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quinta-feira, 10 de março de 2016

Vitória muito importante que só fará sentido com as 9 que faltam

"Terá custado constatar que o Benfica voltou a ter nos seus quadros pessoas de carácter, pessoas com princípios e, acima de tudo, pessoas humildes.

Na semana passada...
Permitem-me começar o artigo desta semana, citando a parte final do que escrevi na semana anterior, em post scriptum:
«Já o disse antes do encontro da primeira volta e volto a repeti-lo, agora.
E como se comprovou - pela classificação depois da última jornada - tinha... toda a razão do mundo! O resultado do jogo do próximo sábado contará para a história dos dois clubes, mas não contará para a história deste campeonato.
Essa será feita com a hierarquização das últimas épocas.
Perceberam???»
Disse-o antes do jogo de Alvalade, para que não duvidassem de qual era a minha opinião sobre o respectivo resultado, fosse ele qual fosse.
E não mudei!!!

Humildade... à Benfica
De facto, o resultado do jogo do passado sábado veio confirmar que o mesmo marcará a história dos dois clubes, mas de formas diferentes.
Se de um lado, fica a ideia de que o derby de sábado era o jogo decisivo deste campeonato (veja-se a forma como os adeptos leoninos sentiram a necessidade de receber a equipa do Sporting à moda Euro 2004, em Alvalade, aquando da chegada do autocarro que transportava os jogadores para o interior do estádio), do outro foi inequívoca a tranquilidade com que se encarou este confronto.
Tranquilidade esta que, aliás, foi personificada na pessoa do treinador Rui Vitória, através do seu discurso realista e humilde, por oposição àquele que caracteriza o treinador adversário.
E é precisamente aqui que residirá a chave deste campeonato, uma vez que não é só com tranquilidade que se ganham jogos... e campeonatos! Esses ganham-se, fundamentalmente, com outro estado de espírito: a Humildade.
Humildade para perceber que após o apito final do árbitro, faltam ainda 9 jogos para disputar.
Jogos estes que serão, inevitavelmente, encarados como se de 9 finais se tratassem.
Porque é assim que tem de ser.
E é esta a única forma de se alcançar o sucesso no futebol.

Duas formas distintas de ser e de.... encarar o jogo
Voltando um pouco atrás, dizia que as equipas tinham encarado o jogo de formas distintas. E não me referia apenas à sua preparação.
A reacção ao resultado do jogo diz muito sobre a postura de uma e outra equipa, de uma e outra estrutura, de um e outro treinador e, finalmente, de uma e outra massa associativa.
Bastou soar o apito final desse encontro para compreender porque uns fazem dos jogos contra o Sport Lisboa e Benfica o seu campeonato.
Os mesmos que se vangloriaram pelas três vitórias alcançadas contra o Benfica na presente temporada (como se de verdadeiros títulos se tratassem, com excepção da conquista da Supertaça de Portugal) foram os mesmos que se mostraram destroçados, apáticos e agindo contra os seus próprios princípios, quando, ao terminar a partida do passado sábado, se levantaram após alguns minutos de reflexão, recolhendo ao balneário, esquecendo-se dos adeptos que têm sido o pilar que sustenta a equipa do Sporting e a sua estrutura, mesmo apesar das barbaridades sucessivas perpetradas por quem os dirige.
Essa forma de estar é demonstrativa da diferença entre estes dois clubes.
Todos os que integram o Sport Lisboa e Benfica sabiam (e continuam a saber) que os campeonatos se conquistam jogo a jogo, com a enorme humildade que nos caracteriza.
Por outro lado, quiçá por força do hábito do seu actual treinador, para o Sporting CP, este era o jogo das suas vidas, como mais nenhum outro, olvidando-se que o caminho só termina no final e não depende apenas da vitória nos jogos com o seu maior rival.
Para o Sport Lisboa e Benfica tratou-se, sem dúvida de um jogo importante, mas não pelo facto de o ser contra o rival.
Este, como outros, assumiu a importância do que lhe estava subjacente, ou seja, os três pontos!
Se o jogo terminasse com o empate, ou até mesmo com a derrota, continuaríamos na luta, embora não dependendo apenas de nós, mas é essa a postura com que o Benfica entra em cada jogo.
A nossa história assim o impõe!
A verdade é que o resultado foi o desejado, mas não nos esquecemos que o caminho ainda é longo e que o percorreremos sem abdicar dos princípios que nos norteiam: a tal humildade, a raça e o querer vencer, acima de tudo, em todos os jogos e não só em alguns.

9 jogos, 9 finais
Daqui para a frente, independentemente da maior ou menor dificuldade que os nossos adversários nos causem, a postura será sempre a mesma.
Bem sei, que agora que alcançámos o topo da tabela classificativa, irão surgir os mais diversos ataques, que colocarão em causa o que até aqui foi feito e o que está, ainda, por fazer (até porque não haverá mais confrontos directos dentro de campo entre os principais candidatos ao título).
Aliás, os tais ataques já começaram a surgir, na tentativa de colocar pressão sobre os árbitros e sobre o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol... como se a actual classificação do campeonato se devesse a factores que não estejam directamente relacionados com o nível competitivo apresentado pelas equipas...
Mas a humildade que nos caracteriza, aliada à convicção da qualidade existente no seio da equipa, não permitirá que o objectivo traçado no momento em que, no final da época passada, ficou garantido o 34.º título de campeão nacional (que orgulhosamente os nossos jogadores envergam nas suas camisolas em cada jogo disputado), seja colocado em causa.
É isso que nos move.
Em momento algum olharemos para trás com preocupação relativamente ao que os que lá vêm possam fazer.
O que nos preocupa, no imediato, é o importantíssimo confronto com o Tondela da próxima semana. Porque de nada terá servido vencer o Sporting se não conseguirmos somar mais três pontos em cada jornada que resta até ao final do campeonato.
Todos recordarão o que foi dito no início desta época: o Sport Lisboa e Benfica não se conseguiria reerguer após perder quem se achava e acha imprescindível.
Como se de imprescindíveis não estivessem os cemitérios cheios.
Alguns tentaram fazer crer que o segredo para o sucesso residia precisamente aí.
Houve outros que, certamente, se deixaram ir nessa conversa.
A resposta foi sendo dada jogo após jogo, jornada após jornada e, com a mesma humildade que nos colocou no merecido lugar após o jogo de sábado, tudo faremos para que no final se façam as contas, tal como afirmou Rui Vitória, precisamente, na antevisão desse jogo.
Compreendo a frustração dos que assim pensavam... Terá custado, certamente, constatar que o Benfica voltou a ter nos seus quadros, sem excepção, pessoas de carácter, pessoas com princípios, acima de tudo, pessoas humildes.
De resto, só pessoas com estas características bem vincadas conseguiriam guiar o Benfica no rumo que havia sido traçado no que respeita à política desportiva há muito desejada: a aposta na sua formação... com resultados muito satisfatórios.
Prova disso é a qualidade apresentada pelos jovens que, sucessivamente, têm sido lançados na equipa principal, sem deixar aquém as expectativas neles depositadas.
Isso só é possível com a tal humildade que lhes está intrínseca, mas que também lhes é incutida dia após dia por quem os acompanha no Sport Lisboa e Benfica.
A todos eles, gostaria de deixar a seguinte mensagem: contamos convosco para as 9 finais que faltam disputar!
Não querendo lançar os foguetes antes da festa - e independentemente da vitória no final do campeonato - a forma de estar no futebol (e na vida) diz muito.
E a esse respeito o Benfica voltou a ser o maior de Portugal, ou melhor... maior que Portugal!

