Últimas indefectivações

quarta-feira, 15 de março de 2017

Arbitragem cá e lá...

"Escrevendo ainda antes dos jogos desta semana dos 1/8 da Champions, constatam-se, sem dificuldades, erros grosseiros nas arbitragens. Sobretudo, na notável remontada do Barcelona, escandalosamente beneficiado pela arbitragem. Entre vários erros, basta citar um que mudou toda a história da eliminatória: um penálti assinalado ao minuto 90 por completa batota de Suarez. Mesmo admitindo que o árbitro pudesse estar mal colocado, o árbitro assistente e, sobretudo, o árbitro da linha de cabeceira tinham todas as condições para não se deixarem ludibriar pelo artista uruguaio que, em abono da justiça, deveria ter sido admoestado com um cartão.
Na partida em Dortmund, o árbitro não foi suficientemente corajoso para expulsar (segundo amarelo) o talentoso Dembelé, quase no fim do 1.º tempo. Poder-se-á argumentar que, já na 2.ª parte, também Samaris obteve a mesma condescendência do juiz da partida, mas nada garante que esta situação tivesse ocorrido com o Borussia já com 10 jogadores.
O certo é que, no fim do jogo, nem dirigentes, nem treinadores, nem jogadores se concentraram nestas e noutros erros, ou se o fizeram (como o técnico do PSG) foi com muita, mas mesmo muita cautela e diplomacia.
Imaginemos estes jogos no nosso campeonato, com os clubes grandes. O que já se teria dito, discutido, insinuado, suspeitado, analisado de mil e uma maneiras, chantageado!
Pois é: com a UEFA muito respeitinho porque as consequências são bem pesadas. Por cá, o regabofe porque, no fim de contas, são umas multinhas ou uns dias sem ir fisicamente para o banco, mas com as redes sem fio a funcionar em pleno."

