). Com mão pródiga e apaixonada, foram muitos os que escreveram sobre a vitória retumbante do Benfica, no Nacional de Futebol da época de 2018/2019. Mas eu dou especial relevo às afirmações de Bruno Lage, sobre todos o que mais se mostra merecedor da minha confiança, até porque as sua palavras não me parecem simples lugares-comuns, para ludibriar a opinião-pública, designadamente o povo laborioso e humilde, que constitui grande parte da massa associativa do Benfica. Ora, julgo poder resumir a quatro os pilares onde assenta (segundo o Bruno Lage) a vitória benfiquista: Luís Filipe Vieira e a ampla e generosa massa associativa, ambos com a justa auréola de poderem considerar-se as ”causas das causas”; Jaime Graça, que eu vi jogar inúmeras vezes e (ainda segundo Bruno Lage) um “homem do futebol” de rara envergadura intelectual, na análise do jogo; os jogadores e a equipa técnica e a de saúde que, em penhorantes termos, estabeleceram, no departamento de futebol, uma constante racionalidade comunicativa e dialogante; e, para mim, “finis coronat opus”, a sabedoria de Bruno Lage, que o levou a declarar: “Sabem qual foi o segredo da nossa vitória? Fomos, em todas as circunstâncias, uma família”. Demarcando-se por temperamento, formação e gosto de qualquer assomo de narcisismo, de exibicionismo, de vaidosa intemperança verbal, são visíveis, nele, as características de uma conceptualização de sabedoria: é um profissional de indiscutível competência (dimensão que se sobrepõe à inteligência lógica ou à habilidade técnica); distingue-se por um conhecimento pragmático da vida e do futebol; superior funcionamento intelectual e pessoa de um admirável comportamento ético; a suficiente capacidade reflexiva, que lhe permite extrair lições dos erros já cometidos.
Portanto (foi o Bruno Lage a dizê-lo) um elevado sentido de pertença a uma família fez, sobre o mais, da equipa um todo indestrutível, onde palavras, intenções, ideias, sentimentos, expectativas, valores eram os mesmos em todos, queriam dizer o mesmo para todos. Trabalhei treze meses, com o treinador Jorge Jesus, no S.L. Benfica. E cheguei à conclusão seguinte: principalmente pelas paixões que o pressionam, que o condicionam, o futebol é um jogo de erros e, por isso, quem errar menos mais próximo se encontra da vitória. Só que o erro não se combate tão-só técnica e tacticamente, antes de tudo combate-se moralmente. Um jogador que faz da competição um palco das suas vaidades, do seu individualismo, do seu exibicionismo, que não obedece a um ideal colectivo de jogo, pratica erros sem conta – é um jogador pernicioso à equipa. Costuma dizer-se que, depois de Marinus Michels, de Arrigo Sachi, de Cruyff, de Guardiola, de José Mourinho, de Rafa Benitez, o futebol não é o mesmo. Nasceu, se não erro, o futebol à zona, onde a zona é da responsabilidade de vários e não de um só. Ou seja, sempre a valorização do todo, em relação às partes. Desde o guarda-redes ao extremo-esquerdo, todos atacam e todos defendem, todos se sentem responsabilizados pelo ataque e pela defesa. E aqui, no meu modesto entender, os jogos ganham-se com jogadores, superdotados, supertreinados, psicologicamente supermotivados e sabiamente moralizados. Cito de cor o Karl Marx da Introdução à Crítica da Economia Política: “O concreto é concreto, porque é a reunião de muitas determinações. É portanto a unidade da diversidade”. Luís Filipe Vieira, por ele e pelos órgãos sociais; a massa associativa e todos os que vivem o ideal benfiquista; Jaime Graça, o treinador do treinador Bruno Lage; os jogadores, a equipa técnica, os médicos, os enfermeiros, os fisioterapeutas, etc., etc.; a sabedoria de Bruno Lage – todos, solidariamente, tornaram verdadeira, concreta a vitória do Benfica, no Nacional de Futebol da época de 2018/2019. Embora o Bruno Lage tenha mostrado, na mutabilidade constante em que o futebol se movimenta, as qualidades ideais para dar expressão orgânica e eficaz ao efémero e fugaz deste espectáculo desportivo. E o Luís Filipe Vieira a sagacidade, digo mesmo: uma rara sagacidade, na escolha do treinador.
Há muitos anos já, o José Maria Pedroto, nos diálogos fraternos que me permitiu, teceu um dia algumas considerações acerca das qualidades necessárias a um treinador de futebol. E chegou a inquirir-me: “Sabe quem é, para mim, o melhor treinador de futebol?”. Não fazia ideia, de facto. E ele continuou: “O antigo jogador da linha média”. De inteligência penetrante, argumentou: “É que é na linha média que mais se pensa o jogo. Quem dominar o meio-campo tem normalmente as chaves do êxito, num jogo de futebol”. E, ao longo da nossa conversa, não tardou ele em concretizar o que pensava: “O João Alves e o Manuel José, por exemplo, têm todas as condições para triunfar, como treinadores de futebol”. E tanto João Alves, como Manuel José, são hoje dois treinadores de futebol que, diga-se em abono da justiça, muito respeito e admiração merecem, pelo trabalho que têm desenvolvido, como treinadores de futebol. A propósito das ideias de Pedroto, não escondo o meio-campo Busquets-Xavi-Iniesta do Barcelona de Guardiola. “A fórmula mágica do sistema blaugrana encontrava-se no meio-campo. Os jogadores que ocupavam esta zona e que eram formados no futebol das camadas jovens do clube tinham uma relação especial com a bola. Quando a tinham, sorriam mas, quando não a tinham, sofriam. Ficavam