PS: São Petersburgo mostrou a dimensão europeia do Benfica. Ao sucesso na Champions iremos por certo buscar forças para todas as provas em que continuamos envolvidos. Sem nos deslumbrarmos, sempre de pés bem assentes no chão com humildade. À Benfica!"

Rui Gomes da Silva, A Bola

Benfica garante 30.ª presença nos 'quartos' das taças europeias

"FC Porto tem 17, Sporting nove e entre Boavista, Leixões, Académica, V. Guimarães e Sporting de Braga o futebol português contabiliza mais dez presenças nos quartos de final das provas da UEFA

O Benfica selou esta quarta-feira a sua 30.ª presença nos quartos de final das taças europeias de futebol, ao vencer por 2-1 no reduto do Zenit, na segunda mão dos 'oitavos' da Liga dos Campeões.
Com golos de Gaitán e Talisca, nos últimos minutos, a formação 'encarnada' está também pela 18.ª vez no 'top 8' da principal prova europeia de clubes e quarta na 'era Champions' (desde 1992/93), repetindo 1994/95, 2005/06 e 2011/12.
No 'ranking' luso de presenças nos quartos de final das taças europeias, o Benfica, que cumpre a 55.ª participação europeia, reforçou a liderança, somando agora mais quatro do que FC Porto (17) e Sporting (9) juntos.
A vantagem dos 'encarnados' começou a ser construída nos anos 60 do século passado, com sete presenças nos 'quartos', ainda que 'só' traduzidas em dois títulos europeus (1960/61 e 61/62). Até ao presente, o Benfica logrou pelo menos três presenças nos 'quartos' em cada década.
Desde os anos 90, o FC Porto conseguiu, porém, equilibrar a balança, somando cada qual 13 presenças nos quartos de final, mas, na segunda década do século XXI, o Benfica reforçou a liderança, com cinco presenças, contra três.
Ainda assim, os portistas souberam 'transformar' estas presenças em títulos -- o segundo na Liga dos Campeões, em 2003/04, após 1986/87, uma Taça UEFA e uma Liga Europa -, ao contrário do Benfica, que somou derrotas em finais.
Além das 30 presenças do Benfica, das 17 do FC Porto e das nove do Sporting, o futebol luso conta com mais 10 nos 'quartos' das diversas competições europeias, por intermédio de seis clubes, com destaque para as quatro do Vitória de Setúbal, todas até 1973/74.
O Boavista, que chegou aos 'quartos' da Taça UEFA em 1993/94 e 2002/03, é o outro clube português com mais de uma presença, num lote que fica completo com Leixões, Académica, Vitória de Guimarães e Sporting de Braga, sendo que os 'arsenalistas' vão disputar os 'oitavos' da Liga Europa.
Em exclusivo na 'Champions', o Benfica, que hoje repetiu 1994/95, 2005/06 e 2011/12, ainda perde para o FC Porto, que totaliza sete.

- Presenças portuguesas nos quartos de final das taças europeias:
1. Benfica, 30
(TCE/LE 1960/61, 61/62, 62/63, 64/65, 65/66, 67/68, 68/69, 71/72, 75/76, 77/78, 83/84, 87/88, 89/90, 91/92, 94/95, 2005/06, 2011/12, 2015/16;
TT 74/75, 80/81, 85/86, 93/94, 96/97;
TU/LE 82/83, 92/93, 2006/07, 2009/10, 2010/11, 2012/13, 2013/14)
2. FC Porto, 17
(TCE/LC 1986/87, 90/91, 92/93, 93/94, 96/97, 1999/2000, 2003/04, 2008/09, 2014/15;
TT 77/78, 81/82, 83/84, 94/95;
TU/LE 2000/01, 2002/03, 2010/11, 2013/14)
3. Sporting, 9
(TCE 1982/83;
TT 63/64, 73/74, 87/88;
TU/LE 85/86, 90/91, 2004/05, 2007/08, 2011/12)
4. Vitória de Setúbal, 4
(TCF/TU 1968/69, 70/71, 72/73, 73/74)
5. Boavista, 2
(TU 1993/94, 2002/03)
6. Leixões, 1
(TT 1961/62)
6. Académica, 1
(TT 1969/70)
6.Vitória de Guimarães, 1
(TU 1986/87)
6. Sporting de Braga, 1
(LE 2010/11)

- Presenças das equipas portuguesas por décadas:
50 (55/56 a 59/60) - Total: 0 
60 (60/61 a 69/70) - SLB (7), SCP(1), SET(1), LEI(1), ACA(1); Total: 11
70 (70/71 a 79/80) - SLB(4), FCP(1), SCP(1), SET(3); Total: 9
80 (80/81 a 89/90) - SLB(6), FCP(3), SCP(3), GUI(1); Total: 13
90 (90/91 a 99/00) - SLB(5), FCP(6), SCP(1), BOA(1); Total: 13
00 (00/01 a 09/10) - SLB(3); FCP(4), SCP(2), BOA(1); Total: 10
10 (desde 2010/11) - SLB(5), FCP(3), SCP(1), BRA(1); Total: 10
Total: SLB(30), FCP(17), SCP(9), SET(4), BOA(2), LEI(1), ACA(1), GUI(1), BRA(1): 66

Notas: A fase de grupos das edições 91/92 e 92/93 da Taça/Liga dos Campeões foi composta por oito clubes, pelo que as respetivas presenças de Benfica e FC Porto contam como presenças nos quartos de final."