Bagão Félix, in A Bola

Balanço da "Vergonha" Europeia do Benfica

"Uma semana depois já podemos fechar as contas europeias das equipas portuguesas nas provas da UEFA em 2016/17.
Uma breve passagem pela imprensa nacional e percebemos logo o que é importante e que conclusões podemos tirar nesta última semana com clubes portugueses em competição.
O Benfica caiu aos pés do Borussia Dortmund sendo a vergonha de Portugal. Uma eliminatória que serviu de pretexto para se abrirem várias frentes de discussão que visam colocar a nu a falta de qualidade do futebol do Benfica, a duvidosa qualidade do plantel e a competência de quem treina a equipa.
Como escrevi na minha crónica de Dortmund, até muitos benfiquistas se sentiram envergonhados com este duelo europeu.
Vamos, então, a factos e às contas finais.
Com o desempenho dos clubes portugueses esta época na Liga dos Campeões e na Liga Europa ficamos a saber que brevemente perdemos uma vaga na Champions. Só o campeão nacional tem presença garantida na prova maior, o 2.º classificado do campeonato sujeita-se a um playoff e o 3.º segue para a Liga Europa. Para este triste desfecho deve ter contribuído o 4-0 de Dortmund e as pobres exibições contra Nápoles além dos pontos conquistados contra Dinamo de Kiev e Besiktas.
A carreira europeia do Benfica boicotou o excelente contributo de equipas como o Sporting que somou pontos muito valiosos das soberbas exibições contra Real Madrid e Borussia Dortmund. Pontos tão importantes como a superioridade teórica sobre o Legia e aquela ausência leonina da Liga Europa.
Também o Braga esteve impecável nos seus contributos europeus.
Portanto, devemos culpar o Rio Ave e o Arouca pelas saída prematuras, e Benfica e Porto por não terem ganho a Liga dos Campeões.
Para que fique registado, só nestas últimas duas épocas, o Benfica fez 39 pontos em 18 jogos. Coisa pouca comparando com os 29,5 do Porto e os extraordinários 14 do Sporting! Portanto, aqui a culpa também é do Benfica.
Posto isto, vamos à comparação de reacções com os diferentes desfechos na Champions League. A saída do Benfica, já se sabe, foi um desastre. Já a do Porto foi incrivelmente digna. Conseguiram só perder por 1-0 em Turim. Ena, quanta dignidade.
O Porto esteve quanto tempo por cima da eliminatória com a Juventus? Ah, não esteve.
E esteve dentro da discussão da eliminatória quanto tempo? Foi só até os italianos fazerem dois golos no Dragão na primeira mão.
O Buffon sofreu imenso neste duplo confronto. Até ponderou pagar a taxa turística no Porto pelo passeio.
Então, o Porto é afastado num total de 3 golos negativos de diferença, certo? Em dois jogos dos 1/8 de final da Champions somou aproximadamente zero euros de prémios da UEFA.
Ah! Mas jogou quase sempre em inferioridade numérica por expulsões dos seus jogadores. No Dragão o comentador Freitas Lobo achou a expulsão uma injustiça e no jogo de Turim Bruno Prata não percebeu bem porque é que o Casillas não pode ser substituído por um defesa direito.
Eu entendo, afinal o Porto tem feito todo um campeonato nacional em que a maior parte dos jogos acaba em superioridade numérica, é um conceito que na Europa os deixou baralhados.
Já o vergonhoso Benfica atreveu-se a ganhar um jogo que lhe valeu somar 1 milhão e meio de euros. O Benfica esteve mais de meia eliminatória em vantagem e mais de jogo e meio contra o Dortmund na luta pela passagem aos 1/4 de final. Depois, dois golos seguidos deram vantagem aos alemães que acabaram por seguir com naturalidade. Mas, repito, foi mais de jogo e meio com o resultado nivelado.
Perdeu-se dentro de campo mas nas bancadas os adeptos do Benfica golearam. Está bem mas o que isso interessa? Nada. Os outros também deram show e são falados na imprensa.
Ainda ontem se ouviu os adeptos portistas em Turim a apoiar a sua equipa. Como? Saltando e cantando alegremente ao som de "E quem não salta é lampião". Que brilhante apoio à equipa, como referiu um dos narradores que acompanhava a emissão na televisão. Hoje nos jornais também se pode ler que os adeptos azuis atacaram a sede da claque da Juventus. Bem digno. E no pouco que ouvi do relato na Antena 1 falava-se do lançamento de petardos para a bancada dos italianos.
Ora bem, isto comparado com aqueles cânticos de "Benfica, o amor da minha vida" ou "Amo o Benfica", mostra a diferença de cultura dos dois clubes. Por mim, estou bem assim.
Finalmente, temos notáveis adeptos do actual campeão europeu de clubes, o Sporting. Título ganho pela enorme exibição de 88 minutos, em espanhol já sabem como se diz, da equipa em Madrid. Do alto da sua moralidade europeia, riem-se de uma eliminação nos 1/8 de final da Champions.
Do alto da sua enorme experiência europeia qualificam uma derrota na Alemanha com gozo. Do alto da sua sabedoria, fazem piadas por se ser eliminado com o Borussia Dortmund.
Logo eles que este ano tiveram oportunidade de mostrar ao mundo como é que se ganha aos amarelos. Quer dizer, perderam as duas vezes mas jogaram muito melhor, claro. Num dos jogos nem levaram com o Aubameyang e apanharam o auge de lesões de Tuchel, não fizeram um pontinho mas foram muito melhores, como é apanágio deles.
O Benfica ainda lhes ganhou um joguinho mas não chega para disfarçar a vergonha que é.
Os adeptos verdes que gozam de um estatuto único na europa do futebol, estão em pré época desde o natal e aproveitam para brincar às eleições, ao melhor marcador e preparam com o afinco habitual a nova época, acham que devem apontar o dedo a quem envergonha o futebol português:
Ok, quero pedir desculpa ao Doutor e a todos os outros que se sentem assim. Se não fossem os pontos daquela Taça das Taças o Benfica nem à Europa ia, eu sei.
Por tudo o que argumento aqui, desejo mais do que nunca que o Benfica entre na tal liga europeia de clubes rapidamente. Estou farto de ser de um clube que envergonha o meu país.
É deixá-los a jogar uns contra os outros e nós vamos à nossa vida. É que o Porto na época passada caiu com o mesmo Borussia que, entranto, ganhou dois jogos ao Sporting. E há pouco tempo a Juventus caiu em casa a um jogo da sua final europeia caseira contra um clube português que acabou a jogar com 9 em Turim."