frustrados quando sentiam a impotência de saboreá-la” (Ricard Torquemada, A Fórmula Barça, Prime Books, p. 55). Busquets-Xavi-Iniesta, acompanhados por um falso 9 da craveira ímpar do Messi, não são as sombras de um passado morto, porque formam a melhor linha média que os meus olhos viram e que pude saudar, nos meus escritos, com palavras efusivas. Jaime Graça jogava também na linha média e era jogador internacional de múltiplos talentos. Não me surpreende tenha sido o “treinador do treinador” de Bruno Lage. E que, nas palavras e no talento de Jaime Graça, Bruno Lage tenha encontrado o caminho para um melhor clima emocional da sua equipa. Jorge Araújo sublinha, no seu livro O Treino do Treinador (TeamWork, Porto, 2016) que a Liderança pode (e deve) ser ensinada… para que se possa liderar com sabedoria! (pp. 83/84).
Há quem prefira à verdade dos princípios o oportunismo da glória fácil. E, como já vimos, numa perspectiva de totalidade, Luís Filipe Vieira é o líder de todo este processo em devir, de toda esta totalização em curso. Foi ele que deu conteúdo e anunciou a forma à historicidade constitutiva desta vitória, no Nacional de Futebol. De facto, o futebol benfiquista parece desperto e actuante e foi L. F. Vieira o primeiro a dizê-lo. Aguardemos, agora, pela historicidade do processo. Aguardemos pelo Futuro da instância prática de intervenção do presidente do Benfica. Com efeito, ainda numa perspectiva de totalidade a relação Vieira-Lage é fundamental, nas macro-decisões de Vieira, na liderança antropológica e técnica de Lage. Volto a Jorge Araújo: “O treinador precisa que os jogadores e os dirigentes assumam como seus os desafios com que a equipa se defronta, o que naturalmente exige um impacto comunicacional, que surpreenda e emocione, tal como também uma autoridade reconhecida e não imposta” (op. cit., p. 15). Michel Serres faz da fraqueza o motor da História: “Avançamos por problemas e não por vitórias, por insucessos e recuperações e não por superações” (Diálogo sobre a Ciência, a Cultura e o Tempo, I. Piaget, Lisboa, p. 251). Eu faço da consciência da fraqueza e da subsequente transcendência o “motor da história”. Numa perspectiva de totalidade, sem a transcendência, sem uma instância prática, bem humana, de intervenção, o processo histórico não acontece. Por isso, para mim, não há “periodização táctica”, mas “periodização antropológica e táctica”. Por esta razão muito simples: sem o homem, não há táctica. Na formação de um jogador de futebol, a formação moral está antes da cultura táctica. Sem aquela, esta não se concretiza com generosidade e espírito de equipa e vontade imparável de vitória. Como admiramos, em Cristiano Ronaldo (o maior jogador português que os meus olhos já contemplaram – e eu vi jogar, entre outros, o Rogério Lantres de Carvalho e o José Travassos e o Fernando Peyroteo e o Coluna e o Matateu e o Rui Costa e o Luís Figo e o João Vieira Pinto) faz sempre falta um génio a completar os talentos que o acompanham, numa equipa. E o Benfica, hoje, não tem um Ronaldo.
Já na minha tese de doutoramento eu escrevi que “a ciência alimenta-se da dúvida e vive da incerteza”. Por muitas razões e mais esta: a ciência nunca é totalmente científica, ou seja, totalmente objetiva. Nela encontramos sempre, para além de ciência, ideologia, filosofia, religião e muito mais. Por isso, no termo das suas investigações, o cientista sabe que não encontra a Verdade mas “verdades” provisórias e datadas. Cito agora Hilton Japiassu: a ciência deverá definir-se como “um processo inacabado de busca de verdades provisórias. Nesta perspectiva, a evidência só pode ser um engano ou um dogma. E a certeza só pode ser credulidade ou cegueira” (Questões Epistemológicas, p. 31). Por isso, sentindo com naturalidade a provisoriedade desta minha afirmação, adianto (embora possa enganar-me, repito) que o João Félix pode não ser o génio que o Sr. Luís Filipe Vieira procura. Talentoso é, sem sombra de dúvidas; genial não é, assim julgo. Desmistificar a genialidade do João Félix é, hoje, a melhor prova de amizade, em relação a este “menino”, dos dirigentes, dos treinadores, dos seus familiares, dos seus amigos mais próximos. O génio é o Outro, o Inesperado, o génio é a suprema Diferença, o que o João Félix não me parece ser. No entanto, porque, no ente, o seu ser é o devir, oxalá eu me engane e no João Félix , pelo seu trabalho, pela sua persistência, pela sua honestidade, ainda se veja crescer a singularidade do génio. Messi, com 17 anos, começou a jogar e a deslumbrar, na equipa do Barça. No Ajax dos nossos dias, não se vislumbram génios. Trata-se de uma equipa de talentos, informada e formada, para o ataque, de acordo com a tradição mais radical desta equipa, mas nunca uma equipa preparada, para o ataque, defendeu com tanta perfeição. Como? Não dando tempo ao adversário, para pensar o jogo! Nas dimensões integrais do campo, onde está a bola, está um jogador do Ajax. Defender não é esperar pelos jogadores da equipa rival, é tirar-lhes a bola, onde a bola se encontrar. Anarquizar o jogo dos adversários significa não deixá-los pensar. Só que o génio lança uma luz ao seu redor que o mundo não tem, sem ele. E a este já é muito mais difícil subjugar o seu futebol. No génio, descobre-se uma arqui-razão que é desconhecida para o conhecimento vulgar. Arqui-razão que eu julgo ter vislumbrado em Bruno Lage…"