PS: Coloquei este artigo no blog, porque hoje passei o tempo toda a ouvir em vários órgãos de comunicação social, em vários artigos e resumos televisivos - principalmente na SIC, numa peça assinada por Nuno Luz!!! -, que o Benfica tinha chegado aos Quartos-de- final da Champions pela 4.º vez!!!
Numa tentativa descarada, de desvalorizar o passado do Benfica, fazendo uma abusiva separação entre a Taça dos Clubes Campeões Europeus, e a Liga dos Campeões, quando são de facto a mesma prova!!!
A azia é de facto muito difícil de dirigir, principalmente para os adeptos da auto-proclamada 'maior potência desportiva portuguesa'!!!

Quero lá saber do Benfica!

"O FC Porto foi a São Petersburgo ganhar ao Zenit e passar à fase seguinte da Champions. O treinador do Zenit é o português André Villas-Boas, facto que faz do Zenit o único clube russo em que os portugueses conhecem o treinador.
No fim do jogo, Villas-Boas, que é sobrinho-neto do 2.º barão de Paçô Vieira e trineto do 1.º barão de Paçô Vieira (o que faz, ao André, no campeonato da genealogia, estar quase a apanhar o sr. Silva, dono do meu café, que é Silva há cinco gerações), no fim do jogo, dizia eu, o treinador do Zenit disse uma coisa que me encanita.
Disse ele, quando lhe perguntaram o que poderia ser a carreira do FCP na Champions: "Não me preocupa muito, como devem calcular. Não sou portista. Apesar de ser português, não me interessa muito até onde o FCP pode chegar na Liga dos Campeões." E acrescentou: "Peço desculpa mas é a minha sinceridade." 
Qualquer treinador de outro clube russo teria desejado boa sorte ao clube adversário que limpamente acabara de o derrotar. Mas, lá está, vai para cem anos que a Rússia acabou com condes e grão-duques e ela ficou sem a patine do que parece ser a sinceridade casca grossa, apanágio dos Paçô Vieira há séculos. 
Sobre educação, é tudo. Mas o que me preocupa, e muito, é o erro a que pode chegar um emigrante apaparicado pela Nação. Acontece que a condição de português, não de adepto dum clube, deu e dá a André Villas-Boas um eco que lhe permite ser conhecido, por cá, como o treinador português que treina clubes estrangeiros, e, lá fora, como treinador que é de um país que dá bons treinadores.
O eco (jornais, televisões, conversas de café...) dessa condição de português, de alguma forma terá contribuído para alindar os contratos que AVB tem assinado, mundo fora. Muitos adeptos fanáticos de clube português gritam o seu desprezo por outros clubes portugueses, mesmo quando estes estão em competições internacionais. É o direito duma opinião livre. Eles podem tê-la porque não ganham nada do futebol português. Ora, AVB tem ganho.
AVB começou aprendendo num clube português, encostou-se na carreira internacional a um treinador português e quando começou a carreira sozinho veio para um clube português. Os jornais portugueses oferecem-lhe um destaque contínuo que ele não tem pelos países por anda anda. Não seria pedir-lhe muito que, no estrangeiro, ele não apoucasse um clube português, um dos dois únicos, com o Braga, que continuam em provas europeias.
No fundo, o AVB deveria aprender alguma coisa, por exemplo, com Alfredo Vieira Coelho Peixoto Pinto de Vilas-Boas (1860-1926), 2.º barão de Paçô Vieira, seu tio-avô. Este nasceu no norte, em Braga. Mas não cuspiu em outras regiões do país, porque reconheceu nelas o todo em que ele fez a carreira: juiz em Portalegre, deputado pelos Açores, administrador da Companhia de Moçâmedes... Não lhe viria à cabeça, pelo amor especial a uma parte do norte, menosprezar, publicamente e no estrangeiro, o resto.
E o que Alfredo não podia fazer, André faz, porque é futebol? Dou de barato, talvez sim. No futebol pode ser-se tolo à vontade. A contar com isso, troquei nos primeiros parágrafos o FC Porto pelo Benfica (foi o Benfica que jogou na Rússia, e André Villas-Boas é portista, desprezou o Benfica e não o FC Porto). A troca foi para sublinhar que qualquer que fosse o clube (aliás, esses ou outros) a tolice seria a mesma."

Os nossos 'Manéis'

"O Benfica ultrapassou o Zenit com duas vitórias e está entre as 8 melhores equipas da Europa. Fez um jogo tão inteligente, quanto sensato. Nos 180 minutos da eliminatória foi sempre superior, se exceptuarmos 20 minutos da 2.ª parte do jogo de ontem. Poderia falar de todos os jogadores que, com mais fantasia ou com mais solidariedade, brilharam. Mas, agora, limito-me aos ex-Manéis do Benfica no gelo de S. Petersburgo, que provaram ter nome próprio e apelido. Ederson Santana de Moraes ocupou a baliza com serenidade e segurança de um consagrado. Andreas Samaris que já foi 8 e tem sido 6 foi um improvisado Manel defesa-central inexpugnável, com uma exibição soberba. Victor Lindelof já foi promovido de Manel a Victor, ele que no início da época era a 5.ª opção e agora até é a 1.ª escolha! Depois, houve os semi-Manéis por várias e diferentes razões: Nélson Semedo após longa lesão, Salvio depois de uma quase infindável paragem, Fejsa que jogou já esquecido de mais uma lesão, Jiménez que passou de Manel-atacante a precioso Raúl, Anderson Souza Conceição o nosso Manel Talisca. Já nem falo de Renato Sanches que só foi um Manel até ser descoberto pelo nosso Rui Manel Vitória, que, bem vistas as coisas, é mesmo treinador.
Chegaram todos para o Hulk sempre assanhado para marcar ao Benfica, para o sofisticado Villas-Boas e para um tal húngaro Kassai que achou por bem considerar legal a jogada do golo do brasileiro. 
Não precisámos de infiéis, tonéis e pastéis. Bastaram os nossos Manéis com nome e apelido. E, pormenor, entre os 18 jogadores, estavam 8 portugueses. Impensável, antes."