PS: Peço desculpa ao João pelo copy/paste, mas teve que ser!!!!!!!!!
Se calhar, como somos da mesma geração, temos as mesmas memórias Benfiquistas, e sendo assim acabo quase sempre por concordar em absoluto com as opiniões que o João expressa no Red Pass ou na BTV...
Este, é só mais um dos Post's em que 'acerta' em tudo...!!!
Em relação à 'crítica' dos pasquins e afins, não existe novidade nenhuma...
Por isso realço os últimos 2 parágrafos:
No principal Fórum Benfiquista online, a potencial futura Liga Europeia é recebida com uma histeria de anti-Liga Europeia descomunal...!!!
Sinceramente, continuo sem perceber muitos Benfiquistas, como depois de tudo o que acontece no Tugão, desejarem a manutenção do staus quo...!!!

Carta aberta ao futebol

"Apaixonei-me por ti desde o primeiro momento. Não mais consegui desviar o olhar, percebi que seria para sempre. A nossa relação tem conhecido altos e baixos, é normal, mas não me imagino a viver sem ti. Sei que tens defeitos, mas sempre me concentrei sobretudo nas tuas virtudes, sempre olhei com carinho para as tuas imperfeições, sempre vi atraentes sardas no lugar das tuas cicatrizes.
A verdade é que tens mudado e temo pelo futuro. Há cada vez mais interferências entre nós. Como o capital, tantas vezes suspeito, de empresários ou grupos económicos que na maior parte das vezes só querem amar-te e partir, destruir-te a pureza.
Como as regras que querem alterar em ti, por vezes de forma louca, como se a tua personalidade fosse uma bola de plasticina, como se quase nada em ti fizesse sentido a não ser a necessidade de mudança.
Como as críticas, calúnias e insinuações constantes por parte de comentadores e analistas cujos sentimentos por ti só dependem daquilo que vestes, da cor que vestes. E muito mais haveria por mencionar.
Tenho tentado adaptar-me, mas é difícil manter a fé quando constato que na China, por exemplo, há vários jogos com substituições por volta dos 15 minutos, só para contornar a obrigatoriedade de utilização, no onze inicial, de um jogador sub-23 formado localmente. Sai um chinês mais novo, entra um chinês mais velho. Assim é de mais, às vezes parece que já não te conheço.
Dou por mim a deixar de ver sardas nas tuas cicatrizes para ver feridas abertas pelas quais jorra o sangue que faz salivar os vampiros que te rodeiam, que te amarram, que te violam a beleza e a pureza.
Apesar de tudo, estarei sempre lá por ti, porque sei o quanto vales por baixo de toda a maquilhagem que te atiram à alma como se fossem baldes de areia. E porque sei que teremos sempre momentos como o golo escorpião de Mkhitaryan ou a remontada do Barcelona."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Oh Gonçalo, depois desta prosa toda, foste logo escolher um golo em fora-de-jogo e uma remontada repleta de irregularidades...!!!