O futebol feminino: publicação de relatório

"Inicia-se hoje (7 de junho) a Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019. Recentemente, a UNESCO, o “Institut de relations internationales et stratégiques” (IRIS) e a “Positive Football” (UNFP) comprometeram-se a promover o futebol feminino através de um relatório: “Quand le football s’accorde au féminin” (2019).
No passado dia 23 de maio de 2019, em Paris, o relatório foi apresentado por estas três instituições, pela ocasião de uma conferência sobre o futebol feminino, organizada pela IRIS. Os representantes saudaram esta publicação, como uma etapa importante para uma reflexão global, reiterando a vontade em fazer evoluir o olhar sobre a mulher e o futebol na sociedade.
Através de um histórico sobre a evolução do futebol feminino e uma análise de estatísticas e números disponíveis, o relatório coloca em evidência o progresso conquistado até ao presente, dando um sinal de alarme sobre o que ainda falta fazer.
É tempo de uma nova etapa no domínio da igualdade homens-mulheres e de um estatuto para as atletas, procurando lutar contra as discriminações, nomeadamente as salariais. O relatório consagra um capítulo com recomendações concretas para os organismos de investigação, meios de comunicação social, organizações nacionais e internacionais e instâncias do futebol.
A publicação (em francês) pode ser consultada e descarregada aqui: https://www.iris-france.org/wp-content/uploads/2019/06/UNESCO_Rapport_Quand-le-football-saccorde-au-féminin.pdf"