Bagão Félix, in A Bola

Benfica: unidos como os dedos da mão

"O Benfica jogou a segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, em casa do campeão da Rússia, com uma defesa que, no início da época não lembraria nem ao mais imaginativo. Ederson; Nélson Semedo, Samaris, Lindelof e Eliseu. Ou seja, nem Júlio César, nem André Almeida, nem Luisão, nem Jardel, nem Lisandro López. E, mesmo assim, não só sobreviveu defensivamente - só foi batido num lance precedido de irregularidade grosseira - como teve condições de estabilidade para arrancar uma exibição personalizada e serena, suficiente para carimbar o passaporte para um patamar onde só acedem as melhores oito equipas da Europa.
A leitura táctica do jogo de São Petersburgo e as virtudes de Rui Vitória serão tratadas, nesta edição, por Nuno Paralvas, na crónica, e Daúto Faquirá, no Mister da Bola. Aqui, prefiro relevar um factor que esteve na base do duplo sucesso benfiquista em Alvalade e no Petrovsky: a solidariedade. Este Benfica tem como matriz o primado da equipa, onde cada um é capaz de morrer pelo companheiro. E desta massa que são feitas as grandes equipas, é este o atributo que permite ultrapassar limitações de vária ordem, a saber, no caso vertente, as ausências de habituais titulares. Foi de pés bem assentes no chão, sem nunca se deslumbrar, que o Benfica ganhou nove pontos ao Sporting e onze ao FC Porto e saltou para os quartos de final da Champions. Quer tudo isto dizer que Rui Vitória acertou na tecla e tem agora por missão barrar a entrada da euforia na cabina.
A terminar, algumas breves notas quanto ao jogo com o Zénit: Ederson é um nome que vale a pena decorar; Samaris e Fejsa foram gigantes; Lindelof está a superar todas as expectativas; Renato Sanches é um fenómeno: e Jiménez já pagou a sua contratação."

José Manuel Delgado, in A Bola

Semana Benfica

"O Pai Natal enganou-se. Caiu da cama, bateu com a cabeça no chão, viu estrelas e pensou que já era dias de boas-festas, encheu o trenó de presentes e largou-os nas casas dos benfiquistas: vitória em Alvalade, derrota do FC Porto em Braga e passagem aos quartos-de-final na Champions em São Petersburgo. O que é que querem mais? Que o Salvio comece a jogar? Serem o único clube dos grandes a ter lucro no primeiro semestre? Ah, esperem, também houve isso...
Em muitos sítios, em muitas notícias, em muitas colunas de opinião o Benfica foi dado como arrumado esta época. Esta foi uma dessas colunas. Mas por perda de pontos do Sporting, por boa fortuna e por qualidade, o Benfica assomou ao primeiro lugar da Liga, tendo, ainda por cima um calendário pela frente mais favorável do que o do Sporting, que tem jogos mais difíceis, incluindo visitas ao Porto e a Braga. Mais: a equipa da Luz deseja a quebra anímica do clube de Alvalade, que tão meritoriamente conseguiu estar em primeiro lugar até aqui. Jorge Jesus precisa de garantir que a sua equipa não estoirou de cansada. Bruno de Carvalho terá de mostrar que não rebentou de frustração. Porque todo o seu discurso agressivo só funciona bem enquanto se vence. Já o FC Porto continua a não arrancar seja em que direcção for.
Há semanas assim mas não são muitas. Semanas em que tudo corre bem a uma equipa. A cor desta semana foi vermelho. A cor do Benfica. A cor do Pai Natal, que raramente vem quando um homem quer - mas veio agora em Março."

Benfica: a equipa pequena está entre as oito maiores da Europa

"O Benfica chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões ao eliminar o Zenit de São Petersburgo, na Rússia. 2-1, com golos de Gaitán e Talisca, e um de Hulk

Porque havia lesionados (Luisão e Lisandro) e porque havia castigados (André Almeida e Jardel), Rui Vitória tinha de inventar um bocadinho para pôr onze tipos no sítio certo, em São Petersburgo. E o treinador lá inventou, mas não muito, sobretudo não tanto quanto a UEFA nos quis fazer acreditar – é que, no oráculo que precedeu o jogo, Renato Sanches e Samaris estavam nas alas, Pizzi e Gaitán apareciam no meio.
Tudo trocado: Renato e Fejsa foram médios, Samaris começou a central, e Nelson Semedo entrou para defesa direito. De resto, tudo na mesma: dois tipos no meio-campo, dois extremos, e dois avançados. Nem menos um avançado, nem mais um médio.
Ora, isto quer dizer que Rui Vitória acha que o Benfica está naquele ponto de rebuçado a que no futebol se chama "moral". Ou melhor, estar com moral. E estar com moral é estar com confiança, e estar com confiança é acreditar que se é bom - por vezes, acreditar que se é melhor do que na realidade se é.
Isso tem dois lados, o bom, quando corre bem porque a moral dá-te asas, e o mau, quando corre mal porque há sempre alguém que voa acima de ti e a queda é maior. É de Lapalisse, básico até, mas é o que é.