Parem o mundo quero descer

"O português é uma língua riquíssima mas há sempre palavras que ficam bem em qualquer texto. Adeus, saudade ou destino são algumas delas. Expressam sempre um olhar sobre uma forma lusa de olhar o mundo com melancolia. Como se encolhêssemos os ombros perante um dogma de existência de um povo.
Ontem foi dia de mais um adeus português. Desta vez, às competições europeias. Daqui a umas semanas, quando se realizaram os quartos de final da Champions, vamos ficar com saudades e soçobrar perante o destino de terem calhado em sorte a Benfica e FC Porto duas equipas inevitavelmente mais fortes.
Está a fazer 50 anos em 2018, no Maio de 1968, os estudantes de paris saíram à rua e queriam que a imaginação chegasse ao poder. Entre inúmeros slogans revolucionários, há um que terá ficado no ouvido: «Parem o mundo, eu quero descer».
Os grandes portugueses, quando negociaram os direitos televisivos, olharam cada um para os seus belíssimo umbigos: mais dinheiro, mais potencial para formar boas equipas. Olharam para o umbigo, mas a cabeça não pensou que o corpo é português, mas de vez em quando vai até ao estrangeiro. E se os outros opositores internos não forem mais fortes, não tiverem mais meios, derem mais luta, o seu próprio corpo fica mais mole, deslaça, não tem músculo. E quando pela frente lhes aparecer um gigante munido de muitas armas - leia-se equipa de classe média-alta do futebol europeu - o fado português com as tais palavras inevitáveis vai voltar.
Depois de 1968, apesar do tal pedido, o mundo não parou. Neste momento, até pode ser um sítio mal frequentado em diversos locais. Mas é o mundo. E no do futebol, sem competitividade interna, a externa é (quase) surreal."

Hugo Forte, in A Bola

Últimos minutos fatais...

Benfica B 2 - 3 Portimonense


Excelente entrada no jogo, com um 2-0 justo... mas depois baixámos as linhas, tentámos gerir... desperdiçamos os contra-ataques, e acabámos por perder o jogo cruelmente... contra a melhor equipa da II Liga, que tem um plantel de 'primeira', mas que nos últimos tempos tem 'relaxado' em demasia!!!

E quando a lei te chama diferente?

"Porque é que a Lei 112/99 obriga apenas e só os agentes da arbitragem a entregarem uma declaração de interesses sobre os seus rendimentos?