Vítor Rosa, in A Bola

Estado, Olimpismo & Sociedade

"Para Agustina “a competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie”. Esta metáfora tanto se deve aplicar à vida de cada um, como às mais diversas instituições incluindo as do mundo do desporto. Por isso, se do ponto de vista pessoal, como referiu João Rodrigues (presidente da Comissão de Atletas Olímpicos), na cerimónia de apresentação da Missão aos II Jogos Europeus, ao dirigir-se aos 99 atletas seleccionados, os valores olímpicos são a amizade, o respeito e a excelência, seria bom que os dirigentes políticos e desportivos também entendessem que os referidos valores devem, igualmente, orientar os seus próprios comportamentos e as escolhas políticas que fazem uma vez que são eles os primeiros responsáveis pelo desenvolvimento do desporto no País. Porque, o desporto, sob pena de poder vir a desaparecer, não deve, olimpicamente, continuar a ser um factor criador de inimizades, de ódios e de assimetrias sociais geradoras de subdesenvolvimento. Quando tal acontece, bem podem os dirigentes pedir aos deuses que envolvam os portugueses nas Missões Olímpicas porque isso nunca acontecerá enquanto o desenvolvimento do desporto não estiver clara e inequivocamente, não ao serviço de alguns privilegiados que, pelas mais diversas razões, a ele tiveram acesso, mas ao serviço da generalidade das populações independentemente do seu género, da sua condição social, do local onde habitam ou do grau de escolaridade, entre outras. Assim, parafraseando Agustina, direi que as medalhas olímpicas só serão promotoras de desenvolvimento e progresso enquanto estímulo; como criadoras de mais e novas assimetrias sociais serão sempre uma contribuição para a barbárie que, infelizmente, é para onde está a ser dirigido o desporto moderno. Neste sentido, e porque o futuro nunca surge por acaso, recordamos que, aquando da queda do muro de Berlim, entre a multidão que se manifestava, viam-se cartazes que diziam: “abaixo os privilégios dos artistas e desportistas”.
Em 2016, Vítor Serpa director d’A Bola, relativamente à desilusão que foram os resultados nos Jogos Olímpicos, cunhou a seguinte metáfora no título de um artigo publicado no jornal que dirige: “Importante não é participar … é ganhar”. A bem ver, embora, certamente, a metáfora tenha escandalizado muita gente, ela replica a ideia de uma outra utilizada por Pierre de Coubertin num artigo intitulado “Une Campagne Contre l'Athlète Spécialisé”, publicado no número de Julho de 1913 da Revue Olympique, que diz: “Para que cem se dediquem à cultura física, cinquenta têm de praticar desporto; Para que cinquenta pratiquem desporto, vinte têm de se especializar; Para que vinte se especializem, é necessário que cinco se mostrem capazes de realizar proezas extraordinárias”. Apesar desta metáfora, que ficou para a história como a Pirâmide de Coubertin, o que é facto é que o pensamento de Coubertin é, geralmente, associado a uma outra frase que, para além de não produzir o espírito do seu pensamento, também nunca foi por ele proferida. Estou-me a referir à frase que fez história: “o importante nos Jogos Olímpicos não é ganhar, mas sim participar” que, ao longo dos últimos mais de cem anos, tem sido utilizada das mais diversas maneiras, com o objectivo de fazer crer que Coubertin sobrepunha o valor da participação nos Jogos Olímpicos ao valor da superação e da vitória.
Desde a sua origem na era moderna que Coubertin sempre manifestou a ideia de que os Jogos Olímpicos deviam ser realizados com a máxima liberdade competitiva sob regulamentos perfeitamente definidos. Porém, nos Jogos da IV Olimpíada (Londres 1908), embora tenham sido considerados os que, até então, melhor foram organizados, ocorreram diversas situações de conflito entre atletas americanos e ingleses devido à falta de clareza das regras que permitiam “interpretações caseiras” por júris presididos por entidades locais. Os americanos, que estavam na disposição de “chegar, ver e vencer”, ao sentirem-se prejudicados por regulamentos que não compreendiam, protestaram ao ponto de provocarem conflitos. E foram tais os conflitos que deram origem à metáfora proferida por Ethelbert Talbot, Bispo da Pensilvânia quando, num sermão dirigido aos atletas numa cerimónia religiosa realizada na Catedral de Saint Paul, disse: “… o importante nos Jogos Olímpicos não é ganhar, mas sim participar, tal como o essencial na vida não é conquistar, mas lutar bem”. 