O Benfica entrou com moral em alta, esteve melhor nos primeiros vinte minutos, fez um ou dois remates, não se fechou lá atrás, e manteve a defesa e o meio-campo cosidos um ao outro, como dois panos a fazerem uma manta com alguns remendos, mas poucos buracos.
Sem a passadeira estendida para o contra-ataque, o Zenit teve de baixar o rapaz que mais cria (Danny), para ver se ele lançava o jogo com bolas longas nas costas dos encarnados. A coisa chegou a resultar, num lance de futebol de praia, de cabeça em cabeça, até a bola bater nas mãos de Ederson. Acabou-se a primeira parte e o Benfica foi para o intervalo com a vantagem do encontro (1-0, Jonas) da Luz na mão. Tinha a eliminatória mais ou menos controlada, porque estava a dividir o jogo e a disputar os metros no relvado. Mas tudo iria mudar.

NOS OMBROS DOS GIGANTES
Na segunda parte, o Benfica foi o Benfica de Alvalade pós-golo-de-Mitroglou. Defendeu. Defendeu. E defendeu. Tentou baixar o ritmo, embalar o adversário, a ver se o adormecia para o despertar num ataque qualquer. E fiou-se que o Zenit, sem poder contra-atacar, também não podia entrar por ali dentro em tabelinhas ou trocas de bola. Ou seja, entregou a bola e entregou-se ao tempo. E sofreu um golo, de Hulk (7.º do brasileiro ao Benfica em 16 jogos), após um cruzamento de Zhirkov.
Depois disto, havia duas hipóteses: esperar pelo prolongamento ou atacar. O Zenit escolheu a primeira, o Benfica a segunda. Foi atrás da sua sorte e obteve-a na cabeça de Gaitán, que pôs a bola lá dentro após a bola rematada por Jiménez ter batido no ferro. E teve-a novamente, com Talisca, quando o Zenit estava quebrado e partido e resignado.

Contas feitas, o Benfica de Rui Vitória chega aos quartos de final da Liga dos Campeões (com Jorge Jesus, fê-lo apenas uma vez, em 2012). Conversões feitas, o Benfica soma €28,5 milhões e isso não são trocos. E conversas trocadas, o Benfica, que JJ disse ser pequeno, fez-se grande e está entre as oito maiores da Europa.
É o que diz a Champions, não somos nós."

Champions: equipas grandes e pequenas

"1. Pobre Benfica que se arrastava no início da época, sem cérebro e com ideias velhas, deu lugar a este Benfica todo-o-terreno que vai à frente da Liga portuguesa e, com mérito e também com sorte, aparece nos quartos-de-final da Liga dos Campeões.
Soa música celestial aos ouvidos de Luís Filipe Vieira porque, por um lado é necessário fazer contas e encher os cofres e por outro - mais importante - estar agora entre os oito melhores da Europa é chave no relançamento da marca Benfica, que começou há anos mas a que faltou a dimensão europeia na prova mais importante, apesar da presença nas duas finais da Liga Europa. Por exemplo, para a Emirates ter o Benfica onde tem, com naturalidade, o Real Madrid significa uma aposta ganha. 
E agora nos quartos-de-final? Parece impossível se aparecer o Barcelona. parece possível se aparecer o Wolfsburgo.
O Benfica em São Petersburgo mostrou, como noutros momentos desta competição, uma invulgar capacidade de superação. A equipa, debilitada pela ausência de habituais titulares, ultrapassou esse facto e todos os suplentes estiveram à altura. Renato Sanches confirmou que é o jogador através do qual circula todo o jogo da equipa, o que é notável aos 18 anos, e Gaitán, que perdera fulgor durante a época devido às lesões, apareceu no momento em que é necessário que apareçam os grandes jogadores.
Muito importante, mais do que se pensa, é realmente o espírito de equipa, o espírito de grupo. Esse trabalho em boa medida deve ser creditado a Rui Vitória porque tem pelo menos a inteligência de entender que o futebol é um jogo de equipa. No sentido global do termo.

2. se escreveu o suficiente sobre a frase infeliz, sejamos brandos, de que o Benfica tinha jogado em Alvalade como uma "equipa pequena". O Sporting tem um calendário mais difícil, mas tem todas as condições para ser campeão porque o rival directo também pode ceder. O que preocupa mais no Sporting é a ausência de soluções de ataque, confirmando o mau negócio que foi a venda de Montero e não exactamente a falta de sintonia, mas a falta de uma frente comum que Bruno Carvalho e Jorge Jesus deviam protagonizar e não se sente que protagonizem neste momento. Falam ambos, mas não exactamente a mesma linguagem. Não sei o que os separa, tenho apenas a certeza de que aquilo que os une é muito mais importante."

Benfica: como cresceu!

"Personalidade: eis o topo dos trunfos, como soma de outros, que o Benfica exibiu em São Petersburgo, território do multimilionário Zenit de Villas Boas, Hulk, Witsel, Garay, Danny, Javi Garcia e, já agora, do bem menos badalado Lodygin, guarda-redes gigante na estatura e com alta qualidade bem demonstrada nos dois jogos desta eliminatória.
Personalidade do Benfica para, nesta temporada, sempre encarar a Champions com ganas de passos em frente - desde o primeiro dia, quando triunfou em casa do Atlético de Madrid -, o que lhe permitiu conquistar o prémio de já ter entrado no lote dos 8 melhores na mais importante competição de clubes. Personalidade para o fazer sem lamúrias por sobrecarga de desgastes - ou medo destes - potenciando miná-lo nas competições nacionais, sobretudo, é evidente, na maratona do campeonato. Na Champions, sempre a máxima força possível. O que não o impede de ser líder na nossa Liga.
Personalidade para entrar em casa do Zenit sem inibições de medos por o seu sector defensivo estar remendadíssimo, impossibilitado de utilizar os três mais cotados defesas-centrais (Luisão, Jardel, Lisandro), bem como o guarda-redes Júlio César e o defesa direito André Almeida que tem sido quase sempre titular. 
Personalidade para, ao longo da época, ter coragem de lançar miúdos - e vão cinco!... -, conseguindo que a global estrutura não entre em tremeliques. Ontem, na previsivelmente escaldante hora e meia em São Petersburgo, nada menos de 4 meninos foram titulares: Ederson (vinha de se estrear no crucial confronto em Alvalade...), Nélson Semedo, Lindelof, Renato Sanches. Todos com qualidade, e mentalmente muitíssimo bem preparados, para se imporem.
E que Benfica se viu na decisão da eliminatória? Entrou no jogo para seguir em frente, apostando em chegar ao golo que lhe ampliaria a tangencial vantagem alcançada na Luz. Assim, com a personalidade de mostrar convicção, o Benfica foi superior ao Zenit na primeira parte e nos últimos 20 minutos, nestes reagindo ao golo russo (precedido de evidente infracção). Em casa do Zenit, virar 1-0 em 1-2 não é pequena coisa...
O Benfica dito pequenino em Alvalade (visão de Jorge Jesus, com absoluta amnésia de como, liderando o Benfica, ali empatara na época anterior) não esteve em São Petersburgo. Pequenino, face à ambição que deve ser obrigatória em equipa que possui orçamento para ter tantos craques (um tirado ao FC Porto, três tirados ao Benfica), foi o Zenit. Sim, em todo o primeiro tempo e depois do 1-0, André Villas Boas mostrou muito receio do Benfica... Ele bem tinha frisado que o Benfica faz sempre golo(s) em casa alheia. Também por sua responsabilidade, viu isso ser confirmado.