Quero hoje falar-vos de um assunto que, embora já aflorado, nunca mereceu a atenção devida. Mais. Nunca foi bem explicado ao adepto, ao simpatizante, ao jornalista... ao universo do futebol.
Como qualquer altura é uma boa altura para se discutir coisas importantes, falemos agora de um assunto que já tem quase dezoito anos.
Acompanhem-me então nesta viagem ao passado.
3 de Agosto de 1999.
Este foi o dia em que foi aprovada a Lei 112/99, que ditava as novas regras sobre o "Regime Disciplinar das Federações Desportivas (RDFD)".
De entre muitas premissas - válidas e importantes - houve uma em particular que levantou, desde logo, muitas dúvidas e questões, sobretudo no seio da arbitragem do futebol profissional:
A da lei obrigar apenas os agentes da arbitragem profissional (árbitros, assistentes, observadores, dirigentes) a entregarem, todos os inícios de época, um "Registo de Interesses", onde tinham que dar informação detalhada e minuciosa sobre os seus rendimentos, bens e activos.
Para ser mais exacto, essa Declaração de Interesses, que ainda hoje é preenchida por todos anualmente, exige-lhes as seguintes informações:
Identificação completa, profissão, retribuição (mensal), rendimento anual, cargos sociais que ocupem, património imobiliário, quotas/ações/participações ou partes sociais do capital de Sociedades Civis/Comerciais, direitos sobre barcos/aeronaves ou automóveis, carteiras de títulos, contas bancárias (à ordem), contas a prazo, direitos de crédito de valor superior a 25 mil euros e discrição pormenorizada de quaisquer outros elementos de activo patrimonial.
Parece mentira, mas é verdade.
Isto não é apenas uma cópia do IRS. É mais. Muito mais do que isso. É até mais do que entregam, por exemplo, os senhores deputados da AR em âmbito similar.
Chegados aqui, fica a pergunta, que no fundo fundamenta a nossa opinião:
Porque é que a Lei 112/99 obriga apenas e só os agentes da arbitragem a entregarem a dita declaração?
Porque é que a lei é parcial?
Porque é que ela não é geral, como se pressupõe e não obriga também todos os outros agentes desportivos profissionais a cumprirem com a mesma obrigação?
Porque é que esta medida não se aplica a treinadores, dirigentes de clubes, atletas e dirigentes do futebol em geral?
Que tipo de lei é esta que trata, de forma claramente desigual uma questão que devia e tinha obrigação de tratar como igual?
Será que não é o seu texto e conteúdo que passa para o exterior uma mensagem de isolamento dos árbitros, rotulando-os como potenciais suspeitos ou criminosos?
A verdade é que, desde 1999, os tempos mudaram. Mudaram e muito.
Estamos num novo século, numa era em que as leis aprenderam a adequar-se a outra realidade desportiva.
A prova disso é que tem sabido regulamentar - com justiça, abrangência e eficácia - questões tão sensíveis como a dopagem, a violência associada ao desporto e mais recentemente, a manipulação de resultados desportivos.
Não terá chegado, por isso, o momento de revogar ou alterar substancialmente um diploma desfasado e inadequado no tempo, que fere - de forma evidente - o princípio constitucional da igualdade?
É que a questão não está no facto dos árbitros (e restantes agentes) serem obrigados a apresentar essa declaração. Pelo contrário.
Eles apoiam a iniciativa e querem continuar a fazê-lo, porque como diz e bem o ditado: "quem não deve, não teme".
Mas porquê só eles?
Em tempos, diga-se, houve algumas tentativas de alterar o rumo das coisas. Foram, por exemplo, propostos dois projectos de lei na Assembleia da República, um a sugerir a suspensão dessa obrigatoriedade, outro a pedir que ela fosse extensiva a todos os titulares de órgãos federativos.
Por motivos distintos, ambos foram chumbados.
Os árbitros sabem que em meados de 2006, na Presidência do Dr Hermínio Loureiro (na LPFP), houve compromissos e esforços sérios no sentido de alterar a parcialidade da lei, mas infelizmente esbarraram em questões e constrangimentos políticos.
Os árbitros também sabem que os registos que agora enviam para a FPF estão guardados, selados, com selo de confidencialidade garantido e só serão consultados em caso de justificado (e grave) ilícito disciplinar.
Mas esse alento não retira o que nos traz aqui hoje: a parcialidade e inconstitucionalidade daquele diploma. Não retira, sobretudo, o rótulo feio que ele passa para o sector e para o exterior.
Como se pode pedir igualdade de tratamento ao adepto, cá fora, se quem legisla dá exemplo oposto, cá dentro?"

Expectativas? É melhor não ter!