Muito embora a metáfora do Bispo tenha passado despercebida à maioria, como se veio a verificar pelos incidentes, entre ingleses e americanos, acontecidos, posteriormente, na corrida dos 400m barreiras e na da Maratona, o que é facto é que Coubertin não deixou de a aproveitar para, ao seu estilo e de acordo com o seu pensamento, a esclarecer. E, assim, no discurso proferido a 24 de Julho, aquando do banquete de encerramento dos Jogos, disse: “Domingo passado, durante a cerimónia organizada em São Paulo em honra dos atletas, o Bispo de Pensilvânia referiu em termos muito felizes: O importante nos Jogos Olímpicos é menos ganhar do que participar. O importante na vida não é o triunfo, mas o combate”. Coubertin aproveitou para esclarecer a situação e alterou a palavra “participação” pela palavra “combate” e expressou uma interpretação pessoal relativamente à frase proferida pelo Bispo descontextualizando-a relativamente aos Jogos Olímpicos. E disse: “L' important dans la vie, ce n'est point le triomphe mais le combat; l'essentiel, ce n'est pas d'avoir vaincu mais de s'être bien battu” / “O importante na vida não é triunfo, mas o combate; o essencial não é ter conquistado, mas ter lutado bem”. Note-se que, Coubertin nem sequer adoptou a frase do Bispo Talbot, limitou-se a aproveitar a ideia e reconstruiu-a: Em primeiro lugar não fez referência aos Jogos Olímpicos a fim de, de acordo com a ideia do Cristianismo Muscular, acentuar a problemática da luta que é a vida; Em segundo lugar, trocou a palavra participação pela palavra combate o que atribuiu à frase um sentido completamente diferente.
Nesta perspectiva, a frase de Vítor Serpa – importante não é participar … é ganhar – expressa o Citius, Fortius, Altius do lema olímpico proposto por Coubertin.
Ora, perante o tamanho da Missão Olímpica e os fraquíssimos resultados nos JO do Rio (2016), a pergunta que devia ter ocorrido aos dirigentes políticos e desportivos devia ter sido a seguinte: A quantos atletas de base devem corresponder aos 92 atletas portugueses que participaram nos JO do Rio (2016)? Ou, a mesma pergunta colocada de outra maneira: Existe alguma correspondência entre os 92 atletas olímpicos dos Jogos do Rio (2016) e a base da prática desportiva no País? Esta é a grande questão que os portugueses, sobretudo os mais desfavorecidos, excluídos da prática desportiva, devem começar a fazer aos dirigentes públicos e privados que chefiam o desporto nacional à custa do dinheiro dos contribuintes. Atentemos na seguinte analogia: Nos JO do Rio (2016) a Coreia do Norte, com uma população de 25,368,620 habitantes e um PIB per capita de US$ 506, apresentou-se com uma missão composta por 31 atletas a competirem em 9 desportos para ganhar 7 medalhas (2;3;2) e ficar na 34ª posição no ranking dos países; Portugal, com uma população de 10,374,822 habitantes e um PIB per capita de US$ 29,239, apresentou-se com uma missão composta por 92 atletas a competirem em 16 desportos para ganhar (in extremis) uma medalha de bronze e ficar em 78º lugar. Isto significa que, enquanto a Coreia do Norte obteve uma excelente taxa de sucesso de 23%, Portugal obteve uma miserável taxa de sucesso de 0.84% mesmo expurgados da contabilidade os 18 jogadores de futebol.
Nestes termos, perante a Missão portuguesa constituída por 99 atletas que vão participar nos II Jogos Europeus a realizar de 19 a 30 de Junho em Minsk capital da Bielorrússia, para além dos maviosos discursos oficiais e das promessas de uma chuva de medalhas que pouco ou nada significam para o Nível Desportivo do País, as perguntas que temos vindo a formular voltam a colocar-se: (1ª) A quantos atletas de base devem corresponder os 99 que vão competir em Minsk? (2ª) Quantos dos 99 atletas presentes em Minsk vão lá estar para participar e quantos vão lá estar para vencer?
O grande problema do modelo de desenvolvimento do desporto nacional instituído em 2004/2005 é, na sua mediocridade, ser uma espécie de “Linha Maginot”. É caro, pesado, pouco eficiente e, ainda menos, eficaz na medida em que, se, por um lado, não consegue resultados olímpicos que justifiquem os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis, por outro lado, também não está sustentado numa prática desportiva de base que justifique a constituição de Missões Olímpicas com cerca de cem atletas.
Nestes termos, a afirmação de Vítor Serpa – importante não é participar … é ganhar –, em 2019, volta a estar na ordem do dia. E porquê? Porque, na sua simplicidade, ela levanta questões complexas e questiona o modelo de desenvolvimento do desporto nacional instituído em 2004/2005.