Este Benfica não está equipa pequenina. Dentro dos seus limites, que é como quem diz dentro dos limites do nosso futebol, está, sim, uma senhora equipa. Na organização de jogo. Na planificação desta e daquela estratégias. No coesão que exibe, também em força mental (leia-se carácter!). Senhora equipa porque adquiriu estas qualidades, amiúde decisivas, depois de se ter sentido trucidada. Recorde-se desastrosa pré-época e quase agonizante primeira fase do campeonato. Esteve a 8 pontos do 1.º lugar... É líder.
Venha ou não a sagrar-se campeão, Rui Vitória, pelo enorme grau de dificuldades (múltiplas) que encontrou ao entrar no Benfica, implicando extraordinário trabalho para superá-las, já é um vencedor.

Sporting no Estoril. É-lhe imperioso reagir à derrota perante o Benfica, em Alvalade, num dia D para embalar, exactamente como o Benfica reagiu à derrota, na Luz, frente ao FC Porto, que ameaçou bloquear-lhe ambição. Amiúde, é após traumatizantes desaires que se testa fibra de campeões."

Santos Neves, in A Bola

É um problema quando vencer é um problema

Vencemos, se calhar mais um problema para mim, acrescido».
Jorge Jesus Treinador do Sporting, após ganhar ao Lokomotiv Moscovo, em Novembro.

equipas que passam um ano inteiro a tentar chegar à Liga dos Campeões e quando lá chegam dão prioridade ao campeonato. Há equipas que, falhada a Champions, dão tudo por tudo para entrar na Liga Europa e quando lá estão apostam na gestão do plantel. Há equipas que passam um campeonato inteiro à procura de vaga na terceira pré-eliminatória da Liga Europa e passam os primeiros seis meses da época seguinte a queixar-se de terem começado a temporada muito cedo.
Há treinadores, em Portugal mas não só (o habitual desastre francês na Liga Europa prova-o), para quem vencer na UEFA é um problema. Mais valia não irem - basta não pedir a licença à federação. 
Quando vencer é um problema, isso é seguramente um problema. Como convencer um jogador de que no jogo europeu não deve dar tudo e depois esperar que na competição interna não encare o insucesso com um encolher de ombros?
Para Jesus, este ano, seguir na Europa foi um problema (pelo menos no discurso; na prática nunca deixou de tentar seguir em frente, mesmo em gestão). Mas a própria experiência dir-lhe-á que na Luz nunca perdeu um título por causa das campanhas europeias: afinal, foi campeão no segundo ano em que chegou à final da Liga Europa; e não me parece que nos anos em que deixou escapar a liderança isolada para o FC Porto de Vítor Pereira isso possa ser explicado pelo desgaste europeu.
Talvez a perda da liderança do campeonato, por parte de um Sporting já eliminado da Liga Europa, perante um Benfica a quatro dias de seguir para os quartos da Champions, o ilumine."

Hugo Vasconcelos, in A Bola

Benfica volta a ser grande na Europa

"O Benfica garantiu, ontem, em S. Petersburgo, muito mais do que uma importante presença nos quartos de final da Champions. Conquistou, para o futuro próximo do futebol português, a manutenção de dois lugares de acesso directo, na época de 2017/2018; conquistou um renovado respeito internacional pelo nome do clube histórico; conquistou, ainda, um recorde de receitas na prova, já muito perto dos 30 milhões de euros; e, por fim, mas não menos significativo, conquistou o legítimo orgulho em si próprio e nesta equipa que Vitória transformou em ganhadora.
Tínhamos ontem escrito, nesta mesma coluna, que para chegar aos quartos de final da Champions, o Benfica precisava, acima de tudo, de provar já ter jogadores com mentalidade de equipa grande. A verdade é que também nesse ponto fundamental o Benfica venceu o desafio que se lhe colocava. Não se diminuiu por ter problemas de lesões e de castigos, não se escondeu do frio ou do medo de falhar. A equipa foi colectivamente sólida e os seus jogadores foram psicologicamente fortes.
Curioso, enfim, assinalar que Rui Vitória soube, uma vez mais, merecer o sucesso, tendo tido, como acontecera em Alvalade, a lucidez de mexer bem na equipa. A verdade é que, na Rússia, as entradas de Jiménez e de Talisca acabaram por ser determinantes. O mexicano teve um momento de grande inspiração, que foi decisivo para o golo tranquilizador de Gaitán; o brasileiro foi primoroso de técnica e lucidez no golo da confirmação. Deixou Villas Boas tão desesperado que acabou, mesmo, por ser agreste nos comentários públicos do seu próprio desaire."

Vítor Serpa, in A Bola

PS: O Benfica nas últimas temporadas, chegou a duas Finais da Liga Europa, e nos últimos 10 anos é a 3.ª vez que chega aos Quartos-de-final da Champions... actualmente somos o 6.º clube no ranking da UEFA... Portanto, tenho alguma dificuldade em perceber esta coisa do Benfica 'voltar' a ser grande na Europa! O Benfica foi, continua a ser, e será sempre grande na Europa... lutando contra super-equipas de orçamentos imensamente maiores, mas o prestígio não se perde tão facilmente como alguns pregam...!!!