"No passado fim de semana, e poucos dias após um gigantesca reviravolta num jogo de Liga dos Campeões (contra o Paris Saint-Germain), o Barcelona foi derrotado no terreno do Deportivo (2-1), deixando-se surpreender por uma equipa que luta pela manutenção - com este resultado, sofreu a primeira derrota no campeonato, desde Outubro do ano passado, após ter garantido 19 vitórias ininterruptas.
Em simultâneo, mas agora na prova da Maratona de Barcelona, Jonah Kipkemoi, atleta paraolímpico queniano contratado para fazer de "lebre" até ao quilómetro 35 (ou seja, para acelerar o ritmo da mesma, garantindo um bom andamento), acabou por cortar a meta em primeiro lugar, naquela que foi a sua estreia em maratonas.
A inesperada vitória ocorreu depois deste atleta constatar, a sete quilómetros da meta, e para surpresa do próprio (como teve oportunidade de referir à imprensa, após terminá-la), que se encontrava praticamente sozinho, decidindo, por isso, percorrer a prova até ao final.
O que estes dois eventos têm em comum? Certamente que muitas variáveis, mas a mais óbvia, que se pretende explorar nesta reflexão, será o impacto que as expectativas podem ter na nossa performance.
De facto, e apesar de ser sobejamente explorado na literatura científica que as "expectativas negativas" podem desencadear fenómenos de ansiedade que, por sua vez, comprometem a performance dos atletas (ou a nossa própria, no exercício das nossas profissões), assistimos frequentemente, e de igual forma, a situações em que expectativas positivas (ex: considerar o Deportivo um adversário "demasiado acessível", por hipótese) conduzem também ao insucesso. Na realidade, perante um contexto percebido como "fácil" (ou, aparentemente fácil), tendemos a ter um compromisso menor, no que respeita a manter os níveis de activação desejáveis ao exercício das acções facilitadoras do sucesso e, por esta razão, comprometermos de igual forma o nosso desempenho.
No passado fim de semana, o foco de Kipkemoi terá sido, possivelmente, cumprir o acordo que fizera com os organizadores da prova, no sentido de garantir um bom andamento na mesma até ao quilómetro 35 - por outras palavras, não havia qualquer propósito (entenda-se, expectativa) de resultado, mas antes de cumprir esta tarefa. Efectivamente, numa grande maioria de situações, o foco na tarefa (logo, sem expectativas) garante o exercício das competências necessárias a uma performance de nível superior, sem o "peso" da expectativa, do desejo em alcançar um dado resultado. Também por esta razão, quase sempre, o consumo energético é inferior e os sinais de fadiga também.
Por razões desta natureza, se chega ao quilómetro trinta e cinco "fresco" o suficiente para considerar: "Hummm... só faltam mais 7.."
Em suma, o domínio da nossa capacidade de "não desejar" e, simplesmente, viver o momento disfrutando de todas as sensações que o nosso corpo nos comunica à medida que se supera, acção após ação (como se de um exercício de "mindfulness" se tratasse), tem sido efectivamente, um dos principais predecessores do sucesso encontrados na literatura científica, no que respeita aos denominadores comuns associados a desempenhos de excelência e, por esta razão, continua e continuará sempre a ser um dos "culpados" de resultados "insólitos" de sucesso.
Expectativas? De facto, é melhor não ter!
"First of all, I really never imagined myself being a professional athlete."
- Bo Jackson, um dos poucos atletas profissionais considerados "all-star", em dois desportos: beisebol e futebol americano)."

Quem é a principal figura do campeonato até à mais recente jornada?

"Fernando Madureira, vulgo 'O Macaco', o líder da claque oficial do FC Porto e da claque oficial da Federação Portuguesa de Futebol, tal como se viu em França no último Europeu, e palestrante em acções de formação para árbitros. Não há na Liga portuguesa e no futebol português figura tão 'principal' como esta.
(...)"

Leonor Pinhão, in Correio da Manhã

105x68... O Filme e os rescaldos...

Sonhando SLB... Tunísia

Benfiquismo (CDVII)

Troféus...

A infinita paciência de Rui Vitória

"O treinador do Benfica tem um jeito especial para lidar com a crítica. Nunca perde o controlo emocional, não se revolta com perguntas mais incómodas e, regra geral, mantém aquele registo afável. Um treinador que foi campeão na época de estreia e com o recorde de pontos na história do futebol português, que conseguiu dois apuramentos para os ‘oitavos’ da Champions (num dos casos, aliás, com chegada aos ‘quartos’), que conquistou três troféus no primeiro ano na Luz, que está na meia-final da Taça e que pode hoje voltar à liderança da Liga ainda é capaz de ouvir alguém questionar a qualidade do futebol da sua equipa e, mesmo assim, responder com uma paciência admirável.
Há especialistas em ‘teoria do futebol’ que continuam a insistir no velho argumento – sempre válido – de que uma equipa que apresente qualidade está sempre mais perto de vencer. O curioso é que alguns desses especialistas são os mesmos que criticam duramente Rui Vitória (muitas vezes com teorias coladas com cuspo) esquecendo-se que na Europa, nos últimos 18 meses, poucos ganharam tantas vezes quanto ele. E se está sempre mais perto de ganhar quem apresenta mais qualidade… há aqui qualquer coisa que não faz muito sentido.
Esta época há 3 equipas com um número anormal de golos marcados: Barcelona com 129, Monaco nos 123 e Real Madrid com 122. Há apenas mais uma equipa, entre as principais ligas, acima dos 100: o PSG, que ontem chegou aos 102. O Bayern está lá perto, com 98. Depois vem o Arsenal, com 95. E quem se segue? O Benfica e o Man. City, ambos com 93. À frente de Roma (88), Lyon (88), Ajax (85), Dortmund (83), Nápoles (83), Man. United (82), Tottenham (82), At. Madrid (82), Juventus (80), Chelsea (75) ou Liverpool (74). Futebol de equipa pequena, o Benfica?"