À semelhança da histórica “Linha Maginot”, o actual modelo de desenvolvimento do desporto nacional pode conferir aos dirigentes políticos e desportivos um falso sentimento de eficiência e eficácia. Contudo, não passa de uma estrutura burocrática que, na realidade, não responde nem aos resultados que os recursos aplicados devem exigir às Missões Olímpicas, nem às necessidades de prática desportiva de base de que o País necessita. Em consequência, se as prestações das Missões Olímpicas têm tem vindo a piorar desde 2004, em termos de prática desportiva de base, Portugal ocupa os últimos lugares entre os países europeus.
Quanto ao rendimento, nos JO de Atenas (2004) foram conquistadas três medalhas, duas de prata e uma de bronze e a 60ª posição. Nos JO de Pequim (2008) uma medalha de ouro e uma de prata e a 47ª posição. Nos JO de Londres (2012) uma medalha de prata e a 69ª posição. Finalmente, no Rio (2016) uma medalha de bronze e a 78ª posição. Resumindo, de há quatro Ciclos Olímpicos a esta parte as prestações nos Jogos Olímpicos têm vindo a piorar.
Quanto à prática desportiva de base, segundo o Relatório “Special Eurobarometer 472 - Sport and Physical Activity – 2017/2018” da Comissão Europeia (EU28), enquanto que na Bulgária, na Grécia e em Portugal, 68% das pessoas com 15 e mais anos de idade dizem não praticar regularmente qualquer actividade física ou desportiva, na Finlândia (69%), na Suécia (67%) e na Dinamarca (63%) dizem praticar. Em Portugal 79% dizem não ter praticado nenhuma actividade física vigorosa na semana anterior. Na Finlândia (66%), na Holanda (63%) e na Suécia (62%) disseram ter realizado uma actividade física vigorosa em pelo menos um dia na semana anterior. A proporção que praticou uma actividade física vigorosa em pelo menos quatro dos últimos sete dias é a mais baixa na Itália (5%), Portugal (7%), Bulgária, Grécia e Malta (9%). Num país com pouco mais de 10 milhões de habitantes, com uma prática desportiva de base insignificante e em que só 7% da população com 15 ou mais anos de idade diz ter praticado uma actividade física vigorosa pelo menos em quatro dos últimos sete dias, ao constituírem-se Missões Olímpicas com uma centena de praticantes significa que estamos na presença de uma espécie de “linha maginot” isto é, perante um modelo de desenvolvimento do desporto que transmite uma falsa imagem de eficiência e eficácia na medida em que não produz, nem a montante (Efeito de Volume), nem a jusante (Efeito de Ídolo), resultados que justifiquem os recursos que consome. Quer dizer, o actual modelo de desenvolvimento do desporto nacional está suportado numa estrutura artificial de prática desportiva intermédia que não decorre da base do sistema nem, salvo uma ou outra excepção, origina, verdadeiramente, resultados de excelência a nível do vértice da pirâmide de desenvolvimento. Na relação massa / elite que fundamenta o conceito de Nível Desportivo, estamos perante um modelo de desenvolvimento em que, por paradoxal que possa parecer, existe Estado a mais e Sociedade a menos. Trata-se, por isso, de um modelo em que o Estado se apropriou do próprio Movimento Olímpico pelo que, em matéria de desenvolvimento do desporto, o Estado e a Sociedade “abateram a concorrência” que se devia expressar na dialéctica de mútuo controlo. Em consequência, em termos práticos, em matéria de desenvolvimento do desporto, o Estado e a Sociedade estão transformados numa mesma e única entidade, o que resulta numa espécie de Olimpismo de Estado.
O desporto, nos últimos quarenta anos, mudou radicalmente. Hoje, requer soluções que, em tempo útil, ajustem de forma sinergística a sua estrutura e a sua dinâmica: (1º) A um tempo de volatilidade porque muda de forma, com facilidade e frequentemente; (2º) A um tempo de incerteza porque desencadeia um estado de dúvida constante; (3º) A um tempo de complexidade porque as variáveis em equação não são de fácil apreensão; (4º) A um tempo de ambiguidade porque sugere caminhos opostos para a resolução dos mesmos problemas.
E, assim, voltamos ao Citius, Fortius, Altius de Coubertin, à metáfora de Agustina: “a competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie” e ao “importante não é participar … é ganhar” de Vítor Serpa. Assim estejam os nossos dirigentes políticos e desportivos disponíveis para o entenderem."