Benfica... ao rublo

"Afinal, correu tudo no melhor dos mundos.
Todos, até os tradicionalmente mais optimistas, reconheciam que o Benfica tinha pela frente um complicado problema para resolver, o de conseguir aguentar, em São Petterburgo, a escassa vantagem que ficara a seu crédito após o jogo de Lisboa frente à equipa do Zenit.
E não eram apenas as esperadas dificuldades que um adversário cotado lhe colocaria no caminho. Eram, também, os problemas decorrentes da sua própria acção, tanto com jogadores a cumprirem castigo ou lesionados, e a necessidade de tirar da cartola alguns coelhos que até aqui se tinham mantido na toca.
Afinal, correu tudo no melhor dos mundos.
A equipa escalada por Vitória não só foi capaz de conter o ímpeto adversário, quando as nuvens do estádio Petrovsky começaram a ficar mais carregadas, como ainda lhe sobejou fulgor quando chegou o momento de abater o adversário.
Vitória justa, com vários proveitos à mistura.
Para além da alegria imensa que contagiou milhões de adeptos, o conforto trazido aos cofres do clube. Neste momento, a soma astronómica resultante desta participação na Liga dos Campeões ronda já os trinta milhões, sendo conveniente não accionar, para já, o segredo no cofre da Luz porque pode ser preciso abri-lo de novo daqui alguns dias.
Agora, para os quartos-de-final, são já conhecidos três adversários possíveis:
Real Madrid, Wolfsburgo e Paris-Saint Germain, faltando ainda mais quatro, a apurar daqui na próxima semana.
Tendo sabido esperar pelo seu tempo, a época continua assim a correr de feição ao Benfica e ao seu treinador Rui Vitória, o homem em quem nem todos apostaram desde o início, mas ao qual agora batem palmas sem regateios.
O tempo, sempre o tempo, continua a ser um grande mestre da vida."

Uma vitória de afirmação europeia

"Rui Vitória está a viver um sonho. E dos bons. Após o triunfo em Alvalade no sábado, eis que arranca uma impressionante vitória em São Petersburgo e consegue o apuramento para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. E de repente Portugal consegue, pela primeira vez, duas presenças consecutivas nesta fase da prova. A aventura de Lopetegui terminou em pesadelo, mas ao Benfica pode calhar outro adversário que não um tubarão. Barcelona, Real Madrid, PSG ou Bayern (se eliminar a Juventus...) serão a evitar, mas todos os outros, mesmo complicadíssimos, permitem sonhar com a continuidade da aventura.
Para ganhar na Rússia o Benfica teve de bater uma equipa com um orçamento muito maior, mas também de afastar novamente o fantasma Gazprom, que tantas dores de cabeça deu ao Sporting. O golo do Zenit ontem nasce de uma falta clara sobre Nélson Semedo que se torna difícil de aceitar. Felizmente Jiménez, Gaitán e Talisca colocaram justiça no marcador. Mas ficam dúvidas...
Vitória deu esta semana passos enormes para a afirmação no Benfica. Já igualou Jesus na Champions e bateu-o ao quarto dérbi. É verdade que não foi superior ao Sporting em nenhum jogo esta época, mas estas duas vitórias levam os adeptos ao céu. Ver o leão fora da Europa e atrás na liga é o melhor combustível para qualquer conversa de café. E rude golpe para quem na Luz defende Marco Silva como o treinador para a próxima temporada. É verdade que Vieira decide pela própria cabeça e as sugestões internas caem em saco roto, mas Vitória está a fazer com que mesmo quem o quer ver fora, acabe por engoli-lo... quem sabe até com gosto.
Hoje há novo duelo luso. Vítor Pereira que me perdoe, mas vou torcer pelo Sp. Braga. Nada pessoal, apenas sentir português."

Feche a loja, André

"São Petersburgo é terra de gente sofredora. E sonhadora. Como convém ao Benfica. Nesta cidade de beleza perturbante as avenidas são apropriadamente chamadas perspectivas. Não me lembro se há alguma com vista para os quartos-de-final, mas se houver o Benfica certamente encontra-a.
Em São Petersburgo, que já se chamou Petrogrado e Leninegrado, ocorreram alguns dos capítulos mais dramáticos da história da Rússia, como a Revolução Bolchevique de 1917 e o cerco das bestas nazis (durou 900 dias) que matou um milhão de habitantes entre 1941 e 1944. O estádio Petrovsky, que foi completamente destruído na II Guerra Mundial, fica à beira do rio Neva e é ali que os homens de Rui Vitória vão tentar resistir ao assalto dos comandos de André Villas Boas, cujo perfil aristocrático combina lindamente com os pergaminhos da cidade fundada por Pedro, o Grande. O Zenit tem nada a ver com as equipas russas de antanho. O seu núcleo duro é constituído não por atletas militarizados com cara de heróis soviéticos mas por mercenários estrangeiros pagos a peso de ouro pela Gazovaya Promyshlennost (Gazprom), a gigante do gás natural e do petróleo que sustenta os tiros de Hulk, os cortes de Garay e as aulas de mestre André. O Zenit é um clube rico, ocidentalizado, um produto da Rússia capitalista que faria o implacável Lenine dar quatro ou cinco voltas no mausoléu. A equipa de futebol custa milhões mas está muito longe de possuir a compacidade e o insuperável espírito colectivo do velho futebol soviético. Como se percebeu na Luz, André Villas Boas não tem propriamente uma equipa coesa, mas uma multinacional de individualidades de rendimento instável e oscilante. Podem pintar a manta... ou não. Depende para onde estejam virados. Além do contrato certamente vantajoso com a Gazovaya Promyshlennost, só consigo ver um ponto comum entre Hulk, Danny, Neto, Witsel, Garay, Mauricio, Lombaerts, Javi Garcia, Dzuyba, Shatov, etc: a obediência ao czar André e a vontade de justificar na Champions os ordenados pagos pelos senhores da Gazovaya - uma vez que o comportamento do Zenit na Premier (5.º) lembra vagamente os desastres de Sofia contados pela condessa de Ségur - nascida Sofiya Feodorovna Rostopchina em São Petersburgo, a 1 Janeiro de 1799. A fortaleza de Pedro e Paulo, uma das atracções turísticas da cidade, foi construída para durar mil anos. A fortaleza deste Benfica versão Vitória ficou à vista no derby de Alvalade: coesão, determinação e compromisso - além de uma eficácia concretizadora fora do comum, tipo um remate: um golo. Foi assim, fiéis à cartilha de um pragmatismo neo-realista que faria as delícias de Lenine e Trotsky, que os operários encarnados resistiram à onda verde e saíram de Alvalade de punho erguido, olhos postos nos amanhãs que cantam. Sabendo-se que o Benfica por norma marca golos (foi assim em todos os sete jogos da Champions)e que o Zenit, nomeadamente Hulk, está longe do apuro ideal, resulta óbvio que a chave da eliminatória está no golo que o Benfica tem de marcar para obrigar o Zenit a fazer três (e a arriscar, abrir espaços, desposicionar-se...). Bem sei que as baixas na defesa são um quebra-cabeças (é que são mesmo muitas...), mas a verdade é que Rui Vitória, sempre resistindo à pieguice e à desculpa fácil, tem sabido transformar esses contratempos em oportunidades para ganhar novos elementos para a equipa. Tem imenso mérito nesse aspecto. Em suma, creio que um Benfica em modo bolchevique (coeso, rude, agressivo, incondicionalmente comprometido com a causa) pode partir os dentes à reacção e obrigar mestre André a fechar a loja. Não, não é nenhuma provocação. Sinceramente acho possível. Que lhe parece Mitroglou?