Sinais da bola

"Rosa com espinhos
Disse um dia o guarda-redes Moreira que fica mais nervoso nos jogos com o Benfica porque se errar há logo quem lembre a relação com o Benfica. Imaginem o que sentiu Miguel Rosa ao errar no 0-1 e o que vão pensar (e, mais grave, dizer) os crápulas da nossa praça.

Malditas lesões
É inacreditável o número de lesões do Benfica esta época (Nélson Semedo é a última vítima), ao ponto de Rui Vitória ainda não ter contado, uma só vez, com todo o plantel. Algo que, por já ser habitual, parece já não ser lembrado nem ter relevância nas análises. Mas tem. E muita.

O talento do trabalho
que dar valor aos jogadores como André Almeida, que não são propriamente talentos naturais, mas destacam-se pela forma como trabalham a lutam com dedicação. Jogadores de equipa e de extrema utilidade. O futebol também precisa deles. O Benfica que o diga.

'Outro' Mitroglou
Além do elevado número de golos marcados (esta época já leva 25 em 36 jogos), salta à vista a disponibilidade física com que o ponta de lança grego percorrer agora todo o ataque e a confiança com que recorrer a lances de bolo recorte técnico. Já não é só um rato de área.

Jonas quer ser Jonas
O golo ontem apontado pode ser o tónico ideal para Jonas ainda tentar ser, esta época, o jogador que não tem conseguido ser devido a problemas físicos. E vontade não lhe falta, como se viu até no trabalho defensivo. Com Jonas bem, o Benfica é outra equipa. Para muito melhor."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

Melhores desatam nós

"1. Entrada muito boa do Benfica, pressionante e com um forte primeiro tempo de defesa, imprimindo uma grande intensidade às suas acções. Circulando a bola com velocidade imensa e com a mobilidade superlativa dos seus elementos da estrutura menos fixa, o Benfica confundia a marcação zonal dos de Belém. A esta mobilidade, amplitude e repetida criação de linhas diagonais conseguida pelo dispositivo encarnado somava-se uma tímida aparição azul. Sabendo-se do colectivo forte que o Belenenses normalmente apresenta, era expectável que esta forte entrada das águias encontrasse uma oposição uma oposição mais visada do adversário, mas a superior transição defensiva dos jogadores de vermelho (rápida compactação dos sectores), não deixava tempo nem espaço para os visitantes terem bola e sair para o ataque, fosse em combinações curtas ou em saídas longas para o seu possante homem da posição 9 (Maurides) e chegada das segundas linhas.