Benfiquismo (MCCVI)

Rodeado...!!!

Falsas acusações

"O Sport Lisboa e Benfica lamenta as acusações feitas esta noite pelo director-geral das modalidades do Sporting Clube de Portugal, Miguel Albuquerque, relativamente a alegadas tentativas de agressão de adeptos do Clube a jogadores do Sporting.
O Sport Lisboa e Benfica foi informado pela Polícia de Segurança Pública de que esta desconhece qualquer ocorrência no perímetro do Pavilhão João Rocha entre adeptos do SL Benfica e atletas do Sporting. Estas acusações são extremamente graves e não podem ficar impunes, até porque poderão incendiar o clima para o jogo 4 da final do Campeonato de futsal, ao contrário daquilo que se deseja para a modalidade.
Miguel Albuquerque escreve que “o que se tem vindo a passar desde esse primeiro jogo ultrapassa qualquer limite que julgamos ser aceitável”. Ora, o que não é aceitável é a pressão – a época anterior foi apenas um exemplo disso – exercida quando o Sporting Clube de Portugal sente que pode estar comprometida uma determinada conquista desportiva, neste caso o Campeonato Nacional de futsal. 
Tendo o próprio director-geral das modalidades já sido suspenso por ter agredido um atleta do Sport Lisboa e Benfica, é no mínimo de estranhar esta tomada de posição. Depois são referidos determinados lances ocorridos neste último dérbi, sublinhando que todo o País teve acesso aos mesmos. Fala-se em perdão de amarelos, quando o problema se calhar tem mais a ver com memória selectiva. O jogador Erick, por exemplo, teria hoje terminado o jogo?
O Sport Lisboa e Benfica tem tido uma postura exemplar na divulgação da modalidade e relembra que o jogo de hoje decorreu sem incidentes, quer para os adeptos do Sporting Clube de Portugal, quer para os jogadores e respectivo staff.
O Sport Lisboa e Benfica espera que todas as entidades envolvidas não se deixem condicionar e apela a que sejam reunidas todas as condições para que o próximo dérbi seja bem disputado como foram os anteriores, ganhando quem for melhor em campo, tal como o treinador do Sporting reconheceu no final dos jogos 2 e 3, que terminaram com a vitória encarnada."

Parabéns, Portugal

"Em nome do Sport Lisboa e Benfica, muitos parabéns à Selecção Nacional pela brilhante vitória na primeira edição da Liga das Nações.
Motivo de orgulho para todos os Portugueses e coroar do trabalho extraordinário liderado pelo presidente da FPF, Fernando Gomes, do seleccionador nacional, Fernando Santos, e sua equipa técnica e do fantástico naipe de jogadores que conquistaram este troféu para o nosso País."

6.ª Taça de Portugal

Benfica 9 - 1 CACO

Mais um pleno conseguido...

A partir de agora as coisas vão mudar: o Sporting vai entrar em competição, pelo menos duas das nossas jogadoras vão para lá... O domínio absoluto interno, será mais difícil, mas tendo em conta as notícias, parece que não vamos baixar as 'expectativas'!!!