Tape os ouvidos, Paulo
Vítor Pereira pediu aos adeptos do Fenerbahçe que encham amanhã o estádio Sukru Saraçoglu (Ulker, na gíria) e ajudem a criar um ambiente infernal na recepção ao SC Braga, que aterrou em Istambul com o escalpe do FC Porto na bagagem. Paulo Fonseca só tem de fazer orelhas moucas e industriar os seus guerreiros para não se deixarem intimidar pela atmosfera do Ulker: nem pela visão de Diego, nem pela ratice de Van Persie, bem pelo faro de Fernandão. É um duelo giro: dois treinadores mal amados do portismo, ambos em alta, ambos com queda para o jogo bonito e organizado. É certo que o Fenerbahçe abriga vários portugueses mas o nosso coração só pode estar com este sensacional Braga, invicto há l5 jogos (sequência recorde na era Salvador) e ainda a lutar em quatro frentes. Tapem os ouvidos guerreiros. Olhos bem abertos, claro.

Feche a boca, Jorge
Indisfarçavelmente irritado por não ter conseguido vibrar ao Benfica o golpe de autoridade anunciado, Jorge Jesus foi indelicado com o adversário e o seu treinador («jogaram como uma equipa pequena») e mereceu a resposta sibilina de Vitória («deve estar a falar do Benfica da época passada»). Nesse momento, milhões de sportinguistas devem ter lembrado a exibição pífia e o empate imerecido (1-1) arrancado in extremis pelo Benfica em Alvalade na época passada. Sim, o Benfica de Jesus que, por acaso, até fez desse derby o trampolim para bicampeonato que viria a assegurar com, ups..., outra exibição de «equipa pequena» perante o FCP de Lopetegui (0-0 na Luz). Enfim. O que Jesus confessou inadvertidamente é que não consegue ganhar a «equipas pequenas» e olhem que isso não o abona muito. Mais a sério. Parece claro que o Sporting anda a patinar por culpa própria, já que criou e desperdiçou oportunidades para ganhar tranquilamente os dois últimos jogos... em que perdeu cinco pontos. Sendo o mal caseiro, a última coisa que os sportinguistas querem ouvir agora é jactâncias e fanfarronices. Há alturas em que o silêncio é de ouro. Que é como quem diz: menos conversa e mais resultados. Porque ainda não acabou."

André Pipa, in A Bola

A 2.ª Circular

"Era uma vez uma 2.ª Circular, apesar de a 1.ª nunca ter visto a luz. Um dia, o presidente de Lisboa resolveu colocar esta circular nos eixos. Uma iniciativa com indiscutível mérito, colocada à discussão pública, 10 semanas antes do veredicto final. Não que fosse decisiva, mas poderia contribuir para um itinerário mais seguro, cosmopolita e de acordo com a tradição de uma via urbana e não de episódicos ralis. Curiosamente, o que mais celeuma suscitou foram os arboretos no eixo central. Sobretudo, de Carnide até ao Campo Grande e ao aeroporto. Não tanto por causa das árvores (lódãos, mas não carvalhos), mas por servirem de nidificação a aves agoirentas ou de rapina.
Houve acesas proclamações sobre este assunto no Facebook, exigiu-se (e bem) uma arbitragem isenta para a decisão, estimularam-se febrilmente verdilhões e toutinegras para colidir com drones, bem como cucos e patos para defecar nas bermas. No imaginário que fervilhou a propósito do perigo aéreo de um conhecido passarão, gerou-se uma acesa controvérsia com bicadas à mistura e tudo por causa da excessiva abertura das asas da dita ave vinda do Magrebe. Já perto do momento da resolução, nova angústia desta vez gerada por uma ave-peixe de nome imperador que, qual mergulhão, tombou e de um novo pássaro estreante a que alguns verdilhões, maio viram, insinuaram ser um desprezível maçarico, frango ou peru. Enganaram-se, era um calmíssimo rouxinol-de-encontro-amarelo que calou o papagaio e emudeceu o narciso.
No fim, deu-se a Odisseia do grego e voou a águia Vitória. Em paz, sem euforia. A cota da 2.ª Circular foi, até ver, alterada: de -7 para +2."

Bagão Félix, in A Bola

Benfiquismo (XXXIX)

Respeito mútuo...
Vestir o Manto Sagrado, é representar aqueles que estão nas bancadas...
... foi assim que se construiu a nossa História.
Hoje, como adepto e sócio, apetece-me dizer: Obrigado!!!

Já agora, alguém consegue identificar os jogadores?!