Golo foi excepção
2. Apesar desta entrada agressiva do Benfica e do seu futebol envolvente e variado, criando gritantes dificuldades à organização defensiva do adversário (com Jonas, Zivkovi e Salvio a aparecerem a jogar no interior do bloco adversário)) as oportunidades de golo não abundavam e o golo de André Almeida foi uma excepção à falta de inspiração dos avançados da casa. Naturalmente, seria impossível manter este ritmo alucinante todo o tempo e a partir dos 25 minutos foi possível assistir a outro jogo, fruto da alternância dos ritmos a defender promovido pelos encarnados, com o Belenenses a começar a sair do colete de forças a que estava submetido. Baixando a velocidade das suas acções, o Benfica convidou a equipa de Belém a estender-se no relvado e a chegar à baliza de Ederson. Os últimos 15 minutos da primeira parte mostravam um Belenenses menos assustado, mais confiante e defendendo de outra forma a sua trajectória imaculada dos seis jogos. A bola rondava as duas balizas e perspectivava-se uma segunda parte com outros motivos de interesse, mais equilibrada, mesmo sabendo que o Benfica com os executantes que possui sente-se confortável a jogar em ataque rápido ou contra ataque. O início da segunda parte mostrou o porquê dos conjuntos dotados de melhores unidades, regra geral, ganharem os jogos e mesmo quando a imprevisibilidade parece tomar conta do desígnio das partidas, o valor individual de jogadores como Mitroglou e principalmente de Jonas desata o nó. O equilíbrio aparente desvanece-se, trazendo sucesso ao conjunto mais bem apetrechado, fazendo prevalecer o talento individual.

Placa giratória
3. O Belenenses mais atrevido ameaçava a baliza de Ederson mas não fazia golo e na outra baliza a bola ia entrando, com aproveitamento máximo do ataque do Benfica, dos espaços concedidos por este afoitamento azul. Sob a batuta de um esclarecido Jonas, que baixando no terreno servia como placa giratória de todo o movimento ofensivo encarnado, o Benfica ia avolumando o marcador e mostrava que os fantasmas do pesadelo alemão estava exorcizados e a equipa mostrava saúde e motivação para agarrar com unhas e dentes o primeiro lugar. Os de Belém lutaram e revelaram ambição, atrevimento e fidelidade ao seu modelo de jogo e aos seus princípios mas foram vítimas das suas naturais insuficiências, perante um adversário com outros argumentos e talhado para outros voos. O jogo de ontem parecia o da noite europeia com o Benfica a fazer de Dortmund e os de Belém de Benfica, apenas com aparente equilíbrio. Tudo normal é natural."

Daúto Faquirá, in A Bola

Pobreza franciscana

"1. A sentença ficará lavrada logo à noite em Turim e não terá apelo. Portugal, que deixará de ter equipas que prosseguirão nas competições europeias, descerá para a 7.ª posição do ranking da UEFA e doravante só terá entrada directa de um concorrente para a fase de grupos da Champions. A hipótese de um segundo participante passará sempre pelo problemático apuramento no play-off da 3.ª pré-eliminatória. Para um campeão europeu em título, convenhamos que é um decreto de falência. A condenar-nos, ano após ano, são as equipas que acedem à Liga Europa e que, com a eventual excepção de V. Guimarães e SC Braga, só nos enxovalham. A conclusão é óbvia: o nível do nosso campeonato é mau e a tendência é para piorar. Um dos factores que mais contribui para tal decadência é, manifestamente, um inexplicável excesso de clubes profissionais e semiprofissionais, permanentemente falidos e abarrotados de brasileiros e africanos. Seria bom que a FPF reflectisse um pouco sobre o rácio da equação custo-benefício e providenciasse termos um futebol atractivo e competitivo se há equipas da I Liga cuja base social de apoio são vitórias de quatro ou cinco mil habitantes? Infelizmente até os clubes grandes (para sermos magnânimos!) estão mais apostados em produzir matéria-prima para venda do que para consumo interno. Temos que mudar de paradigma, a bem ou a mal.
2. Mal terminou o Barça-PSG (6-1!), marcado pela histórica remontada dos catalães, fiquei com dúvidas sobre a virtuosidade da actuação do árbitro alemão Aytekin. Três golos em oito minutos, todos de bola parada, sendo que um resultou de um penalty inexistente e outro foi obtido um minuto depois dos seis de compensação, torna tudo muito estranho. Vejo agora que Pierluigi Collina decidiu coloca-lo na jarra até ao fim da prova. Mas a semana não acabaria sem outro episódio polémico: no Juve-Milan (2-1) da Série A, o tento da vitória bianconera chegou também de penalty aos 97 minutos!"

Manuel Martins de Sá, in A Bola